sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Mário Lisboa entrevista... Margarida Rebelo Pinto

Olá. A próxima entrevista é com a escritora Margarida Rebelo Pinto. Desde muito cedo que se interessou pela escrita, tornando-se numa das mais populares e icónicas escritoras da literatura portuguesa, cuja atividade literária foi iniciada em 1999 com o seu primeiro romance intitulado "Sei Lá", um dos maiores êxitos literários em Portugal e, atualmente, está a ser alvo de uma adaptação para o cinema, e em 2011 escreveu "Minha Querida Inês", um romance histórico sobre a tragédia de Inês de Castro, da qual se tornou em mais um êxito literário da escritora, que gostaria de adaptar "Minha Querida Inês" para o cinema internacional. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 6 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
M.R.P: Desde muito cedo, aos 12/13 anos. Sempre fui apaixonada por livros. Aos 8 anos, tive uma febre reumática que me isolou das outras crianças, tinha que me entreter sozinha, a paixão pela leitura começou logo aí. A doença obrigou-me a pouca mobilidade até aos 12 anos, por isso sempre me habituei a estar sozinha, com os meus livros, os meus sonhos e os meus pensamentos. Escrever sempre foi, para mim, um processo natural, uma forma de estar na vida. Sempre escrevi em todo o lado, no final dos exames (quando o tempo ainda não tinha terminado), na praia, nas férias, à noite, antes de dormir. Os meus amigos da adolescência sempre me viram a escrever.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto escritora?
M.R.P: É difícil dizer, têm a ver com fases diferentes da minha vida. Autores mais importantes da infância: Condessa de Segur, Sophia de Mello Breyner (Andresen), (Jean-Jacques) Sempé, Virgínia de Castro e Almeida. Na Adolescência: Florbela Espanca, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, (John) Steinbeck, Pearl Buck, Jack London. Mais tarde, Mário Zambujal, Paulo Castilho, Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras, Alexandre O'Neill, Agustina Bessa-Luís, Ruben A., Clarice Lispector, (Haruki) Murakami, José Agostinho Baptista.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como escritora?
M.R.P: O romance histórico “Minha Querida Inês” sobre a tragédia de Inês de Castro. Um sonho de adolescência, 4 anos de investigação, foi a minha maior e mais apaixonante aventura literária, e levou aos meus leitores, uma fatia da história de Portugal.

M.L: Em 1999, escreveu a biografia “Herman Superstar”, sobre Herman José. Como é que surgiu a ideia de escrever esta biografia?
M.R.P: Foi um convite da D. Quixote. O próprio Herman (meu amigo, desde os 20 anos) sugeriu o meu nome.

M.L: Como foi a reação do público a esta biografia na altura do seu lançamento?
M.R.P: Foi boa, mas o livro teve pouca promoção. O Herman e eu divertimo-nos muito.

M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
M.R.P: Estagnada, triste e com pouco rasgo, tudo isto acentuado pela crise. Mas há exceções que são glorificadas em vida, o que me faz pensar que já não precisamos de matar os artistas para os podermos admirar. Como a Joana Vasconcelos, por exemplo. O trabalho dela é ousado e genial, e não sendo consensual, o que é uma qualidade, já ganhou o respeito de todos.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
M.R.P: Estou publicada em Espanha, Alemanha, Holanda, Bélgica, Brasil, França e Itália. Os mercados, onde vendo mais, são o Brasil e a Holanda. São vários livros publicados em vários países. Se não fosse Mãe, teria tido mais tempo para investir num desses mercados, mas a maternidade fala mais alto do que a escrita e nunca o inverso.

M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
M.R.P: De manhã, antes das 9 horas, já estou sentada. Interrompo para almoçar. Se está a correr bem, encurto o almoço, quase não atendo o telefone (só se for família ou urgências) e à tarde contínuo ou não, consoante ao que sinto. As manhãs são sagradas. Tento não escrever aos fins-de-semanas e nas férias, mas, por vezes, é mesmo impossível não o fazer, porque há muito de compulsão no ato da escrita e quando as ideias começam a dançar dentro da cabeça, têm de ser arrumadas no papel rapidamente. Há um sentimento de urgência na escrita que sempre tive e que penso nunca vir a perder. Depois da família, vem a escrita, logo a seguir. É o meu modo de ser, de estar e de viver.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na escrita?
M.R.P: Ler, ler, ler, escrever, escrever, escrever.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como escritora?
M.R.P: Tive sorte, apanhei Portugal no boom, os livros a chegarem às grandes superfícies, a abertura da Fnac. Mas sempre também trabalhei e continuo a trabalhar muito. Ainda estou na faixa dos 40 anos e já publiquei 18 livros, dos quais 10 são romances. É uma obra vasta para a minha idade.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.R.P: Tenho o guião do “Sei Lá” (que é baseado no seu primeiro romance, com o mesmo título, que foi lançado em 1999) em fase final para adaptação ao cinema e um livro de crónica a sair, antes do Verão. Quanto ao próximo romance, isso ainda está no segredo dos Deuses.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.R.P: Fazer uma adaptação de “Minha Querida Inês” para o cinema internacional.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
M.R.P: Nada, tenho uma vida perfeita. Sou grata a tudo o que tenho, uma boa família e um trabalho que adoro. E saúde, que é o mais importante.ML

1 comentário:

  1. Olá, Mário. Muito obrigada por partilhares esta entrevista aqui pelo mundo da web. Andava à procura de mais informação sobre a Margarida Rebelo Pinto e a tua entrevista ajudou-me imenso para ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua carreira.
    Os melhores cumprimentos! ^^

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