M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.P: Desde muito pequeno, antes mesmo da escola primária.
Adorava comunicar ideias, através da expressão dramática, desenhando com o
corpo. Ou então improvisando histórias, em sucessões intermináveis de acontecimentos,
que às vezes duravam semanas, até perder a noção de que partes eram verdadeiras
ou não. Na escola, comecei a orientar esse exercício para um público (Colegas e
Professores) e fascinava-me vê-los a reagir, perplexos os divertidos, a interrogarem-se
sobre o que viam. O meu pai contava muitas histórias que vivera no teatro
amador, e quando fiz a catequese, no Bonfim, percebi que havia um grupo de
teatro na Juventude Operária Católica. Deitei assim a mão, ao primeiro grupo de
teatro amador que apanhei, na Pré-J.O.C. Passei a ver teatro e a ver o teatro
como uma coisa do meu mundo, sem imaginar que viria a ser ator. O primeiro
grupo mais sério que integrei foi o Teatro Académico do Instituto Comercial.
Depois o TUP, etc.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
J.P: A influência viva do trabalho dos atores.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de ter
trabalho mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
J.P: Não. Está bem assim.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como ator?
J.P: Acho que não sou
capaz de responder.
M.L: Dois dos seus trabalhos mais marcantes em
televisão foram as séries “Clube Paraíso” e “Os Andrades” que foram produzidas
pela RTP Porto. Que recordações guarda destes dois trabalhos?
J.P: Muito boas. Principalmente do “Clube Paraíso”. Era
um trabalho muito sério, tecnicamente muito próximo do teatro. Aprendemos
muito.
M.L: Como foi trabalhar com Paulo Afonso Grisolli e
com António Moura Mattos que realizaram, respetivamente, as duas séries?
J.P: Foram duas
experiências muito diferentes. Com o Paulo Grisolli, era o de aprender uma nova
linguagem, não só para os atores, mas, principalmente, para os guionistas, os
realizadores, os editores (que nem os havia), etc. A experiência de “Os Andrades”
era mais uma tentativa de começar uma “indústria”, a prioridade era gravar,
produzir. O Moura Mattos era um realizador “eficaz” de um produto sem rigor,
sem qualidade artística.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
J.P: Houve um
extraordinário avanço na qualidade do trabalho, em todos os setores da atividade
teatral. Vejo, hoje, o teatro, mais do que nunca, como o sítio, onde queremos
estar. Quanto à ficção, deixo o sucesso de “A Gaiola Dourada” (2013) falar por
mim. E fico muito contente.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
J.P: Claro que sim (não sei
bem, o que isso é).
M.L: Este ano, celebra 46 anos de carreira, desde que
começou como ator amador no Teatro Académico do Instituto Comercial em 1967.
Que balanço faz destes 46 anos?
J.P: Costumamos contar os
anos de carreira profissional, que
serão menos. Balanço… é melhor esperar por mais uns 40, depois fazemos.
M.L: Dedicou, praticamente, a sua vida profissional no
Porto. Gostava de ter trabalhado mais em Lisboa?
J.P: Não. De todo. Ter-me
mudado, em tempos? Não, nunca me pareceu interessante. E agora muito menos. Neste
momento, os nossos espetáculos são mostrados no (Teatro Nacional) D. Maria II,
no (Teatro Municipal) São Luiz, no CCB. E até acontece que as nossas próximas produções
vão estrear em Lisboa, antes de serem exibidas no Porto.
M.L: É cofundador da companhia Ensemble-Sociedade de
Atores, da qual fundou, juntamente, com Emília Silvestre. Como é que surgiu a
ideia de fundar a companhia?
J.P: O manifesto de
apresentação do projeto Ensemble explica, direitinho, como apareceu a companhia
(está no site http://www.ensembledeactores.com/). Mas posso acrescentar que as inquietações que nos
trouxeram até ao Ensemble em (19) 96 vêm dos tempos do TEP (Teatro Experimental
do Porto) dos anos 70: a necessidade de formação contínua dos atores, a profissionalização
de todos os setores da criação teatral. Na verdade, foram décadas de procura,
de investigação, e porque não chamar-lhe assim: de luta.
M.L: A Ensemble-Sociedade de Atores existe, desde
1996. Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito, desde a sua
fundação até agora?
J.P: Não podíamos estar
mais contentes com os resultados que temos alcançado a todos os níveis da criação
teatral e do estatuto do ator, com as pessoas que temos reunido à nossa volta,
com os públicos que temos conquistado. O que chegou, nos anos 80, a parecer
impossível atingir, é agora uma realidade.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.P: Vai para a escola e
aprende, dentro e fora dela. Vê tudo, percebe tudo. E faz. O teatro só se faz
fazendo.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.P: Contaminar toda a
sociedade com a humanidade do teatro.
M.L: Se não fosse o Jorge Pinto, qual era o ator que
gostava de ter sido?
J.P: O ator Jorge Pinto.ML
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