quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Sofia Nicholson

Filha do actor, escritor e encenador Francisco Nicholson, desde muito cedo que se interessou pela representação, tornando-se numa das melhores e mais acarinhadas actrizes da sua geração, com um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Cinzas" (RTP), "A Lenda da Garça" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "Olhos de Água" (TVI), "A Senhora das Águas" (RTP), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Ilha dos Amores" (TVI), "Morangos com Açúcar" (TVI), "A Outra" (TVI), "Deixa Que Te Leve" (TVI), "Espírito Indomável" (TVI), "Doce Tentação" (TVI) e "Giras e Falidas" (TVI). Empenhada e apaixonada pela sua arte, recentemente participou na telenovela "O Beijo do Escorpião" que esteve em exibição na TVI. Esta entrevista foi feita no passado dia 25 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.N: Desde que me conheço. Cresci em teatros, e estúdios de televisão, sempre foi um mundo que me fascinou. Fiz o meu 1º curso de representação aos 14 anos. Mas desde miúda que brincava aos teatrinhos sozinha no meu quarto.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto actriz?
S.N: Para começar o meu pai. Não que me tenha incentivado, que não o fez, mas vê-lo trabalhar enquanto actor e encenador, e assistir aos seus espectáculos ajudou muito na minha opção. Depois existem actores e actrizes que admiro e que são fontes de inspiração brutais a nível nacional e internacional, filmes que me marcaram, músicas, pessoas, sobretudo pessoas.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
S.N: Não posso afirmar que prefiro uma área à outra. São linguagens e formas de trabalhar diferentes. De alguma forma são trabalhos de actor que se completam; cada um tem a sua adrenalina e todos são prazerosos. Não consigo preferir um a outro, nem conseguiria abdicar de nenhuma das áreas. Mas confesso que gostava de fazer mais cinema.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como actriz?
S.N: Todos me marcam de uma forma ou de outra. Seja pelo papel em si, pelo ambiente que se viveu durante o processo de trabalho, ou pelo impacto que teve. Tenho um carinho particular por todos quanto mais não seja por ter dado um pouco de mim e eles terem-me dado algo também. Cresço e aprendo em cada trabalho que faço. Quer profissionalmente quer a nível pessoal.

M.L: Entre 2001 e 2002, participou na telenovela “A Senhora das Águas” que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem Sónia Mendes Bernardes. Que recordações guarda desse trabalho?
S.N: A Sónia é me particularmente querida por ter sido o 1º e talvez o único papel menos simpático que desempenhei. Gostava de me descolar mais da imagem de boazinha que me é na maioria dos casos atribuída, é verdade. Talvez por isso goste desta Sónia por ser tão diferente da Sofia. Guardo boas recordações deste projecto.

M.L: Como vê, actualmente, o teatro e a ficção nacional?
S.N: Estamos a falar de dois sectores totalmente diferentes. A ficção nacional tem financiamento que poucos teatros têm. No entanto folgo em ver que estão em cena muitos espectáculos, mas é preciso ter consciência que muitos deles representam um investimento pela parte da produção dos mesmos que na maioria dos casos não tem retorno. E isso entristece-me. São muito poucos os que conseguem ganhar a vida só a fazer teatro. E orgulho-me de quem não desiste apesar de saber que a fraca receita de bilheteira pode apenas vir a cobrir os custos de produção e pouco mais. Devia ser dada muito mais atenção e existir mais subsídios nesta área.

A novela faz parte do quotidiano de muitos portugueses, as séries que têm sido produzidas também são muito bem recebidas; a ficção nacional ganhou o seu lugar no panorama audiovisual. E dá trabalho a muita gente, quer a actores, quer a técnicos. Tem de ser acarinhada por isso e tratada com cuidado para continuar a investir nela. Não usar a crise como desculpa até porque está provado que em tempos de crise as pessoas veem mais televisão.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
S.N: Muito bem. Sinto-me acarinhada. E sou-lhe grata porque no fundo o reconhecimento do público é que me dá trabalho e vontade de fazer mais e melhor.

M.L: É filha do actor, escritor e encenador Francisco Nicholson. Como vê o percurso que o seu pai tem feito até agora?
S.N: O meu pai é um grande senhor. Não há nada que não tenha feito. Trabalhou em todas as áreas para todos os géneros. E muitas vezes contra corrente. Passou pela censura, teve de contornar muitos obstáculos muitos deles políticos. Não teve medo de fazer a Revolução aproveitando a área em que se movimentava melhor, a sua forma de expressão. Fez de um barracão um teatro que vi maioritariamente de plateia cheia e que fez nome. Os tempos eram outros, mais rijos, no entanto a sala enchia. Escreveu a 1ª novela portuguesa (“Vila Faia” (RTP), a 2ª também (“Origens” (RTP). Ele tem um currículo invejável e louvável. Só posso ter orgulho nele. Quem me dera aos 45 anos ter conseguido fazer metade do que ele já tinha feito com a mesma idade. Agora vai lançar o seu 1º romance (“Os Mortos Não Dão Autógrafos”), aos 76 anos. Ele só prova que quem quer pode. É um grande exemplo.

M.L: Em 2013, participou no musical “O Despertar da Primavera” de Steven Sater e Duncan Sheik e encenado por Fernando Pinho, na qual esteve em cena na Casa da Criatividade em S. João da Madeira. Como é que se sentiu ao participar no espectáculo inaugural de um espaço cultural?
S.N: Este processo foi mágico. E inauguramos com ele um espaço magnífico que em nada fica atrás de salas de renome internacional, muito pelo contrário. Foi muito emocionante até porque a responsabilidade e o empenho que toda a equipa teve e sentiu por inaugurar a Casa da Criatividade foram recompensados por ovações de pé de uma sala de quase 500 pessoas em todas as representações. Senti um orgulho enorme.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.N: Empenho, humildade, persistência e aceitar que vai ouvir muitos "nãos".

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como actriz?
S.N: Tenho tido a possibilidade de trabalhar de forma regular quer em televisão quer em teatro. Optei por uma vida bastante instável de muita incógnita o que é um desafio para quem procura segurança e certezas. Acho sempre que podia ter feito melhor mas o actor é assim mesmo, insatisfeito por natureza. Quero sempre mais e melhor, mas quem não quer? Não tenho razão de queixa no fundo. Estou grata por ter conseguido até agora manter-me na área que escolhi.

M.L: Quais são os seus próximos projectos?
S.N: Estou neste momento a preparar-me para uma peça de teatro a estrear em 2015. E espero em breve voltar ao pequeno ecrã.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.N: Tanta coisa! Tenho 45 anos, mal seria se tivesse feito tudo, e nada ou pouco faltasse. Julgo que nunca conseguimos fazer tudo, fica sempre algo por fazer. Olha, vou fazendo conforme vão surgindo as oportunidades. E que viva ainda muitos e bons anos para fazer o mais possível!ML

Esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.

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