M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação, pela escrita e pelo jornalismo?
P.M.D.S: Bem, eu
tornei-me atriz por acidente. Sofri uma rotura lombar, enquanto bailarina no
extinto ACARTE e fui a uma audição para uma peça de teatro. Uma das atrizes
adoeceu e como eu sabia o texto substitui-a. Fiquei apaixonada pela
representação, por poder viver vidas que não a minha mas, claro que, precisava
de estudar, ter bases solidas. Tive a sorte de poder beber os conselhos dos
mestres Varela Silva, Curado Ribeiro e Armando Cortez. E continuei a estudar.
Em Espanha, Itália e mesmo cá. Quanto à escrita, bem, confesso que desde que me
lembro que sou gente, sempre escrevi. Há uns anos encontrei um caderno antigo
com textos meus e fiquei chocada. Alguns dos textos eram extremamente
deprimentes, talvez devido à infância solitária que tive e ao fato de ver a
minha mãe sofrer pela ausência do meu pai, então emigrado em França. Porém,
noutros textos deixava-me levar pela imaginação e criava lugares inexistentes. Foi
estranho, voltar a ler o que havia escrito com a distância desses anos. O
jornalismo veio como consequência de escrever sobre todos os temas e assuntos.
Não tenho papas na língua e através da escrita partilho a minha opinião.
Recordo que o meu primeiro trabalho em imprensa foi em (19) 94 numa revista que
se chamava Lisboa Magazine e sobre a falta de civismo das pessoas.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz, escritora e jornalista?
P.M.D.S: Influências,
propriamente ditas, não tenho. Em qualquer uma das áreas sou eu. Ajo com
naturalidade, com verdade e profissionalismo.
M.L: Enquanto atriz fez teatro, cinema e televisão.
Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
P.M.D.S: Sem qualquer
dúvida, o Teatro. O Teatro é um amor para toda a vida! Sentir o público, a
respiração do público, o calor… Cada espetáculo é diferente. É a arte maior!
Pese embora também goste da linguagem cinematográfica e de todo o trabalho de
equipa. Quanto à televisão, é o mediatismo e confesso que não me seduz…
Comparando com um relacionamento, diria que o teatro é, efetivamente, o meu
grande amor, o cinema uma paixão e a televisão um ‘flirt’. E para quê estragar
um grande amor pelo prazer de um ‘flirt’?!
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto como
atriz, escritora e jornalista?
P.M.D.S: Como atriz,
interpretar Maria Callas em “Callas La Divina” foi, sem sombra de dúvidas, um
marco na minha vida. Repito: na minha vida. A “Callas” entranhou-se-me de tal
maneira que demorei algum tempo a “despi-la”. Além de ter sido uma mulher
extraordinariamente cativante, o texto é muito bom e reporta-nos para às últimas
vinte e quatro horas de vida duma mulher grandiosa, um monstro de palco, um
furacão e, contudo, uma ave extremamente fragilizada. É um monólogo e um
grandioso desafio como atriz, porque tinha de contracenar comigo mesma enquanto
“Callas” e “Onassis”. Era extremamente violento! Cada espetáculo era como se
tivesse levado uma tareia! Espero poder fazê-lo em Portugal. Enquanto
jornalista gosto de reportagem, gosto do contato com as pessoas, por isso
também gostar tanto da entrevista.
M.L: Em 2011 estreou-se na literatura com o livro
“Amo-te-Cartas sem Destinatário”. Como é que surgiu a ideia de escrever este
livro?
P.M.D.S: Nunca foi ideia de ser
um livro. Fui desabafando, através do Facebook, e sob a forma de “cartas”, o
que me ia na alma. Confesso que nunca mais li os textos, são demasiados
viscerais e é como que arrancar crostas de feridas ainda por sarar. A reunião
dessas “cartas” foi ideia de outras pessoas. Além de que, também fui advertida
que os textos andavam a ser partilhados e repartilhados e perdendo-se assim os
direitos de autor.
M.L: Como foi a reação do público a este livro na
altura do seu lançamento?
P.M.D.S: Surpreendente.
