M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
J.C: Desde cedo sempre me
inclinei muito para as artes, mas sem saber ao certo o que queria seguir. Em
paralelo com os estudos comecei a trabalhar em moda, onde fui fazendo algumas
participações e ganhando o gosto. Licenciei-me em Design Visual, mas confesso
que nunca me apaixonei pela área. Acabando a licenciatura, como não queria
parar de estudar fui tirar um curso anual de teatro e a partir daí foi
impossível parar, torna-se um amor e um "vício" saudável para a vida.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz?
J.C: Vou focar-me sobretudo em portuguesas, pois
temos maravilhosos atores/atrizes dos quais nos devemos orgulhar: Custódia Gallego,
Virgílio Castelo, Beatriz Batarda, Nuno Lopes, Elsa Valentim, o encenador João
Mota.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
J.C: São três géneros que
se complementam e são experiências muito diferentes, é quase impossível dizer que
gosto mais desta ou daquela. No teatro é dar e receber naquele momento, é uma
troca de emoções com o público, uma partilha e há uma energia mística que
envolve o palco. A magia da televisão é outra, é todos os dias conhecermos um
pouco mais da nossa personagem, o grava e corta e o saltar de uma emoção para a
outra. Cinema é o detalhe e o mestre da magia. No entanto, a base e o principal
é o mesmo: a arte de representar, criar e viver personagens, dar e receber, a
partilha.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a
marcou até agora, enquanto atriz?
J.C: Destaco três
trabalhos e um em cada género. No teatro: "O Musical do Panda Vai à
Escola". Lembro-me muito bem de estar a subir ao palco do Campo Pequeno e
mal vimos aquela plateia cheia de crianças de olhinhos a brilhar e a gritar,
fiquei toda arrepiada e as lágrimas deslizaram-nos pela cara. Para o 48 Hour
Film Festival participei com uma equipa maravilhosa e ganhámos o Prémio do Público
com "Um dia de Chica". Foi uma experiência única, porque vimos e
todos ajudámos desde o início (escrita, produção, decisões...) até quase ao
final, 48 horas sem dormir a criar um filme de raiz. E agora sem dúvida, “Windeck”
(a novela angolana) marcou-me muito, pois foi um desafio fazer de mãe e de bem
mais velha e todo o elenco e equipa são maravilhosos e muito animados.
M.L: Além da representação também é modelo e trabalha
na Comunicação Social. Qual destas funções em que se sente melhor?
J.C: São áreas muito
diferentes. Sempre gostei muito de moda (passerelle e fotografia), mas é algo
que termina cedo, sinto-me mais à vontade e divirto-me muito, pois já o faço há
13 anos, mas a Comunicação Social é algo mais recente e que me desafia
bastante.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
J.C: O workshop que tirei
no (Teatro da) Comuna com João Mota foi algo que me marcou como atriz e como
pessoa e senti que dei um salto. Penso que todas as pessoas deveriam ter
experiências semelhantes mesmo que não queiram seguir a área, pois é uma
aprendizagem muito enriquecedora.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
J.C: No geral vejo com
bons olhos. No teatro vi já bastantes trabalhos que me encheram de orgulho de
ser portuguesa. Tenho pena é de às vezes as peças ficarem tão pouco tempo em
cena que nem sempre as conseguimos ver e o teatro é para o público, sem ele não
existe. A ficção nacional tem evoluído bastante e estamos ao mesmo nível e às
vezes até mesmo superior do que se tem feito lá fora e tudo em poucos anos. Acho
é que deveria ser um circuito mais aberto.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
J.C: Sem dúvida, acho que
essa experiência seria muito enriquecedora pessoalmente, bem como
profissionalmente. Especialmente nesta área, experiências dessas como viver
noutros países, conhecer outras culturas são essenciais. Mas acabaria sempre
por voltar cá, porque adoro o nosso país e tenho cá todas as minhas raízes.
M.L: Recentemente participou na telenovela angolana
“Windeck” que atualmente está em exibição na Televisão Pública de Angola, onde
interpretou a personagem Célia. Como foi a experiência de trabalhar num projeto
desta dimensão?
J.C: Foi único. Lembro-me
do primeiro dia em que entrei no estúdio para testes de imagem e estarem todos
a cantar bem animados e fiquei logo contagiada. Neste projeto há uma parceria
entre Angola e Portugal que funcionou muito bem. Ao ouvir os meus colegas que
vivem em Angola fiquei com muita vontade de ter a experiência de viver lá por
um período de tempo.
M.L: Como é que surgiu o convite para participar nesta
telenovela?
J.C: Estive com uma peça
em cena com o Encenador Durval Lucena e correu muito bem. É um encenador e
professor com quem adoro trabalhar e aprender. Ele ficou com a direção de atores
desta novela. A minha agência propôs-me e como já conheciam o meu trabalho
fiquei.
M.L: Como vê atualmente Angola?
J.C: Penso que só vivendo
lá poderia ter a certeza e analisar bem. Mas penso que estão a crescer numa boa
direção, mais social e humana. Há uns anos atrás teria receio de ir lá, hoje em
dia adorava viver lá por um tempo.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou até agora,
enquanto atriz?
J.C: Foram várias, mas
destaco o encenador João Mota, Durval Lucena e agora mais recente sem dúvida, a
Beatriz Batarda. Uma pessoa que está ao meu lado desde o início e me tem
marcado bastante e com quem tenho aprendido muito é o meu namorado Luís
Lourenço. Admiro muito o seu percurso e trabalho.
M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da
TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria
de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
J.C: É uma das provas de
como estamos de parabéns e conseguimos crescer rapidamente e com qualidade e
ficar ao nível do que se faz lá fora ou superior como já disse anteriormente. E
no ano passado, além de nomeados ganhámos com “Laços de Sangue” (SIC). Estamos
de Parabéns sem dúvida e são merecidos.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.C: Tal como em todas as
áreas, a Formação é essencial e nunca se esqueçam que nesta profissão temos de
meter o ego no bolso e saber dar e receber. É uma área que temos de estar
sempre a aprender, a experimentar e a atualizar.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora, enquanto atriz?
J.C: É uma área que não é
fácil termos trabalho e só me posso considerar uma sortuda, não comecei assim
há tanto tempo e já tive grandes experiências e oportunidades. Tenho pena às
vezes do dia não ter 48 horas, pois o tempo voa e eu sou "workaholic".
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
J.C: Vou continuar com as peças infantis itinerantes,
estou a concluir o curso da ACT-Escola de Atores. Gostaria de conseguir
conciliar com teatro, mas o horário do curso não permite, por enquanto. E
alguns projetos ainda estão a ser conversados, mas espero em breve já ter
novidades.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.C: A nível profissional
gostava muito de ter essa experiência de trabalhar fora por um período de tempo
(Angola, Brasil, Nova Iorque), é um dos meus sonhos sem dúvida. Outra experiência
que adorava era pegar nas malas e conhecer países com culturas bem diferentes e
mesmo com fundo solidário.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
J.C: Se os meus projetos se concretizarem já fico
muito feliz. Tenho uma família, amigos e namorado maravilhosos, estamos bem de
saúde, faço o que gosto, não posso pedir muito mais. Ontem (dia 14 de Dezembro)
estive num jantar de solidariedade para sem-abrigos e a felicidade deles com um
prato de comida e música foi contagiante e isto faz pensar e muito.ML
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