sábado, 27 de setembro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Daniel Catalão

Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo e tem desenvolvido um respeitado percurso como jornalista que passa pela imprensa, pela rádio e pela televisão. Com uma enorme paixão pelo que faz, trabalha, atualmente, na RTP, e afirma que gosta de lidar com o público que o acompanha. Esta entrevista foi feita no passado dia 21 de Janeiro na sede da RTP Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
D.C: O interesse pelo jornalismo surgiu muito cedo ainda na escola secundária. Desde muito pequeno que eu achei graça a ideia de poder contar histórias ou querer relatar aquilo que acontecia na própria escola. Eu só sonhei ser duas coisas na vida: piloto de aviação e jornalista. Não consegui ser piloto de aviação, porque a matemática trocou-me as voltas muito cedo. Continuei a gostar de aviões, mas a minha tendência para as letras revelou-se muito rapidamente, e logo no 9º ano os meus professores disseram-me que tinha que seguir Humanidades, porque a minha tendência eram as letras e não os números.

M.L: Quais são as suas influências nesta área?
D.C: Eu não tenho uma influência direta de pessoas, no fundo gosto mais de referenciar escolas ou formas de fazer, mas gosto muito da forma de trabalhar dos anglo-saxónicos, acho que são muito diretos e procuram explorar bem a imagem e o som. No fundo, a minha grande escola de jornalismo foi a Agência Lusa e eu aprendi a ser realmente sintético e ir direto ao assunto, a não adjetivar e tentar perceber imediatamente qual é o cerne da história e ficar por aí sem distrair muito as pessoas.

M.L: Como jornalista, trabalha, essencialmente, na televisão. Gostava de ter trabalhado mais na rádio e na imprensa?
D.C: A minha carreira começou na rádio, portanto foi aí que eu acabei por entrar no mundo do jornalismo a sério, e depois fiz uma transição para a Agência Lusa e durante muitos anos acabei por trabalhar simultaneamente na rádio, na Agência Lusa e para jornais, portanto o meu início de carreira desenvolveu-se muito nessas áreas. A televisão acabou por surgir quase como um acidente na minha vida, nunca foi um objetivo, nunca tive intenções de trabalhar na televisão, estava longe disso, porque a rádio era a grande paixão da minha vida até que um dia me convidaram a vir para a RTP, portanto foi um tropeção agradável. Mas quando entrei no mundo televisivo percebi que era a minha “água” e adaptei-me muito facilmente à linguagem do audiovisual e agora naturalmente é aquela que eu gosto mais e já não consigo ver sem estar a trabalhar no audiovisual e na televisão que é o meio que mais me cativa neste momento.

M.L: Na televisão, trabalha, atualmente, na RTP. Que balanço faz do tempo em que trabalha no canal?
D.C: Eu faço um balanço muito positivo. Porque acho que consegui interiorizar o que é o essencial da comunicação televisiva e acho que consegui de alguma forma criar empatia com os espectadores. Dentro da RTP, grande parte do meu tempo é passado a fazer apresentação, também já fiz muitas reportagens obviamente, portanto acima de tudo consegui fazer muita coisa e consegui fazer um percurso no sentido de chegar a um ponto, onde consigo fazer aquilo que verdadeiramente gosto que é apresentar, mas também falar dos assuntos que me atraem nomeadamente Tecnologia e Internet.

