M.L: Como é que surgiu a ideia de criar o projeto
“Portugal Fantástico”?
A.C: A ideia surgiu pouco tempo depois de ter
feito uma pesquisa na Internet de trabalhos de Cinema nacionais, dentro do
âmbito do terror e do fantástico, do qual sou um fã incondicional. Com
surpresa, encontrei alguns trabalhos que desconhecia por completo, tendo ficado
extremamente surpreendido com um deles: a curta-metragem “A Curva” (2004) de
David Rebordão, que já havia alcançado um enorme sucesso de visualizações. Na
altura, pensei para mim mesmo que, tal como eu, deveria haver centenas,
milhares de fãs de Cinema que não faziam ideia do que estava a ser feito, a
nível nacional, de Cinema fantástico e de terror e assim, em 2010, decidi criar
o Grupo “Portugal Fantástico” com o objetivo de juntar, numa plataforma, os
trabalhos nacionais que ia encontrando, dentro deste tema, de modo a ser mais
fácil a sua divulgação entre os fãs de Cinema.
M.L: Como tem sido a reação do público ao “Portugal
Fantástico” até agora?
A.C: O feedback por parte do público tem sido
extremamente positivo. Recebemos constantes mensagens de apoio e de
agradecimento, pelo que o “Portugal Fantástico” tem proporcionado, não só dos
nossos talentosos artistas e técnicos que merecem o devido reconhecimento, como
também dos próprios fãs de Cinema que encontram no “Portugal Fantástico”, uma
plataforma que lhe permite conhecer excelentes trabalhos nacionais. Em
complemento, o festival de curtas-metragens que iniciamos este ano (PFShortsFest)
tem tido uma excelente adesão, por parte do público que marca presença
incondicional em todas as sessões.
M.L: O “Portugal Fantástico” existe, desde 2010, sendo
um grupo no Facebook e um site. Já alguma vez imaginou que este projeto tivesse
a importância que têm agora?
A.C: A ideia inicial era a
da criação de uma plataforma, onde se pudesse divulgar o Cinema nacional de
terror e do fantástico, nomeadamente curtas-metragens, tendo o Grupo, na
altura, não mais do que 400-500 membros. A minha expectativa, na altura, era
que o “Portugal Fantástico” se torna-se numa referência, dentro desta temática.
Porém, o crescimento foi tão rápido e inesperado que, pouco tempo depois, tivemos
de alargar o âmbito do projeto para o apoio na promoção e divulgação do Cinema
nacional em geral, Teatro, Música e Ilustração. A quantidade de pedidos de
adesão ao “Portugal Fantástico” disparou ainda mais após a criação do nosso
site oficial. Atualmente, contamos com perto de 8000 membros e um site com mais
de 34.000 visitas/mês, o que nos deixa extremamente satisfeitos e com vontade
de fazer ainda mais pelos nossos artistas.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
A.C: Desde miúdo que o Cinema é a minha paixão.
Tive a sorte de o meu pai ser um fã incondicional de Cinema e, aos nove anos,
tive a minha estreia numa sala de Cinema para ver o “E.T.-O Extra-Terrestre”
(1982) e, logo de seguida, o “Time Bandits” (“Os Ladrões do Tempo”, (1981).
Fiquei fascinado com toda aquela magia. Mais tarde, com o aparecimento dos
gravadores de vídeo, gravava quase todos os filmes que passavam na TV. Cheguei
a ter perto de 1000 filmes gravados em cassetes VHS. Depois vieram os clubes de
vídeo, onde comecei a fazer “romarias” e trazer dezenas de filmes para casa.
Passava as tardes e noites de fim-de-semana a ver filmes com os meus pais e com
os meus amigos. Delirava com as histórias fantásticas e sonhava viver as
aventuras que assistíamos nos filmes.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
A.C: É complicado definir as minhas influências, pois
foram variando com o tempo e com a maturidade. Porém, o género com que mais me
identifico é o de terror e do fantástico, do qual sou um fã incondicional.
M.L: Sendo um cinéfilo convicto, quais foram as
longas-metragens que viu e que o marcaram, até agora, ao longo da sua vida?
