M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
C.H: Estudei no Colégio
Marista de Carcavelos dos 5 aos 13 anos. Desde muito pequena que dançava, e
escrevia peças para o colégio, e participava nelas. Lembro-me que, quando tinha
12 anos, dizia que "queria mudar o Mundo através da Arte". Bem, hoje
penso que é um propósito muito grande... Mas no fundo (ainda para mais agora
com a minha companhia, onde posso trabalhar sobre o que acho necessário e
urgente), acho que tento fazer isso. No 9º ano, sabia que queria ir para um
curso de Teatro. Acabei por ir para o Chapitô-Escola de Artes e Ofícios. E foi
aí que tudo começou, aos 14 anos.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
C.H: Como atriz, sou muito
instintiva. Tenho sempre um backgroud
de pesquisa e referências. Mas quando as materializo, tento ser como uma
criança, sem pré-conceitos. Enquanto atriz, acredito muito no trabalho de
Stanislavski. Fiz dois workshops com
Robert Castle sobre "O Método" e acho que me ajuda sempre muito, quando
estou a interpretar. Enquanto artista, tenho imensas influências. Tanto no
Cinema, como no Teatro. Desde (Ingmar) Bergman até (Quentin) Tarantino, (Pedro)
Almodóvar e, mais recentemente, sou fascinada pelo realizador Steve McQueen e pelo
Terrence Malick. Enquanto autores, o Enda Walsh continua a ser o meu "mais
que tudo", mas passo pela malograda Sarah Kane, Mike Bartlett, (Bertolt) Brecht,
(Samuel) Beckett, Tim Crouch... Tantos. Tenho medo de me esquecer de alguns e
de certeza que me estou a esquecer.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
C.H: Teatro e Cinema são
as minhas paixões. Mas gosto de fazer Televisão, dá-nos desenvoltura.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
C.H: Esta pergunta é muito
difícil... Todos me marcaram, de uma forma diferente. "A Mata", com
os meus colegas do Chapitô no Festival de Almada com os Artistas Unidos, fez-me
perceber que afinal podia mesmo ser atriz. Não era só eu que me divertia a fazer
aquilo, deram-me a entender que se calhar até lhe "dava uns toques".
Era tudo tão fácil nessa altura. O "Disco Pigs", com os Artistas
Unidos e com o meu querido Pedro Carraca, e encenado pela Franzisca Aarflot (por
quem tenho um carinho e uma admiração enorme), foi para mim a minha grande
estreia, para além de amar o texto, diverti-me muito, e lembro-me que era uma
grande responsabilidade para mim. Só dois atores em cena, um texto tão duro e
doce ao mesmo tempo, tantas camadas. No "Onde Vamos Morar", fiz uma
peça do José Maria Vieira Mendes, um autor que gosto muito e que acho que tanto
no trabalho que faz com Os Praga, tanto nos Artistas Unidos é ótimo. "Esta
Noite Improvisa-se" foi importante, porque era uma grande encenação no
Teatro Nacional (D. Maria II) com muitos atores (amigos) que respeito muito e
um espetáculo muito importante para os Artistas Unidos e para o Jorge Silva
Melo. O meu primeiro espetáculo de cocriação foi muito especial, com o Raimundo
Cosme: o "Esa cosa Llamada Amor". Para além de começar o meu trabalho
como criadora, o que foi um grande desafio, comecei a criar laços com um outro
tipo de Teatro, conheci o Teatro Cão Solteiro, que é uma das companhias que
sigo sempre com muito gosto e alegria, porque merecem e fazem coisas que ninguém
faz em Portugal. Daquelas coisas que tu dizes: "Como é que eles se foram
lembrar daquilo? Também quero!" e a partir desse momento comecei a falar
com o Raimundo Cosme e decidimos fundar a nossa companhia Plataforma285.
M.L: Entre 2010 e 2012, participou na série “Lua
Vermelha” que foi exibida na SIC, da qual interpretou a personagem Matilde Borges. Que
recordações guarda desse trabalho?
