M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
I.D: Desde criança (talvez por ser
filha única), sempre gostei de inventar histórias para contar às amiguinhas e
quando as contava “representava” as várias personagens. Outras vezes, quando
não tinha ninguém para brincar, fazia isso em frente ao espelho. Mas essa
necessidade de comunicar, a partir dos 6 anos, passou, essencialmente, através
da música, quando comecei a aprender acordéon no Instituto de Música Vitorino Matono.
Estreei-me a pisar o palco num espetáculo do saudoso Marques Vidal no Cineteatro
Odeon com 8 anos, primeiro a cantar e um mês depois (e aí já com um empresário
e a ganhar o meu primeiro cachet que
foi de 250 escudos (1,25 €) a tocar acordéon. Aos 9 anos, toquei num programa
infantil na RTP intitulado “O Que Sabes Fazer” e mais tarde no programa “A
Feira” (RTP). Só anos mais tarde, ao ganhar um concurso para ir visitar os
Estúdios da Edipim, onde estavam a gravar “Vila Faia” (RTP), a 1ª telenovela
portuguesa, o saudoso Thilo Krassman, que me reconheceu do programa “A Feira”,
perguntou-me se eu queria ficar a gravar os últimos episódios, fazendo figuração
especial com algumas falas. Entretanto, entrei no Conservatório Nacional de
Teatro. Fiz casting para a telenovela
“Origens” (RTP) e esse foi o meu primeiro trabalho como profissional. No
teatro, estreei-me em Outubro de (19) 83 na companhia do saudoso José Viana,
que ao ver nas “Origens” que eu tocava e representava, entrou em contacto
comigo. Durante 5 anos, trabalhei, sempre, nas companhias do José Viana e da Dora
Leal, em várias Revistas e espetáculos que eles levavam aos nossos emigrantes
nos EUA, no Canadá e na Europa.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
I.D: Confesso que as primeiras
influências nunca se esquecem, e costumo chamar ao José Viana, “o meu Mestre”.
Aprendi muito com ele, não só a nível da representação, como de toda a forma de
estruturar um espetáculo e da própria escrita. Ele era um artista completo e
como ele dizia: “Tu aprendes, sem eu ter de te ensinar”… sempre fui muito
observadora e atenta. Mas, ao longo da minha carreira, todos com quem trabalhei
me foram influenciando, e foram fontes de inspiração. Mas posso salientar, o
Octávio Matos e o Camilo de Oliveira. Mas, felizmente, tenho muitas outras fontes.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de ter
trabalhado mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
I.D: Gostava,
sim. Mas apesar de ter começado na televisão, e ter feito um filme alemão, de
certa forma, no início da minha carreira, como, simultaneamente, estava a tirar
o meu curso de Psicologia Clinica, o Teatro expunha-me menos e talvez tenha, de
uma forma um pouco inconsciente, não investido muito em tentar fazer mais
televisão (na época, as duas profissões eram consideradas incompatíveis, no
meio da Psicologia não “ficava bem” ser Atriz… agora tudo mudou), e como se
costuma dizer: “Acabei por perder essa viagem”. Sei que pode ser que ainda seja
possível retomar (apesar de, durante os 2 anos que vivi nos EUA, fazia
televisão todos os dias, não como atriz, mas como jornalista e pivot de telejornal numa estação de
televisão portuguesa), mas não será fácil, só com alguma sorte, que nesta
profissão tem bastante peso.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
I.D: Tenho vários. E como gosto da diversidade, que é o que me dá mais prazer
(já fiz Revista, Comédia, Café-Concerto, Espetáculos para as escolas, entre os
quais “Os Maias”), tenho dificuldade em referir um. Neste momento, estou a
experimentar um novo género, totalmente novo para mim, até pela proximidade com
o público, no Teatro Rápido, que é uma micropeça de 15 minutos (“Sol ida mente
Juntos”), que escrevi para mim e para o Igor Sampaio e está a ser uma grande e
boa experiência.
M.L: Além da representação, também é encenadora,
autora e psicóloga e têm experiência como jornalista, tendo trabalhado no canal
RTP-USA nos EUA. Em qual destas funções em que se sente melhor?
I.D: Em todas, dependendo do meu
próprio momento pessoal. A Psicóloga, penso que está sempre presente (é claro
que em gabinete/consultório ganha outra dimensão e outra responsabilidade), mas
na representação gosto da conceção do espetáculo na sua totalidade. No entanto,
só em último recurso acumulo ser atriz e encenadora, porque como Atriz gosto de
ser encenada e dirigida. Tenho saudades de voltar a experienciar a função de
jornalista, mas é onde me sinto menos segura, porque não tenho tantas bases. No
entanto, fiz muitas horas de diretos, e dessa “adrenalina” tenho muitas
saudades.
M.L: Foi coautora da série “Estação da Minha Vida” que
foi exibida na RTP, durante o ano de 2001, da qual contou com Nicolau Breyner
como corealizador e como diretor de atores da série. Que recordações guarda
desse trabalho?
