(A entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.)
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.R: Desde pequeno, o teatro na aldeia, todos os Natais, fascinava-me. A Igreja com o seu ritual. Comprei as peças com as
figurinhas do presépio e representava enormes peças na mesa-de-cabeceira.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto actor?
A.R: Ninguém me influenciou directamente. Deixei que as
coisas acontecessem naturalmente em mim. Claro que admirava os grandes actores
internacionais que via no cinema. Os actores portugueses, através da TV: José
de Castro, Paulo Renato, Assis Pacheco, Laura Alves, que vi representar aos 12
anos, mal sabendo que daí a 25, iria contracenar com ela no (Teatro do) Capitólio.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
A.R: Embora o acto de representar seja o mesmo,
varia a Técnica de o fazer. É, sem dúvida, o teatro. É a matriz, o princípio do
ser teatral.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como actor?
A.R: Em cada peça, deixamos um pouco de nós e guardamos
algo de indecifrável para nós. Mas houve papéis que adorei fazer e que
alteraram muita coisa na minha vida: "A Traição do Padre Martinho",
"Jesus Cristo em Lisboa", "O Judeu", "Anatol", "Clamor"
e muitos outros.
M.L: Entre 2002 e 2003, participou na telenovela “O
Olhar da Serpente” que foi exibida na SIC, da qual interpretou o vilão Pedro Almeida de Madurães.
Que recordações guarda desse trabalho?
A.R: Foi um trabalho fácil, muito bem pago, numa
novela bastante interessante que desapareceu do ar por pressões politicas. A
protagonista (Maria dos Prazeres) tinha dormido com altas figuras do PPD.
M.L: “O Olhar da
Serpente” foi o último trabalho do realizador Álvaro Fugulin, que faleceu pouco
tempo depois da telenovela ter estreado, com quem já tinha trabalhado
anteriormente. Como foi trabalhar com ele?
A.R: O Álvaro era um
homem admirável. Todas as novelas que fiz foram realizadas por ele. Sofria do
coração, foi à festa do fim da rodagem de "O Olhar da Serpente",
excedeu-se um pouco e morreu no dia seguinte. Era calmo, doce e sabia muito do
"métier". Foi uma grande perda para todos nós.
M.L: Como vê, actualmente, o teatro e a ficção
nacional?
A.R: Apesar da asfixia do Governo, a classe
teatral tem resistido, estoicamente, contra este garrote à cultura portuguesa.
Mas, infelizmente, há muitas pessoas desempregadas. Baixaram os
bilhetes, apesar de tudo, há público. O Teatro é imortal.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
A.R: Fiz várias coisas na Bélgica, França e
Luxemburgo, mas foi um acaso. O actor de Teatro está muito limitado pela língua
e eu adoro o português. Fiquei por cá, entre os meus que me deram muito prazer.
M.L: Em 2014, celebra 50 anos de carreira, desde que
se estreou como actor na peça “Farsa de Inês Pereira” na Casa da Comédia em
1964. Que balanço faz destes 50 anos?
A.R: Valeu a pena.
M.L: Recentemente, participou na curta-metragem “Lápis
Azul” de Rafael Antunes, da qual interpretou a personagem Coronel Barros Lopes.
Que balanço faz deste trabalho?
A.R: Foi um convite difícil de aceitar. O Rafael
Antunes telefonou-me a convidar-me. Disse-lhe que não podia fazer dado me ter
sido diagnosticado um enfisema pulmonar e tinha decidido retirar-me em sossego.
Ele não se resignou, veio a minha casa e com falinhas mansas, lá me convenceu. Foi
um trabalho agradável numa área que gosto bastante. Fiz muito pouco cinema e só
agora no fim da carreira me vêm chamar. Mas foi muito bom.
M.L: “Lápis Azul” retrata a Censura em Portugal na
época pré-25 de Abril. Na sua opinião, ainda há vestígios da Censura, quase 40
anos depois da Revolução dos Cravos?
A.R: Há uma Censura terrível de que as pessoas não
se lembram. O garrote económico, digamos, que é um enorme travão à
criatividade.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
A.R: Que o faça ciente que vai passar por muitas
dificuldades, que tem de trabalhar muito, tanto o corpo, como a voz e,
sobretudo, aumentar a sua cultura geral. O teatro não é, nem se compadece, com
vaidadezinhas de “Morangos com Açúcar” (TVI). É preciso saber, porque é que se
luta.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
A.R: Nada. Estou
bem com o que fiz.ML
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