quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mário Lisboa entrevista... João Didelet

Olá. A próxima entrevista é com o ator João Didelet. Interessou-se pela representação, quando estava a estagiar em Alcácer do Sal e houve um curso de iniciação ao trabalho de ator patrocinado pela Câmara da qual participou e foi aí que percebeu que era na representação em que se sentia bem e que era uma coisa que gostava muito de fazer e desde aí desenvolveu um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Herman Enciclopédia" (RTP), "Jornalistas" (SIC), "Crianças SOS" (TVI), "Super Pai" (TVI), "Lusitana Paixão" (RTP), "O Teu Olhar" (TVI), "Floribella" (SIC), "Morangos com Açúcar" (TVI), "Um Mundo Catita" (RTP), "Sentimentos" (TVI) e "Pai à Força" (RTP) e atualmente participa na telenovela "Doce Tentação" (TVI) e recentemente participou na peça "Os 39 Degraus" que foi baseada numa longa-metragem com o mesmo título realizada por Alfred Hitchcock da qual contou com encenação de Claudio Hochman e que terminou a sua temporada no Teatro Villaret em Lisboa no passado dia 8 de Julho. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Março no Teatro Rivoli no Porto na altura em que a peça "Os 39 Degraus" estava em cena no Teatro Rivoli.

M.L: Como é que está a correr a peça “Os 39 Degraus”?
J.D: Está a correr muito bem, felizmente. Estamos há um ano e pouco em cena praticamente sempre em digressão e agora é já a 3ª vez que estamos aqui no Porto, porque fomos sempre bem recebidos, o público tem aparecido, as pessoas gostam, portanto são motivos para estarmos contentes e satisfeitos.

M.L: Quais são os próximos locais que a peça vai passar?
J.D: Que eu me recorde, depois do Porto temos o (Teatro da) Malaposta em Odivelas que é ao pé de Lisboa, depois Lamego, depois em Sintra, Nazaré e outras que também não tenho de cor ainda…

M.L: Como é que surgiu esta peça?
J.D: Esta peça foi estreada pela 1ª vez em Londres, depois nos Estados Unidos. Esta é uma adaptação de um filme do (Alfred) Hitchcock com o mesmo nome “Os 39 Degraus” que é uma intriga à Hitchcock sobre uma pessoa que é acusada de um assassinato que não cometeu, portanto isto passa-se ao mesmo tempo, antes da 2ª Guerra Mundial, portanto tem homicídio e história de espionagem. O herói desta história tem que andar a fugir da polícia e atrás das pessoas que mataram a Anabella Schmidt que é a pessoa que é assassinada na casa dele e então é à volta disto. Ele anda a fugir da polícia, atrás das pessoas que mataram a mulher para provar a sua inocência. O que é que acontece? Depois para teatro é passado com poucos meios, portanto cinema, depois é adaptado para teatro, mas com poucos meios que a ideia era mesmo essa. Um cenário com quatro baús e poucos elementos: há uma janela, há uma porta, mais um cadeirão e com isto nós conseguimos recriar todas as situações por onde o filme passa, portanto isso a nível de cenário. Somos quatro atores: um ator faz uma personagem que é o protagonista que no fundo passa pela peça toda e depois a Vera (Kolodzig) faz três mulheres e eu e o Rui (Melo) fazemos bastantes personagens, portanto andamos sempre a trocar de personagens. É uma loucura muito grande e acho que resulta, porque a história não perde a intriga, mas torna-se depois também cómica com aquela lotação de personagens, a lotação dos cenários, depois temos o som, a luz, etc. Isto é uma espécie de relógio suíço que tem que funcionar tudo para nós contarmos a história.

M.L: “Os 39 Degraus” é baseada numa longa-metragem com o mesmo título realizada por Alfred Hitchcock. Já tinha visto a longa-metragem, antes de se envolver na peça?
J.D: Não, por acaso essa não tinha visto. Mas antes de começar os ensaios, quando soubemos vimos o filme juntos. Tivemos a curiosidade de ver o filme, foi importante.

M.L: A peça é encenada por Claudio Hochman com quem já trabalhou anteriormente. Como é trabalhar com ele?
J.D: É fantástico, porque ele é muito imaginativo, muito criativo, exigente e rigoroso, portanto acho que foi importante para este tipo de trabalho e foi muito bom. Um bom trabalho.

