segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Mário Lisboa entrevista... Leonor Salgueiro

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Leonor Salgueiro. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se formado na Escola Profissional de Teatro de Cascais e estreou-se profissionalmente em 2011 com a peça "Azul Longe nas Colinas" de Dennis Potter e com encenação de Beatriz Batarda da qual estreou pela primeira vez no Teatro Nacional D. Maria II e também contou com a participação de atores como Albano Jerónimo, Bruno Nogueira, Dinarte Branco e Luísa Cruz e recentemente participou nas peças "Alma" (inspirada na obra de Gil Vicente) e "Casas Pardas" (de Maria Velho da Costa) que contaram com encenação de Nuno Carinhas e estiveram em cena no Teatro Nacional S. João no Porto e "O Sonho da Razão" que protagonizou ao lado de Dinarte Branco e de Luís Miguel Cintra (que também encenou) e esteve em cena no Teatro da Cornucópia. Esta entrevista foi feita no passado dia 28 de Abril no Teatro Nacional S. João no Porto na altura em que a entrevistada estava em cena com a peça "Alma" no Teatro Nacional S. João.

M.L: Como é que está a correr a peça “Alma”?
L.S: Está a correr melhor do que eu achava. Porque é um espetáculo com muito suporte a todos os níveis e que à partida diria que corresse sempre muito bem… Mas a todos os níveis está mesmo a correr acima da expectativa, pois temos muito público, a opinião em geral é muito positiva, os colegas dão-se muito bem, o espetáculo em geral dá-me muito prazer fazer todas as noites, por isso só posso dizer que está a correr muitíssimo bem.

M.L: Como é que surgiu esta peça?
L.S: Eu fui fazer uma audição, havia muitas atrizes a fazer a audição entre mais ou menos da minha idade ou um bocadinho mais velhas, o Nuno Carinhas escolheu-me e fiquei na audição.

M.L: A peça é encenada por Nuno Carinhas. Como é trabalhar com ele?
L.S: É maravilhoso. Foi uma grande aprendizagem, uma longa aprendizagem. O Nuno tem uma forma muito delicada e muito ponderada de trabalhar (o que nos permite chegar a determinados sítios às vezes sem darmos até por isso) e de uma forma muito calma e é muito gratificante trabalhar com ele, porque ao mesmo tempo ele investe pressões sobre nós, porque nós próprios atores já pomos tanta pressão em cima de nós e é incrível encontrarmos com uma pessoa que é exatamente o oposto, que é dar liberdade ao ator para perceber o seu próprio tempo e para evoluir no seu próprio tempo e nas suas próprias circunstâncias… Por isso, com essa calma e com esse lado muito ponderado e paciente nos permite chegar a sítios que nós nunca pensaríamos que fossemos capazes.

M.L: Qual é a personagem que interpreta nesta peça?
L.S: Interpreto a personagem “Alma”. A “Alma” é o centro do espetáculo, portanto o espetáculo gira à volta dessa personagem e no fundo é uma metáfora da vida de todos nós, é uma metáfora do próprio caminho da vida. Esta “Alma” pode ser qualquer pessoa que tem como percurso e tem como função fazer o caminho da vida do princípio ao fim.

M.L: Como tem sido a reação do público a esta peça?
L.S: Muito positiva, como eu disse no princípio. Tem sido maravilhosa, porque eu tenho sentido que todas as pessoas, de qualquer meio social, de qualquer estrato social se identificam, porque é como eu disse isto são almas e é uma coisa que é comum a todos nós, quer tenhamos escolaridade, quer não tenhamos, quer tenhamos dinheiro, quer não tenhamos… Todos nós temos uma alma, por isso eu acho que as pessoas têm esta opinião tão boa e tão positiva acerca do espetáculo, porque de qualquer das formas, o espetáculo permite uma identificação com aquilo que estão a ver, porque de fato aquilo é verdade, é real… O espetáculo é um bocado deles, é um bocado de cada pessoa e acho que é isso que permite que seja um espetáculo muito bem recebido.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
L.S: Foi uma coisa que surgiu de uma forma muito natural. Era muito pequenina, já eu tinha 8 anos, basicamente eu não tinha grande motivação com nada, na escola, no processo escolar e entretanto uma professora minha percebeu que num exercício teatral que se fez tinha visto uma Leonor diferente, uma Leonor mais motivada, mais ativa, mais presente e disse à minha mãe (isto com 8 anos) e a minha mãe a partir daí inscreveu-me em Curso de Expressão Dramática, ano após ano (ou seja fiz Cursos de Expressão Dramática a partir dos 18 anos de idade) fazia sempre um, durava sempre um ano letivo e assim fui crescendo de uma forma muito natural ou seja foi um impulso dado pela minha mãe e pela minha professora, mas que depois surgiu de uma forma muito natural e muito orgânica, porque eu rapidamente percebi que fazia sentido, percebi que era uma coisa que me completava de fato.

