domingo, 31 de março de 2013

Mário Lisboa entrevista... Sinde Filipe

Olá. A próxima entrevista é com o actor Sinde Filipe. Pai do músico Laurent Filipe, interessou-se pela representação, quando, pela primeira vez, pisou um palco a sério, perante um público a sério no C.I.T.A.C. (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), da qual é um dos seus fundadores e desde aí tem desenvolvido um longo percurso como actor que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Antônio Maria" (TV Manchete), "Os Lobos" (RTP), "A Lenda da Garça" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "Olhos de Água" (TVI), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Amanhecer" (TVI), "Ninguém como Tu" (TVI), "Fala-me de Amor" (TVI), "Resistirei" (SIC), "Pai à Força" (RTP), "Sentimentos" (TVI) e "Laços de Sangue" (SIC), sendo um dos actores mais respeitados do panorama artístico português e além da representação também têm experiência como realizador e recentemente participou na telenovela "Mundo ao Contrário" que vai estrear brevemente na TVI e vai participar na peça "O Preço" de Arthur Miller, com encenação de João Lourenço e vai estrear brevemente no Teatro Aberto. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 29 de Janeiro.
(A entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.)

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.F: Quando, no C.I.T.A.C. (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra)do qual sou co-fundador, pela primeira vez, pisei um palco a sério, perante um público a sério.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto actor?
S.F: Inicialmente, o teatro francês, pois fiz a minha formação em Paris e Estrasburgo. No entanto, sempre tentei (e tento!) captar aquilo que de melhor descubro em outros intérpretes. Gosto de admirar e de aprender com quem possa ensinar-me. Houve, por exemplo, um actor soviético (Nikolai Tcherkassov) que durante muitos anos constituiu, para mim, uma verdadeira obsessão. Jamais alguém no mundo poderá igualar o seu genial D. Quixote!

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
S.F: Cada um obriga, a uma técnica específica, mas em todos eles, existe sempre o prazer de representar.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o marcou, durante o seu percurso como actor?
S.F: Eventualmente, o “Pedro, o Cru” de António Patrício.

M.L: Já fez telenovelas. Este é o género televisivo que mais gosta de fazer?
S.F: As telenovelas (já fiz cerca de 26 ou 27) têm sido o meu ganha-pão, além de me darem uma popularidade invejável e inalcançável de outro modo. Por isso lhes estou grato. Considero, de resto, que são uma excelente escola para o actor.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
S.F: Lido, como deverá lidar qualquer profissional responsável, desde que a entidade produtora não abuse e respeite as cláusulas contratuais…

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Os Lobos” que foi exibida na RTP entre 1998/99, da qual interpretou a personagem Lourenço Lobo. Que recordações guarda desse trabalho?
S.F: Trabalho duro. Houve um dia em que gravei 36 cenas. Um recorde...

M.L: “Os Lobos” é da autoria de Francisco Nicholson, com quem voltou a trabalhar depois nas telenovelas “Ajuste de Contas” da RTP e “O Olhar da Serpente” da SIC. Como foi trabalhar com ele?
S.F: Praticamente nunca o vi, durante as gravações. Dele apenas me chegavam os textos...

M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o seu percurso como actor?
S.F: Todos os momentos são importantes, quando levamos o trabalho a sério.

M.L: Como vê actualmente o teatro e a ficção nacional?
S.F: Com a apreensão de quem assiste, impotente, ao frio estrangulamento de que estão a ser objecto, a Arte e a Cultura em Portugal.

M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter ficado lá?
S.F: Ninguém gosta de estar fora da sua terra. Eu regressei, porque acreditei num Portugal melhor. Infelizmente enganei-me. O barro continua o mesmo e não presta. Os sucessivos (des) governos fizeram fenecer a esperança.

M.L: É pai do músico Laurent Filipe. Como vê o percurso que o seu filho tem feito até agora?
S.F: O Laurent é outra vítima da mediocridade nacional. Excelente músico de jazz e compositor, licenciado por uma das mais prestigiadas universidades norte-americanas, com uma pós-graduação e um excelente currículo, foi preciso aparecer no “Ídolos” (SIC) para que dessem por ele…

M.L: Também tem experiência como realizador. Gostava de, um dia, voltar à realização?
S.F: Gostaria. Mas... ainda há cinema em Portugal?!

M.L: Qual foi a pessoa que o marcou, durante o seu percurso como actor?
S.F: Jorge Listopad.

M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy com a telenovela da SIC “Laços de Sangue”, da qual participou. Como vê este reconhecimento internacional?
S.F: É sempre agradável, claro.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.F: Que pense, pense, pense... se benza três vezes e tenha presente a célebre frase de Goethe. Escreveu ele: “Gostaria que o palco fosse tão fino como a corda de um equilibrista, para que nenhum néscio ousasse pisá-lo!”.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como actor?
S.F: O sabor (amargo) pela frustração de não me ter sido dada a oportunidade para representar muitas personagens de que ainda continuo “grávido”...

M.L: Quais são os seus próximos projectos?
S.F: Tenho pronto a estrear “As Mãos de Eurídice”, o célebre e difícil monólogo do Pedro Bloch. Entretanto, acabo de ser convidado pelo João Lourenço para participar na próxima peça do Teatro Aberto: “O Preço” de Arthur Miller.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.F: Sei lá... São tantas que seria ocioso enumera-las.ML

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