terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mário Lisboa entrevista... Paula Martín da Silva

Olá. A próxima entrevista é com a atriz, escritora e jornalista Paula Martín da Silva. Tornou-se atriz por acidente tendo sofrido uma rotura lombar, enquanto bailarina no extinto ACARTE e foi a uma audição para uma peça e uma das atrizes adoeceu e como sabia o texto substituiu-a e desde muito cedo que se interessou pela escrita e pelo jornalismo tendo desenvolvido um interessantíssimo percurso como atriz, escritora e jornalista e em 2011 estreou-se na literatura com o livro "Amo-te-Cartas sem Destinatário" tendo escrito mais dois livros respetivamente intitulados "Técnicas (fundamentais) para falar em público" e "Chef em Casa" e atualmente está a escrever o seu próximo livro. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 27 de Novembro.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação, pela escrita e pelo jornalismo?
P.M.D.S: Bem, eu tornei-me atriz por acidente. Sofri uma rotura lombar, enquanto bailarina no extinto ACARTE e fui a uma audição para uma peça de teatro. Uma das atrizes adoeceu e como eu sabia o texto substitui-a. Fiquei apaixonada pela representação, por poder viver vidas que não a minha mas, claro que, precisava de estudar, ter bases solidas. Tive a sorte de poder beber os conselhos dos mestres Varela Silva, Curado Ribeiro e Armando Cortez. E continuei a estudar. Em Espanha, Itália e mesmo cá. Quanto à escrita, bem, confesso que desde que me lembro que sou gente, sempre escrevi. Há uns anos encontrei um caderno antigo com textos meus e fiquei chocada. Alguns dos textos eram extremamente deprimentes, talvez devido à infância solitária que tive e ao fato de ver a minha mãe sofrer pela ausência do meu pai, então emigrado em França. Porém, noutros textos deixava-me levar pela imaginação e criava lugares inexistentes. Foi estranho, voltar a ler o que havia escrito com a distância desses anos. O jornalismo veio como consequência de escrever sobre todos os temas e assuntos. Não tenho papas na língua e através da escrita partilho a minha opinião. Recordo que o meu primeiro trabalho em imprensa foi em (19) 94 numa revista que se chamava Lisboa Magazine e sobre a falta de civismo das pessoas.

M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto atriz, escritora e jornalista?
P.M.D.S: Influências, propriamente ditas, não tenho. Em qualquer uma das áreas sou eu. Ajo com naturalidade, com verdade e profissionalismo.

M.L: Enquanto atriz fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
P.M.D.S: Sem qualquer dúvida, o Teatro. O Teatro é um amor para toda a vida! Sentir o público, a respiração do público, o calor… Cada espetáculo é diferente. É a arte maior! Pese embora também goste da linguagem cinematográfica e de todo o trabalho de equipa. Quanto à televisão, é o mediatismo e confesso que não me seduz… Comparando com um relacionamento, diria que o teatro é, efetivamente, o meu grande amor, o cinema uma paixão e a televisão um ‘flirt’. E para quê estragar um grande amor pelo prazer de um ‘flirt’?!

M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto como atriz, escritora e jornalista?
P.M.D.S: Como atriz, interpretar Maria Callas em “Callas La Divina” foi, sem sombra de dúvidas, um marco na minha vida. Repito: na minha vida. A “Callas” entranhou-se-me de tal maneira que demorei algum tempo a “despi-la”. Além de ter sido uma mulher extraordinariamente cativante, o texto é muito bom e reporta-nos para às últimas vinte e quatro horas de vida duma mulher grandiosa, um monstro de palco, um furacão e, contudo, uma ave extremamente fragilizada. É um monólogo e um grandioso desafio como atriz, porque tinha de contracenar comigo mesma enquanto “Callas” e “Onassis”. Era extremamente violento! Cada espetáculo era como se tivesse levado uma tareia! Espero poder fazê-lo em Portugal. Enquanto jornalista gosto de reportagem, gosto do contato com as pessoas, por isso também gostar tanto da entrevista.
                                      
M.L: Em 2011 estreou-se na literatura com o livro “Amo-te-Cartas sem Destinatário”. Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?
P.M.D.S: Nunca foi ideia de ser um livro. Fui desabafando, através do Facebook, e sob a forma de “cartas”, o que me ia na alma. Confesso que nunca mais li os textos, são demasiados viscerais e é como que arrancar crostas de feridas ainda por sarar. A reunião dessas “cartas” foi ideia de outras pessoas. Além de que, também fui advertida que os textos andavam a ser partilhados e repartilhados e perdendo-se assim os direitos de autor.

