quinta-feira, 23 de maio de 2013

Mário Lisboa entrevista... Maria João Pinho

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Maria João Pinho. Natural de Braga, tem desenvolvido um brilhante percurso como atriz, sendo um dos nomes mais versáteis da nova geração de atores, da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Dei-te Quase Tudo" (TVI), "Doce Fugitiva" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Rebelde Way" (SIC), "A Vida Privada de Salazar" (SIC) e "Conta-me como foi" (RTP) e recentemente participou nas peças "Chove em Barcelona" e "A Estalajadeira" e atualmente participa na peça "O Campeão do Mundo Ocidental" de J. M. Synge, com encenação de Jorge Silva Melo e está em cena no Teatro Nacional D. Maria II até ao próximo dia 9 de Junho. Esta entrevista foi feita no dia 8 de Outubro de 2012, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, na altura em que a entrevistada estava no Porto, com a peça "Chove em Barcelona", que esteve em cena no Teatro Experimental do Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.J.P: Surgiu, quando vi uma peça de teatro no (Teatro Nacional) São João, mas ainda não sabia que iria entrar nesse universo. Depois, quando entrei na Faculdade em Bragança, entrei no TEB (Teatro de Estudantes de Bragança) e conheci a Helena Genésio (atualmente, a Diretora do Teatro Municipal de Bragança) e começamos… Fiz um curso de Iniciação Teatral e fui ficando e passados dois anos decidi, então, desistir do curso que estava a tirar na Faculdade e estudar Interpretação e fui estudar para o Porto.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.J.P: Há vários atores. Em Portugal, tenho como referência, a Maria João Luís… a Sandra Faleiro (gosto muito do trabalho dela), Ana Brandão, o Miguel Borges, Pedro Gil (que eu gosto muito), a Carla Galvão (que eu adoro também)… Há assim várias pessoas, há vários colegas que eu gosto de seguir e de acompanhar, mas que os distingo perfeitamente, que não sigo, porque somos muito diferentes…

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
M.J.P: Depende, porque eu gosto dos três (de maneiras diferentes). Ambos têm encantos diferentes… A televisão pode ser muito violenta, porque é muito rápida (numa novela, por exemplo) e nesse sentido é mais difícil e menos prazeroso, porque não há tempo para trabalhar cenas e é mais difícil. Ao mesmo tempo é uma escola muito forte, porque nos dá capacidade de treino. O Cinema, para mim, é poesia, porque gosto imenso. Gosto muito dessa relação com a câmara, com o realizador, normalmente, pelo menos das experiências que tive… E das experiências que tive, felizmente, tive a sorte de ter vivido bons momentos no Cinema. No Teatro, há uma outra magia que é esta relação viva com o público e isso é, para mim, muito forte e importante e realmente vivo, portanto eu tenho uma paixão pelos três, mas são paixões diferentes.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.J.P: No Cinema, o que mais me marcou foi um filme que ainda não estreou com o realizador Vítor Gonçalves e foi, de fato, um trabalho muito especial. Adorei trabalhar com ele, adorei a equipa, trabalhei com o Filipe Duarte que é um colega maravilhoso, adorei o texto, marcou-me imenso… Também me marcou imenso ter trabalhado com o Raoul Ruiz e com o Fernando Lopes. Depois, em teatro, o que realmente marca é o primeiro, porque é o impacto com o público e dou como referência “A Castro” que eu fiz ainda em Bragança. Ainda não tinha sequer formação, foi antes de eu ir para a escola, mas foi a primeira experiência, foi o primeiro contato com um texto literário, foi o primeiro contato com o público e foi um grande impacto para mim e foi o que mais me marcou.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi o telefilme “Todos os Homens Nascem Iguais” da série “Casos da Vida” (TVI), onde interpretou a personagem Isabel. Que recordações guarda desse trabalho?
M.J.P: Nesse trabalho fazia uma cega. Foi muito forte fazer essa personagem, porque fazer uma personagem invisual (felizmente, eu tenho esta capacidade de ver) foi muito delicado. Eu não fiz uma pesquisa específica, porque eu acho que vou pesquisando todos os dias, em contato com as pessoas e infelizmente, principalmente em Lisboa, eu vejo imensos invisuais na rua, no Metro… Portanto, eu já tinha essa memória cá dentro, como é que são, como é que há uma postura, qual é a postura física, como é que funciona o corpo… Depois, fiz pesquisa em filmes, vi imensos filmes com personagens cegas também e por isso foi essencialmente marcante, porque foi a primeira experiência que tive nesse sentido.

