quarta-feira, 5 de março de 2014

Mário Lisboa entrevista... António Jorge

Olá. A próxima entrevista é com o jornalista António Jorge. Natural de Cinfães, interessou-se pelo jornalismo aos 13 anos ao ser convidado por um professor para trabalhar numa rádio na Escola Secundária de Cinfães, e desde aí tem desenvolvido um percurso como jornalista que passa, essencialmente, pela rádio, e, atualmente, trabalha na Antena 1, onde apresenta, desde 2008, o programa "Antena Aberta" que teve uma versão televisiva que terminou em 2011 com o fim da RTPN (atual RTP Informação), cuja apresentação partilhou, juntamente, com Eduarda Maio (atual apresentadora do programa "Sociedade Civil" (RTP2). Esta entrevista foi feita na sede da RTP Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
A.J: Quando eu tinha 13 anos, havia na Escola Secundária de Cinfães (de onde eu sou natural) uma rádio da escola e comecei a trabalhar na rádio, por causa de um professor que me convidou para ir para lá. Era o Engenheiro Nuno, de quem guardo boas memórias. E a partir daí, comecei a fazer coisas na rádio e não demorou muito tempo a vir trabalhar no Porto para a Rádio Comercial Norte. Depois da Rádio Comercial Norte, aos 18 anos fui para a Antena 1 e estou lá, desde então, muitas vezes, tenho trabalhado fora da Antena 1, mas mantendo sempre aqui o meu trabalho, tenho feito coisas na área da televisão, na área da escrita… Basicamente, o meu interesse pelo jornalismo começa de uma forma acidental e depois torna-se numa paixão.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
A.J: São todos os grandes jornalistas que fazem todos os dias o seu trabalho sem cederem a pressões, sem privilegiarem grupos económicos, sem privilegiarem grupos políticos. São todos os que fazem, diariamente, um trabalho de permanente procura da verdade.

M.L: Trabalha, essencialmente, na rádio. Gostava de ter trabalhado mais em outros meios de comunicação como, por exemplo, a imprensa?
A.J: Tive algumas experiências na imprensa. Eu confesso que a partir do momento em que se começa a trabalhar na rádio como comecei aos 13 anos começamos pela prática a ficar muito formatados para escrever para falar, escrever para dizer. E escrever para dizer, ao fim de tantos anos como eu faço, acaba por ser quase natural, o que não me retira a obrigação de, sempre que escrevo alguma coisa para outros lerem, a ter cuidado com aquilo que escrevo, de cumprir regras de português e ser o mais claro possível. Isso, para mim, não é tão fácil, não é tão “natural” como escrever para a rádio, mas tive a oportunidade de ter uma atividade mais permanente na área da imprensa, nunca me senti especialmente seduzido por isso, assim como nunca me deslumbrou, por exemplo, a televisão, apesar de ter feito várias coisas na televisão.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o seu percurso como jornalista?
A.J: Vários. Eu tenho um percurso, enquanto jornalista, que me fez passar por variadíssimas situações e todas elas diferentes. Cada uma no seu registo, com muitos desencantos e com muito prazer.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
A.J: Está muito presa em interesses económicos. Nesta altura, há na Comunicação Social em Portugal (salvo algumas exceções) uma proximidade muito grande entre os interesses dos grupos económicos com aquilo que a imprensa reproduz e isso é bastante perigoso.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
A.J: Adorava ter sido correspondente em Nova Iorque, em Paris ou em Londres, mas nunca tive oportunidade.

M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o seu percurso como jornalista?
A.J: A queda da Ponte de Entre-os-Rios. Estive lá duas semanas, sem vir a casa, sem praticamente dormir. Num momento muito difícil para o país, muito difícil para aquelas pessoas e com uma particularidade: eu sou natural de uma zona muito próxima de Entre-os-Rios, portanto conheço muito bem aquela região, não conhecia ninguém que tivesse falecido no acidente, mas digamos que a dor daquelas pessoas naquela altura era também a minha dor, sentia aquilo como tivesse sido também um acidente comigo. Portanto, foi o momento mais marcante. Mas houve outros: Os dez anos do 11 de Setembro, o 11 de Março em Espanha, e agora mais recentemente a cobertura das cerimónias fúnebres de Nelson Mandela, na Africa do Sul…