M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto atriz?
L.S: Não tenho muitas. A primeira que me vêm à cabeça é uma que me ensinou muito não só como atriz, mas como pessoa e como humana que é: a Beatriz Batarda. Mas tenho várias: a Luísa Cruz, a Eunice Muñoz… Não tenho muitas, mas assim das mais próximas…

M.L: Dedicou até agora a sua vida profissional ao teatro. Gostava de trabalhar no audiovisual (Cinema e Televisão)?
L.S: Gostava de experimentar esse lado. Acho que faz parte também, nós como atores, experimentarmos as outras vertentes nem que seja para sabermos se gostamos ou não… Sim, tenho todo o interesse de um dia experimentar.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
L.S: Eu acho uma pergunta muito difícil de responder. Porque todos os trabalhos nos marcam, todos os trabalhos fazem com que nós consigamos fazer o trabalho que vem a seguir ou seja os trabalhos são etapas, sem passares por aquela, não se consegue chegar à seguinte e por isso a partir desse momento é muito ingrato escolher um trabalho que tenha sido mais importante, porque todos os trabalhos são essenciais para se construir um caminho e para se perceber um conjunto de hipóteses, de alternativas, de soluções… Por isso, sinto-me mesmo com uma enorme dificuldade em escolher o trabalho mais importante. Todos eles são muito importantes.

M.L: Como vê atualmente a Cultura em Portugal?
L.S: Sinto a Cultura em Portugal de uma forma quase fantasma em que existe por grande motivação e por grande força da parte de poucos e bons intervenientes, mas que não tem nenhuma base de sustentação firme e sólida para poder dar frutos e acho que estamos todos a remar contra a maré, porque de fato nós não temos apoio absolutamente nenhum neste momento… Quer dizer, a Cultura não é vista como uma coisa, de todo, essencial quanto mais considerada como uma coisa que tem que estar presente, não é essencial, não tem nunca que estar presente… Eu acho que esse é o grande problema da mentalidade portuguesa que é não educar as crianças e não educar na escola para a Cultura e isso depois obviamente tem reflexos de uma imensidade enorme e reflexos muito posteriores e faz com que nós seguimos o que estamos hoje que é uma crise enorme, onde a Cultura é a primeira coisa a ser posta de parte. Em vez de perceberem que exatamente a Arte e a Cultura são das únicas coisas que, quer tenhamos dinheiro ou não tenhamos dinheiro, nós temos que precisar…

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
L.S: Nunca pensei nisso, não tenho isso como um objetivo, como um patamar… Não digo nem que sim, nem que não, mas sinceramente nunca tinha pensado nisso… Eu quero trabalhar com as pessoas que gosto, com as pessoas com as quais me identifico, trabalhar com seres humanos quer seja aqui, quer seja na China…

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
L.S: É a mesma coisa em relação ao trabalho. Um dos grandes momentos que me marcou, enquanto atriz foi o fato de ter feito uma substituição de um ator que ficou doente em 8 dias, no Teatro (Nacional) D. Maria (II), onde fui a minha grande estreia profissional em 2011: o espetáculo “Azul Longe nas Colinas” encenado pela Beatriz Batarda e essa resposta que eu tive de dar imediata e rápida em 8 dias foi de fato um marco na minha vida, enquanto atriz. Muito nova e sem experiência que eu não tenho ainda, tive que dar respostas rápidas e foi um episódio que me marcou muito.

M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
L.S: Tantos… Todos aqueles com quem ainda não trabalhei.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
L.S: Acho que é um balanço muito mais positivo do que alguma vez eu esperei com esta idade ou seja tenho que o encarar de uma forma muito honesta e muito clara e muito ponderada… Porque é como eu disse: isto está muito difícil, a Cultura não está a ser apoiada, ser ator em Portugal é uma raridade e um privilégio hoje em dia e de fato acho que com 21 anos (a entrevistada fez 22 anos recentemente) tenho muito mais do que aquilo que alguma vez imaginei e por isso tenho que ir com muita calma.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
L.S: Tudo aquilo que ainda não fiz gostava de fazer e como quase ainda não fiz nada tenho muita coisa que gostasse de fazer.ML

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