M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
L.L: Começou muito cedo ao
ver televisão, cinema e também, porque muitos dos meus avós e tios-avós, meu
pai e minha mãe tinham vários talentos: música, pintura, fotografia, gosto pelo
teatro e o espetáculo. Acho que estava inscrito nos genes.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
L.L: Se queres
dizer atores que me influenciaram, direi que a Eunice Muñoz, a Isabel de
Castro (que já não é viva), a Márcia Breia, a Lia Gama, etc. Estrangeiras: Bette Davis, Anna Magnani, Meryl Streep, Glenn Close, Gena Rowlands…
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
L.L: Teatro, sem dúvida. Sinto
como se estivesse em casa e essa casa fosse um palácio. Depois, o cinema. E
aprendi a gostar de Televisão. O mais importante é trabalhar e fazer bem e ter
bons papéis e bons diretores.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a
marcou, durante o seu percurso como atriz?
L.L: Não consigo destacar
só um, mas direi que em teatro foram: A minha estreia ("Guerras do Alecrim
e Manjerona”), as duas versões de “Marquesa de Sade” e por último, as “Dentadas”.
M.L: Já fez telenovelas. Este é um género televisivo
que mais gosta de fazer?
L.L: Como já disse, o que
gosto mais de fazer é Teatro. Mas dentro do género de produtos de televisão
gosto de fazer séries.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma
telenovela?
L.L: Como atriz tive a
sorte de fazer papéis que não gravava todos os dias, o que tornou o trabalho
só um prazer. Ia todos os dias trabalhar feliz. Quando estou a fazer
direção de atores já é diferente, fico mais cansada, há dias muito difíceis,
mas quando chego a casa é rara a vez em que sinto que não dei o meu melhor.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “A Senhora das Águas” (RTP), onde interpretou a personagem
Ondina de Jesus Trolha. Que recordações guarda desse trabalho?
L.L: De “A Senhora das
Águas” guardo as melhores recordações. 1ª: a minha personagem era muito maluca,
divertida e também tinha um bocadinho de maldade, o que enriquecia imenso as
situações. Depois, porque gravei os exteriores na vila de Santar ao lado de
Viseu, onde passei parte da minha infância. Depois, os meus colegas e a equipa
eram do melhor. Grandes profissionais e gente boa.
M.L: “A Senhora das Águas” contou com a participação
dos atores brasileiros Oscar Magrini e Juliana Baroni. Como foi trabalhar com
eles?
L.L: Para mim trabalhar
com os meus colegas brasileiros foi igual a trabalhar com qualquer outro ator.
Fiquei amiga do Oscar Magrini. E para quem como eu já trabalhou em filmes com a
participação (por exemplo) de atores franceses como Gerard Depardieu ou
Olivier Martinez foi ainda mais fácil, porque falavam a mesma língua…
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
L.L: Quando passamos por
um momento tão difícil quer em termos económicos, quer em termos culturais devo
dizer que estou muito preocupada. Têm havido cortes financeiros muito
significativos. Alguns até podem vir a dar resultados positivos, porque
inquietam e a inquietação é um dos motores para a criação. Mas a falta de
dinheiro é muito limitativa para a produção quer de teatro, quer de televisão e
cinema. Obriga a elencos mais pequenos, a menos exteriores, menos eventos na
estrutura dos guiões, o que empobrece muito o produto final. Em televisão
gostava de ver mais series.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
L.L: Carreira
internacional, gostava imenso de ter trabalho com o (Pedro) Almodóvar. Com o (Ingmar)
Bergman, por exemplo. Mas já tive mais pena. Temos agora em Portugal, tanta
gente boa e talentosa que era só deixarem fazer, darem meios financeiros, os
prémios que se ganham lá fora dizem tudo.
M.L: Em 2013 celebra 36 anos de carreira desde que se
estreou com A Centelha-Grupo de Teatro em Viseu no ano de 1977. Que balanço faz
destes 36 anos?
L.L: O balanço do meu
trabalho é positivo, porque mesmo tendo passado por imensas dificuldades no
passado, continuo a representar, a encenar e a dirigir atores. Para uma
miúda que saiu de Viseu, sem qualquer preparação e sem pertencer a nenhum lobby
é muito bom e compensador, o que consegui realizar.
M.L: Além da representação também é encenadora e
diretora de atores. Qual destas funções em que se sente melhor?
L.L: Mais uma vez o que
gosto mesmo de fazer e onde me sinto como peixe na água é a representação. Tudo
o que diga respeito à minha arte que me apaixone e impulsione de modo a
que me sinta capaz de fazer e de fazer minimamente bem e com verdade e
dignidade, por mim é só para tirar satisfação. Longe vão os tempos em que
ficava muito frustrada ou zangada.
M.L: Entre 2009 e 2010 assumiu a direção de atores da
telenovela “Meu Amor” que foi exibida na TVI e em 2010 ganhou o Emmy
Internacional na categoria de Telenovela. Como é que se sentiu ao saber que a
telenovela ganhou o prémio?
L.L: Saber que o “Meu
Amor”: 1º que tinha sido nomeado e depois que tinha ganho o Emmy foi uma
alegria imensa. Mas não foi uma surpresa muita grande, porque eu acreditava na
novela que estávamos a trabalhar, na história e no elenco e na equipa. Como fiz
a novela sozinha (quero dizer não tive assistência na direção, o que foi muito,
muito cansativo) fiquei duplamente contente e orgulhosa e com um grande sentido
de responsabilidade para fazer melhor nos projetos que se seguiram como o “Remédio
Santo” (TVI) -também nomeada- e agora na nova aposta da TVI…
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu
percurso como atriz?
L.L: Não consigo responder
qual a pessoa que me marcou, foram várias. Por vezes, pessoas que nem sequer
eram atores ou realizadores ou encenadores. O ato criativo é muito complexo e
as relações humanas também.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
L.L: 1º conselho: Trabalho.
2º conselho: Trabalho. 3º: Divertimento. 4º: Formação. 5º: Estar atento ao
trabalho dos mais velhos. 6º: Ver muitos espetáculos, pintura, música, cinema.
7º: Observar, ouvir, sentir.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.L: Estou neste momento a
fazer direção de atores na nova novela da TVI “Destinos Cruzados”. E ideias e
projetos há. Vontade de fazer coisas também. Agora, vamos começar a reunir as
condições para o fazer, por isso logo se verá o que se realiza primeiro. Quer
teatro, quer cinema. Pode ser que os deuses estejam comigo.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
L.L: A nível pessoal gostava de viajar mais, conhecer
outras culturas, ter outras memórias, outros cheiros e cores na minha gaveta de
emoções para usar para as personagens e para me enriquecer como humana. No
ponto de vista profissional, gostava de ter feito alguns papéis que já não
tenho idade para os fazer como a “Julieta” ou a “Nina” de “A Gaivota”. Em
cinema, papéis que implicassem boas condições físicas, de ação… Mas
em teatro, ainda gostava de fazer a “Medeia” e a “Lady Macbeth”.ML
Sem comentários:
Enviar um comentário