M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.M: Desde pequena que tinha inclinação para as Artes em geral, dançava Ballet, cantava, pintava, escrevia e estava sempre a improvisar cenas para a minha família e amigos. Curiosamente, foi através do meu gosto pela escrita que o Teatro se cruzou no meu caminho por volta dos 14 anos. Houve um concurso de Poesia na minha escola, no qual participei e ganhei uma Menção Honrosa. Pouco tempo depois, por insistência do meu professor de Português, escrevi uma peça de teatro que acabou por ser selecionada para a “1ª Mostra de Teatro nas Escolas de Sintra”. Ele criou um grupo de teatro na escola e convidou-me a fazer parte do mesmo. Como era um pouco tímida, achei que era uma maneira de poder ultrapassar a minha timidez e aceitei o desafio. Acabei por fazer a protagonista da minha própria peça e estreámos no Teatro Carlos Manuel, em Sintra (atualmente Centro Cultural Olga Cadaval). Quando acabei a peça, estava completamente rendida e apaixonada pelas “tábuas” e percebi que era isso que queria fazer para o resto da minha vida.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
A.M: São inúmeras, depende
em concreto ao que se refere… As minhas influências e referências podem ir
desde géneros cinematográficos, a métodos, a Escolas, a Autores, a
Realizadores, a Atores, até à pessoa que encontro no café ou no Metro. Gosto de
fazer da rua, o meu “Observatório” e a maior parte das vezes procuro determinados
locais e pessoas, onde possa ir buscar características específicas ou
comportamentos para dar corpo e voz a uma personagem.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
A.M: Estamos a falar de
linguagens e registos totalmente díspares. Eu amo a sensação e emoção do palco,
mas também amo Cinema, embora nesta vertente seja ainda uma estreante. Sou uma
cinéfila e como tal, a minha grande paixão é e sempre foi o Cinema. A televisão
é um registo diferente que também me agrada e no qual tenho vindo a trabalhar
com maior incidência, porque as oportunidades assim têm surgido.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a
marcou, durante o seu percurso como atriz?
A.M: Na verdade, todos me
marcaram, não há nada que faça que não fique cravejado nas minhas memórias e
emoções, mas destaco o "(In) Sanidade" como o mais forte em termos de
personagem.
M.L: Já fez telenovelas. Este é o género televisivo
que mais gosta de fazer?
A.M: Acima de tudo, o
importante para mim é trabalhar e ganhar experiência, independentemente do
género, mas a minha preferência é claramente o Cinema. No Cinema, há mais tempo
para a construção de uma personagem, porque sabemos, onde ela começa e acaba,
há uma interioridade distinta e uma intensidade e linguagem própria, há um
cuidado estético maior e os timings de rodagem são diferentes.
Nas telenovelas, tudo é uma incógnita, por vezes ainda estão a escrever para as
personagens, quando já estamos no ar e nem nós sabemos o que vai acontecer com
a nossa personagem ou se morremos no episódio seguinte. Por outro lado, tem o
fator surpresa associado e obriga-nos a uma maior maleabilidade no que concerne
à adaptação do ator em termos de representação.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma
telenovela?
A.M: Lido bem, embora o
ritmo de produção e gravação de uma novela seja alucinante, sou o género de
pessoa que lida serenamente com pressão, como tal, não me assusta, mas o que
fiz em telenovelas foi sempre como elenco adicional. Logo, a carga horária é
muito diferente da do elenco fixo. No entanto, se me surgisse uma oportunidade
para elenco fixo julgo que adaptar-me-ia tranquilamente.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
A.M: Vejo com olhos de
espectadora, vendo um pouco de tudo, sem resistências a géneros ou registos,
gosto de ver tudo o que já se fez e tudo o que atualmente se faz. O Teatro e o
Cinema Português estão vivos e recomendam-se. Quando vejo as salas cheias,
independentemente de fazer ou não parte dos projetos, sinto uma sensação de
felicidade absolutamente indescritível. Curiosamente, no último ano, foram
estas as áreas mais afetadas pela conjuntura económica atual, mas também o Ano,
onde a Alma do Cinema Português mais se destacou a níveis Nacional e
Internacional. Nós temos autores, realizadores, atores e técnicos maravilhosos
e isto é o suficiente para vingarmos nestas áreas. Na verdade, não se faz
tanto, mas o que se faz é de qualidade. Julgo que o único aspeto positivo que a
Crise nos trouxe foi o darmos mais de nós, agarrarmos e criarmos as
oportunidades, estamos cada vez mais criativos e unidos, sinto uma mudança no
comportamento do público e dos espectadores, há mais interesse e motivação.