A.C: Posso dizer que as obras que mais me marcaram
foram, como referi antes, o “E.T.” e o “Time Bandits”. Por terem sido as minhas
primeiras experiências no Cinema, ainda em criança, e que despoletaram todo
este fascínio. Posteriormente, existem vários filmes que me marcaram, mas
saliento o “Seven-Sete Pecados Mortais” (1995) que me marcou pela inteligência
do guião, mestria de realização, dramatismo conseguido e excelência na
interpretação do elenco, o “Saving Private Ryan” (“O Resgate do Soldado Ryan”,
(1998) que foi o único filme, até à data, que me fez cair lágrimas dos olhos
numa cena de plena ação (a cena do desembarque na Normandia), o “The Thing”
(“Veio do Outro Mundo”, (1982) pela mestria do grande John Carpenter que nos
envolve num inigualável ambiente de tensão e de suspense, o “Aliens-O Recontro Final” (1986) de James Cameron que é
um dos maiores marcos do Cinema e, talvez, o filme que mais vezes vi. A nível
nacional, continuo a considerar que as obras dos anos 30/40 são dos melhores
trabalhos conseguidos e muito dificilmente teremos filmes que se tornem eternos
como os clássicos “O Pai Tirano” (1941), “O Pátio das Cantigas” (1942), “A
Canção de Lisboa” (1933), etc. No entanto, devo referir dois filmes mais atuais
que, de certa forma, me marcaram: o “Coisa Ruim” (2006) por ser um dos
primeiros filmes nacionais que mais se aproxima do género de Terror, e o
“Florbela” (2012) por ser tão apaixonante e intenso.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso profissional?
A.C: Bem, o meu percurso
profissional não tem sido, dentro desta área, mas, sim, dentro da área da
Gestão da Qualidade. Quando iniciei o “Portugal Fantástico” ainda estava a exercer
funções numa multinacional, pelo que este projeto era mais considerado como um hobby. Entretanto, juntei-me aos
milhares de portugueses que se encontram em situação de desemprego e a minha
dedicação ao “Portugal Fantástico” tornou-se a 100%. No entanto, não posso
considerar como profissão, visto não auferir de qualquer remuneração pelo meu
trabalho no mesmo. De qualquer das formas, posso afirmar que o trabalho que mais
me marcou, desde que iniciei o “Portugal Fantástico”, foi, sem dúvida, o
festival PFShortsFest que tem tido uma excelente aceitação, por parte do
público.
M.L: Como vê, atualmente, o Cinema, em termos gerais?
A.C: A nível geral, e
falando das produções norte-americanas, penso que o Cinema está a chegar a um
ponto em que a falta de ideias originais o está a tornar cada vez mais
desinteressante. Repetem-se os remakes,
as sequelas, os filmes do mesmo tema e com os clichés de sempre. Pouco se inova e tornam-se cansativos. Temos, no
entanto, o Cinema Europeu que tem vindo a crescer cada vez mais e saliento o Cinema
Espanhol e Norueguês que nos tem presenciado com trabalhos de uma qualidade
fora de serie. A nível nacional, poucos trabalhos nos são oferecidos para
apreciar, pois a falta de apoios não permite aumentar o leque de oferta. É
pena, pois sei que temos jovens realizadores, argumentistas extremamente
talentosos que apenas não têm a sorte de estar no país certo para poderem
mostrar, realmente, o que valem.
M.L: Gostava de fazer uma carreira, em termos
internacionais?
A.C: Gostava, sim, de internacionalizar o
“Portugal Fantástico”. Aliás, iniciamos, recentemente, contactos com o Brasil e
com os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) para a
possibilidade do âmbito do “Portugal Fantástico” ser alargado para todos os
Países de Língua Portuguesa.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do Cinema?
A.C: Que se mentalizem que uma carreira na área do
Cinema em Portugal é um sonho muito difícil de concretizar mas, se amam a arte
do Cinema, dediquem-se a 100%, façam muitos trabalhos experimentais, não se
foquem apenas num género e mostrem o que valem no máximo de locais
possível.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.C: Para já, estamos a
preparar a 2ª Edição do PFShortsFest que decorrerá já no próximo mês de
Novembro. Em paralelo, temos vários projetos em carteira para o “Portugal
Fantástico”, mas que só poderão avançar com alguns apoios e visto os apoios
neste país serem nulos, mais vale nem os adiantar. Também tenho feito alguns
trabalhos de realização e produção de filmes e séries, bem como estou a
escrever alguns guiões de curtas-metragens e de uma longa-metragem.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.C: Tanta coisa. A nível de Cinema, gostava de
realizar uma longa-metragem e vê-la numa sala de Cinema.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
A.C: Neste momento, a única mudança que desejo é o de
poder voltar ao mercado de trabalho, de preferência numa atividade, dentro do
âmbito do Cinema.ML
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