Verdadeiramente surpreendente! E gratificante, claro. Recordo duas situações:
uma no Porto, um senhor dirigiu-se a mim para agradecer por ter escrito o
livro, pois graças a ele tinha percebido as recusas da mulher, durante o
processo oncológico. Outra situação foi a devolução do livro, assinado
inclusive, com a nota “Isto pertence-lhe. Não sou merecedor de o ter em meu
poder”. É a prova de que as minhas palavras foram escritas com alma, com
verdade, com todo o meu ser.
M.L: Como vê atualmente a Cultura e a Comunicação
Social em Portugal?
P.M.D.S: Sobre a Cultura,
prefiro até nem me prenunciar. E não me refiro, sequer, a organismos
governamentais. Porque esses agem em conformidade com a postura do povo. Somos
um povo aculturado. Temos de o dizer, sem qualquer pudor. Veja bem: as pessoas
preferem ir ver um filme em 3D, pagando o bilhete, os incómodos óculos, com
cenas repetidas e trabalhadas até à exaustão, com efeitos aparatosos em vez de irem
ver um espetáculo de teatro que é a 3D desde a Grécia antiga! Somos ou não um
país aculturado? E digo aculturado para não ferir suscetibilidades! Quanto à
Comunicação Social, em parte está como a Cultura: espartilhada. Porém,
conhecendo os bastidores de ambas as áreas, confesso ter tido mais deceções na
área da Comunicação Social do que propriamente no meio artístico. Os bastidores
da Imprensa é um autêntico viveiro de répteis. Salvo raras, muito raras
exceções (porque também há bons profissionais) de pessoas com coluna
vertebral. E quem já exerceu cargos de diretora de publicações (como foi o meu
caso) é como que condição ‘sine qua non’ fecharem-se todas as portas. Só prova a
pequenez ou mesmo insegurança de quem tem o poder nas mãos, receando, talvez,
serem ultrapassados. Enfim. E quando exercermos cargos de direção, de poder, há
sempre muitos convites para festas, eventos, tudo, mas tudo o que possa
imaginar. Depois… há a ausência. Os bajuladores que na época se afirmavam
amigos, descartam-nos. Esquecem-se que o mesmo irá acontecer com eles.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou tanto como atriz,
escritora e jornalista?
P.M.D.S: Ui, tantos.
Quer positiva, quer negativamente que prefiro não referir nomes.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira seja na representação, na escrita ou no jornalismo?
P.M.D.S: Em qualquer
uma das áreas, que seja verdadeiro. Aja com verdade, com convicção, naquilo que
acredita sem se importar com o que os outros dizem ou pensam.
M.L: Como vê o futuro da Cultura e da Comunicação
Social em geral nos próximos anos?
P.M.D.S: Não sou boa
a fazer previsões. Porém, acho que enquanto a mentalidade das pessoas não
mudar, enquanto viverem nos seus mundos pequeninos em conformidade com as suas
mentalidades e capacidades, não podemos esperar mudanças no que quer que seja.
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
P.M.D.S: Reconheço
que geri muito mal a minha carreira, durante estes 20 anos como atriz. Mas,
quando digo que geri mal, refiro-me às pausas mal ponderadas que fiz. Não me
arrependo das recusas a certas propostas, o que me fechou algumas portas, mas,
tendo-o feito, estou de bem comigo mesma. Posso ter perdido ou deixando escapar
algumas oportunidades, porque não corro atrás de foguetes, não peço e muito
menos cobro favores.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.M.D.S: Em projeto,
há um turbilhão deles! No imediato, a tournée
com o espetáculo “Amo-te, mas não sou louca”, continuar com as minhas aulas de
teatro e técnicas para falar em público (tenho turmas fantásticas), estou a
meio (mais coisa, menos coisa) do próximo livro, o meu blogue e namorar.
Namorar muito!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.M.D.S: Férias. Há
muitos, muitos anos que não tenho férias.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
P.M.D.S: Não
podendo mudar nada, gostava de, neste momento, ter a inocência que tinha em
criança, mas a sabedoria da minha avó.ML
Gostei imenso da entrevista! Beijo grande Paula!
ResponderEliminarAdorei a entrevista, parabens aos dois:)
ResponderEliminartanta treta junta.....Espanha e Italia .....sei.....ai photoshop os cartazes que consegues fazer e os atestados que tornas realidade.....
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