M.L: Em “Os 39 Degraus” interpreta várias personagens. Como é que consegue passar de uma personagem para outra?
J.D: Com ginástica. Acima de tudo muita ginástica. Nós temos um processo de ensaios relativamente louco que dá para treinar no fundo e ensaiar essas passagens… são cliques que nós temos que fazer, de prepara-nos para isso: saímos de cena, trocamos um chapéu, um casaco, temos um casaco, adoptamos uma outra postura física, outra voz e entramos em cena. Tem que ser assim, uma coisa rápida.

M.L: Como é trabalhar com o elenco?
J.D: É fantástico. Nós divertimos, cruzando-nos bem, vamos conhecendo bem e está a correr muito bem em cena.

M.L: Como tem sido a reação do público a esta peça?
J.D: Tem sido fantástica. Não quero estar a exagerar, mas a maior parte das vezes acabamos o espetáculo com as pessoas a aplaudirem de pé e eu depois, quando saio do teatro ainda me cruzo com alguém que tenha visto o espetáculo. As pessoas estão com um ar bem-disposto por falar de coisas do espetáculo, a rirem-se ainda, portanto a reação tem sido a melhor possível.

M.L: Como classifica esta peça?
J.D: Eu acho que é um bom objeto de teatro, uma boa comédia, tem um humor muito engraçado, é um tipo de teatro que não é muito visto em Portugal que é um teatro mais físico. E tem um humor inteligente (acho eu) sem ser-se complicado, mas tem um humor inteligente.

M.L: Atualmente participa na telenovela “Doce Tentação” (TVI), onde interpreta a personagem Evaristo Nobre. Como estão a correr as gravações?
J.D: Estão a correr bem felizmente. Estamos a meio do processo mais ou menos, mas está tudo a correr às mil maravilhas, nós estamos a gostar do que estamos a fazer e acho que as pessoas também estão a gostar de ver.

M.L: Como é trabalhar com a São José Correia e com a Sofia Nicholson?
J.D: É muito engraçado. Divertimos muito, elas são duas atrizes fantásticas e temos sempre de fazer muito trabalho de uma forma séria, mas também de vez em quando tem lugar para alguma risada ou brincarmos um bocadinho, mas está a ser uma boa experiência. Principalmente, porque por acaso com as duas nunca tinha contracenado, está a ser a primeira vez e está a correr muito bem.