I.D: Foi um trabalho muito
gratificante. Adorei escrever os episódios que me foram distribuídos. E depois
vê-los concretizados, foi muito bom. No entanto, a interação com os atores e com
o Nicolau, foi pouca. A função aí era, essencialmente, escrever. Mas depois
disso, escrevi, diariamente, momentos de humor para o “Portugal no Coração” (RTP),
quando estreou, e para a “Praça da Alegria” (RTP), e também foi uma sensação muito
gratificante vê-los representados pelo Luís Aleluia, pelo Guilherme Leite e
outros.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
I.D: Acho que se evoluiu bastante.
Temos excelentes Atores (em várias faixas etárias), técnicos bastante mais
aptos, excelentes autores, mas as ditas “leis de mercado” acabam por deturpar e
nivelar (na minha opinião) por baixo. Temos tudo para sermos muito bons e o
produto final que, muitas vezes, é apresentado, não faz jus ao valor das
pessoas envolvidas. O
Teatro, com as medidas que, ultimamente, têm sido tomadas pelos nossos
governantes, está a tentar, por todos os meios, sobreviver, para não morrer por
asfixia. E isso é lamentável. Direi mesmo, imperdoável, ver a Cultura ser
tratada como está a ser. Basta ler o que o nosso Grande Ruy de Carvalho
escreveu sobre este assunto há uns meses e está tudo dito.
M.L: Vive em Lisboa, mas nasceu em São
Tomé e Príncipe. Como vê, hoje em dia, a ilha?
I.D:
Infelizmente,
eu vim de S. Tomé com 4 anos, fui lá até aos 11 nas férias grandes e nunca mais
lá voltei. Espero conseguir fazê-lo em breve. Mas vou acompanhando, através das
notícias e fotos atualizadas de amigos que ainda mantenho. Penso que houve uma
evolução bastante grande em alguns aspetos. É um arquipélago lindíssimo e
paradisíaco. Mas só poderei ter uma opinião mais fidedigna, quando lá for.
M.L: É casada com o ator Octávio Matos.
Como vê o percurso que o seu marido tem feito até agora?
I.D:
Ele tem
uma carreira muito longa de 57 anos (como profissional, porque a pisar o palco
foi aos 4 anos) e muitas foram as coisas que fez. Talvez nem sempre tenha feito
as melhores opções em termos de carreira e nem sempre esteve ligado às melhores
pessoas a nível de Produção. Foram vários os que o usaram e que pouco ou nada o
ajudaram. Penso que no TMV (Teatro Maria Vitória), com a Toca dos Raposos, foi,
nos últimos tempos, onde foi mais bem tratado. Mas é um grande Ator,
principalmente de Comédia (apesar de ter ganho vários prémios com o filme “A
Cruz de Ferro” (1968) como ator dramático) e com os programas de televisão que
tem feito, é muito acarinhado pelo público que está sempre cioso de o voltar a
ver. Na televisão, ainda hoje, o público fala do par que ele fez com a Grande Atriz
Márcia Breia nas “Cenas do Casamento” (SIC). Se fosse o público que mandasse,
ele estaria, com toda a certeza, a fazer mais televisão. Enquanto isso, está, agora,
a preparar 2 novíssimos espetáculos (e uma nova Produtora): uma Comédia e
depois uma Revista, para a nova temporada teatral.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém
que queira ingressar numa carreira na representação?
I.D:
Que, se
amam mesmo a profissão (e não o aparente mediatismo, as capas de Revistas e
todas essas coisas vazias de conteúdo), apesar de todas as dificuldades que
possam encontrar, pois esta vida não é fácil, principalmente, pela grande
instabilidade, não desistam. Lutem, tentem evoluir sempre, aprendam tudo o que
possam aprender (com os mais velhos, com todos os colegas, pois é da partilha
que se evoluí e cresce) e acreditem que se estiverem de alma e coração nesta carreira,
mais cedo ou mais tarde, o reconhecimento virá, mas, se eventualmente não vier,
a realização pessoal existirá sempre.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem
feito até agora como atriz?
I.D:
Confesso
que não é um balanço muito positivo. Fiz muitas escolhas erradas. Deixei-me
condicionar demais e durante demasiado tempo, ligada a projetos que não gostava
e com os quais não me identificava. Abri, demasiadas vezes, a mão daquilo que
gostava e queria em prol dos outros. Mas, na realidade, nunca é tarde para
aprender. Não sei se ainda vou a tempo, mas, principalmente, desde Maio que
prometi a mim mesma que agora o que fizer é por mim e segundo os meus objetivos.
M.L: Quais são os seus próximos
projetos?
I.D:
Depois do
Teatro Rápido, uma Comédia (da qual ainda não posso adiantar muito) e estou em
negociações com um projeto para o estrangeiro. E claro, quem sabe, adorava
mesmo um regresso à TV…
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer
e não tenha feito ainda?
I.D: Uma boa
personagem, com conteúdo e de continuidade num projeto televisivo!ML
Sem comentários:
Enviar um comentário