M.L: A RTP existe, desde 1957. Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
D.C: Eu acho que a RTP tem seguido um caminho que os serviços públicos em toda a Europa têm seguido. Houve uma primeira fase em que o serviço público teve uma importância muito grande do ponto de vista da ligação dos portugueses, de formação inclusivamente mostrar o Mundo. Obviamente que a partir dos anos 80 as coisas mudaram muito, o mercado abriu-se para os canais privados, o Mundo mudou com a Internet, e todo este percurso e a todos estes novos desafios a RTP tem sabido adaptar-se, embora com muitas dificuldades obviamente, mas como todas as empresas. Eu acho que o percurso da RTP tem sido sustentado.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como jornalista?
D.C: O que mais me marcou profissionalmente e humanamente foi o trabalho que eu fiz em Timor-Leste em (19) 99, porque foi uma experiência profissional longe de casa e durante muito tempo, mas ao mesmo tempo foi uma experiência humana muito forte, muito rica e muito impactante, porque todo aquele processo de Timor-Leste e o tempo em que eu estive na Indonésia, em Timor e depois na Austrália fez com que a minha perceção do Mundo ficasse um bocadinho indiferente e nomeadamente em Timor a situação foi complexa, porque havia um lado humano e um lado jornalístico e os dois tiveram que se juntar e criar uma barreira e uma resistência para que o trabalho pudesse ser feito. Jornalisticamente, foi muito exigente, porque era um trabalho feito sem condições de sobrevivência, portanto foi muito difícil de trabalhar e depois enfrentar uma realidade de sofrimento e de sobrevivência também das pessoas. Em termos humanos e jornalísticos, foi um desafio muito grande.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
D.C: Os órgãos de Comunicação Social vivem o problema que o país vive e nós temos um mercado publicitário muito pequeno (70% ou 80% do investimento publicitário é em televisão), portanto é muito difícil que os outros órgãos de Comunicação Social, os jornais e as rádios se mantenham. A pressão é muito grande em termos orçamentais, o que faz com que depois tenha que haver muita criatividade para ter conteúdos, mas a falta de dinheiro faz com que não haja grande investimento em trabalho de fundo, porque fazer jornalismo ou programas é muito caro. Temos que ter essa noção e é um investimento a médio-longo prazo e o que nós fazemos constantemente é investir a curto prazo, portanto temos que preencher antena, páginas de jornais e como não há dinheiro para produzir mais não é possível produzir tanto e tão bem como todos gostávamos e acho que isso é uma frustração global. Apesar de todas estas dificuldades, eu acho que os meios de Comunicação Social continuam a estar atentos, vigilantes, a transmitir as alegrias, a contar as histórias que fazem um exemplo e a fazer também alguma espécie de vigilância sobre os poderes políticos.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
D.C: Eu gosto de lidar com o público e acho que há pessoas que estão na comunicação e que pensam mais neles ou nos conteúdos do que propriamente no público. Eu gosto de pensar no contrário, gosto de cada vez que olho para a câmara olhar para uma plateia e saber que há ali pessoas do outro lado que me estão a ouvir e que estão eventualmente atentas às histórias que lhes vou contar. Eu gosto de conversar com as pessoas, de falar para as pessoas e a ligação que a Internet e as redes sociais nos trouxeram permitiu que eu possa ter feedback.

M.L: Tem dedicado a sua vida profissional no Porto. Gostava de ter passado a viver e trabalhar em Lisboa?
D.C: Eu comecei em Bragança e fui para Lisboa e depois vim para o Porto por razões pessoais e adaptei-me bem ao Porto. A minha vinda de Lisboa para o Porto foi uma opção e como adaptei ao Porto e aqui acabei por desenvolver a carreira e criar no fundo as raízes para o trabalho que estou a fazer não vi até hoje a necessidade de sair. Não vejo isso como redutor.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do jornalismo?
D.C: Ponto 1 - Gostar de contar Histórias e olhar para o Mundo de uma forma diferente.

        Ponto 2 - Preparar-se muito bem. Técnica e tecnologicamente. Porque, hoje em dia, é preciso saber dominar muitas ferramentas para poder inserir-se numa redação.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como jornalista?
D.C: Eu faço um balanço positivo, porque já fiz de tudo, já contei todo o tipo de histórias, já tive histórias que denunciaram situações injustas, histórias que felizmente mudaram a vida de pessoas para melhor, e a evolução que fiz foi no caminho de procurar entrar na área e num setor e numa especialização daquilo que eu gosto, portanto depois de fazer um percurso generalista cheguei a um ponto em que faço realmente aquilo que gosto numa empresa fantástica.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
D.C: Passar uma semana numa estação especial internacional (gargalhadas).ML

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