domingo, 21 de outubro de 2012

Mário Lisboa entrevista... Sara Barros Leitão

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Sara Barros Leitão. Natural do Porto, desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se estreado na representação em 2007 ao participar na 5ª temporada da série "Morangos com Açúcar" (TVI) da qual interpretou a vilã Jennifer Brown e desde aí tem desenvolvido um interessante e versátil percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Olhos nos Olhos" (TVI), "Sentimentos" (TVI) e "Laços de Sangue" (SIC) e recentemente participou na micropeça "O Coro dos Amantes a Caminho do Hospital" de Tiago Rodrigues que contou com encenação de Joaquim Nicolau e que esteve em cena no recém-inaugurado Teatro Rápido que é um projeto da Encena-Agência de Atores da qual é agenciada e cujo o objetivo é apresentar espetáculos de microteatro e o espetáculo "Era uma vez... uma Princesa" que marcou a sua estreia na encenação e atualmente está a participar na telenovela "Doida por Ti" da autoria de Maria João Mira e que vai estrear brevemente na TVI e é autora e encenadora da micropeça "As coisas pelos nomes" que conta com as participações de Sofia Santos Silva e de Diana Nicolau e que está em cena no Teatro Rápido, durante o mês de Outubro. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 1 de Setembro. 

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação? 
S.B.L: Não posso dizer aquele chavão de "sempre quis ser atriz", porque não é verdade. Queria ser cabeleireira, funcionária de uma caixa de supermercado ou secretária num escritório para poder usar óculos. Não posso também dizer um outro chavão que é "ao tornar-me atriz sou estas profissões todas", porque também não é verdade: ou se é atriz ou cabeleireira! Na verdade, a minha história é tanto banal como desinteressante: sentia-me melhor a falar em público do que fechada no quarto e só tinha boas notas na escola, quando podia transformar as apresentações de trabalhos em peças de teatro em vez de dossiers comuns. Quando surgiu a altura de decidir escolhi estudar Teatro.


M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto atriz?
S.B.L: Parece-me que as influências para os atores dependem (sobretudo) da personagem que estão a interpretar. Mas tenho inúmeras influências que regem a minha vida e me ditam princípios básicos que passam por livros, músicas, pessoas, momentos específicos, fotografias, quadros, atores, interpretações, filmes, textos, conversas, locais, frases, culturas… Mas este é um assunto para muitas horas… No entanto, para mim, as principais influências de uma vida passam pela Arte e dentro de todas as formas de arte considero a Música a mais perfeita delas todas.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
S.B.L: São formatos bastante distintos e que reclamam técnicas diferentes. O que eu gosto é de Interpretar e isso é possível em qualquer formato. Felizmente tiro prazer de qualquer trabalho que faça.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.B.L: Eu sou tão pequenina para responder a esta pergunta. O meu percurso é minúsculo e contam-se pelos dedos das mãos os trabalhos que fiz... Mas se tivesse que escolher o que mais marcou o meu crescimento, enquanto atriz foi a peça "Romeu e Julieta" encenada por Eduardo Alonso e co-produzida pelo Teatro do Bolhão e Centro Dramático de Viana. Esta peça não exigiu uma parte de mim, exigiu-me por completo. O processo para chegar a essa entrega é algo que guardo com muito carinho.

M.L: Já fez telenovelas. Este é um género televisivo que gosta muito de fazer?
S.B.L: Não vejo novelas e admiro imenso quem as faz sejam atores, técnicos, caracterizadores ou produtores! Pessoalmente, é um trabalho que adoro fazer e que me estimula muito, enquanto atriz. Gostava que todos os atores pudessem (um dia) passar por esta experiência de fazer ficção, porque acredito que é fundamental exercitar a rápida capacidade de resposta num formato em que o "tempo" é precioso.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
S.B.L: Não tenho legitimidade para dizer que lido bem ou mal, quando trabalho com uma equipa técnica que trabalha doze horas por dia, de segunda a sexta, monta e desmonta todo o material e no fim do dia ganha uma miséria. Com isto, posso dizer que lido muito mal. Além disso, se trabalhar numa novela como ator fosse assim tão violento não víamos tantos a sair à noite.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Sentimentos” (TVI), onde interpretou a personagem Rute Dias. Que recordações leva desse trabalho?
S.B.L: Ruy de Carvalho, Ruy de Carvalho e Ruy de Carvalho. É um prazer ter sido paga para poder estar perto deste senhor, ouvi-lo, falar e contracenar com ele. Adorei o ambiente da novela, fiz amigos fora de série e a Rute tem um lugar especial na minha memória.

M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.B.L: Foi precisamente, depois de ter acabado as gravações de “Sentimentos”, onde interpretei uma rapariga de 17 anos que engravidava e decidia que queria levar a gravidez até ao fim e receber o filho de braços abertos. Eu estava no Porto, na Estação de Campanhã, a entrar para o comboio, quando vem uma adolescente ter comigo, muito emocionada. Agarrou-me nas mãos e com lágrimas nos olhos, agradeceu-me a inspiração que a minha personagem tinha sido para ela e para a sua família. Disse que quando descobriu que estava grávida tinha coincidido com o momento em que passava no ar o drama da Rute. O fato da personagem ter lutado contra a sua família para ter o filho e ter conseguido convencê-los de que a vida não terminava ali, que havia outras soluções para além de abortar fez com que a família da rapariga aceitasse (também) a sua gravidez apesar dos seus 16 anos. Muitas lágrimas depois, abraçámo-nos e eu senti aquela barriga cheia de felicidade que se manifestava imponente entre nós. Foi indescritível.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
S.B.L: São dois assuntos completamente diferentes que estão também em situações completamente diferentes. Acho que a minha opinião é ingénua e pouco fundamentada e por isso não tenho o direito de a partilhar.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
S.B.L: Gosto de estar cá e do que tenho cá. No dia em que Portugal não chegue para mim logo vejo o que há lá fora e direi se gosto.