M.L: Atualmente, apresenta na Antena 1 o programa “Antena Aberta” que teve uma versão televisiva que apresentou, juntamente, com Eduarda Maio e que terminou em 2011 com o fim da RTPN (atual RTP Informação). Como está a correr o programa?
A.J: Está a correr exatamente igual ao que corria até então. Quando veio da TSF para a Antena 1, a Eduarda Maio começou a fazer este espaço interativo, depois a direção da rádio decidiu que eu o fizesse, e o espaço ficou sempre (quase sempre), até hoje, a ser editado a partir do Porto. Basicamente, eu sempre fiz o “Antena Aberta”, desde 2008 até agora. Pessoalmente, eu nunca gostei da versão televisiva do “Antena Aberta”. A decisão não era minha, portanto tinha apenas que cumprir ordens. Nunca gostei da versão televisiva, no sentido plástico da coisa, eu acho que nunca houve interesse de investir neste simultâneo entre a rádio e a televisão, porque, do ponto de vista do formato televisivo, o programa era bastante pobre e podia ter tido melhoramentos, ao nível da imagem. Foi, no entanto, o primeiro programa a ser feito em simultâneo, e depois de quebrado esse simultâneo, sinceramente, acho que ficou a perder, quer a rádio, quer a televisão, porque a televisão conseguia ter uma visibilidade junto de um público que está em movimento àquela hora, ter uma visibilidade junto de um público que não tem que pagar a um distribuidor de televisão por cabo para terem informação com a marca da RTP. A rádio fica a perder na medida em que também perde visibilidade na televisão, mas, pessoalmente, não estou nada insatisfeito pelo facto de não estar a fazer o programa na televisão.

M.L: Qual foi a situação mais embaraçosa que o marcou, até agora, durante o seu percurso como jornalista?
A.J: Tive várias. Muitas delas decorrentes devido ao facto de eu estar a fazer um programa em direto com as características do “Antena Aberta”. Pelo menos duas vezes, fui maltratado no ar, chamaram-me nomes, de pessoas que eu não conheço, não faço a ideia de que tipo de motivação é que tinham para dizerem aquilo, eu acho que têm, obviamente, algum défice educacional para terem tido esse comportamento. Foram situações desagradáveis, mas ultrapassei-as com imensa tranquilidade e eu acho que esses foram os momentos mais desagradáveis. Não me recordo de outros.

M.L: Como vê, hoje em dia, Portugal e o Mundo?
A.J: Vejo Portugal com uma grande dificuldade em sair desta falta de esperança, acho que o país está com falta de horizonte, acho que é um sentimento que é generalizado. Começo a achar que os índices de felicidade em Portugal (que, apesar de tudo, nunca foram extraordinários comparativamente aos outros países da Europa) vão continuar a baixar. Acho que temos de nos ajustar a viver com menos dinheiro, mas não devemos baixar os braços e deixarmo-nos ficar num estado nostálgico perante esta aparente ausência de horizonte. Quando perdermos essa vontade de querer olhar mais adiante, aí sim acho que o futuro pode ser absolutamente negro.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
A.J: Que procure outra carreira (risos). Acho que só vai para o jornalismo quem tem, de facto, muita paixão seja pela rádio, pela televisão, pelos jornais, pela Internet. Tem que haver uma verdadeira paixão para com os princípios básicos desta profissão: o primeiro deles é o respeito por quem nos ouve, por quem nos lê, por quem nos vê, porque eu sinto isso, diariamente com as pessoas que saem das faculdades, com os estagiários que me apresentam aqui para a rádio. Quem quiser vir para o jornalismo, tem que perceber exatamente para onde vai, ter os pés bem assentes na terra e saber que nunca será rico, que vai ter condições de trabalho sempre (ou muitas vezes) precárias, portanto se puderem mais vale pensar noutra profissão.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como jornalista?
A.J: É um balanço positivo. Eu costumo dizer aos meus amigos que me pagam para curtir, mas sei que dizer isto assim pode parecer displicente, o que quero dizer é que amo o que faço, porque eu comecei a trabalhar na rádio aos 13 anos e continuo a ter o mesmo prazer.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
A.J: Gostava de percorrer o país, durante um mês, a fazer reportagem… Tenho vários projetos e esse é um deles. Um dos primeiros livros que o José Saramago escreveu chama-se “Viagem a Portugal” e eu li esse livro há muitos anos e sempre tive esta ideia que era fazer em rádio aquele livro ou seja pegar no livro e ir à procura daquelas terras que o José Saramago descreve e fazer reportagens naquelas terras fazendo um paralelo entre a realidade daquele encontro e a realidade em que se encontra o José Saramago. Isso era uma coisa que eu gostava de fazer.ML

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