Olá. A próxima entrevista é com o ator Jorge Pinto. Natural do Porto, estreou-se como ator amador no Teatro Académico do Instituto Comercial em 1967, e desde aí tem desenvolvido um respeitado percurso como ator que já conta com 46 anos de existência, da qual passa, essencialmente, pelo teatro, sendo uma das figuras que fez muito para o desenvolvimento cultural da cidade do Porto, e é cofundador da companhia Ensemble-Sociedade de Atores, da qual fundou, juntamente, com Emília Silvestre em 1996, e é, hoje em dia, uma das principais companhias de teatro portuenses. Esta entrevista foi feita no Café Majestic no Porto.
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.P: Desde muito pequeno, antes mesmo da escola primária.
Adorava comunicar ideias, através da expressão dramática, desenhando com o
corpo. Ou então improvisando histórias, em sucessões intermináveis de acontecimentos,
que às vezes duravam semanas, até perder a noção de que partes eram verdadeiras
ou não. Na escola, comecei a orientar esse exercício para um público (Colegas e
Professores) e fascinava-me vê-los a reagir, perplexos os divertidos, a interrogarem-se
sobre o que viam. O meu pai contava muitas histórias que vivera no teatro
amador, e quando fiz a catequese, no Bonfim, percebi que havia um grupo de
teatro na Juventude Operária Católica. Deitei assim a mão, ao primeiro grupo de
teatro amador que apanhei, na Pré-J.O.C. Passei a ver teatro e a ver o teatro
como uma coisa do meu mundo, sem imaginar que viria a ser ator. O primeiro
grupo mais sério que integrei foi o Teatro Académico do Instituto Comercial.
Depois o TUP, etc.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
J.P: A influência viva do trabalho dos atores.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de ter
trabalho mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
J.P: Não. Está bem assim.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como ator?
J.P: Acho que não sou
capaz de responder.
M.L: Dois dos seus trabalhos mais marcantes em
televisão foram as séries “Clube Paraíso” e “Os Andrades” que foram produzidas
pela RTP Porto. Que recordações guarda destes dois trabalhos?
J.P: Muito boas. Principalmente do “Clube Paraíso”. Era
um trabalho muito sério, tecnicamente muito próximo do teatro. Aprendemos
muito.
M.L: Como foi trabalhar com Paulo Afonso Grisolli e
com António Moura Mattos que realizaram, respetivamente, as duas séries?
J.P: Foram duas
experiências muito diferentes. Com o Paulo Grisolli, era o de aprender uma nova
linguagem, não só para os atores, mas, principalmente, para os guionistas, os
realizadores, os editores (que nem os havia), etc. A experiência de “Os Andrades”
era mais uma tentativa de começar uma “indústria”, a prioridade era gravar,
produzir. O Moura Mattos era um realizador “eficaz” de um produto sem rigor,
sem qualidade artística.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
J.P: Houve um
extraordinário avanço na qualidade do trabalho, em todos os setores da atividade
teatral. Vejo, hoje, o teatro, mais do que nunca, como o sítio, onde queremos
estar. Quanto à ficção, deixo o sucesso de “A Gaiola Dourada” (2013) falar por
mim. E fico muito contente.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
J.P: Claro que sim (não sei
bem, o que isso é).
M.L: Este ano, celebra 46 anos de carreira, desde que
começou como ator amador no Teatro Académico do Instituto Comercial em 1967.
Que balanço faz destes 46 anos?
J.P: Costumamos contar os
anos de carreira profissional, que
serão menos. Balanço… é melhor esperar por mais uns 40, depois fazemos.
M.L: Dedicou, praticamente, a sua vida profissional no
Porto. Gostava de ter trabalhado mais em Lisboa?
J.P: Não. De todo. Ter-me
mudado, em tempos? Não, nunca me pareceu interessante. E agora muito menos. Neste
momento, os nossos espetáculos são mostrados no (Teatro Nacional) D. Maria II,
no (Teatro Municipal) São Luiz, no CCB. E até acontece que as nossas próximas produções
vão estrear em Lisboa, antes de serem exibidas no Porto.
M.L: É cofundador da companhia Ensemble-Sociedade de
Atores, da qual fundou, juntamente, com Emília Silvestre. Como é que surgiu a
ideia de fundar a companhia?
J.P: O manifesto de
apresentação do projeto Ensemble explica, direitinho, como apareceu a companhia
(está no site http://www.ensembledeactores.com/). Mas posso acrescentar que as inquietações que nos
trouxeram até ao Ensemble em (19) 96 vêm dos tempos do TEP (Teatro Experimental
do Porto) dos anos 70: a necessidade de formação contínua dos atores, a profissionalização
de todos os setores da criação teatral. Na verdade, foram décadas de procura,
de investigação, e porque não chamar-lhe assim: de luta.
M.L: A Ensemble-Sociedade de Atores existe, desde
1996. Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito, desde a sua
fundação até agora?
J.P: Não podíamos estar
mais contentes com os resultados que temos alcançado a todos os níveis da criação
teatral e do estatuto do ator, com as pessoas que temos reunido à nossa volta,
com os públicos que temos conquistado. O que chegou, nos anos 80, a parecer
impossível atingir, é agora uma realidade.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.P: Vai para a escola e
aprende, dentro e fora dela. Vê tudo, percebe tudo. E faz. O teatro só se faz
fazendo.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.P: Contaminar toda a
sociedade com a humanidade do teatro.
M.L: Se não fosse o Jorge Pinto, qual era o ator que
gostava de ter sido?
J.P: O ator Jorge Pinto.ML
Sem comentários:
Enviar um comentário