M.L: Como é que está a correr a peça “Alma”?
L.S: Está a correr melhor
do que eu achava. Porque é um espetáculo com muito suporte a todos os níveis e
que à partida diria que corresse sempre muito bem… Mas a todos os níveis está
mesmo a correr acima da expectativa, pois temos muito público, a opinião em
geral é muito positiva, os colegas dão-se muito bem, o espetáculo em geral
dá-me muito prazer fazer todas as noites, por isso só posso dizer que está a
correr muitíssimo bem.
M.L: Como é que surgiu esta peça?
L.S: Eu fui fazer uma
audição, havia muitas atrizes a fazer a audição entre mais ou menos da minha
idade ou um bocadinho mais velhas, o Nuno Carinhas escolheu-me e fiquei na
audição.
M.L: A peça é encenada por Nuno Carinhas. Como é
trabalhar com ele?
L.S: É maravilhoso. Foi
uma grande aprendizagem, uma longa aprendizagem. O Nuno tem uma forma muito
delicada e muito ponderada de trabalhar (o que nos permite chegar a
determinados sítios às vezes sem darmos até por isso) e de uma forma muito
calma e é muito gratificante trabalhar com ele, porque ao mesmo tempo ele
investe pressões sobre nós, porque nós próprios atores já pomos tanta pressão
em cima de nós e é incrível encontrarmos com uma pessoa que é exatamente o
oposto, que é dar liberdade ao ator para perceber o seu próprio tempo e para evoluir
no seu próprio tempo e nas suas próprias circunstâncias… Por isso, com essa
calma e com esse lado muito ponderado e paciente nos permite chegar a sítios
que nós nunca pensaríamos que fossemos capazes.
M.L: Qual é a personagem que interpreta nesta peça?
L.S: Interpreto a personagem
“Alma”. A “Alma” é o centro do espetáculo, portanto o espetáculo gira à volta
dessa personagem e no fundo é uma metáfora da vida de todos nós, é uma metáfora
do próprio caminho da vida. Esta “Alma” pode ser qualquer pessoa que tem como
percurso e tem como função fazer o caminho da vida do princípio ao fim.
M.L: Como tem sido a reação do público a esta peça?
L.S: Muito positiva, como
eu disse no princípio. Tem sido maravilhosa, porque eu tenho sentido que todas
as pessoas, de qualquer meio social, de qualquer estrato social se identificam,
porque é como eu disse isto são almas e é uma coisa que é comum a todos nós,
quer tenhamos escolaridade, quer não tenhamos, quer tenhamos dinheiro, quer não
tenhamos… Todos nós temos uma alma, por isso eu acho que as pessoas têm esta
opinião tão boa e tão positiva acerca do espetáculo, porque de qualquer das
formas, o espetáculo permite uma identificação com aquilo que estão a ver,
porque de fato aquilo é verdade, é real… O espetáculo é um bocado deles, é um
bocado de cada pessoa e acho que é isso que permite que seja um espetáculo muito
bem recebido.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
L.S: Foi uma coisa que
surgiu de uma forma muito natural. Era muito pequenina, já eu tinha 8 anos,
basicamente eu não tinha grande motivação com nada, na escola, no processo
escolar e entretanto uma professora minha percebeu que num exercício teatral
que se fez tinha visto uma Leonor diferente, uma Leonor mais motivada, mais
ativa, mais presente e disse à minha mãe (isto com 8 anos) e a minha mãe a
partir daí inscreveu-me em Curso de Expressão Dramática, ano após ano (ou seja
fiz Cursos de Expressão Dramática a partir dos 18 anos de idade) fazia sempre
um, durava sempre um ano letivo e assim fui crescendo de uma forma muito
natural ou seja foi um impulso dado pela minha mãe e pela minha professora, mas
que depois surgiu de uma forma muito natural e muito orgânica, porque eu rapidamente
percebi que fazia sentido, percebi que era uma coisa que me completava de fato.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz?