M.L: Como foi a reação do público a este livro na altura do seu lançamento?
P.M.D.S: Surpreendente. Verdadeiramente surpreendente! E gratificante, claro. Recordo duas situações: uma no Porto, um senhor dirigiu-se a mim para agradecer por ter escrito o livro, pois graças a ele tinha percebido as recusas da mulher, durante o processo oncológico. Outra situação foi a devolução do livro, assinado inclusive, com a nota “Isto pertence-lhe. Não sou merecedor de o ter em meu poder”. É a prova de que as minhas palavras foram escritas com alma, com verdade, com todo o meu ser.

M.L: Como vê atualmente a Cultura e a Comunicação Social em Portugal?
P.M.D.S: Sobre a Cultura, prefiro até nem me prenunciar. E não me refiro, sequer, a organismos governamentais. Porque esses agem em conformidade com a postura do povo. Somos um povo aculturado. Temos de o dizer, sem qualquer pudor. Veja bem: as pessoas preferem ir ver um filme em 3D, pagando o bilhete, os incómodos óculos, com cenas repetidas e trabalhadas até à exaustão, com efeitos aparatosos em vez de irem ver um espetáculo de teatro que é a 3D desde a Grécia antiga! Somos ou não um país aculturado? E digo aculturado para não ferir suscetibilidades! Quanto à Comunicação Social, em parte está como a Cultura: espartilhada. Porém, conhecendo os bastidores de ambas as áreas, confesso ter tido mais deceções na área da Comunicação Social do que propriamente no meio artístico. Os bastidores da Imprensa é um autêntico viveiro de répteis. Salvo raras, muito raras exceções (porque também há bons profissionais) de pessoas com coluna vertebral. E quem já exerceu cargos de diretora de publicações (como foi o meu caso) é como que condição ‘sine qua non’ fecharem-se todas as portas. Só prova a pequenez ou mesmo insegurança de quem tem o poder nas mãos, receando, talvez, serem ultrapassados. Enfim. E quando exercermos cargos de direção, de poder, há sempre muitos convites para festas, eventos, tudo, mas tudo o que possa imaginar. Depois… há a ausência. Os bajuladores que na época se afirmavam amigos, descartam-nos. Esquecem-se que o mesmo irá acontecer com eles.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou tanto como atriz, escritora e jornalista?
P.M.D.S: Ui, tantos. Quer positiva, quer negativamente que prefiro não referir nomes.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira seja na representação, na escrita ou no jornalismo?
P.M.D.S: Em qualquer uma das áreas, que seja verdadeiro. Aja com verdade, com convicção, naquilo que acredita sem se importar com o que os outros dizem ou pensam.

M.L: Como vê o futuro da Cultura e da Comunicação Social em geral nos próximos anos?
P.M.D.S: Não sou boa a fazer previsões. Porém, acho que enquanto a mentalidade das pessoas não mudar, enquanto viverem nos seus mundos pequeninos em conformidade com as suas mentalidades e capacidades, não podemos esperar mudanças no que quer que seja.

M.L: Que balanço faz da sua carreira?
P.M.D.S: Reconheço que geri muito mal a minha carreira, durante estes 20 anos como atriz. Mas, quando digo que geri mal, refiro-me às pausas mal ponderadas que fiz. Não me arrependo das recusas a certas propostas, o que me fechou algumas portas, mas, tendo-o feito, estou de bem comigo mesma. Posso ter perdido ou deixando escapar algumas oportunidades, porque não corro atrás de foguetes, não peço e muito menos cobro favores.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.M.D.S: Em projeto, há um turbilhão deles! No imediato, a tournée com o espetáculo “Amo-te, mas não sou louca”, continuar com as minhas aulas de teatro e técnicas para falar em público (tenho turmas fantásticas), estou a meio (mais coisa, menos coisa) do próximo livro, o meu blogue e namorar. Namorar muito!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
P.M.D.S: Férias. Há muitos, muitos anos que não tenho férias.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
P.M.D.S: Não podendo mudar nada, gostava de, neste momento, ter a inocência que tinha em criança, mas a sabedoria da minha avó.ML

3 comentários:

  1. Gostei imenso da entrevista! Beijo grande Paula!

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  2. Adorei a entrevista, parabens aos dois:)

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  3. tanta treta junta.....Espanha e Italia .....sei.....ai photoshop os cartazes que consegues fazer e os atestados que tornas realidade.....

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