M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
M.R.P: Desde
muito cedo, aos 12/13 anos. Sempre fui apaixonada por livros. Aos 8 anos, tive
uma febre reumática que me isolou das outras crianças, tinha que me entreter
sozinha, a paixão pela leitura começou logo aí.
A doença obrigou-me a pouca mobilidade até aos 12 anos, por isso
sempre me habituei a estar sozinha, com os meus livros, os meus sonhos e os
meus pensamentos. Escrever sempre foi, para mim, um processo natural, uma
forma de estar na vida. Sempre escrevi em todo o lado, no final dos exames (quando
o tempo ainda não tinha terminado), na praia, nas férias, à noite,
antes de dormir. Os meus amigos da adolescência sempre me viram a
escrever.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
escritora?
M.R.P: É
difícil dizer, têm a ver com fases diferentes da minha vida. Autores mais
importantes da infância: Condessa de Segur, Sophia de Mello Breyner (Andresen),
(Jean-Jacques) Sempé, Virgínia de Castro e Almeida. Na Adolescência: Florbela Espanca,
Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, (John) Steinbeck, Pearl Buck, Jack
London. Mais tarde, Mário Zambujal, Paulo Castilho, Marguerite Yourcenar,
Marguerite Duras, Alexandre O'Neill, Agustina Bessa-Luís, Ruben A., Clarice
Lispector, (Haruki) Murakami, José Agostinho Baptista.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como escritora?
M.R.P: O
romance histórico “Minha Querida Inês” sobre a tragédia de Inês de Castro. Um
sonho de adolescência, 4 anos de investigação, foi a minha maior e mais
apaixonante aventura literária, e levou aos meus leitores, uma fatia da história
de Portugal.
M.L: Em 1999, escreveu a biografia “Herman Superstar”,
sobre Herman José. Como é que surgiu a ideia de escrever esta biografia?
M.R.P: Foi
um convite da D. Quixote. O próprio Herman (meu amigo, desde os 20 anos) sugeriu
o meu nome.
M.L: Como foi a reação do público a esta biografia na
altura do seu lançamento?
M.R.P: Foi
boa, mas o livro teve pouca promoção. O Herman e eu divertimo-nos muito.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
M.R.P: Estagnada, triste e
com pouco rasgo, tudo isto acentuado pela crise. Mas há exceções que são
glorificadas em vida, o que me faz pensar que já não precisamos de matar os artistas
para os podermos admirar. Como a Joana Vasconcelos, por exemplo. O trabalho
dela é ousado e genial, e não sendo consensual, o que é uma qualidade, já
ganhou o respeito de todos.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
M.R.P: Estou
publicada em Espanha, Alemanha, Holanda, Bélgica, Brasil, França
e Itália. Os mercados, onde vendo mais, são o Brasil e a Holanda. São
vários livros publicados em vários países. Se não fosse Mãe, teria tido
mais tempo para investir num desses mercados, mas a maternidade fala mais alto
do que a escrita e nunca o inverso.
M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
M.R.P: De
manhã, antes das 9 horas, já estou sentada. Interrompo para almoçar. Se está a
correr bem, encurto o almoço, quase não atendo o telefone (só se for família ou
urgências) e à tarde contínuo ou não, consoante ao que sinto. As manhãs são
sagradas. Tento não escrever aos fins-de-semanas e nas férias, mas, por vezes,
é mesmo impossível não o fazer, porque há muito de compulsão no ato da escrita
e quando as ideias começam a dançar dentro da cabeça, têm de ser arrumadas no papel rapidamente. Há um sentimento de urgência na escrita que
sempre tive e que penso nunca vir a perder. Depois da família, vem a escrita,
logo a seguir. É o meu modo de ser, de estar e de viver.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na escrita?
M.R.P: Ler,
ler, ler, escrever, escrever, escrever.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como escritora?
M.R.P: Tive
sorte, apanhei Portugal no boom, os
livros a chegarem às grandes superfícies, a abertura da Fnac. Mas sempre
também trabalhei e continuo a trabalhar muito. Ainda estou na faixa
dos 40 anos e já publiquei 18 livros, dos quais
10 são romances. É uma obra vasta para a minha idade.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.R.P: Tenho o guião do “Sei
Lá” (que é baseado no seu primeiro
romance, com o mesmo título, que foi lançado em 1999) em fase final para
adaptação ao cinema e um livro de crónica a sair, antes do Verão. Quanto ao próximo romance,
isso ainda está no segredo dos Deuses.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito
ainda?
M.R.P: Fazer
uma adaptação de “Minha Querida Inês” para o cinema internacional.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
M.R.P: Nada,
tenho uma vida perfeita. Sou grata a tudo o que tenho, uma boa família e um
trabalho que adoro. E saúde, que é o mais importante.ML
Olá, Mário. Muito obrigada por partilhares esta entrevista aqui pelo mundo da web. Andava à procura de mais informação sobre a Margarida Rebelo Pinto e a tua entrevista ajudou-me imenso para ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua carreira.
ResponderEliminarOs melhores cumprimentos! ^^