sábado, 10 de agosto de 2013

Mário Lisboa entrevista... Vicente Alves do Ó

Olá. A próxima entrevista é com o realizador e escritor Vicente Alves do Ó. Desde muito cedo que se interessou pelo Cinema e pela escrita, sendo, atualmente, um dos nomes mais promissores do Cinema Português, com um percurso que também passa pelo teatro, pela televisão e pela literatura. Em 2011, estreou-se na realização de longas-metragens com "Quinze Pontos na Alma", mas o seu maior triunfo, até ao momento, como realizador, foi com "Florbela" (2012), a sua 2ª longa-metragem, da qual é um biopic sobre a poetisa Florbela Espanca (1894-1930), e foi uma das longas-metragens mais vistas, a nível nacional, em 2012, tendo tido, até ao momento, reconhecimento, tanto nacional e como internacional, e é protagonizada por Dalila Carmo, Albano Jerónimo e Ivo Canelas. E vai repôr, entre os dias 22 de Agosto e 8 de Setembro no Teatro da Trindade, o monólogo "A Voz Humana" de Jean Cocteau, da qual encena e é protagonizado por Carmen Santos, tendo sido estreado, pela primeira vez, em 2012 no Fórum Municipal Romeu Correia em Almada. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 2 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela realização e pela escrita?
V.A.D.O: O interesse pelo cinema surge muito cedo. O cinema e o grande ecrã era a maior evidência do sonho numa terra pequena e alentejana. Era um escape, uma neverland (terra do nunca), uma viagem constante pelos universos da imaginação que me acompanhou, cresceu e desenvolveu. O amor e a identificação com o cinema acabou por mantê-lo na minha vida, assim como a escrita.

M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
V.A.D.O: As influências são muitas e não estão só no cinema. Vêm da literatura, do teatro, da música, da arquitetura, da História, um mundo infinito que depois acaba por encontrar forma num filme. E cada vez mais é fora do cinema que encontro as ditas influências.

M.L: Escreve para teatro, cinema, televisão e literatura. Qual destes géneros que mais gosta de escrever?
V.A.D.O: Como escrita? Literatura, narrativa, poesia (que um dia espero publicar, mas que ainda não tive coragem). E na linguagem e na sua construção que me encontro com as palavras e gosto muito de palavras.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como realizador e como escritor?
V.A.D.O: Essa pergunta vive do tempo e por isso mesmo, o último filme (“Florbela” (2012) e o primeiro romance (“Marilyn à Beira-Mar”) ocupam ainda muito espaço, dentro de mim, mas começo já a trabalhar noutras coisas e que acabam por se tornar em nova paixões.

M.L: Em 2000, escreveu o guião do telefilme “Facas e Anjos” de Eduardo Guedes e exibido na SIC. Que recordações guarda desse trabalho?
V.A.D.O: Uma grande responsabilidade, uma grande amizade com o Eduardo que me faz muita falta e, acima de tudo, a recordação que ali ainda vivem as razões mais puras para continuar a fazer o que faço: porque amo e porque gosto de comunicar com as pessoas. Não somos nada sem os outros.

M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
V.A.D.O: Cansada, fechada, agrilhoada, censurada, pobre, triste, vaidosa, pretensiosa, perdida, provinciana, pura. Todas estas razões, boas e más, são também as mesmas razões, pelas quais gosto de viver em português e fazer coisas em Portugal. No meio de toda esta loucura, há ainda uma ideia de começo e recomeço que morreu noutros lugares e que aqui alimenta os artistas: há tanto por fazer.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
V.A.D.O: Gostava e gosto que os meus filmes viagem pelo mundo e isso têm acontecido. Se "carreira internacional" passa por reconhecimento, tenho uma relação difícil com isso, porque pode ser uma ilusão/desilusão. Há qualquer coisa no anonimato que nos mantêm com a cabeça no lugar e não quero perder a ideia do que sou e de quem sou.

M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
V.A.D.O: Depende do projeto, mas gosto muito de escrever ao fim do dia, quando o sol começa a desaparecer. Há qualquer coisa na morte da luz que me desespera, o que é ótimo, porque me motiva e tira da preguiça e da desculpa. Arranjamos tantas razões para enfrentar o trabalho e eu não sou exceção.

M.L: É um dos fundadores da Academia Portuguesa de Cinema que é equivalente à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Que balanço faz do percurso que a Academia tem feito, desde a sua fundação até agora?
V.A.D.O: Um balanço muito positivo até porque o nosso país tem esta dificuldade no associativismo, na dinamização, numa ideia de comunidade. A Academia dá os primeiros passos, tenta motivar os seus futuros membros e tem muitos projetos que pretende levar a bom porto.

M.L: Trabalha, frequentemente, com a atriz Carmen Santos. Como vê o percurso que ela tem desenvolvido ao longo dos anos?
V.A.D.O: Bem, não sei se serei a pessoa indicada para responder a isso e se isso tem resposta. O percurso de um ator é como a vida: cheio de particularidades. Mas adoro trabalhar com ela, acho-a uma atriz brilhante, discreta, elegante, muito digna, muito honesta e como tal é sempre um prazer e um regozijo.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira seja na realização ou na escrita?
V.A.D.O: Não há conselhos, nem receitas, tudo depende da vontade de cada um. É apenas isso. A vontade que marca o caminho. Mais nada.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como realizador e como escritor?
V.A.D.O: Não faço balanços nenhuns. Acho que ainda tenho muita estrada para fazer, até mesmo para me sentir satisfeito, o que espero, nunca acontecer, porque senão, deixo de fazer, de escrever, de filmar. Preciso da inquietação e da insegurança de tudo isto para ter força e vontade, para descobrir.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
V.A.D.O: Uma ópera.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
V.A.D.O: Isso é privado, não lhe vou dizer.ML

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