segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Isabel Scisci

Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz profissional em 1985, e desde aí tem desenvolvido um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro. É co-autora da peça "As Encalhadas" que estreou pela primeira vez em Setembro de 2000 e está em digressão desde aí, na qual teve uma versão portuguesa protagonizada por Helena Isabel, Maria João Abreu e Rita Salema, dirigiu o extinto Teatro Paulista em São Paulo entre 1993 e 1996, e, atualmente, está no processo de escrever um livro. Esta entrevista foi feita no passado dia 13 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
I.S: Acho que a primeira vez que pensei em ser atriz foi quando tinha 5 anos de idade... Eu decorei uma poesia de duas páginas para uma apresentação na escola... Eu tinha uns cachinhos e um jeito que conquistou a plateia... A poesia chamava "As Faladeiras"... Eu falava mal de todo Mundo e, no final, fazia o sinal da cruz e dizia: "Ainda bem que não sou fofoqueira"... As pessoas aplaudiram-me de pé... E juro que lembro de ter pensado que gostaria de fazer isso na vida... Depois comecei a fazer apresentações com bonecos em minha casa. Eu convocava todos os vizinhos para assistir... E continuei-me apresentando nas escolas... Escrevia, dirigia e interpretava os meus próprios textos... 

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
I.S: Eu não tenho nenhuma influência direta que conscientemente tenha-me inspirado... Claro que admiro o trabalho de muitas atrizes... Mas ninguém que eu possa citar... A minha preocupação sempre foi com a mensagem que passaria no palco. Fiz também espetáculos experimentais. "As Encalhadas" foi a minha primeira comédia... E me animei em atuar porque iria escrever o texto... A ideia era provocar gargalhadas, mas falar de um assunto sério, a solidão... Acho que eu e a Miriam Palma (a outra autora e também atriz na peça) atingimos o objetivo... Muitas mulheres no final do espetáculo nos procuravam no camarim e diziam que haviam dado muitas risadas, mas que o pior é que era tudo verdade... Então as pessoas saíam da peça tendo a possibilidade de refletir sobre o assunto.

M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
I.S: Eu fiz algumas participações especiais em Cinema e Televisão, mas o meu objetivo sempre foi o Teatro... E já dirigi um teatro em São Paulo com duas salas de espetáculos e um restaurante de comida japonesa no saguão... Lá havia não só espetáculos de Teatro, Música e Dança, mas também desfiles de Moda e Eventos especiais... Virou um cult em São Paulo. Agora estou vivendo numa ilha e o meu objetivo é criar um espaço semelhante. Aqui ainda não tem nem Teatro, nem Cinema... E isso faz-me muita falta...

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
I.S: Eu gosto de todos os trabalhos que fiz... De uma forma ou de outra deixaram a sua marca... Mas na peça "As Larvas" eu arrastava-me pelo palco numa piscina com água gelada... Tinha que ter muito preparo físico... Eu e mais duas atrizes nos transformávamos... A peça começava com as três viradas de ponta cabeça. Enquanto o público entrava no teatro nós tínhamos que ir baixando, de forma impercetível, até ficarmos agachadas... Era quando começava a peça... O cenário, além da piscina, era um cavalo empalhado de ponta cabeça e um visual incrível criado pelo jogo de luzes... A nossa voz, a expressão corporal... Tudo era inusitado... A minha própria mãe disse que não havia-me reconhecido no palco...

M.L: É co-autora da peça “As Encalhadas” que estreou pela primeira vez em Setembro de 2000 e está em digressão desde aí, na qual teve uma versão portuguesa. Como é que surgiu a ideia de escrever esta peça?
I.S: Eu e a Miriam estávamos desempregadas. E como tínhamos experiência em produzir espetáculos decidimos montar uma comédia. Só que queríamos uma comédia que também fizesse pensar, que não fosse apenas um espetáculo para se dar risadas... Começamos a pesquisar e não encontrávamos nenhum texto que nos seduzisse... Pensamos em encomendar uma peça para uma autora de teatro que estava despontando naquela época com uma comédia inteligente... Mas resolvemos encarar o desafio de escrever a quatro mãos, o que não é nada fácil... Na época eu havia mudado para um apartamento sozinha e estava vivenciando a experiência da solidão... Foi quando surgiu a ideia de escrever sobre esse tema...

M.L: Já alguma vez imaginou que “As Encalhadas” tivesse a longevidade que tem atualmente?
I.S: Quando a Bibi Ferreira estava ensaiando com a gente... Ela foi a diretora da peça... Disse que tinha a certeza que a peça seria um sucesso... A Bibi é super-respeitada no Brasil pelos seus trabalhos como atriz, cantora e diretora e a opinião dela sempre foi muito importante... Ficamos entusiasmadas, mas nem na melhor das hipóteses eu sonhava com um período tão grande de apresentações... Surgiu até o fan club de “As Encalhadas”, com mulheres que haviam assistido várias vezes ao espetáculo... A peça fazia sucesso até com as crianças, mesmo não sendo o nosso público-alvo... Uma menina de 10 anos chegou assistir mais de dez vezes... Ela sabia todas as músicas de cor...

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão) no Brasil?
I.S: Tanto o Teatro como o Cinema precisam de muitos incentivos para conseguir viabilizar os seus projetos... Fazer arte no Brasil não é nada fácil... Um espetáculo para ser colocado em cartaz precisa necessariamente de patrocínio... A sala de espetáculos é cara para se alugar, o preço da divulgação e da produção de cenários e figurinos também... Então o que se vê são peças de poucos atores e investimento mínimo na produção, com raras exceções... O público também acaba por ir aos espetáculos em que se apresentam os atores televisivos, de maneira geral... As novelas ainda têm uma grande aceitação, mas acredito que a sua fórmula já esteja bastante desgastada...

M.L: Em 2015, celebra 30 anos de carreira, desde que se estreou como atriz profissional em 1985. Que balanço faz destes 30 anos?
I.S: Eu não faço nenhum balanço... Procuro viver o momento e pensar nos projetos futuros... Estou empenhada atualmente em conseguir construir um Centro Cultural em Ilhabela... E também escrevendo um livro... Mas quando olho para trás fico contente por ter-me dedicado à Cultura com paixão em todos esses anos...

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
I.S: O conselho para quem quer seguir a profissão é estudar muito... E não se limitar, procurar ter experiências em todos os campos... Escrever, atuar, dirigir... E também se embrenhar na produção dos próprios projetos...

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
I.S: Agora a minha preocupação maior está sendo no meu desenvolvimento espiritual... Estou vivendo um tempo de uma viagem mais interior... Acho que tem muito a ver com o processo de escrever esse livro... E gostaria muito de poder publicá-lo e estreitar esse contacto com o mundo da Literatura.ML

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