M.L: Quando surgiu o interesse pela Política?
M.R.D.S: Quando assisti às
conversas políticas em família, entre os meus Pais, e entre eles e muitos
amigos. E quando, na minha escola primária, com uma diretora muito aberta na
Europa, havia debates políticos e quatro clubes, chamados Casas, geridas pelos
alunos e participando na própria programação de atividades culturais e
desportivas da Escola.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
M.R.D.S: Os meus Pais, os meus
professores, alguns amigos, leituras, a partir dos dez, onze anos, sobretudo de
autores de língua francesa, num tempo em que a influência dominante era
francófona. Só depois, pelos quinze ou dezasseis anos, passou a ser importante
a influência anglófona.
M.L: Além da Política, também é professor. Em qual
destas funções em que se sente melhor?
M.R.D.S: A minha vocação é
ser professor. Funções políticas: exerci-as em momentos muito específicos. E
uma vocação é sempre mais importante do que uma função.
M.L: Têm experiência na Comunicação Social, estando,
atualmente, na TVI, como comentador político. Que balanço faz do tempo em que
está no canal?
M.R.D.S: Fiz imprensa na
escola, desde os dez anos. Fiz imprensa em órgãos de comunicação nacionais, desde
os quinze anos. Fiz televisão, pontualmente, desde os vinte e três anos. Fiz
rádio, regularmente, entre 1993 e 1996. E um programa
na televisão (TVI) com vários amigos, entre 1993 e 1994. Passei a fazer televisão,
regularmente, também na TVI, em 2000 e até 2004. Tive de sair e mudei para a
RTP, onde estive de 2005 a 2010. Estou, novamente, na TVI, há três anos e meio.
A imprensa permite outro tempo e outra reflexão, mais longa e profunda. A
televisão tem muitíssimo mais audiência, mas é de gestão extremamente
desgastante, obrigando à procura constante de novas ideias e de fórmulas (livros,
notas, imagens, conversas com terceiros, programas a partir de fora do estúdio).
A rádio é, hoje em dia, um meio auxiliar, mas o mais flexível e, talvez, o mais
divertido. Infelizmente, sem o peso que já teve. Na TVI, faço um balanço
positivo. Deparei sempre com um ótimo clima. De 2000 a 2004, salvo o episódio
da saída. De 2010 até hoje. Mudei muito de estilo, de tempo, de formato, de
entrevistadores. E isso foi bom. Deve procurar-se inovar, de tanto em tanto tempo.
Eu diria, de ano e meio em ano e meio. Até que eu sinta que chegou ao fim a experiência.
Aí, é essencial saber deixar saudades e não ter de ser empurrado à força.
M.L: A TVI celebra, este ano, 20 anos de existência.
Como vê o percurso que o canal tem feito até agora?
M.R.D.S: Começou como a televisão
da Igreja Católica. Programaticamente forte, mas de espetro de audiência
limitado. Mudou para televisão popular, muito virada para classes C e D, embora
sem esquecer as restantes, para mulheres e jovens no final da década de 90. Mudou,
já no novo século, de direção, e teve de se adaptar, também, a outro tempo (com
a Internet e o cabo a subir rapidamente). Se na primeira fase, a liderança de
audiências foi, de início, da RTP, passou, a seguir para a SIC, onde esteve
quase uma década. Na viragem do século, a TVI assumiu a liderança e tem-na
mantido no dia, com escassas exceções. No tempo nobre da publicidade, das 20
horas até às 24 horas, tem liderado até há poucos meses (altura em que a SIC se
aproximou e passou a disputar, arduamente, a liderança). Neste momento, a TVI
lidera dia e tempo nobre, tal como lidera neste mês de Outubro. Mas é uma luta
apertada no tempo nobre. Em geral, a TVI teve o mérito de cativar classes mais
pobres, de promover a telenovela portuguesa, de olhar para o público feminino, de
conceber novas formas de opinião, de abrir para programas com participação em
direto e temas comportamentais, de valorizar novas dimensões de reportagem. O
preço foi, muitas vezes, um peso excessivo de reality-shows e de telenovelas, e de informação emotiva e baseada
na sensação, para não dizer sensacionalismo, mais do que na análise. Teve
sempre, mesmo na primeira fase, uma coisa que aprecio: um clima de grupo
excursionista, lançado na aventura, e na descoberta, muito jovem, desempoeirado,
divertido, nada burocrático, disponível para recriar, permanentemente, o
futuro.