C.H: Guardo
recordações muito boas. Eramos quase todos atores de Teatro ou não muito
conhecidos em Televisão e isso fez com que estivéssemos muito unidos. Tanto
atores, como equipa técnica. Nessa altura, trabalhávamos tanto que acho que
eramos como uma grande família. Acho que fenómenos destes só se dão uma vez na
vida, devido às condições anteriormente referidas. Para quase todos, era o
primeiro ou o primeiro grande trabalho para Televisão, e isso era importante
para nós. Lembro-me de estar com muito medo no início, porque até aí só tinha
feito Cinema, com uma câmara, muito tempo, ensaios. Pensei que ia chegar lá e
não perceber nada. Mas foi como uma escola de Televisão. E guardo até hoje um
carinho muito grande pela equipa técnica e pelos atores e realizadores. Tenho
pena de só ter trabalhado mais uma vez com a SP (Televisão), na série "Maternidade"
(RTP), mas acredito que tudo têm um sentido, e que tudo estará em ordem mais
tarde.
M.L:
Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
C.H: Acho que o
Teatro é mal tratado em Portugal, devido ao facto de, na minha opinião, não
existir uma "Política Cultural" e devido ao facto de sermos vistos
como os coitadinhos dos que esperam pelos subsídios. Se somos (Cultura) 3% do
PIB português, não devíamos ser subsidiados. Deviam era investir, mais e mais. Como
fazem com as empresas. Investimento. Acho que precisamos de investir mais na
"educação pela Arte".
M.L:
Gostava de fazer uma carreira internacional?
C.H: Quem é que
não gostava? Sim, gostava. Falo muito bem Inglês (só Inglês, mesmo) e ainda
estou à espera do telefonema do Steve McQueen a dizer: "Come on, girl. I'm waiting for
you. Let's shoot my new movie..." (“Vamos
lá, rapariga. Estou à tua espera. Vamos lá filmar o meu novo filme…”). Quero muito fazer não só Cinema, mas Teatro lá fora.
M.L:
Em 2011, fundou, juntamente com Raimundo Cosme, Luís Lucas Lopes e Rita
Chantre, a companhia Plataforma285. Como é que surgiu a ideia de fundar a
companhia?
C.H: Estávamos
em 2011 e o Raimundo Cosme propôs-me fazermos um espetáculo no espaço da
companhia Teatro Cão Solteiro. Fizemos o nosso primeiro espetáculo: "Esa
Cosa Llamada Amor". E a partir daí, pensamos que tínhamos mais coisas para
dizer, que queríamos trabalhar mais e que falávamos a mesma linguagem em termos
de criação e estética. E assim decidimos juntar-nos ao Luís Lopes (ator) e à
Rita Chantre (Fotógrafa). Fizemos a associação e já fizemos 4 espetáculos. Com
suor e Lágrimas e alguns subsídios...
M.L:
Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito até agora?
C.H: É sempre
muito difícil. Não somos uma companhia de 10 anos, mas pela força que temos de
ter para continuar e continuar, parece que sim. Estamos constantemente a
escrever projetos para apoios de entidades. Recebemos poucos até agora.
Portanto mais do que lucro, que é quase ridículo, trabalhamos para pôr dinheiro
na companhia e para podermos continuar a trabalhar. Mas há sempre aquela
pergunta: "E quando não tivermos forças?". A questão é que somos
casmurros e queremos mesmo fazer isto. Não é teimosia, é uma necessidade de
comunicação. Temos momentos muito felizes (mesmo), em que estreamos ou
recebemos um subsídio, e parecemos uns maluquinhos aos saltos. Mas neste
momento, como estão as coisas no panorama cultural português, são mais os
momentos em que dizemos: "Bem, não temos nada, mas temos que falar, temos
que fazer, por isso vai custar, vai sair-nos do pêlo, mas é isto que temos a
dizer, por isso vamos". E encontro, nestes momentos, muita coragem da
parte do meu colega Raimundo Cosme e ele em mim. E a coragem, para mim, é das
coisas mais bonitas do Mundo.
