sábado, 5 de outubro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Marcelo Zarvos

Olá. A próxima entrevista é com o pianista e compositor brasileiro Marcelo Zarvos. Casado com a atriz americana Janel Moloney, desde muito cedo que se interessou pela música, sendo um dos grandes valores musicais da sua geração, com um percurso que passa por várias áreas incluindo cinema e televisão (onde trabalhou em produções cinematográficas como as longas-metragens "A Porta no Chão" (2004), "Hollywoodland" (2006), "O Bom Pastor" (2006), "O Ar Que Respiramos" (2007), "Pânico em Hollywood" (2008), "Autocarro 174" (2008), "Atraídos pelo Crime" (2009), "Lembra-te de Mim" (2010), "O Castor" (2011), "As Palavras" (2012) e "Flores Raras" (2013) e produções televisivas como a série "O Grande C" (2010-2013) e os telefilmes "You Don't Know Jack" (2010) e "Phil Spector" (2013), e, recentemente, conduziu a banda sonora das longas-metragens "Enough Said" (que conta, por exemplo, com a participação do recém-falecido James Gandolfini) e "The Face of Love" (que conta com a participação de atores como Robin Williams, Ed Harris e Annette Bening), e, atualmente, conduz a banda sonora da série "Ray Donovan" da chancela do canal por cabo norte-americano Showtime e protagonizada por Liev Schreiber, cuja segunda temporada está prevista para estrear em 2014. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 30 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Música?
M.Z: Eu comecei a tocar piano aos dez anos de idade e a minha primeira atração foi por bandas sonoras de filmes como “The Sting” (“A Golpada”, (1973) e “The Godfather” (“O Padrinho”, (1972).

M.L: Quais são as suas influências nesta área?
M.Z: As minhas influências vêm tanto de compositores para cinema como Nino Rota, Ennio Morricone, Bernard Herrmann, Georges Delerue e clássicos como Bach, Steve Reich, (Sergei) Prokofiev e Morton Feldman. E na música popular, eu diria António Carlos Jobim e Thelonious Monk.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como pianista e como compositor?
M.Z: “The Door in the Floor” (“A Porta no Chão”, (2004). Foi a minha primeira banda sonora para orquestra e ainda uma das minhas favoritas mesmo depois de tantos anos. Ainda recebo muitos elogios por essa banda sonora, inclusive de pessoas que nem viram o filme, mas escutam muito o CD com a banda sonora. Outra coisa que me marcou muito foi o meu quarteto de cordas Nepomuk's Dances. Eu recebo emails de grupos de toda a parte que querem tocar essa peça, inclusive de muitos grupos jovens, o que me deixa muito feliz.

M.L: Foi coautor da banda sonora da longa-metragem “O Bom Pastor” (2006) de Robert DeNiro. Que recordações guarda desse trabalho?
M.Z: Foi um trabalho muito intenso, com pouco mais de um mês para compor quase duas horas de música. Eu nunca tinha trabalhado num filme tão épico e, ao mesmo tempo, com uma sensibilidade tão distinta. 

M.L: “O Bom Pastor” marcou a segunda incursão de Robert DeNiro pela realização (estreou-se na realização em 1993 com a longa-metragem “Um Bairro em Nova Iorque” (A Bronx Tale”). Como foi trabalhar com ele?
M.Z: Foi um sonho. O DeNiro é um dos grandes cineastas de todos os tempos e muitos dos meus filmes e bandas sonoras favoritas foram projetos que ele participou como “Taxi Driver” (1976), “The Mission” (“A Missão”, (1986) e “The Godfather-Part II” (“O Padrinho-Parte II”, (1974). Ele é muito sensível e tinha uma ideia bem clara de como a música deveria funcionar no filme. Ele ficou muito feliz e eu tenho muito orgulho desse filme. 

M.L: Como vê, atualmente, a indústria da Música?
M.Z: Eu acho que a música está na linha da frente da revolução tecnológica que estamos passando. Embora, obviamente, certos elementos como discos estejam praticamente acabados, a necessidade de música do Ser Humano nunca foi maior. Eu fui um pouco poupado da crise da indústria fonográfica por estar trabalhando mais com Cinema, mas acho que ainda tem muita coisa boa acontecendo e a única dificuldade é como os artistas vão sobreviver. Uma das poucas áreas ainda relativamente intactas é a Música ao vivo e acho que por ali deve surgir um novo caminho para o público e os artistas interagirem.

M.L: Vive nos EUA, mas nasceu no Brasil. Como vê, hoje em dia, o Brasil, em termos artísticos?
M.Z: O Brasil passa por um momento muito interessante, com uma classe média que cresce muito rápido e que quer ver cada vez mais os seus valores refletidos nas artes. O Cinema cresce cada vez mais e a TV está passando por uma grande explosão de conteúdo. A dificuldade vai ser como gerar material que seja, realmente, Brasileiro e não somente uma cópia dos trabalhos dos americanos. A música continua a ser a grande paixão nacional e, realmente, a riqueza da música Brasileira é algo fenomenal.

M.L: É casado com a atriz americana Janel Moloney. Como vê o percurso que a sua mulher tem feito até agora?
M.Z: Ela tem uma carreira incrível e acho que muitas pessoas consideram “The West Wing” (“Os Homens do Presidente”, (1999-2006) como um dos grandes marcos da TV mundial. Ela continua muito ativa fazendo Cinema, Teatro e Televisão.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da Música?
M.Z: Eu diria isso. Se consegue viver sem Música, faça isso. O que eu quero dizer é que a vida na Música não é fácil. Eu tenho muita sorte, pois consegui um espaço de compositor muito confortável, mas a verdade é que eu faço isso, porque amo o meu trabalho e mesmo que tivesse que fazer de graça, eu continuaria sendo Músico. E acho que essa vontade é 100% essencial para qualquer pessoa que queira embarcar numa carreira musical.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como pianista e como compositor?
M.Z: Eu ainda tenho muita coisa para fazer. Gostaria de voltar a trabalhar mais com música clássica e jazz. Tenho uma carreira bem estabelecida, mas também sei que os desafios têm sempre que continuar. Não acho uma coisa boa para qualquer artista ficar muito confortável, pois isso nos impulsiona a sempre crescer e mudar.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.Z: Tenho dois filmes saindo nos EUA: “Enough Said” e “The Face of Love”. Também tenho uma série de TV chamada “Ray Donovan” que está fazendo muito sucesso por aqui e devo voltar para trabalhar na segunda temporada no início de 2014.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.Z: Eu gostaria de escrever um musical ou uma ópera.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
M.Z: Mais tempo para passar com a minha esposa e com os meus filhos...ML

Sem comentários:

Enviar um comentário