M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.V: Desde pequenina que
dizia que queria ser atriz. Eu fui sempre expressando esta vontade, embora o meu percurso académico tenha sido outro, porque fiz outro curso. Quando ainda estava na faculdade, surgiu a
oportunidade e comecei a fazer cursos de teatro. Já era uma vontade que eu tinha desde
muito pequenina.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
S.V: Os atores que me
inspiram são pessoas em quem eu sinto força, em quem eu sinto intensidade, são
pessoas que mergulham no seu trabalho profundamente… A nível internacional: a
Meryl Streep (é uma atriz que me inspira bastante), a Kathy Bates, a Helen
Hunt, a Helen Mirren, a Angelina Jolie, o Al Pacino, o Gene Hackman, o Philip
Seymour Hoffman, o Brad Pitt (é um ator que admiro muito, que não tem medo de
fazer o quer que seja, não tem medo de parecer feio, não tem medo de parecer
ridículo…). Basicamente, é isto: um conjunto de atores que não têm medo de
mergulhar fundo. A nível nacional, gosto muito do trabalho da nossa Eunice
Muñoz e de gerações mais jovens… Também há pessoas, das quais admiro muito o
trabalho. Pessoas com quem tenho tido o prazer e o privilégio de trabalhar. Essas, também me inspiram bastante.
M.L: Durante o seu percurso como atriz, fez teatro e
televisão, mas pouco cinema. Gostava de trabalhar mais neste género?
S.V: Gostava muito de
fazer cinema. Fiz curtas-metragens e fiz 2 telefilmes (um português e um para o
estrangeiro) e gostava muito, mesmo, de experimentar o cinema.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a
marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.V: No teatro, houve
coisas distintas: marcou-me ter feito o papel de Marilyn Monroe, tinha uma
pesquisa feita por mim e um texto também escrito por mim. Por ser uma pessoa
que existiu, por ser um grande ícone e é sempre uma grande responsabilidade
estarmos a fazer alguém que existiu e isso marcou-me muito. E também me marcou muito um trabalho que eu fiz, intitulado “Manual Sexual”, com encenação de Estrela
Novais, com José Boavida, o Carlos Lacerda e a Joana Faria… E a minha estreia:
“A Serpente” do Nelson Rodrigues. Foram trabalhos no teatro que me marcaram
bastante. Em televisão, marcou-me muito a série “Bastidores” (RTP) que passou,
recentemente, na RTP Memória. Marcou-me bastante, gostei muito de fazer…
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Primeiro Amor” que foi exibida na RTP, durante o ano de 1996 e
marcou a sua estreia na televisão, da qual interpretou a personagem Rita. Que
recordações guarda desse trabalho?
S.V: Guardo muito boas
recordações. Não só guardo recordações, como amizades também.
Por exemplo, fiquei com uma amizade, para toda a vida, com o Eurico Lopes, que era
o meu “primeiro amor”. Na telenovela ele era a minha contracena e era o meu par romântico. Já
trabalhamos juntos várias vezes em teatro e em televisão, conseguimos ter uma grande
amizade. Foi uma experiência marcante, eu era uma miúda, já fazia teatro, mas
nunca tinha feito televisão. Era tudo novo, tudo muito grande e assustador. Hoje em dia, como há muitos castings, os jovens atores já estão mais habituados, mas eu não! Para mim foi
uma prova de fogo, que me trouxe coisas boas.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
S.V: Há tantas coisas, já
são 18 anos de carreira… Há amizades que marcam… Eu gosto sempre mais de recordar as
coisas boas, do que as menos boas. Mas é claro que estas também
marcam. Em relação àquilo que me marcou pela positiva, volto a falar da peça “Manual Sexual”, que estreou no ano da Expo'98. Gostei muito deste trabalho, porque nunca tinha feito café-teatro e foi uma experiência muito forte. Aliás, tudo em Lisboa foi muito forte nesse ano, tão forte que acabámos por ir fazer a peça ao Palco 2 da Expo. Foi uma experiência muito mágica!
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
S.V: Sim, gostava.
M.L: Em 2013, celebra 18 anos de carreira, desde que
começou com a peça “A Serpente” de Nelson Rodrigues, no Teatro Ibérico, em 1995.
Que balanço faz destes 18 anos?
