domingo, 13 de outubro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Cecília Henriques

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Cecília Henriques. Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz aos 14 anos, e desde aí tem desenvolvido um honesto e interessante percurso na área da representação, da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão, e, em 2011, fundou, juntamente com Raimundo Cosme, Luís Lucas Lopes e Rita Chantre, a companhia Plataforma285, e também é manager da banda Lcomandante & General, que está a dar os seus primeiros passos. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 22 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
C.H: Estudei no Colégio Marista de Carcavelos dos 5 aos 13 anos. Desde muito pequena que dançava, e escrevia peças para o colégio, e participava nelas. Lembro-me que, quando tinha 12 anos, dizia que "queria mudar o Mundo através da Arte". Bem, hoje penso que é um propósito muito grande... Mas no fundo (ainda para mais agora com a minha companhia, onde posso trabalhar sobre o que acho necessário e urgente), acho que tento fazer isso. No 9º ano, sabia que queria ir para um curso de Teatro. Acabei por ir para o Chapitô-Escola de Artes e Ofícios. E foi aí que tudo começou, aos 14 anos.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
C.H: Como atriz, sou muito instintiva. Tenho sempre um backgroud de pesquisa e referências. Mas quando as materializo, tento ser como uma criança, sem pré-conceitos. Enquanto atriz, acredito muito no trabalho de Stanislavski. Fiz dois workshops com Robert Castle sobre "O Método" e acho que me ajuda sempre muito, quando estou a interpretar. Enquanto artista, tenho imensas influências. Tanto no Cinema, como no Teatro. Desde (Ingmar) Bergman até (Quentin) Tarantino, (Pedro) Almodóvar e, mais recentemente, sou fascinada pelo realizador Steve McQueen e pelo Terrence Malick. Enquanto autores, o Enda Walsh continua a ser o meu "mais que tudo", mas passo pela malograda Sarah Kane, Mike Bartlett, (Bertolt) Brecht, (Samuel) Beckett, Tim Crouch... Tantos. Tenho medo de me esquecer de alguns e de certeza que me estou a esquecer.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
C.H: Teatro e Cinema são as minhas paixões. Mas gosto de fazer Televisão, dá-nos desenvoltura.  

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
C.H: Esta pergunta é muito difícil... Todos me marcaram, de uma forma diferente. "A Mata", com os meus colegas do Chapitô no Festival de Almada com os Artistas Unidos, fez-me perceber que afinal podia mesmo ser atriz. Não era só eu que me divertia a fazer aquilo, deram-me a entender que se calhar até lhe "dava uns toques". Era tudo tão fácil nessa altura. O "Disco Pigs", com os Artistas Unidos e com o meu querido Pedro Carraca, e encenado pela Franzisca Aarflot (por quem tenho um carinho e uma admiração enorme), foi para mim a minha grande estreia, para além de amar o texto, diverti-me muito, e lembro-me que era uma grande responsabilidade para mim. Só dois atores em cena, um texto tão duro e doce ao mesmo tempo, tantas camadas. No "Onde Vamos Morar", fiz uma peça do José Maria Vieira Mendes, um autor que gosto muito e que acho que tanto no trabalho que faz com Os Praga, tanto nos Artistas Unidos é ótimo. "Esta Noite Improvisa-se" foi importante, porque era uma grande encenação no Teatro Nacional (D. Maria II) com muitos atores (amigos) que respeito muito e um espetáculo muito importante para os Artistas Unidos e para o Jorge Silva Melo. O meu primeiro espetáculo de cocriação foi muito especial, com o Raimundo Cosme: o "Esa cosa Llamada Amor". Para além de começar o meu trabalho como criadora, o que foi um grande desafio, comecei a criar laços com um outro tipo de Teatro, conheci o Teatro Cão Solteiro, que é uma das companhias que sigo sempre com muito gosto e alegria, porque merecem e fazem coisas que ninguém faz em Portugal. Daquelas coisas que tu dizes: "Como é que eles se foram lembrar daquilo? Também quero!" e a partir desse momento comecei a falar com o Raimundo Cosme e decidimos fundar a nossa companhia Plataforma285.