M.L: Vive em Lisboa, mas nasceu no Porto. Já alguma vez se arrependeu de ter decidido ir viver para Lisboa?
S.B.L: Na verdade, eu vivo mais no comboio Intercidades da CP do que propriamente em alguma destas cidades. Eu sou do Porto, pertenço ao Porto e voto no Porto. Trabalho em Lisboa, vivo em Lisboa e sou feliz em Lisboa. Estou em ambas as cidades, todas as cidades, impreterivelmente. Nunca me arrependi de ter mudado a minha vida aos 16 anos. Antes pelo contrário, sou uma privilegiada por (aos Domingos) acordar com vista para a Ribeira e (300 quilómetros depois) ver a ponte 25 de Abril ao pôr-do-sol.

M.L: Recentemente participou na micropeça “O Coro dos Amantes a Caminho do Hospital” de Tiago Rodrigues que contou com encenação de Joaquim Nicolau e que terminou no passado dia 31 de Maio. Como correu este trabalho?
S.B.L: Foi maravilhoso! Este foi um projeto meu. Escolhi o texto, o outro ator e o encenador. Sou apaixonada pelo trabalho do Tiago Rodrigues e entrei em pânico, quando percebi que ia mesmo interpretar um texto dele. Na verdade, o meu preferido! Não tenho palavras para agradecer ao ator Edi Gaspar e ao encenador Joaquim Nicolau. Foi um projeto especial, muito cansativo e que exigia uma dedicação incrível. Adorei poder fazê-lo.

M.L: A micropeça esteve em cena no recém-inaugurado Teatro Rápido que é um projeto da Encena-Agência de Atores da qual é agenciada e cujo o objetivo é apresentar espetáculos de microteatro. Como vê esta iniciativa por parte da agência?
S.B.L: Extremamente inteligente! O projeto em si é uma ideia brilhante e nos dias de hoje não podia ser mais pertinente. Em primeiro lugar, porque pretende abranger um público que não é o público que costuma ir ao Teatro. Em segundo, porque dá oportunidade a qualquer pessoa de poder desenvolver uma ideia, um texto, um conceito sem depender de concursos e subsídios. Por último, por ser uma agência de atores que não só procura trabalho para os seus agenciados, como ela própria cria esses trabalhos.

M.L: Anteriormente estreou-se na encenação com o espetáculo “Era uma vez… uma Princesa” da qual também participou. Que balanço faz da sua primeira experiência na encenação?
S.B.L: Eu sou uma formiga no mundo do Teatro. Nunca se pode dizer que aquilo tenha sido uma encenação! Foi um grupo de jovens que queriam fazer Teatro, tinham ideias e vontade, não tinham dinheiro, mas não fez mal! Juntamo-nos e criámos. Um escreveu, outro compôs, outros improvisavam e a minha função foi harmonizar tudo em palco.

M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
S.B.L: Eu adoro atores. Quero dizer, eu adoro pessoas. Gosto de perceber como temos que nos moldar uns aos outros de forma a que podermos conviver e trabalhar. Gosto de conhecer pessoas novas, diferentes, gosto de aprender e gosto que me façam duvidar dos princípios que considero elementares, que me tirem da zona de conforto. Dessa forma, se enumerasse alguns nomes estaria a excluir um enorme conjunto de pessoas que não conheço, que nem sei que existem, mas que estão algures no mundo e têm alguma coisa para me ensinar.

M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy com a telenovela da SIC “Laços de Sangue” da qual participou. Como vê este reconhecimento internacional?
S.B.L: A novela era muito boa e mereceu esse reconhecimento. A equipa e o elenco trabalharam muitíssimo bem e é sempre um orgulho, quando o nosso pequeno Portugal rasga as fronteiras e se mostra ao mundo.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.B.L: Foi a atriz Luísa Cruz. Já acompanhava o seu percurso em Teatro há muitos anos e desde o dia em que a conheci que tenho a certeza que quando for grande quero ser metade do que ela é. Admiro-a como pessoa, como atriz e como profissional…

M.L: Que balanço faz da sua carreira?
S.B.L: Eu quase não tenho carreira, quanto mais fazer um balanço dela! Ainda preciso de muito tempo para aprender e conquistar. E depois, preciso ainda que passe mais tempo sobre essas aprendizagens e conquistas para eu poder distanciar-me ao ponto de conseguir refletir sobre elas.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.B.L: Neste momento, estou a gravar a novela “Lua de Papel” (título provisório de "Doida por Ti") que vai estrear na TVI. Paralelamente comecei as rodagens da longa-metragem independente “Pecado Fatal” e tenho um novo projeto a estrear no Teatro Rápido em Outubro.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
S.B.L: Gostava de experimentar viver sozinha noutro país.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
S.B.L: A única coisa que podia mudar neste momento da minha vida é o valor que pago de Segurança Social!!! Tudo o resto, já sou muito felizarda por ter.ML

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