terça-feira, 7 de outubro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Marta Fernandes

Desde muito cedo que se interessou pela representação, tornando-se numa das atrizes mais brilhantes e versáteis que tem surgido no meio artístico português nos últimos anos, com um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Aqui Não Há Quem Viva" (SIC), "Chiquititas" (SIC), "Louco Amor" (TVI) e "Os Nossos Dias" (RTP). Além da representação, também é encenadora, cantora e professora, e, atualmente, participa na peça "E Porque Não Emigras?" que está em digressão e também conta com a participação de atores como Carlos Areia, Patrícia Candoso e Rosa Soares. Esta entrevista foi feita no passado dia 26 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.F: O interesse pela representação surgiu desde muito cedo. Tive a sorte de ter uns pais que sempre me incentivaram a expressar-me artisticamente, e ainda muito pequena, foram-me dando a oportunidade de experimentar diversas formas artísticas, da Música à Dança, para que pudesse ter critérios para fazer as minhas escolhas.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.F: Eu fui sempre muito observadora. Gosto de absorver tudo o que seja bonito e me inspire. Por vezes, basta uma expressão de alguém com quem me cruzo, ou uma determinada entoação de uma frase musical, para me inspirar. Adoro apreciar o trabalho dos outros, e sinto que aprendo muitíssimo com a "arte" dos outros. Os meus alunos, por exemplo, são uma inesgotável fonte de inspiração. As minhas influências vão desde os grandes musicais, ao cinema dos anos 50, passando pelos grandes clássicos da dramaturgia. Gosto de bons textos, e essa é a minha principal influência.

M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava de trabalhar mais em cinema?
M.F: Sim, gostava de trabalhar mais em cinema, mas as coisas vêm todas a seu tempo.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
M.F: Todos os trabalhos me marcam sempre. Ou pela personagem, ou pelo percurso da personagem, ou pelas pessoas com que me vou cruzando, ou pela aprendizagem que vou fazendo. Felizmente, no meu trabalho não me posso desconectar de mim própria nem das minhas emoções, e isso é um privilégio, porque me permite crescer muito enquanto Ser Humano. Obviamente que o projeto "Chiquititas" acabou por ser marcante, porque me deu a oportunidade de dar a conhecer o meu trabalho, abriu-me uma série de portas, e fez-me ver que tenho uma capacidade de trabalho enorme.

M.L: Entre 2012 e 2013, participou na telenovela “Louco Amor” que foi exibida na TVI, na qual interpretou a personagem Joana Morais. Que recordações guarda desse trabalho?
M.F: A novela “Louco Amor” foi o meu primeiro trabalho para a TVI. Durante anos achei que essa porta estaria fechada, e afinal, não. Foi um passo em frente. Sou freelancer e o meu objetivo é conseguir trabalhar para qualquer produtora e para qualquer estação televisiva. Foi um projeto especial, porque tive a oportunidade de cantar em televisão, desta vez num registo adulto.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
M.F: A Cultura, no geral, está a passar por uma fase difícil, que é o reflexo do estado económico do país. Há falta de investimento financeiro, o que não significa que não haja investimento intelectual. As coisas continuam a fazer-se, mas com maiores riscos. Por outro lado, e da experiência que tenho tido durante a digressão do meu espetáculo "E Porque Não Emigras?", que já dura há 8 meses, o público tem muito desejo de ver coisas. O público está muito motivado e recetivo a novas experiências. As pessoas saem de casa para ver e ouvir temas que lhe interessam. Estamos a viver uma fase de muitas mudanças, e são todas para melhor.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira nos últimos anos?
M.F: Eu sinto-me muito grata por todas as manifestações de carinho que tenho recebido nestes anos. Fico muito feliz por saber que há algumas pessoas que têm acompanhado o meu percurso profissional, e dão-me muita energia para continuar. Eu trabalho para o público. São eles que têm de beneficiar do meu empenho e dedicação. 

M.L: Além da representação, também é encenadora, cantora e professora. Em qual destas funções em que se sente melhor?
M.F: Eu comecei o meu percurso como atriz mas, com os anos, e como consequência da minha formação, outros desafios foram surgindo. Uma vez que sou licenciada em Teatro, é normal que me fossem sendo feitas propostas para dar formação. O canto é uma paixão de sempre, e a encenação foi acontecendo por acidente. Desfruto de todas as experiências, e aprendo muitíssimo.

M.L: Atualmente, participa na peça “E Porque Não Emigras?” que é produzida pela produtora Produções Fora de Cena, na qual é co-fundadora, e está em digressão. Como tem sido a reação do público a esta peça até agora?
M.F: A reação do público a este espetáculo tem sido super-positiva. As pessoas gostam e participam. Trata-se de um espetáculo de comédia, com muita música. Tem um quadro de homenagem aos grandes nomes do Fado, com o qual o público se identifica e com o qual se delicia. Nunca tinha viajado durante tanto tempo com um espetáculo, e está a ser uma experiência inesquecível. Para isso também tem contribuído o facto de estar a trabalhar com pessoas de quem gosto muito, e que investiram tempo e energia para construirmos isto juntos. É um espetáculo despretensioso, mas com muita qualidade, e é bonito.

M.L: Trabalhou com Teresa Guilherme nas telenovelas “Floribella” (SIC) e “Chiquititas” (SIC) e na série “Aqui Não Há Quem Viva” (SIC). Como vê o percurso que ela tem feito até agora?
M.F: A Teresa Guilherme é uma amiga e uma grande profissional.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.F: O meu conselho é sempre o mesmo, estudarem. O talento é fundamental, mas a formação traz-nos as ferramentas e os conhecimentos para podermos ir mais além. É durante a experiência de formação que se abrem horizontes para novos gostos, novos interesses e novas inspirações. É, também, na escola que se conhecem pessoas com as mesmas direções artísticas, com gostos semelhantes, mas é também aí que se aprende a aceitar as diferenças, e se entra em contacto com a subjetividade da profissão. 

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz?
M.F: A minha preocupação tem sido sempre encarar todos os trabalhos com o máximo de profissionalismo. Concentro-me e dedico-me a cada projeto de corpo e alma, e tento nunca desrespeitar os meus valores e os meus princípios humanos e artísticos. Tenho a minha linguagem, e procuro pôr o meu cunho em tudo o que faço, seja um protagonismo ou uma personagem pequeníssima.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.F: Neste momento estou muito dedicada ao teatro, mas sempre a cultivar projetos futuros.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
M.F: Eu não faço projetos a longo prazo. Desde que sou mãe, que aprendi a viver um dia de cada vez, e trabalho diariamente na procura do meu bem-estar e das pessoas de quem gosto. Quero saúde para todos, e muita paz e tranquilidade. O trabalho vai sempre haver porque, se não vier ter comigo, eu vou à procura dele.ML

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