quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mário Lisboa entrevista... Joana Caçador

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Joana Caçador. Desde muito cedo que se interessou pelas artes tendo-se estreado na representação em 2008 e desde aí tem desenvolvido um promissor e versátil percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão e além da representação também é modelo e trabalha na Comunicação Social e recentemente participou na telenovela angolana "Windeck" que atualmente está em exibição na Televisão Pública de Angola. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 15 de Dezembro.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
J.C: Desde cedo sempre me inclinei muito para as artes, mas sem saber ao certo o que queria seguir. Em paralelo com os estudos comecei a trabalhar em moda, onde fui fazendo algumas participações e ganhando o gosto. Licenciei-me em Design Visual, mas confesso que nunca me apaixonei pela área. Acabando a licenciatura, como não queria parar de estudar fui tirar um curso anual de teatro e a partir daí foi impossível parar, torna-se um amor e um "vício" saudável para a vida.

M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto atriz?
J.C: Vou focar-me sobretudo em portuguesas, pois temos maravilhosos atores/atrizes dos quais nos devemos orgulhar: Custódia Gallego, Virgílio Castelo, Beatriz Batarda, Nuno Lopes, Elsa Valentim, o encenador João Mota.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
J.C: São três géneros que se complementam e são experiências muito diferentes, é quase impossível dizer que gosto mais desta ou daquela. No teatro é dar e receber naquele momento, é uma troca de emoções com o público, uma partilha e há uma energia mística que envolve o palco. A magia da televisão é outra, é todos os dias conhecermos um pouco mais da nossa personagem, o grava e corta e o saltar de uma emoção para a outra. Cinema é o detalhe e o mestre da magia. No entanto, a base e o principal é o mesmo: a arte de representar, criar e viver personagens, dar e receber, a partilha.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou até agora, enquanto atriz?
J.C: Destaco três trabalhos e um em cada género. No teatro: "O Musical do Panda Vai à Escola". Lembro-me muito bem de estar a subir ao palco do Campo Pequeno e mal vimos aquela plateia cheia de crianças de olhinhos a brilhar e a gritar, fiquei toda arrepiada e as lágrimas deslizaram-nos pela cara. Para o 48 Hour Film Festival participei com uma equipa maravilhosa e ganhámos o Prémio do Público com "Um dia de Chica". Foi uma experiência única, porque vimos e todos ajudámos desde o início (escrita, produção, decisões...) até quase ao final, 48 horas sem dormir a criar um filme de raiz. E agora sem dúvida, “Windeck” (a novela angolana) marcou-me muito, pois foi um desafio fazer de mãe e de bem mais velha e todo o elenco e equipa são maravilhosos e muito animados.

M.L: Além da representação também é modelo e trabalha na Comunicação Social. Qual destas funções em que se sente melhor?
J.C: São áreas muito diferentes. Sempre gostei muito de moda (passerelle e fotografia), mas é algo que termina cedo, sinto-me mais à vontade e divirto-me muito, pois já o faço há 13 anos, mas a Comunicação Social é algo mais recente e que me desafia bastante.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
J.C: O workshop que tirei no (Teatro da) Comuna com João Mota foi algo que me marcou como atriz e como pessoa e senti que dei um salto. Penso que todas as pessoas deveriam ter experiências semelhantes mesmo que não queiram seguir a área, pois é uma aprendizagem muito enriquecedora.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
J.C: No geral vejo com bons olhos. No teatro vi já bastantes trabalhos que me encheram de orgulho de ser portuguesa. Tenho pena é de às vezes as peças ficarem tão pouco tempo em cena que nem sempre as conseguimos ver e o teatro é para o público, sem ele não existe. A ficção nacional tem evoluído bastante e estamos ao mesmo nível e às vezes até mesmo superior do que se tem feito lá fora e tudo em poucos anos. Acho é que deveria ser um circuito mais aberto.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
J.C: Sem dúvida, acho que essa experiência seria muito enriquecedora pessoalmente, bem como profissionalmente. Especialmente nesta área, experiências dessas como viver noutros países, conhecer outras culturas são essenciais. Mas acabaria sempre por voltar cá, porque adoro o nosso país e tenho cá todas as minhas raízes.

M.L: Recentemente participou na telenovela angolana “Windeck” que atualmente está em exibição na Televisão Pública de Angola, onde interpretou a personagem Célia. Como foi a experiência de trabalhar num projeto desta dimensão?
J.C: Foi único. Lembro-me do primeiro dia em que entrei no estúdio para testes de imagem e estarem todos a cantar bem animados e fiquei logo contagiada. Neste projeto há uma parceria entre Angola e Portugal que funcionou muito bem. Ao ouvir os meus colegas que vivem em Angola fiquei com muita vontade de ter a experiência de viver lá por um período de tempo.

M.L: Como é que surgiu o convite para participar nesta telenovela?
J.C: Estive com uma peça em cena com o Encenador Durval Lucena e correu muito bem. É um encenador e professor com quem adoro trabalhar e aprender. Ele ficou com a direção de atores desta novela. A minha agência propôs-me e como já conheciam o meu trabalho fiquei.

M.L: Como vê atualmente Angola?
J.C: Penso que só vivendo lá poderia ter a certeza e analisar bem. Mas penso que estão a crescer numa boa direção, mais social e humana. Há uns anos atrás teria receio de ir lá, hoje em dia adorava viver lá por um tempo.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou até agora, enquanto atriz?
J.C: Foram várias, mas destaco o encenador João Mota, Durval Lucena e agora mais recente sem dúvida, a Beatriz Batarda. Uma pessoa que está ao meu lado desde o início e me tem marcado bastante e com quem tenho aprendido muito é o meu namorado Luís Lourenço. Admiro muito o seu percurso e trabalho.

M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
J.C: É uma das provas de como estamos de parabéns e conseguimos crescer rapidamente e com qualidade e ficar ao nível do que se faz lá fora ou superior como já disse anteriormente. E no ano passado, além de nomeados ganhámos com “Laços de Sangue” (SIC). Estamos de Parabéns sem dúvida e são merecidos.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
J.C: Tal como em todas as áreas, a Formação é essencial e nunca se esqueçam que nesta profissão temos de meter o ego no bolso e saber dar e receber. É uma área que temos de estar sempre a aprender, a experimentar e a atualizar.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora, enquanto atriz?
J.C: É uma área que não é fácil termos trabalho e só me posso considerar uma sortuda, não comecei assim há tanto tempo e já tive grandes experiências e oportunidades. Tenho pena às vezes do dia não ter 48 horas, pois o tempo voa e eu sou "workaholic".

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
J.C: Vou continuar com as peças infantis itinerantes, estou a concluir o curso da ACT-Escola de Atores. Gostaria de conseguir conciliar com teatro, mas o horário do curso não permite, por enquanto. E alguns projetos ainda estão a ser conversados, mas espero em breve já ter novidades.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
J.C: A nível profissional gostava muito de ter essa experiência de trabalhar fora por um período de tempo (Angola, Brasil, Nova Iorque), é um dos meus sonhos sem dúvida. Outra experiência que adorava era pegar nas malas e conhecer países com culturas bem diferentes e mesmo com fundo solidário.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
J.C: Se os meus projetos se concretizarem já fico muito feliz. Tenho uma família, amigos e namorado maravilhosos, estamos bem de saúde, faço o que gosto, não posso pedir muito mais. Ontem (dia 14 de Dezembro) estive num jantar de solidariedade para sem-abrigos e a felicidade deles com um prato de comida e música foi contagiante e isto faz pensar e muito.ML

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