M.L: O telefilme foi realizado por Nicolau Breyner. Como foi trabalhar com ele?
M.J.P: Foi muito bom. Respeitou-nos imenso, o Nicolau é um senhor que anda aqui há imensos anos e que sabe imenso… Portanto, respeitou-nos, enquanto atores mais jovens, deixou-nos propor e orientou-nos muito bem.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.J.P: Não sei. Não consigo nomear um, há várias experiências que nos vão marcando, que nos vão fazendo pensar… Por exemplo, ainda ontem (dia 7 de Outubro de 2012) no espetáculo “Chove em Barcelona”, houve uma pessoa na plateia, num momento em que eu estou de frente para o público, que desmaiou e foi um momento que me marcou imenso… Ainda por cima, essa pessoa estava sentada ao lado da minha mãe, eu pensava que era uma amiga minha e estava a fazer a cena e a pensar: “Eu vou ter que parar o espetáculo, porque esta pessoa está a sentir-se mal”… E entrei em pânico total e é essa vida no teatro de quem lá está, há várias situações que nos vão marcando.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
M.J.P: Como sabemos, nós vivemos um momento nada fácil, acho que nunca foi fácil, não acho que só agora que esteja a ser difícil… Infelizmente, a Cultura no nosso país não é acarinhada, não é bem tratada e neste momento é muito triste perceber que não há condições, já não havia muitas condições, mas neste momento sente-se que nos querem mesmo aniquilar e isso é muito triste.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.J.P: Nunca pensei nisso, eu gosto do meu país (quer dizer, já pensei nisso)… Mas, enquanto atriz, é óbvio que seria muito bem-vindo, uma experiência de raiz lá fora, porque eu já estive noutros países, mas com espetáculos feitos cá… É óbvio que eu adorava fazer, mas eu não tenho essa possibilidade de sair daqui e trabalhar como atriz lá para fora definitivamente, porque eu não quero desistir do meu país.

M.L: Vive em Lisboa, mas nasceu em Braga. Já alguma vez se arrependeu de ter decidido ir viver para Lisboa?
M.J.P: Não, não me arrependo. É óbvio que eu sinto falta do Norte, porque fui para Lisboa com 27, 28 anos… Mas o que acontece é que tenho aqui os meus amigos, a minha família, as minhas raízes, eu sinto muito como uma pessoa do Norte, porque sou de cá, é natural que assim seja… Mas, neste momento, Lisboa é o que faz sentido, a nível profissional, não foi uma cidade fácil, quando cheguei, mas, felizmente, o Ser Humano têm esta capacidade extraordinária de se adaptar e eu adaptei-me e vivo lá e estou bem lá (pelo menos, para já)…

M.L: Em 2010, trabalhou com Raoul Ruiz em “Mistérios de Lisboa”, que foi a última longa-metragem realizada por ele e baseada na obra de Camilo Castelo Branco (o realizador faleceu em Agosto de 2011, quando estava a preparar a longa-metragem “Linhas de Wellington” (2012), tendo sido substituído pela sua esposa Valeria Sarmiento). Que recordações guarda dele?
M.J.P: Tudo de bom. Desde o primeiro momento da entrevista, quando estava a fazer casting para os atores, com quem queria trabalhar… Uma pessoa muito afável, muito educada, muito centrada, sabendo perfeitamente o que é que queria, com um universo incrível, uma imaginação… Parecia uma criança num corpo de adulto, tinha um imaginário sem fim… Estar com ele no plateau era supertranquilo, porque ele tinha essa paz e vivia o que queria… A equipa também era maravilhosa e fiquei, realmente, muito triste com a partida do Raoul, porque só tenho boas memórias dele…

M.L: Já alguma vez imaginou que “Mistérios de Lisboa” tivesse o sucesso que teve?
M.J.P: Não, nunca pensei. Não penso no resultado, penso no que estou a fazer na hora, mas já sabia, como era uma coprodução, que o filme iria ser visto noutros países, mas nunca pensei que fosse tão bem acolhido… Acho que é merecido, acho que é um excelente trabalho e digo, não, porque participei nele, mas porque, realmente, acho que é um ótimo filme… Mas nunca pensei, fiquei muito contente, por ter amigos, por exemplo, em Paris, que foram ao cinema ver-me e falarem-me das reações das pessoas de lá… Nunca tinha tido essa experiência e, sinceramente, gostei…

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.J.P: A Helena Genésio foi a pessoa que me fez mudar de vida, foi com quem comecei a representar…

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
M.J.P: Faço um balanço positivo. Claro que há momentos muito maus e já os tive e vou ter, porque faz parte, é um trabalho muito inconstante, muito instável… Mas, eu só posso fazer um balanço positivo, do tempo que tenho de trabalho, por onde já passei, com quem já trabalhei…

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.J.P: Há tantas coisas que eu ainda quero fazer e que ainda não fiz.ML

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