M.L: Quando surgiu o interesse pela realização e pela
escrita?
V.A.D.O: O interesse pelo cinema surge muito cedo. O
cinema e o grande ecrã era a maior evidência do sonho numa terra pequena e
alentejana. Era um escape, uma neverland
(terra do nunca), uma viagem
constante pelos universos da imaginação que me acompanhou, cresceu e
desenvolveu. O amor e a identificação com o cinema acabou por mantê-lo na minha
vida, assim como a escrita.
M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
V.A.D.O: As influências são muitas e não estão só no
cinema. Vêm da literatura, do teatro, da música, da arquitetura, da História,
um mundo infinito que depois acaba por encontrar forma num filme. E cada vez
mais é fora do cinema que encontro as ditas influências.
M.L: Escreve para teatro, cinema, televisão e
literatura. Qual destes géneros que mais gosta de escrever?
V.A.D.O: Como escrita? Literatura, narrativa, poesia
(que um dia espero publicar, mas que ainda não tive coragem). E na linguagem e
na sua construção que me encontro com as palavras e gosto muito de palavras.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como
realizador e como escritor?
V.A.D.O: Essa pergunta vive do tempo e por isso mesmo,
o último filme (“Florbela” (2012) e o primeiro romance (“Marilyn à Beira-Mar”)
ocupam ainda muito espaço, dentro de mim, mas começo já a trabalhar noutras
coisas e que acabam por se tornar em nova paixões.
M.L: Em 2000, escreveu o guião do telefilme “Facas e
Anjos” de Eduardo Guedes e exibido na SIC. Que recordações guarda desse
trabalho?
V.A.D.O: Uma grande responsabilidade, uma grande
amizade com o Eduardo que me faz muita falta e, acima de tudo, a recordação que
ali ainda vivem as razões mais puras para continuar a fazer o que faço: porque
amo e porque gosto de comunicar com as pessoas. Não somos nada sem os outros.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
V.A.D.O: Cansada, fechada, agrilhoada, censurada,
pobre, triste, vaidosa, pretensiosa, perdida, provinciana, pura. Todas estas
razões, boas e más, são também as mesmas razões, pelas quais gosto de viver em
português e fazer coisas em Portugal. No meio de toda esta loucura, há ainda
uma ideia de começo e recomeço que morreu noutros lugares e que aqui alimenta
os artistas: há tanto por fazer.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
V.A.D.O: Gostava e gosto que os meus filmes viagem
pelo mundo e isso têm acontecido. Se "carreira internacional" passa
por reconhecimento, tenho uma relação difícil com isso, porque pode ser uma
ilusão/desilusão. Há qualquer coisa no anonimato que nos mantêm com a cabeça no
lugar e não quero perder a ideia do que sou e de quem sou.
M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
V.A.D.O: Depende do projeto, mas gosto muito de
escrever ao fim do dia, quando o sol começa a desaparecer. Há qualquer coisa na
morte da luz que me desespera, o que é ótimo, porque me motiva e tira da
preguiça e da desculpa. Arranjamos tantas razões para enfrentar o trabalho e eu
não sou exceção.
M.L: É um dos fundadores da Academia Portuguesa de
Cinema que é equivalente à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de
Hollywood. Que balanço faz do percurso que a Academia tem feito, desde a sua
fundação até agora?
V.A.D.O: Um balanço muito positivo até porque o nosso
país tem esta dificuldade no associativismo, na dinamização, numa ideia de
comunidade. A Academia dá os primeiros passos, tenta motivar os seus futuros
membros e tem muitos projetos que pretende levar a bom porto.
M.L: Trabalha, frequentemente, com a atriz Carmen
Santos. Como vê o percurso que ela tem desenvolvido ao longo dos anos?
V.A.D.O: Bem, não sei se serei a pessoa indicada para
responder a isso e se isso tem resposta. O percurso de um ator é como a vida:
cheio de particularidades. Mas adoro trabalhar com ela, acho-a uma atriz
brilhante, discreta, elegante, muito digna, muito honesta e como tal é sempre
um prazer e um regozijo.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira seja na realização ou na escrita?
V.A.D.O: Não há conselhos, nem receitas, tudo depende
da vontade de cada um. É apenas isso. A vontade que marca o caminho. Mais nada.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como realizador e como escritor?
V.A.D.O: Não faço balanços nenhuns. Acho que ainda
tenho muita estrada para fazer, até mesmo para me sentir satisfeito, o que
espero, nunca acontecer, porque senão, deixo de fazer, de escrever, de filmar.
Preciso da inquietação e da insegurança de tudo isto para ter força e vontade,
para descobrir.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
V.A.D.O: Uma ópera.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
V.A.D.O:
Isso é privado, não lhe vou dizer.ML
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