(A entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.)
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.F: Quando, no C.I.T.A.C.
(Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), do qual sou co-fundador, pela primeira vez, pisei um palco a sério,
perante um público a sério.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto actor?
S.F: Inicialmente, o teatro francês, pois fiz a minha formação em
Paris e Estrasburgo. No entanto, sempre tentei (e tento!) captar aquilo que de
melhor descubro em outros intérpretes. Gosto de admirar e de aprender com quem
possa ensinar-me. Houve, por exemplo, um actor soviético (Nikolai Tcherkassov)
que durante muitos anos constituiu, para mim, uma verdadeira obsessão. Jamais alguém
no mundo poderá igualar o seu genial D. Quixote!
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
S.F: Cada um obriga, a uma técnica específica, mas em todos eles,
existe sempre o prazer de representar.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o
marcou, durante o seu percurso como actor?
S.F: Eventualmente, o “Pedro, o Cru” de António Patrício.
M.L: Já fez telenovelas. Este é o género televisivo
que mais gosta de fazer?
S.F: As telenovelas (já fiz cerca de 26 ou 27) têm sido o meu
ganha-pão, além de me darem uma popularidade invejável e inalcançável de outro
modo. Por isso lhes estou grato. Considero, de resto, que são uma excelente
escola para o actor.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma
telenovela?
S.F: Lido, como deverá lidar qualquer profissional responsável,
desde que a entidade produtora não abuse e respeite as cláusulas contratuais…
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Os Lobos” que foi exibida na RTP entre 1998/99, da qual
interpretou a personagem Lourenço Lobo. Que recordações guarda desse trabalho?
S.F: Trabalho duro. Houve um dia em que gravei 36 cenas. Um
recorde...
M.L: “Os Lobos” é da autoria de Francisco Nicholson, com
quem voltou a trabalhar depois nas telenovelas “Ajuste de Contas” da RTP e “O
Olhar da Serpente” da SIC. Como foi trabalhar com ele?
S.F: Praticamente nunca o vi, durante as gravações. Dele apenas
me chegavam os textos...
M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o
seu percurso como actor?
S.F: Todos os momentos são importantes, quando levamos o trabalho
a sério.
M.L: Como vê actualmente o teatro e a ficção nacional?
S.F: Com a apreensão de quem assiste, impotente, ao frio
estrangulamento de que estão a ser objecto, a Arte e a Cultura em Portugal.
M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter
ficado lá?
S.F: Ninguém gosta de estar fora da sua terra. Eu regressei, porque
acreditei num Portugal melhor. Infelizmente enganei-me. O barro continua o mesmo
e não presta. Os sucessivos (des) governos fizeram fenecer a esperança.
M.L: É pai do músico Laurent Filipe. Como vê o
percurso que o seu filho tem feito até agora?
S.F: O Laurent é outra vítima da mediocridade nacional. Excelente
músico de jazz e compositor, licenciado
por uma das mais prestigiadas universidades norte-americanas, com uma pós-graduação
e um excelente currículo, foi preciso aparecer no “Ídolos” (SIC) para que
dessem por ele…
M.L: Também tem experiência como realizador. Gostava
de, um dia, voltar à realização?
S.F: Gostaria. Mas... ainda há cinema em Portugal?!
M.L: Qual foi a pessoa que o marcou, durante o seu
percurso como actor?
S.F: Jorge Listopad.
M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy
com a telenovela da SIC “Laços de Sangue”, da qual participou. Como vê este
reconhecimento internacional?
S.F: É sempre agradável, claro.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
S.F: Que pense, pense, pense... se benza três vezes e tenha presente
a célebre frase de Goethe. Escreveu ele: “Gostaria que o palco fosse tão fino como
a corda de um equilibrista, para que nenhum néscio ousasse pisá-lo!”.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como actor?
S.F: O sabor (amargo) pela frustração de não me ter sido dada a
oportunidade para representar muitas personagens de que ainda continuo
“grávido”...
M.L: Quais são os seus próximos projectos?
S.F: Tenho pronto a estrear “As Mãos de Eurídice”, o célebre e
difícil monólogo do Pedro Bloch. Entretanto, acabo de ser convidado pelo João
Lourenço para participar na próxima peça do Teatro Aberto: “O Preço” de Arthur Miller.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
S.F: Sei lá... São tantas que seria ocioso enumera-las.ML
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