sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Mário Lisboa entrevista... António-Pedro Vasconcelos

Desde muito cedo que se interessou pela arte de contar histórias, primeiro pela Literatura (que é a sua grande paixão ainda hoje) e depois pelo Cinema que foi a área em que enveredou e que o tornou nomeadamente conhecido do grande público, sendo um dos realizadores mais emblemáticos do meio cinematográfico português. Pai da directora de casting Patrícia Vasconcelos e com a habilidade de fazer Cinema comercial com qualidade e que pode atrair o público para ver Cinema falado em português, realizou longas-metragens como "O Lugar do Morto" (1984), “Aqui D’El Rei!” (1992), "Os Imortais" (2003), "Call Girl" (2007) e "A Bela e o Paparazzo" (2010), e, recentemente, regressou à realização com a longa-metragem "Os Gatos Não Têm Vertigens" que estreou no passado dia 25 de Setembro e desde então tem sido bem-sucedida. Esta entrevista foi feita no Hotel Infante Sagres no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
A.P.V: Eu sempre gostei de contar histórias. Antes do cinema, comecei por me interessar pela literatura, pelos romances, devorava livros, desde que me lembro. Na altura em que eu tive que escolher, se assim posso dizer, a minha vocação, o cinema nos finais dos anos 50 era uma coisa extraordinária, porque simultaneamente na Europa surgiu o movimento da Nouvelle Vague francesa, portanto houve oportunidades para jovens de fazerem filmes de outra maneira, e por outro lado houve a descoberta do cinema americano em grande parte graças à Cinemateca francesa que recuperou tudo o que pôde recuperar e divulgar da História do Cinema. Eu vivia em Paris nessa altura e frequentava a Cinemateca francesa, tendo visto uma média de mais de mil filmes por ano, todos os dias, durante quase três anos. Foi uma paixão que me surgiu como um prolongamento daquilo que era a minha curiosidade pelas histórias e achei que era mais fascinante contar histórias através de imagens, com personagens reais e filmando a realidade, do que através dos livros - apesar de a literatura ser a minha grande paixão ainda hoje.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto realizador?
A.P.V: São imensas. O cinema americano sempre me marcou muito nomeadamente o film noir. No que diz respeito a realizadores, o John Ford, o Howard Hawks, o Nicholas Ray, o Otto Preminger, o (Samuel) Fuller, o (Elia) Kazan, depois o Martin Scorsese dos primeiros filmes, o Clint Eastwood dos últimos, o Roberto Rossellini, o (Jean) Renoir, mais tarde o Jean-Luc Godard, o François Truffaut, etc.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como realizador?
A.P.V: Há filmes mais difíceis, com mais dificuldades. Os meus primeiros filmes foram muito difíceis, porque eu era simultaneamente o realizador e o produtor, portanto é sempre difícil de gerir. Foram filmes que tiveram muitos problemas, mas isto é como os filhos, a gente gosta de todos.

Depois houve um grande salto na minha obra que foi o “Aqui D’El Rei!” (1992), porque de repente eu vejo-me confrontado com um filme que tem um orçamento 30 vezes superior àquilo que era normal em Portugal e foi um filme que se tornou numa série, com 4 meses de filmagem, em que me confrontei pela primeira vez com uma estrutura profissional de produção.

Já neste século, fiz “Os Imortais” (2003) que teve uma produção difícil e foi um filme bastante mal produzido, portanto eu tive de me debater contra as dificuldades da produção, mas desde que trabalho com o Tino Navarro que deixei de ter este tipo de problemas. “Os Imortais” foi um filme muito difícil e pelo qual eu tenho um carinho especial, porque acho que é o meu filme que marca a minha maturidade como realizador e como pessoa.

M.L: “Os Imortais” contou, por exemplo, com a participação de Nicolau Breyner que interpretou o Inspector Malarranha, e sei que escreveu o papel a pensar nele. O que o levou a escolhê-lo para interpretar esta personagem?
A.P.V: Eu sempre achei que o Nico é um actor absolutamente fora-de-série e que andava perdido a fazer papéis cómicos (que ele faz muito bem), mas que no fundo nunca tinha tido a oportunidade de fazer um papel em que tivesse uma paleta tão vasta de representação. Escrevi o papel dele, em parte, para provar que ele é um actor completo, e foi a única vez na minha vida que escrevi um papel a pensar num actor; a partir daí o Nicolau passou a ser olhado de outra maneira. Infelizmente, muitos actores e realizadores portugueses não têm no seu país a oportunidade de fazerem a carreira que mereciam. Para mim, o Nico sempre foi um actor extraordinário e no fundo é como se eu estivesse estado estes anos todos à espera que ele amadurecesse para fazer o papel da sua vida, porque ele ganhou muito com a idade.ML

Esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.

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