M.L: A telenovela portuguesa celebra este ano 30 anos de existência. Que balanço faz destes 30 anos?
J.D: Eu acho que houve uma grande evolução desde da história até ao nível técnico, temos melhores atores, evoluímos bastante, a escrita… acho que tem sido um balanço positivo. Ao princípio, quando eu comecei a ser ator, uma das coisas que eu dizia era: “Isto é uma coisa que se tem de fazer. Para se aprender tem que se fazer”. E não é só aos atores que têm de aprender, mas também os técnicos, os realizadores, quem escreve, a produção… tem que se aprender. Fazia-se muita comparação entre a novela brasileira e a portuguesa, quando a novela portuguesa apareceu. Quando nós aparecemos, os brasileiros já tinham 30 anos de novela, portanto nós tínhamos 30 anos de atraso provavelmente. Portanto, agora estamos a começar a dominar o que é aquela línguagem toda. O balanço é positivo.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
J.D: O interesse pela representação surgiu numa altura da minha vida em que eu estava a estagiar em Alcácer do Sal e aconteceu que houve um curso de iniciação ao trabalho de ator patrocinado pela Câmara e eu frequentei esse curso e de repente percebi que era aí que eu me sentia bem e era isso que eu gostava de fazer. Depois, a partir daí foi à luta.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
J.D: Eu acho que uma pessoa, quando gosta de representar (como o meu caso, como gosto de representar gosto de fazer os três) digamos que a minha escola, onde eu comecei é o teatro e é uma coisa que eu sinto sempre necessidade de voltar. Agora, gosto de fazer televisão e gosto de fazer cinema também, portanto dão um gozo diferente. O teatro tem esta questão do público, ao vivo. A televisão tem outras questões: há a questão da resposta imediata, nós temos que dar respostas rapidamente às situações que vão surgindo, às cenas que vamos fazendo, fazemos muitas cenas e depois evidentemente temos o reconhecimento, as pessoas gostam de nós, nós sentimos isso na rua. O cinema é um lado que também se chama pela imagem, mas tem-se um bocadinho mais de tempo, conta-se uma história mais rapidamente uma hora ou uma hora e meia mais ou menos, portanto cada um tem a sua aliciante, cada um tem formas diferentes de eu gostar.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o marcou, durante o seu percurso como ator?
J.D: Posso dizer que em televisão, os “Jornalistas” (SIC) com o Caixinha que terá sido uma personagem que eu gostei muito de fazer, depois também em cinema fiz um telefilme que quase que era uma biografia sobre o Mário de Sá Carneiro e em teatro tive vários: “Sonho de uma Noite de Verão”, os trabalhos que fiz com o (Teatro da) Garagem, com o (Teatro) Meridional. Aqui vários exemplos de coisas que me marcaram.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Lusitana Paixão” (RTP), onde interpretou a personagem Augusto Salada. Que recordações leva desse trabalho?
J.D: É uma boa recordação. É uma adaptação de “Os Maias” para os nossos dias e tinha um grupo muito divertido que fazia parte daqueles grupos dos políticos e dos corruptos (por assim dizer) e eu era um corrupto falhado… era corrupto, mas depois a minha vida como vida, como pessoa era um bocado falhado e tinha situações muito engraçadas, muito caricatas e muito cómicas e lembro-me perfeitamente que era com o João Lagarto, com o Carlos Mendes, tínhamos um grupo bem engraçado… acho que fui fazendo umas cenas cómicas e estavam lá a acontecer coisas, que eu era um bocado gabarolas e dizia que fazia, que acontecia, mas no fundo era um cobardezinho e estava uma personagem bastante engraçada. É engraçado estar a falar nisso, porque eu percebi que essa novela foi muito vista fora de Portugal. Não tanto em Portugal, mas fora de Portugal foi muito vista, porque quando chegou o Verão e Agosto andava em digressão com uma peça e passava pelos sítios e os emigrantes é que me falavam mais dessa novela que os portugueses… quer dizer, as pessoas que viviam cá falavam menos da novela que os emigrantes e os emigrantes fartavam-se de vir ter comigo e falar do Salada e da novela em si.

M.L: “Lusitana Paixão” foi realizada por André Cerqueira e por Jorge Paixão da Costa. Como foi trabalhar com eles?
J.D: Bem, são duas pessoas diferentes, mas que no fundo estavam a trabalhar para o mesmo fim. O Jorge Paixão é um realizador com uma grande experiência e é uma pessoa que tem uma grande capacidade de nos dirigir, tem uma grande força e uma presença em palco forte e ao mesmo tempo é muito divertido. O André é outra escola, é uma escola que vem mais da escola da (TV) Globo e tem uma outra maneira de estar connosco, outra maneira de nos dirigir, de nos conduzir, mas também de uma forma bastante agradável e consistente e coesa. Portanto, tenho boas recordações desses dois realizadores.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
J.D: Como é que eu vejo? Tem muita coisa para acontecer ainda. Nós temos de continuar a trabalhar e explorar novos caminhos e fazer coisas para dar continuidade a esta bela profissão.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
J.D: Sim, acho que sim. Porque não? É agora uma dúvida que vou ter.

M.L: Como lida com o público que acompanha a sua carreira há vários anos?
J.D: Lido bem e fico contente que as pessoas gostem do meu trabalho. Só tenho a agradecer-lhes e espero que continuem a gostar e a agradecer sempre o carinho que me têm dado.

M.L: Quais são os seus próximos projetos (depois de “Os 39 Degraus” e “Doce Tentação”)?
J.D: Estes projetos ainda estão para demorar um bocadinho, portanto para já não tenho assim nada em vista que possa também falar… também passa por aí. Se calhar há coisas para o futuro, mas ainda estão um bocadinho no segredo dos Deuses e onde deixar de estar. Não há certezas, portanto não vale a pena estar a falar de uma coisa que não sei se vai acontecer ou não.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
J.D: Não sei, há tanta coisa por fazer. É difícil, sabes? Há tantos textos que não fiz, que não guardei… É complicado dizer. Precisava de voltar por exemplo ao (William) Shakespeare, gosto dos clássicos, gosto de fazer personagens históricas, não me importava de fazer mais personagens históricas, coisas novas que existam… É difícil de dizer: “É aquele, tem de ser aquele”. Há muita coisa.ML

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