quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Maria Clara Mattos

Desde muito cedo que se interessou pela representação e tem desenvolvido um percurso como atriz que passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Xica da Silva" (TV Manchete), "O Beijo do Vampiro" (TV Globo), "Começar de Novo" (TV Globo), "Escrito nas Estrelas" (TV Globo) e "Amor Eterno Amor" (TV Globo). Além da representação, também é escritora, e, recentemente, estreou-se na literatura com "O Céu Pode Esperar Mais um Pouquinho" que até agora tem sido geralmente bem-recebido. Esta entrevista foi feita no passado dia 1 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.C.M: Acho que foi por volta dos 8 anos, quando eu quis fazer um teste para o programa de TV “Sítio do Picapau Amarelo” (TV Globo), mas a minha mãe não deixou. E, aos 14, 15 anos, bati o pé e entrei para um curso de teatro.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.C.M: Cada personagem pede uma coisa. Às vezes inspiro-me em pessoas que conheço, às vezes em alguém que vi na rua, mas a partir de um determinado ponto da criação, na própria personagem, mesmo.

M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava de, um dia, trabalhar em cinema?
M.C.M: Sim!

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
M.C.M: Nunca sei responder a essa pergunta. Cada trabalho tem a sua peculiaridade, e a gente guarda um carinho especial por cada personagem. Acho que a Paulina de “Xica da Silva” (TV Manchete) foi um momento importante na minha carreira, porque foi a primeira personagem “de verdade” que fiz numa novela. Foi a minha primeira vez com textos grandes para decorar, muitas cenas por dia para gravar… E tem a Isaura que foi a minha estreia na (TV) Globo e uma personagem mais que deliciosa de fazer. Mas não posso deixar para trás a Leninha (“Escrito nas Estrelas” (TV Globo), a Regina (“Amor Eterno Amor” (TV Globo), a Simone (“Começar de Novo” (TV Globo)…

M.L: Entre 2002 e 2003, participou na telenovela “O Beijo do Vampiro” que foi exibida na TV Globo, na qual interpretou a personagem Isaura. Que recordações guarda desse trabalho?
M.C.M: As melhores possíveis! A personagem começou pequenininha, eu fui me divertindo, os autores foram gostando e acabei virando vampira! Tive muita sorte com os guionistas que escreveram para mim, escritores atentos, parceiros. Isso é muito importante quando a gente está na frente das câmaras.

M.L: Além da representação, também é escritora. Em qual destas funções em que se sente melhor?
M.C.M: Na que eu estiver desempenhando no momento. Eu amo estar num set de gravação e amo estar atrás da tela do computador inventando histórias. Cada vez que estou numa dessas posições, penso: é isso! Mas hoje em dia vejo-me mais como escritora do que atriz. Escrevendo interpreto muito mais personagens de uma vez só. Sempre digo, sou gulosa.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão) no Brasil?
M.C.M: Acho que a TV está buscando caminhos novos, venho fazendo parte disso, escrevendo para TV por cabo, criando programas diferentes, séries, formatos novos. No caso do Cinema, acho que ainda vivemos uma divisão muito grande entre o que é entretenimento e o que é autoral. Particularmente, acho essa divisão ruim. Para mim o que importa é a qualidade. Pode ser ótimo entretenimento e péssimo autoral e vice-versa. E acho que deve ter espaço pra tudo. Sou a favor de entretenimento de grande qualidade. (Fiodor) Dostoievski é isso. Victor Hugo é isso. (Honoré de) Balzac é isso. E todos eles são extremamente autorais. 

M.L: Recentemente, estreou-se na literatura com “O Céu Pode Esperar Mais um Pouquinho”. Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?
M.C.M: Primeiro veio-me a imagem do protagonista na situação em que ele apresenta-se na primeira frase do livro: “Hoje eu levei um tiro”. Daí para frente deixei-o falar. E ele foi falando, falando…

M.L: Como tem sido a reação do público a este livro até agora?
M.C.M: Bem legal. Tive uma resenha bem positiva no jornal O Globo, o livro foi para segunda edição, foi indicado ao Prémio Açorianos de Literatura, na categoria Romance… acho que estamos indo bem.

M.L: “O Céu Pode Esperar Mais um Pouquinho” tem uma ligação muito forte com a cultura pop. Como vê, hoje em dia, essa cultura pop, tendo em conta que pertence a uma geração que cresceu com ela, nomeadamente nos anos 80?
M.C.M: Não pensei em fazer um livro de pegada pop nem imaginei isso como uma bandeira. O protagonista é carregado dessas referências, é como ele atravessa o Mundo e é atravessado por ele. Só isso. Não sei se paro muito para pensar nessas coisas. Nem quando estava vivendo a minha juventude nos fosforescentes anos 80.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.C.M: Não entre! Hahaha. Não sei. Não sou boa de conselhos, acho as escolhas sempre muito pessoais. O que acho realmente importante é entender onde você está pisando, para ter a oportunidade de construir uma carreira mais prazerosa e próxima do desejo. Também acho fundamental ir fazendo balanços de vez em quando, estar sempre testando os próprios caminhos e tentando ser mais dono deles, para não se flagrar em algum momento achando que é mais refém do que condutor das próprias escolhas.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz?
M.C.M: Acho que fiz coisas legais, realizei uma parte do meu sonho, mas como a vida não pára - até à hora que acaba -, o caminho está sempre aberto para novas experiências e oportunidades.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.C.M: Faço parte da equipa de guionistas do programa “Tapas & Beijos”, na TV Globo, que fica no ar até meados de 2015. E estou finalizando um segundo romance, espero que para o ano que vem.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
M.C.M: Cantar. Acho lindo quem sobe num palco e canta para uma multidão de pessoas.ML

Fotografia: Eduardo Alonso

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