domingo, 19 de maio de 2013

Mário Lisboa entrevista... Susana Vitorino

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Susana Vitorino. Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz em 1995, com a peça "A Serpente" de Nelson Rodrigues, e desde aí tem desenvolvido um percurso como atriz que já conta com quase 20 anos de existência, da qual passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Primeiro Amor" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "Olhos de Água" (TVI), "Bastidores" (RTP), "Tudo por Amor" (TVI), "O Prédio do Vasco" (TVI) e "Rebelde Way" (SIC) e além da representação, também é encenadora, diretora de atores, autora, terapeuta e formadora profissional e, recentemente, fez uma breve participação na telenovela "Dancin' Days" que está em exibição na SIC, da qual marcou o seu regresso à televisão, depois da sua participação na série "Rebelde Way". Esta entrevista foi feita no passado dia 11 de Fevereiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.V: Desde pequenina que dizia que queria ser atriz. Eu fui sempre expressando esta vontade, embora o meu percurso académico tenha sido outro, porque fiz outro curso. Quando ainda estava na faculdade, surgiu a oportunidade e comecei a fazer cursos de teatro. Já era uma vontade que eu tinha desde muito pequenina.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
S.V: Os atores que me inspiram são pessoas em quem eu sinto força, em quem eu sinto intensidade, são pessoas que mergulham no seu trabalho profundamente… A nível internacional: a Meryl Streep (é uma atriz que me inspira bastante), a Kathy Bates, a Helen Hunt, a Helen Mirren, a Angelina Jolie, o Al Pacino, o Gene Hackman, o Philip Seymour Hoffman, o Brad Pitt (é um ator que admiro muito, que não tem medo de fazer o quer que seja, não tem medo de parecer feio, não tem medo de parecer ridículo…). Basicamente, é isto: um conjunto de atores que não têm medo de mergulhar fundo. A nível nacional, gosto muito do trabalho da nossa Eunice Muñoz e de gerações mais jovens… Também há pessoas, das quais admiro muito o trabalho. Pessoas com quem tenho tido o prazer e o privilégio de trabalhar. Essas, também me inspiram bastante.

M.L: Durante o seu percurso como atriz, fez teatro e televisão, mas pouco cinema. Gostava de trabalhar mais neste género?
S.V: Gostava muito de fazer cinema. Fiz curtas-metragens e fiz 2 telefilmes (um português e um para o estrangeiro) e gostava muito, mesmo, de experimentar o cinema.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.V: No teatro, houve coisas distintas: marcou-me ter feito o papel de Marilyn Monroe, tinha uma pesquisa feita por mim e um texto também escrito por mim. Por ser uma pessoa que existiu, por ser um grande ícone e é sempre uma grande responsabilidade estarmos a fazer alguém que existiu e isso marcou-me muito. E também me marcou muito um trabalho que eu fiz, intitulado “Manual Sexual”, com encenação de Estrela Novais, com José Boavida, o Carlos Lacerda e a Joana Faria… E a minha estreia: “A Serpente” do Nelson Rodrigues. Foram trabalhos no teatro que me marcaram bastante. Em televisão, marcou-me muito a série “Bastidores” (RTP) que passou, recentemente, na RTP Memória. Marcou-me bastante, gostei muito de fazer…

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Primeiro Amor” que foi exibida na RTP, durante o ano de 1996 e marcou a sua estreia na televisão, da qual interpretou a personagem Rita. Que recordações guarda desse trabalho?
S.V: Guardo muito boas recordações. Não só guardo recordações, como amizades também. Por exemplo, fiquei com uma amizade, para toda a vida, com o Eurico Lopes, que era o meu “primeiro amor”. Na telenovela ele era a minha contracena e era o meu par romântico. Já trabalhamos juntos várias vezes em teatro e em televisão, conseguimos ter uma grande amizade. Foi uma experiência marcante, eu era uma miúda, já fazia teatro, mas nunca tinha feito televisão. Era tudo novo, tudo muito grande e assustador. Hoje em dia, como há muitos castings, os jovens atores já estão mais habituados, mas eu não! Para mim foi uma prova de fogo, que me trouxe coisas boas.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.V: Há tantas coisas, já são 18 anos de carreira… Há amizades que marcam… Eu gosto sempre mais de recordar as coisas boas, do que as menos boas. Mas é claro que estas também marcam. Em relação àquilo que me marcou pela positiva, volto a falar da peça “Manual Sexual”, que estreou no ano da Expo'98. Gostei muito deste trabalho, porque nunca tinha feito café-teatro e foi uma experiência muito forte. Aliás, tudo em Lisboa foi muito forte nesse ano, tão forte que acabámos por ir fazer a peça ao Palco 2 da Expo. Foi uma experiência muito mágica!