M.L: Como vê, atualmente, a Política em Portugal?
M.R.D.S: Numa época muito
difícil. Por causa da crise. Por causa do cansaço de muitas portuguesas e de
muitos portugueses. Por causa do distanciamento das pessoas. Por causa da
frustração dos mais velhos, que sonharam outro futuro e dos mais novos que
acham que não têm futuro. Por causa do afastamento de gente de qualidade que
prefere não ocupar cargos políticos. Por causa da mudança de gerações. Por
causa da dificuldade dos partidos e dos parceiros sociais se reformarem a si próprios.
É um tempo ingrato para se ser político e para se acreditar na política e nos
políticos. Mas a Democracia faz-se todos os dias e com gente nova. Logo, há que
fazer mais e melhor com nova gente e não desistir da Democracia.
M.L: Como lida com o público que acompanha o seu
percurso profissional, há vários anos?
M.R.D.S: Todos os dias. Aos
milhares. Antes, era por carta. Depois, por fax.
Agora, por email, salvo o menos jovem, que ainda escreve cartas. São centenas
de mensagens, pedidos, queixas, sugestões, aplausos, reparos, convites, presentes...
Eu sei lá. Sempre um bom barómetro da situação nacional. Por exemplo, os
pedidos de apoios financeiros começaram em 2008 e não deixaram de subir até
hoje, obrigando a um trabalho enorme para apurar factos, selecionar casos mais
urgentes ou dolorosos e apoia-los. Respeito e, mais do que isso, gosto imenso
do meu público (algum dele fiel há dezenas de anos). E faço tudo para, com
trabalho e dedicação, continuar a merecer a sua confiança, expressa em
audiências que, francamente, ultrapassam as minhas expectativas mais otimistas.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área da Política?
M.R.D.S: Como conselho, eu
diria: nunca dependam da política para viver, para não se converterem em
mercenários políticos, capazes de tudo para manterem os vossos lugares. Ganhem
a vossa independência profissional, tenham um lugar de recuo, para a saída, e
só depois avancem para lugares. Diferente é fazerem política de base, sempre, onde
moram, onde estudam, onde trabalham, em ONG, em IPSS, em partidos ou fora
deles, em associações culturais, sociais, económicas. Isso faz-se todos os dias
e pode ser bem mais importante do que ocupar cargos ou ser titular de funções
sem conteúdo, sem espaço de manobra ou que não correspondam às vossas ideias ou
maneira de ser.
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
feito até agora?
M.R.D.S: Olho para trás e
penso que fui um bom professor. A seguir, mas só a seguir, fui um bom
comunicador, como se diz agora. E, depois, fui um bom gestor de empresas
jornalísticas e da minha Faculdade. E tento ser um bom gestor da instituição
fundacional que sirvo há ano e meio. Cumpri no que era o essencial da minha
vida. Poderia ter feito mais ou melhor. Mas o que fiz, parece-me,
genericamente, bem. Ressalvo que ninguém é bom juiz em causa própria.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.R.D.S: Gostava de
visitar sítios, onde nunca fui, como São Petersburgo, ou ter tempo para editar
obras que sonhei, mas demoram, como algumas lições académicas. Mas, sobretudo, adorava
ter mais tempo para duas coisas: estar com os netos, o que não é fácil, por
viverem no Brasil, e ter mais tempo, de novo, para voluntariado, no domínio da
saúde, em particular, dos cuidados paliativos.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
M.R.D.S: O que todos, em Portugal, desejam
ardentemente: voltar a viver num País, sem o sufoco de uma crise na sua fase
ainda aguda, mesmo em aparente caminho para uma lenta saída. E, com isso, eu, que
sou um otimista realista, mas otimista, poder deparar com outra crença, outra vontade
de acreditar e alegria de viver, como sentimentos coletivos. E já agora com um
sonho ou, pelo menos, desígnio comunitário! Está a fazer falta esse sonho ou
desígnio. Batermo-nos por nada ou por metas de défice que nunca estão certas é
pouca coisa... Muito pouca coisa.ML
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