M.L:
É agenciada pela H!T Management que foi fundada por Ana Varela e que pretende ser uma agência inovadora, da qual os
seus agenciados são, em grande parte, atores com menor visibilidade. Como vê o
percurso que a agência tem feito, desde a sua fundação até agora?
C.H:
Adoro o João Louro e a Ana Varela, entre
todos os outros que trabalham na H!T. Para além de serem hiper-profissionais, têm
um valor humano enorme, são os primeiros agentes que encontro que realmente se
importam com os seus atores. Que são sinceros. Tive uma experiência horrível na
agência anterior, pensei mesmo em não ter mais agências. Aliás, todo o trabalho
que tinha não vinha deles, mas de contactos que eu já tinha. No entanto, encontrei
o João, falei com ele e acreditei. E estou muito contente com eles. Acho que fazem
tudo como deve ser feito. Apostam em pessoas com formação e talento. Acho que estão
a caminhar como se deve caminhar, com calma e juízo. E não duvido que serão uma
das agências com mais atores a trabalhar daqui a uns tempos. Mesmo. Aliás, já o
começam a ser. Bom para mim, bom para eles.
M.L: Entre 2006 e
2009, trabalhou, frequentemente, com a companhia Artistas Unidos de Jorge Silva
Melo. Como foi trabalhar com a companhia nessa altura?
C.H:
Foram eles que pegaram em mim com 16 anos
e levaram-me para o Teatro profissional. Foi com eles que aprendi a ser atriz.
Eles foram a minha "escola". Conheci atores maravilhosos, autores
maravilhosos, amigos maravilhosos. Foi um momento muito, muito feliz na minha
vida. Trabalhei com o Jorge Silva Melo, com quem aprendi muito. Toda a minha
escola de interpretação de textos veio dele e dos restantes Artistas Unidos.
Bem como da Franzisca Aarflot. Guardo as melhores memórias com a Companhia e
continuo a seguir o trabalho deles, sempre.
M.L: Que balanço faz
do percurso que tem feito até agora como atriz?
C.H:
Trabalho profissionalmente, desde os 14
anos. Portanto (a brincar, a brincar), faço, este ano, 10 anos de carreira. No
fundo, foi um percurso com mais altos que baixos. Desde há dois anos que tem
sido mais difícil. Mas não deixo de lutar, até porque não há outra coisa que
queria ou que, na realidade, saiba fazer! É uma profissão que me deixa feliz.
Não como tratam o Teatro ou o Cinema em Portugal. Aliás, neste momento, como tratam
os Portugueses em geral. Mas sou muito feliz como criadora e como atriz.
M.L: Quais são os seus
próximos projetos?
C.H:
Estreio, no início de Novembro, o novo
espetáculo da minha Companhia Plataforma285: "Leilão" no Teatro Cão
Solteiro. Em Outubro, vou participar no filme "Benoît Brisefer: Les Taxis Rouges", uma produção francesa da Filmes
do Tejo. Agora estou a trabalhar noutra área que sempre me interessou muito: a
Música. Sou Manager de uma banda que
começa a dar os primeiros passos: Lcomandante & General, com Cláudio
Teixeira e Filipe Almeida. São ótimos músicos e artistas. Sempre gostei de
programação musical. E talvez outros projetos que aí venham... Nós nunca
sabemos, não é?MLFotografia: Rita Chantre
Descobri esta actriz portuguesa , há pouco tempo...e é fantástica ! Parabéns Cecília Henriques, muitas felicidades pessoais e êxitos no teu trabalho. Beijinhos PS. Vou seguir a programação da Plataforma285!!!
ResponderEliminarDescobri esta actriz portuguesa , há pouco tempo...e é fantástica ! Parabéns Cecília Henriques, muitas felicidades pessoais e êxitos no teu trabalho. Beijinhos PS. Vou seguir a programação da Plataforma285!!!
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