S.V: Têm sido uns 18 anos
muito irregulares… Tem sido uma viagem num jipe, num daqueles jipes de
todo-o-terreno que atravessam África, cheios de pedras, com muita terra metida. Tem
sido assim, um bocadinho, o meu percurso. Tem sido irregular, mas com muita
aprendizagem e muito crescimento.
M.L: Além da representação, também é encenadora,
diretora de atores, autora, terapeuta e formadora profissional. Em qual destas
funções em que se sente melhor?
S.V: Eu gosto delas todas.
Eu misturo tudo, gosto de misturar todo o meu caldeirão. São coisas distintas.
Como formadora, eu tenho a oportunidade de me pôr à prova, de perceber o que já
aprendi, o que desaprendi, porque, quando se diz que só, quando se ensina, se
aprende, é uma grande verdade. E quando comecei a ensinar, foi quando percebi
que isto é uma dinâmica em que estamos sempre a aprender. Estamos sempre a
aprender sobre nós próprios. Portanto, enquanto formadora, ajudar os outros seres humanos a criar coisas e a crescer, dá-me um grande
prazer. Como
encenadora e diretora de atores, passa, um bocadinho, pela mesma coisa que é
ver os outros a crescerem. Como atriz, é um prazer muito grande, é outra
dinâmica, dentro de mim, é isto, o meu outro lado e sou eu desafiada. A escrita
sempre foi uma paixão, mas, embora tivesse muita gente à minha volta a dizer-me
para escrever, eu escrevia por prazer. Nunca tinha considerado a escrita como
uma possibilidade de profissão, mas, cada vez mais, vou entrar nesse sentido e,
nomeadamente, a escrita para teatro e para cinema que, mais uma vez digo, é um grande prazer! Também me sinto muito bem como
terapeuta e como astróloga, porque são tudo partes de mim. Alguns pensam que deixei a carreira de atriz para me dedicar à astrólogia, mas não é verdade! Como vivemos numa sociedade depressiva de rótulos, eu sou isto
tudo, tudo faz parte de mim! Gosto de todas as vertentes!
M.L: Recentemente, fez uma breve participação na
telenovela “Dancin’ Days” que está em exibição na SIC, da qual marcou o seu
regresso à televisão, depois da sua participação na série “Rebelde Way” que foi
exibida na SIC entre 2008 e 2009. Como correu este trabalho?
S.V: Bem. Senti-me feliz,
por poder regressar, e por poder participar num projeto com tanta qualidade
como “Dancin’ Days”. Soube-me a pouco, mas foi muito bom fazer. Gostei muito.
M.L: É agenciada pela H!T Management que foi fundada
por Ana Varela e que pretende ser uma agência inovadora, da qual os seus
agenciados são, em grande parte, atores com menor visibilidade. Como vê o percurso
que a agência tem feito, desde a sua fundação até agora?
S.V: Muito bom. Eu tenho
um grande orgulho na (Ana) Varela e no João Louro, que são os meus agentes. São jovens muito trabalhadores e muito conscientes do mercado que temos, muito
ciosos dos seus atores. Isso é muito bom! Sinto-me muito acarinhada por eles.
M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da
TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria
de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
S.V: Achei positivo. É uma
forma do nosso nome ir lá fora, dos nossos artistas também se poderem revelar e
expor lá fora. Isso significa que há algum selo de qualidade. Embora eu defenda que se pode crescer sempre mais. Mas, esses produtos eram
bons produtos de ficção e fico feliz por terem sido reconhecidos, por isso.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu
percurso como atriz?
S.V: Foram tantas. Eu
tenho o privilégio de ainda ser de uma geração que conheceu outras gerações. Eu
ainda tive o privilégio de trabalhar e conhecer o Armando Cortez, a Maria
Dulce, o Pedro Pinheiro, o Francisco Nicholson, o António Montez, o João Perry…
É uma escola viva e isso, para mim, foi muito importante, também poder conhecer
pessoas que eram os meus ídolos e que de outra forma não os podia conhecer, como
o Nicolau Breyner, com quem trabalhei mais do que uma vez. Isso é muito
marcante!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
S.V: Cinema, sem dúvida. Também gostava muito de poder
fazer um curso lá fora, como aluna, gostava de fazer um curso nos EUA,
particularmente ligado à escrita.MLFotografia: Fernando Dinis
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