M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.J.P: Surgiu, quando vi
uma peça de teatro no (Teatro Nacional) São João, mas ainda não sabia que iria
entrar nesse universo. Depois, quando entrei na Faculdade em Bragança, entrei
no TEB (Teatro de Estudantes de Bragança) e conheci a Helena Genésio (atualmente,
a Diretora do Teatro Municipal de Bragança) e começamos… Fiz um curso de
Iniciação Teatral e fui ficando e passados dois anos decidi, então, desistir do
curso que estava a tirar na Faculdade e estudar Interpretação e fui estudar
para o Porto.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.J.P: Há vários atores.
Em Portugal, tenho como referência, a Maria João Luís… a Sandra Faleiro (gosto
muito do trabalho dela), Ana Brandão, o Miguel Borges, Pedro Gil (que eu gosto
muito), a Carla Galvão (que eu adoro também)… Há assim várias pessoas, há
vários colegas que eu gosto de seguir e de acompanhar, mas que os distingo
perfeitamente, que não sigo, porque somos muito diferentes…
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
M.J.P: Depende, porque eu
gosto dos três (de maneiras diferentes). Ambos têm encantos diferentes… A
televisão pode ser muito violenta, porque é muito rápida (numa novela, por
exemplo) e nesse sentido é mais difícil e menos prazeroso, porque não há tempo
para trabalhar cenas e é mais difícil. Ao mesmo tempo é uma escola muito forte,
porque nos dá capacidade de treino. O Cinema, para mim, é poesia, porque gosto
imenso. Gosto muito dessa relação com a câmara, com o realizador, normalmente,
pelo menos das experiências que tive… E das experiências que tive, felizmente,
tive a sorte de ter vivido bons momentos no Cinema. No Teatro, há uma outra
magia que é esta relação viva com o público e isso é, para mim, muito forte e
importante e realmente vivo, portanto eu tenho uma paixão pelos três, mas são
paixões diferentes.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a
marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.J.P: No Cinema, o que
mais me marcou foi um filme que ainda não estreou com o realizador Vítor
Gonçalves e foi, de fato, um trabalho muito especial. Adorei trabalhar com ele,
adorei a equipa, trabalhei com o Filipe Duarte que é um colega maravilhoso, adorei
o texto, marcou-me imenso… Também me marcou imenso ter trabalhado com o Raoul
Ruiz e com o Fernando Lopes. Depois, em teatro, o que realmente marca é o
primeiro, porque é o impacto com o público e dou como referência “A Castro” que
eu fiz ainda em Bragança. Ainda não tinha sequer formação, foi antes de eu ir
para a escola, mas foi a primeira experiência, foi o primeiro contato com um
texto literário, foi o primeiro contato com o público e foi um grande impacto
para mim e foi o que mais me marcou.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi o telefilme “Todos os Homens Nascem Iguais” da série “Casos da Vida” (TVI),
onde interpretou a personagem Isabel. Que recordações guarda desse trabalho?
M.J.P: Nesse trabalho
fazia uma cega. Foi muito forte fazer essa personagem, porque fazer uma
personagem invisual (felizmente, eu tenho esta capacidade de ver) foi muito
delicado. Eu não fiz uma pesquisa específica, porque eu acho que vou
pesquisando todos os dias, em contato com as pessoas e infelizmente,
principalmente em Lisboa, eu vejo imensos invisuais na rua, no Metro… Portanto,
eu já tinha essa memória cá dentro, como é que são, como é que há uma postura,
qual é a postura física, como é que funciona o corpo… Depois, fiz pesquisa em
filmes, vi imensos filmes com personagens cegas também e por isso foi
essencialmente marcante, porque foi a primeira experiência que tive nesse
sentido.
M.L: O telefilme foi realizado por Nicolau Breyner.
Como foi trabalhar com ele?
M.J.P: Foi muito bom.