L.S: Não tenho muitas. A
primeira que me vêm à cabeça é uma que me ensinou muito não só como atriz, mas
como pessoa e como humana que é: a Beatriz Batarda. Mas tenho várias: a Luísa
Cruz, a Eunice Muñoz… Não tenho muitas, mas assim das mais próximas…
M.L: Dedicou até agora a sua vida profissional ao
teatro. Gostava de trabalhar no audiovisual (Cinema e Televisão)?
L.S: Gostava de
experimentar esse lado. Acho que faz parte também, nós como atores,
experimentarmos as outras vertentes nem que seja para sabermos se gostamos ou
não… Sim, tenho todo o interesse de um dia experimentar.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
L.S: Eu acho uma pergunta muito
difícil de responder. Porque todos os trabalhos nos marcam, todos os trabalhos
fazem com que nós consigamos fazer o trabalho que vem a seguir ou seja os
trabalhos são etapas, sem passares por aquela, não se consegue chegar à
seguinte e por isso a partir desse momento é muito ingrato escolher um trabalho
que tenha sido mais importante, porque todos os trabalhos são essenciais para
se construir um caminho e para se perceber um conjunto de hipóteses, de
alternativas, de soluções… Por isso, sinto-me mesmo com uma enorme dificuldade
em escolher o trabalho mais importante. Todos eles são muito importantes.
M.L: Como vê atualmente a Cultura em Portugal?
L.S: Sinto a Cultura em
Portugal de uma forma quase fantasma em que existe por grande motivação e por
grande força da parte de poucos e bons intervenientes, mas que não tem nenhuma
base de sustentação firme e sólida para poder dar frutos e acho que estamos
todos a remar contra a maré, porque de fato nós não temos apoio absolutamente
nenhum neste momento… Quer dizer, a Cultura não é vista como uma coisa, de
todo, essencial quanto mais considerada como uma coisa que tem que estar
presente, não é essencial, não tem nunca que estar presente… Eu acho que esse é
o grande problema da mentalidade portuguesa que é não educar as crianças e não
educar na escola para a Cultura e isso depois obviamente tem reflexos de uma
imensidade enorme e reflexos muito posteriores e faz com que nós seguimos o que
estamos hoje que é uma crise enorme, onde a Cultura é a primeira coisa a ser
posta de parte. Em vez de perceberem que exatamente a Arte e a Cultura são das
únicas coisas que, quer tenhamos dinheiro ou não tenhamos dinheiro, nós temos
que precisar…
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
L.S: Nunca pensei nisso,
não tenho isso como um objetivo, como um patamar… Não digo nem que sim, nem que
não, mas sinceramente nunca tinha pensado nisso… Eu quero trabalhar com as
pessoas que gosto, com as pessoas com as quais me identifico, trabalhar com
seres humanos quer seja aqui, quer seja na China…
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
L.S: É a mesma coisa em
relação ao trabalho. Um dos grandes momentos que me marcou, enquanto atriz foi
o fato de ter feito uma substituição de um ator que ficou doente em 8 dias, no
Teatro (Nacional) D. Maria (II), onde fui a minha grande estreia profissional
em 2011: o espetáculo “Azul Longe nas Colinas” encenado pela Beatriz Batarda e
essa resposta que eu tive de dar imediata e rápida em 8 dias foi de fato um
marco na minha vida, enquanto atriz. Muito nova e sem experiência que eu não
tenho ainda, tive que dar respostas rápidas e foi um episódio que me marcou
muito.
M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava
de trabalhar no futuro?
L.S: Tantos… Todos aqueles
com quem ainda não trabalhei.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como atriz?
L.S: Acho que é um balanço muito mais positivo do que alguma
vez eu esperei com esta idade ou seja tenho que o encarar de uma forma muito
honesta e muito clara e muito ponderada… Porque é como eu disse: isto está muito
difícil, a Cultura não está a ser apoiada, ser ator em Portugal é uma raridade
e um privilégio hoje em dia e de fato acho que com 21 anos (a entrevistada fez 22 anos recentemente) tenho muito mais do que
aquilo que alguma vez imaginei e por isso tenho que ir com muita calma.M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
L.S: Tudo aquilo que ainda não fiz gostava de fazer e como quase ainda não fiz nada tenho muita coisa que gostasse de fazer.ML
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