M.L: Entre 2010 e 2012, participou na série “Lua Vermelha” que foi exibida na SIC, da qual interpretou a personagem Matilde Borges. Que recordações guarda desse trabalho?
C.H: Guardo recordações muito boas. Eramos quase todos atores de Teatro ou não muito conhecidos em Televisão e isso fez com que estivéssemos muito unidos. Tanto atores, como equipa técnica. Nessa altura, trabalhávamos tanto que acho que eramos como uma grande família. Acho que fenómenos destes só se dão uma vez na vida, devido às condições anteriormente referidas. Para quase todos, era o primeiro ou o primeiro grande trabalho para Televisão, e isso era importante para nós. Lembro-me de estar com muito medo no início, porque até aí só tinha feito Cinema, com uma câmara, muito tempo, ensaios. Pensei que ia chegar lá e não perceber nada. Mas foi como uma escola de Televisão. E guardo até hoje um carinho muito grande pela equipa técnica e pelos atores e realizadores. Tenho pena de só ter trabalhado mais uma vez com a SP (Televisão), na série "Maternidade" (RTP), mas acredito que tudo têm um sentido, e que tudo estará em ordem mais tarde.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
C.H: Acho que o Teatro é mal tratado em Portugal, devido ao facto de, na minha opinião, não existir uma "Política Cultural" e devido ao facto de sermos vistos como os coitadinhos dos que esperam pelos subsídios. Se somos (Cultura) 3% do PIB português, não devíamos ser subsidiados. Deviam era investir, mais e mais. Como fazem com as empresas. Investimento. Acho que precisamos de investir mais na "educação pela Arte". 

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
C.H: Quem é que não gostava? Sim, gostava. Falo muito bem Inglês (só Inglês, mesmo) e ainda estou à espera do telefonema do Steve McQueen a dizer: "Come on, girl. I'm waiting for you. Let's shoot my new movie..." (“Vamos lá, rapariga. Estou à tua espera. Vamos lá filmar o meu novo filme”). Quero muito fazer não só Cinema, mas Teatro lá fora.

M.L: Em 2011, fundou, juntamente com Raimundo Cosme, Luís Lucas Lopes e Rita Chantre, a companhia Plataforma285. Como é que surgiu a ideia de fundar a companhia?
C.H: Estávamos em 2011 e o Raimundo Cosme propôs-me fazermos um espetáculo no espaço da companhia Teatro Cão Solteiro. Fizemos o nosso primeiro espetáculo: "Esa Cosa Llamada Amor". E a partir daí, pensamos que tínhamos mais coisas para dizer, que queríamos trabalhar mais e que falávamos a mesma linguagem em termos de criação e estética. E assim decidimos juntar-nos ao Luís Lopes (ator) e à Rita Chantre (Fotógrafa). Fizemos a associação e já fizemos 4 espetáculos. Com suor e Lágrimas e alguns subsídios...

M.L: Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito até agora?
C.H: É sempre muito difícil. Não somos uma companhia de 10 anos, mas pela força que temos de ter para continuar e continuar, parece que sim. Estamos constantemente a escrever projetos para apoios de entidades. Recebemos poucos até agora. Portanto mais do que lucro, que é quase ridículo, trabalhamos para pôr dinheiro na companhia e para podermos continuar a trabalhar. Mas há sempre aquela pergunta: "E quando não tivermos forças?". A questão é que somos casmurros e queremos mesmo fazer isto. Não é teimosia, é uma necessidade de comunicação. Temos momentos muito felizes (mesmo), em que estreamos ou recebemos um subsídio, e parecemos uns maluquinhos aos saltos. Mas neste momento, como estão as coisas no panorama cultural português, são mais os momentos em que dizemos: "Bem, não temos nada, mas temos que falar, temos que fazer, por isso vai custar, vai sair-nos do pêlo, mas é isto que temos a dizer, por isso vamos". E encontro, nestes momentos, muita coragem da parte do meu colega Raimundo Cosme e ele em mim. E a coragem, para mim, é das coisas mais bonitas do Mundo.