Respeitou-nos imenso, o Nicolau é um senhor que anda aqui há imensos
anos e que sabe imenso… Portanto, respeitou-nos, enquanto atores mais jovens,
deixou-nos propor e orientou-nos muito bem.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
M.J.P: Não sei. Não
consigo nomear um, há várias experiências que nos vão marcando, que nos vão
fazendo pensar… Por exemplo, ainda ontem (dia 7 de Outubro de 2012) no espetáculo
“Chove em Barcelona”, houve uma pessoa na plateia, num momento em que eu estou
de frente para o público, que desmaiou e foi um momento que me marcou imenso…
Ainda por cima, essa pessoa estava sentada ao lado da minha mãe, eu pensava que
era uma amiga minha e estava a fazer a cena e a pensar: “Eu vou ter que parar o
espetáculo, porque esta pessoa está a sentir-se mal”… E entrei em pânico total
e é essa vida no teatro de quem lá está, há várias situações que nos vão marcando.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
M.J.P: Como sabemos, nós
vivemos um momento nada fácil, acho que nunca foi fácil, não acho que só agora
que esteja a ser difícil… Infelizmente, a Cultura no nosso país não é
acarinhada, não é bem tratada e neste momento é muito triste perceber que não
há condições, já não havia muitas condições, mas neste momento sente-se que nos
querem mesmo aniquilar e isso é muito triste.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.J.P: Nunca pensei nisso,
eu gosto do meu país (quer dizer, já pensei nisso)… Mas, enquanto atriz, é
óbvio que seria muito bem-vindo, uma experiência de raiz lá fora, porque eu já
estive noutros países, mas com espetáculos feitos cá… É óbvio que eu adorava
fazer, mas eu não tenho essa possibilidade de sair daqui e trabalhar como atriz
lá para fora definitivamente, porque eu não quero desistir do meu país.
M.L: Vive em Lisboa, mas nasceu em Braga. Já alguma
vez se arrependeu de ter decidido ir viver para Lisboa?
M.J.P: Não, não me
arrependo. É óbvio que eu sinto falta do Norte, porque fui para Lisboa com 27,
28 anos… Mas o que acontece é que tenho aqui os meus amigos, a minha família,
as minhas raízes, eu sinto muito como uma pessoa do Norte, porque sou de cá, é
natural que assim seja… Mas, neste momento, Lisboa é o que faz sentido, a nível
profissional, não foi uma cidade fácil, quando cheguei, mas, felizmente, o Ser
Humano têm esta capacidade extraordinária de se adaptar e eu adaptei-me e vivo
lá e estou bem lá (pelo menos, para já)…
M.L: Em 2010, trabalhou com Raoul Ruiz em “Mistérios
de Lisboa”, que foi a última longa-metragem realizada por ele e baseada na obra
de Camilo Castelo Branco (o realizador faleceu
em Agosto de 2011, quando estava a preparar a longa-metragem “Linhas de
Wellington” (2012), tendo sido substituído pela sua esposa Valeria Sarmiento).
Que recordações guarda dele?
M.J.P: Tudo de bom. Desde
o primeiro momento da entrevista, quando estava a fazer casting para os atores, com quem queria trabalhar… Uma pessoa muito
afável, muito educada, muito centrada, sabendo perfeitamente o que é que
queria, com um universo incrível, uma imaginação… Parecia uma criança num corpo
de adulto, tinha um imaginário sem fim… Estar com ele no plateau era supertranquilo, porque ele tinha essa paz e vivia o que
queria… A equipa também era maravilhosa e fiquei, realmente, muito triste com a
partida do Raoul, porque só tenho boas memórias dele…
M.L: Já alguma vez imaginou que “Mistérios de Lisboa”
tivesse o sucesso que teve?
M.J.P: Não, nunca pensei.
Não penso no resultado, penso no que estou a fazer na hora, mas já sabia, como
era uma coprodução, que o filme iria ser visto noutros países, mas nunca pensei
que fosse tão bem acolhido… Acho que é merecido, acho que é um excelente
trabalho e digo, não, porque participei nele, mas porque, realmente, acho que é
um ótimo filme… Mas nunca pensei, fiquei muito contente, por ter amigos, por
exemplo, em Paris, que foram ao cinema ver-me e falarem-me das reações das
pessoas de lá… Nunca tinha tido essa experiência e, sinceramente, gostei…
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu
percurso como atriz?
M.J.P: A Helena Genésio foi
a pessoa que me fez mudar de vida, foi com quem comecei a representar…
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como atriz?
M.J.P: Faço um balanço
positivo. Claro que há momentos muito maus e já os tive e vou ter, porque faz
parte, é um trabalho muito inconstante, muito instável… Mas, eu só posso fazer
um balanço positivo, do tempo que tenho de trabalho, por onde já passei, com
quem já trabalhei…
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.J.P: Há tantas coisas que eu ainda quero fazer e que
ainda não fiz.ML
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