domingo, 7 de setembro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Luís Aleluia

Interessou-se seriamente pela representação, quando foi convidado pelo falecido ator Carlos César para entrar na companhia TAS-Teatro Animação de Setúbal, e desde aí tornou-se num dos atores mais acarinhados pelo público português, com um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Sétimo Direito" (RTP), "Os Homens da Segurança" (RTP), "Euronico" (RTP), "Na Paz dos Anjos" (RTP), "Isto É o Agildo" (RTP), "As Lições do Tonecas" (RTP) e "Filha do Mar" (TVI). É cofundador da produtora Cartaz-Produção de Espetáculos que desde 1991 tem desenvolvido um trabalho no que diz respeito à descentralização teatral, e, atualmente, participa na série "Bem-vindos a Beirais" que está em exibição na RTP. Esta entrevista foi feita no passado dia 26 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
L.A: À parte umas incursões pelo teatro amador, o Teatro apareceu a sério na minha vida por um convite do ator Carlos César, Diretor da Companhia do TAS-Teatro Animação de Setúbal. Entrei na companhia avisando que seria apenas uma experiência e uma forma de subsidiar a continuação dos estudos e aliviar um pouco o orçamento familiar mas… fui ficando! Fiz o estágio de dois anos e ganhei a condição de profissional.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
L.A: Várias. Lembro-me de ouvir na rádio as rábulas do Raul Solnado e divertir-me bastante, do humor dos “Parodiantes de Lisboa” que era um ritual ouvirmos à hora de almoço, dos filmes do (Charlie) Chaplin, dos Irmãos Marx, do Mel Brooks, entre outros! E tive o privilégio de trabalhar com alguns colegas com quem aprendi bastante: a Ivone Silva e o Camilo de Oliveira, foram importantes dentro de um género como a Maria Dulce, o Nicolau Breyner, o Ruy de Carvalho, o Armando Cortez, o Morais e Castro foram importantes dentro de outros géneros.

M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava de ter trabalhado mais em cinema?
L.A: Sim, gostava. O Cinema tem uma linguagem própria que gostava de praticar mais vezes. Fiz apenas um filme com o Jorge Paixão da Costa, “Ladrão Que Rouba a Anão Tem Cem Anos de Prisão” (1992), com Vítor Norte, Nicolau Breyner, Cristina Areia, Luís Esparteiro, entre outros e foi uma experiência muito enriquecedora.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como ator?
L.A: É difícil escolher apenas um trabalho já de todos, de uma forma ou de outra nos marcam por uma razão qualquer. Mas… talvez o meu trabalho na peça “Piaf” de Pam Gems, uma produção do Casino Estoril, com um elenco de extraordinários atores, encabeçado pela atriz brasileira Bibi Ferreira. Nesse Trabalho, que girava à volta da vida dramática e do percurso artístico da cantora francesa, eu desempenhava o papel de “Charles Aznavour”! Talvez possa destacar esse papel, por sair do meu registo mais conhecido e pela intensidade da composição que foi necessária.

M.L: Em 1994, participou na telenovela “Na Paz dos Anjos” que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem Fernandinho. Que recordações guarda desse trabalho?
L.A: As melhores, posso dizer! Foi a primeira telenovela em que participei e, por sorte, trabalhei com um elenco de grandes atores que muito me ajudaram no meu trabalho. Foi um privilégio trabalhar com o Armando Cortez, a Fernanda Borsatti, a Maria José, o João Perry, a Sandra Faleiro, a Rita Ribeiro, entre muitos outros colegas de elevado prestígio.

M.L: “Na Paz dos Anjos” foi corealizada pelo falecido realizador brasileiro Regis Cardoso. Como foi trabalhar com ele?
L.A: Há pessoas que passam pela nossa vida e deixam um rasto de luz! O Regis Cardoso era uma dessas pessoas. Paciente e generoso, com um fino sentido de humor. Um inquestionável excelente profissional com as mais altas qualidades humanas.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
L.A: Nos últimos tempos tem praticamente sobrevivido por conta própria! E tenho a convicção de que nada mudará enquanto os agentes políticos não entenderem a Cultura como um dos pilares fundamentais para a afirmação e consolidação da nossa identidade coletiva nesta Era que é a da globalização. Que nos interessa ter o Fado como Património Imaterial da Humanidade, se a minha Pátria não for a Língua Portuguesa, como afirmou (Fernando) Pessoa?

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
L.A: Não é, nem foi e nunca foi uma ambição particular fazer uma carreira internacional. Mas, já que fala disso, gostaria que os artistas e as produções nacionais tivessem os mesmos direitos e as mesmas garantias de proteção que têm os colegas estrangeiros. Desde logo, uma carteira profissional que dignificasse a nossa profissão.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
L.A: O público português é muito generoso, afável e de uma grande envolvência! Tenho o privilégio de termos criado empatia e isso ajuda não só na carreira como também na motivação profissional.

M.L: Em 1991, cofundou a produtora Cartaz-Produção de Espetáculos, que tem desenvolvido um trabalho no que diz respeito à descentralização teatral. Como vê o percurso que a produtora tem feito, desde a sua fundação até agora?
L.A: Ao longo dos 20 anos de trabalho quase ininterruptos posso afirmar que temos um percurso que nos orgulha. Esse trabalho de descentralização teatral só tem sido possível graças aos profissionais que, de forma permanente ou pontual, colaboram connosco e aos agentes culturais, empresas, e Instituições que apostam no nosso trabalho.

M.L: Recentemente, participou na série “Agora a Sério”, que foi produzida pela RTP Porto. Na sua opinião, acha que a RTP Porto devia produzir mais produções de ficção no futuro?
L.A: O que lhe posso adiantar é que houve um grande investimento na formação profissional na área da produção audiovisual que deveria ser mais aproveitada. A Série “Agora a Sério”, produzida pela RTP Porto, deu provas, tanto da excelência da formação, como das competências técnicas dos jovens que passaram pela Academia RTP.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
L.A: Que invista numa boa formação técnica. A Indústria Cultural é muito competitiva e cada vez mais exigente e hoje, felizmente, há uma oferta grande de escolas e uma diversidade de modelos formativos.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como ator?
L.A: Muito positivo. Tirando alguns períodos pontuais em que estive parado, tenho tido, felizmente, sempre um trabalho e muito dele realizado em projetos diversos e com registos diferentes, o que me tem assegurado não só a subsistência pessoal como a aprendizagem e a evolução profissional.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.A: No teatro prosseguir com a atividade da empresa na produção e promoção de teatro e na televisão, continuar a fazer parte da família “Bem-vindos a Beirais” (RTP). Vamos agora iniciar mais uma temporada de gravações.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
L.A: Viajar com tempo e sem um destino pré-definido.ML

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