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
S.V: Sim, gostava.

M.L: Em 2013, celebra 18 anos de carreira, desde que começou com a peça “A Serpente” de Nelson Rodrigues, no Teatro Ibérico, em 1995. Que balanço faz destes 18 anos?
S.V: Têm sido uns 18 anos muito irregulares… Tem sido uma viagem num jipe, num daqueles jipes de todo-o-terreno que atravessam África, cheios de pedras, com muita terra metida. Tem sido assim, um bocadinho, o meu percurso. Tem sido irregular, mas com muita aprendizagem e muito crescimento.

M.L: Além da representação, também é encenadora, diretora de atores, autora, terapeuta e formadora profissional. Em qual destas funções em que se sente melhor?
S.V: Eu gosto delas todas. Eu misturo tudo, gosto de misturar todo o meu caldeirão. São coisas distintas. Como formadora, eu tenho a oportunidade de me pôr à prova, de perceber o que já aprendi, o que desaprendi, porque, quando se diz que só, quando se ensina, se aprende, é uma grande verdade. E quando comecei a ensinar, foi quando percebi que isto é uma dinâmica em que estamos sempre a aprender. Estamos sempre a aprender sobre nós próprios. Portanto, enquanto formadora, ajudar os outros seres humanos a criar coisas e a crescer, dá-me um grande prazer. Como encenadora e diretora de atores, passa, um bocadinho, pela mesma coisa que é ver os outros a crescerem. Como atriz, é um prazer muito grande, é outra dinâmica, dentro de mim, é isto, o meu outro lado e sou eu desafiada. A escrita sempre foi uma paixão, mas, embora tivesse muita gente à minha volta a dizer-me para escrever, eu escrevia por prazer. Nunca tinha considerado a escrita como uma possibilidade de profissão, mas, cada vez mais, vou entrar nesse sentido e, nomeadamente, a escrita para teatro e para cinema que, mais uma vez digo, é um grande prazer! Também me sinto muito bem como terapeuta e como astróloga, porque são tudo partes de mim. Alguns pensam que deixei a carreira de atriz para me dedicar à astrólogia, mas não é verdade! Como vivemos numa sociedade depressiva de rótulos, eu sou isto tudo, tudo faz parte de mim! Gosto de todas as vertentes!

M.L: Recentemente, fez uma breve participação na telenovela “Dancin’ Days” que está em exibição na SIC, da qual marcou o seu regresso à televisão, depois da sua participação na série “Rebelde Way” que foi exibida na SIC entre 2008 e 2009. Como correu este trabalho?
S.V: Bem. Senti-me feliz, por poder regressar, e por poder participar num projeto com tanta qualidade como “Dancin’ Days”. Soube-me a pouco, mas foi muito bom fazer. Gostei muito.

M.L: É agenciada pela H!T Management que foi fundada por Ana Varela e que pretende ser uma agência inovadora, da qual os seus agenciados são, em grande parte, atores com menor visibilidade. Como vê o percurso que a agência tem feito, desde a sua fundação até agora?
S.V: Muito bom. Eu tenho um grande orgulho na (Ana) Varela e no João Louro, que são os meus agentes. São jovens muito trabalhadores e muito conscientes do mercado que temos, muito ciosos dos seus atores. Isso é muito bom! Sinto-me muito acarinhada por eles.

M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
S.V: Achei positivo. É uma forma do nosso nome ir lá fora, dos nossos artistas também se poderem revelar e expor lá fora. Isso significa que há algum selo de qualidade. Embora eu defenda que se pode crescer sempre mais. Mas, esses produtos eram bons produtos de ficção e fico feliz por terem sido reconhecidos, por isso.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.V: Foram tantas. Eu tenho o privilégio de ainda ser de uma geração que conheceu outras gerações. Eu ainda tive o privilégio de trabalhar e conhecer o Armando Cortez, a Maria Dulce, o Pedro Pinheiro, o Francisco Nicholson, o António Montez, o João Perry… É uma escola viva e isso, para mim, foi muito importante, também poder conhecer pessoas que eram os meus ídolos e que de outra forma não os podia conhecer, como o Nicolau Breyner, com quem trabalhei mais do que uma vez. Isso é muito marcante!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
S.V: Cinema, sem dúvida. Também gostava muito de poder fazer um curso lá fora, como aluna, gostava de fazer um curso nos EUA, particularmente ligado à escrita.ML

Fotografia: Fernando Dinis

Sem comentários:

Enviar um comentário