sábado, 17 de agosto de 2013

Mário Lisboa entrevista... Jorge Pinto

Olá. A próxima entrevista é com o ator Jorge Pinto. Natural do Porto, estreou-se como ator amador no Teatro Académico do Instituto Comercial em 1967, e desde aí tem desenvolvido um respeitado percurso como ator que já conta com 46 anos de existência, da qual passa, essencialmente, pelo teatro, sendo uma das figuras que fez muito para o desenvolvimento cultural da cidade do Porto, e é cofundador da companhia Ensemble-Sociedade de Atores, da qual fundou, juntamente, com Emília Silvestre em 1996, e é, hoje em dia, uma das principais companhias de teatro portuenses. Esta entrevista foi feita no Café Majestic no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.P: Desde muito pequeno, antes mesmo da escola primária. Adorava comunicar ideias, através da expressão dramática, desenhando com o corpo. Ou então improvisando histórias, em sucessões intermináveis de acontecimentos, que às vezes duravam semanas, até perder a noção de que partes eram verdadeiras ou não. Na escola, comecei a orientar esse exercício para um público (Colegas e Professores) e fascinava-me vê-los a reagir, perplexos os divertidos, a interrogarem-se sobre o que viam. O meu pai contava muitas histórias que vivera no teatro amador, e quando fiz a catequese, no Bonfim, percebi que havia um grupo de teatro na Juventude Operária Católica. Deitei assim a mão, ao primeiro grupo de teatro amador que apanhei, na Pré-J.O.C. Passei a ver teatro e a ver o teatro como uma coisa do meu mundo, sem imaginar que viria a ser ator. O primeiro grupo mais sério que integrei foi o Teatro Académico do Instituto Comercial. Depois o TUP, etc.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
J.P: A influência viva do trabalho dos atores.

M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de ter trabalho mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
J.P: Não. Está bem assim.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o seu percurso como ator?
J.P: Acho que não sou capaz de responder.

M.L: Dois dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foram as séries “Clube Paraíso” e “Os Andrades” que foram produzidas pela RTP Porto. Que recordações guarda destes dois trabalhos?
J.P: Muito boas. Principalmente do “Clube Paraíso”. Era um trabalho muito sério, tecnicamente muito próximo do teatro. Aprendemos muito.

M.L: Como foi trabalhar com Paulo Afonso Grisolli e com António Moura Mattos que realizaram, respetivamente, as duas séries?
J.P: Foram duas experiências muito diferentes. Com o Paulo Grisolli, era o de aprender uma nova linguagem, não só para os atores, mas, principalmente, para os guionistas, os realizadores, os editores (que nem os havia), etc. A experiência de “Os Andrades” era mais uma tentativa de começar uma “indústria”, a prioridade era gravar, produzir. O Moura Mattos era um realizador “eficaz” de um produto sem rigor, sem qualidade artística.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
J.P: Houve um extraordinário avanço na qualidade do trabalho, em todos os setores da atividade teatral. Vejo, hoje, o teatro, mais do que nunca, como o sítio, onde queremos estar. Quanto à ficção, deixo o sucesso de “A Gaiola Dourada” (2013) falar por mim. E fico muito contente.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
J.P: Claro que sim (não sei bem, o que isso é).

M.L: Este ano, celebra 46 anos de carreira, desde que começou como ator amador no Teatro Académico do Instituto Comercial em 1967. Que balanço faz destes 46 anos?
J.P: Costumamos contar os anos de carreira profissional, que serão menos. Balanço… é melhor esperar por mais uns 40, depois fazemos.

M.L: Dedicou, praticamente, a sua vida profissional no Porto. Gostava de ter trabalhado mais em Lisboa?
J.P: Não. De todo. Ter-me mudado, em tempos? Não, nunca me pareceu interessante. E agora muito menos. Neste momento, os nossos espetáculos são mostrados no (Teatro Nacional) D. Maria II, no (Teatro Municipal) São Luiz, no CCB. E até acontece que as nossas próximas produções vão estrear em Lisboa, antes de serem exibidas no Porto.

M.L: É cofundador da companhia Ensemble-Sociedade de Atores, da qual fundou, juntamente, com Emília Silvestre. Como é que surgiu a ideia de fundar a companhia?
J.P: O manifesto de apresentação do projeto Ensemble explica, direitinho, como apareceu a companhia (está no site http://www.ensembledeactores.com/). Mas posso acrescentar que as inquietações que nos trouxeram até ao Ensemble em (19) 96 vêm dos tempos do TEP (Teatro Experimental do Porto) dos anos 70: a necessidade de formação contínua dos atores, a profissionalização de todos os setores da criação teatral. Na verdade, foram décadas de procura, de investigação, e porque não chamar-lhe assim: de luta.

M.L: A Ensemble-Sociedade de Atores existe, desde 1996. Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito, desde a sua fundação até agora?
J.P: Não podíamos estar mais contentes com os resultados que temos alcançado a todos os níveis da criação teatral e do estatuto do ator, com as pessoas que temos reunido à nossa volta, com os públicos que temos conquistado. O que chegou, nos anos 80, a parecer impossível atingir, é agora uma realidade.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
J.P: Vai para a escola e aprende, dentro e fora dela. Vê tudo, percebe tudo. E faz. O teatro só se faz fazendo.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
J.P: Contaminar toda a sociedade com a humanidade do teatro.

M.L: Se não fosse o Jorge Pinto, qual era o ator que gostava de ter sido?
J.P: O ator Jorge Pinto.ML

Sem comentários:

Enviar um comentário