M.L: É agenciada pela H!T Management que foi fundada por Ana Varela e que pretende ser uma agência inovadora, da qual os seus agenciados são, em grande parte, atores com menor visibilidade. Como vê o percurso que a agência tem feito, desde a sua fundação até agora?
C.H: Adoro o João Louro e a Ana Varela, entre todos os outros que trabalham na H!T. Para além de serem hiper-profissionais, têm um valor humano enorme, são os primeiros agentes que encontro que realmente se importam com os seus atores. Que são sinceros. Tive uma experiência horrível na agência anterior, pensei mesmo em não ter mais agências. Aliás, todo o trabalho que tinha não vinha deles, mas de contactos que eu já tinha. No entanto, encontrei o João, falei com ele e acreditei. E estou muito contente com eles. Acho que fazem tudo como deve ser feito. Apostam em pessoas com formação e talento. Acho que estão a caminhar como se deve caminhar, com calma e juízo. E não duvido que serão uma das agências com mais atores a trabalhar daqui a uns tempos. Mesmo. Aliás, já o começam a ser. Bom para mim, bom para eles. 

M.L: Entre 2006 e 2009, trabalhou, frequentemente, com a companhia Artistas Unidos de Jorge Silva Melo. Como foi trabalhar com a companhia nessa altura?
C.H: Foram eles que pegaram em mim com 16 anos e levaram-me para o Teatro profissional. Foi com eles que aprendi a ser atriz. Eles foram a minha "escola". Conheci atores maravilhosos, autores maravilhosos, amigos maravilhosos. Foi um momento muito, muito feliz na minha vida. Trabalhei com o Jorge Silva Melo, com quem aprendi muito. Toda a minha escola de interpretação de textos veio dele e dos restantes Artistas Unidos. Bem como da Franzisca Aarflot. Guardo as melhores memórias com a Companhia e continuo a seguir o trabalho deles, sempre.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
C.H: Trabalho profissionalmente, desde os 14 anos. Portanto (a brincar, a brincar), faço, este ano, 10 anos de carreira. No fundo, foi um percurso com mais altos que baixos. Desde há dois anos que tem sido mais difícil. Mas não deixo de lutar, até porque não há outra coisa que queria ou que, na realidade, saiba fazer! É uma profissão que me deixa feliz. Não como tratam o Teatro ou o Cinema em Portugal. Aliás, neste momento, como tratam os Portugueses em geral. Mas sou muito feliz como criadora e como atriz.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.H: Estreio, no início de Novembro, o novo espetáculo da minha Companhia Plataforma285: "Leilão" no Teatro Cão Solteiro. Em Outubro, vou participar no filme "Benoît Brisefer: Les Taxis Rouges", uma produção francesa da Filmes do Tejo. Agora estou a trabalhar noutra área que sempre me interessou muito: a Música. Sou Manager de uma banda que começa a dar os primeiros passos: Lcomandante & General, com Cláudio Teixeira e Filipe Almeida. São ótimos músicos e artistas. Sempre gostei de programação musical. E talvez outros projetos que aí venham... Nós nunca sabemos, não é?ML

Fotografia: Rita Chantre

2 comentários:

  1. Descobri esta actriz portuguesa , há pouco tempo...e é fantástica ! Parabéns Cecília Henriques, muitas felicidades pessoais e êxitos no teu trabalho. Beijinhos PS. Vou seguir a programação da Plataforma285!!!

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  2. Descobri esta actriz portuguesa , há pouco tempo...e é fantástica ! Parabéns Cecília Henriques, muitas felicidades pessoais e êxitos no teu trabalho. Beijinhos PS. Vou seguir a programação da Plataforma285!!!

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