Julgo que agora o processo se inverteu e começa a “cair por terra” aquele velho
estigma de que o Teatro ou Cinema Português não estão à altura do que se faz
internacionalmente e isso é sinónimo de evolução.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
A.M: Julgo que não descartarei
essa possibilidade, se um dia se proporcionar uma oportunidade, mas o meu
enfoque é e está em Portugal e tomara um dia estar à altura de afirmar-me,
enquanto atriz, por cá, quanto mais internacionalmente (risos)!
M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava
de trabalhar no futuro?
A.M: Eu tenho uma grande
admiração pelo trabalho de alguns colegas, que são para mim, uma enorme fonte
de inspiração e de uma solidez inabalável em tudo o que fazem, são eles: o
Filipe Duarte, o Nuno Lopes, o Ivo Canelas, o Albano Jerónimo, a Maria João
Luís, a Ana Moreira e a Rita Martins. Espero no futuro ter a oportunidade de
trabalhar e crescer ao lado deles.
M.L: Atualmente está nomeada para os Prémios Shortcutz
Lisboa na categoria de Melhor Atriz pela curta-metragem “(In) Sanidade” de
Isabel Pina. Como é que se sentiu ao saber que está nomeada?
A.M: Na verdade no que diz
respeito ao meu trabalho nunca consigo ter o recuo suficiente para analisar e
observar o que poderá estar bem feito. Sou exigente comigo mesma e mais
depressa realço as falhas que as qualidades. Senti um misto de emoções, foi uma
surpresa e nunca esperei ou sonhei estar nomeada nesta categoria. Foi a minha
primeira experiência em cinema e sinto-me verdadeiramente pequenina, a dar os
primeiros passos e com muito para crescer e aprender. Fiquei perplexa e
atordoada, mas também feliz e agradecida!
M.L: Que expectativas têm em relação ao dia de entrega
dos Prémios Shortcutz Lisboa (a entrega dos Prémios Shortcutz Lisboa
ocorreu no passado dia 23 de Fevereiro, da qual a Vitória Guerra venceu o
Prémio de Melhor Atriz pela curta-metragem "Catarina e os Outros")?
A.M: A Custódia Gallego é
para mim uma referência e merece todos os prémios e nomeações. A Vitória Guerra
teve um desempenho maravilhoso nesta curta e tem-se revelado um crescendo,
enquanto atriz, merecendo esta nomeação também. Por isso, a minha expectativa é
que uma delas vai ganhar.
M.L: Qual foi a situação mais embaraçante que a marcou
até agora, durante o seu percurso como atriz?
A.M: Nenhuma. Quando estou
a representar, não tenho o hábito de olhar para as cenas ou situações com os
olhos da Ana Mafalda, mas sim com os olhos da personagem em questão. Logo mesmo
que sejam situações comprometedoras, ousadas, ridículas ou violentas, elas fluem
naturalmente de acordo com a personagem, se uma cena exige uma situação
considerada embaraçante, entrego-me sem a consciencializar do ponto de vista
pessoal, até porque curiosamente a maioria dos papéis que fiz não se coadunam
com a minha personalidade.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu
percurso como atriz?
A.M: Durante o meu
percurso, foram vários os colegas com os quais gostei de trabalhar, mas
“marcada” fiquei por alguns Mestres, que influenciaram indiretamente, a minha
paixão pela arte de representar como o Vasco Santana, o António Silva, o Ruy de
Carvalho, o Mário Viegas e o António Feio.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
A.M: Que nunca deixasse de
acreditar e que não desistisse desta paixão, por mais obstáculos que tivesse de
enfrentar.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como atriz?
A.M: O meu percurso está
longe de ganhar a forma e a solidez de que gostaria. Digamos que, por mais
experiência que adquira, sinto-me sempre no início. Considero-me ainda uma
aspirante a atriz, com muito para aprender e com um longo caminho a percorrer. No
entanto, sinto-me abençoada pelas oportunidades que me dão e acredito com
afinco que a paixão, a entrega, o empenho e o trabalho dão frutos a seu tempo.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.M: Em cinema, vou fazer
uma curta-metragem que se chama “Dois Anjos Entre o Amor”, com realização do
Henrique Bento. Em teatro, vou fazer a “Ópera do Malandro”, é a primeira vez
que faço um Musical e estou muito contente com o desafio, pois terei a
oportunidade de trabalhar outras duas grandes paixões que são a dança e o
canto.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.M: São tantas… Gostava de trabalhar com o João
Canijo. Escrever um guião para um filme (já comecei a trabalhar nisso). Estudar
realização (não com o intuito de exercer, mas para ganhar mais ferramentas como
atriz).ML
Sem comentários:
Enviar um comentário