M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
M.J: Desde pequena
sempre tive um encanto especial pela área. Ainda hoje guardo a lembrança do
fascínio que sentia sempre que eram anunciadas peças de teatro na escola, sendo
que nessa altura o sentimento mantinha-se apenas como um sonho ou um desejo
enorme. Cheguei a frequentar uma formação de
iniciação à prática teatral, na cidade de onde sou natural, ainda sem imaginar
que um dia poderia vir a tornar-se algo mais. Entretanto enveredei por outras
áreas, nas quais nunca me senti realizada, existindo sempre o sentimento de que
me faltava algo, até que decidi procurar escolas de atores em Lisboa, ganhei
coragem para mudar tudo, e uns meses mais tarde estava na ACT-Escola de
Atores. A partir desse momento senti que encontrara o que queria fazer
para o resto da vida.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.J: A minha maior influência é a vida e a relação com os outros, tudo
depende da personagem que estou a interpretar.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
M.J: Gosto de
todos! O que me faz sentir mesmo feliz é interpretar, independentemente do
género. Em qualquer um deles dou o meu melhor e procuro usufruir o máximo
possível.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou
até agora, enquanto atriz?
M.J: A série
"Morangos com Açúcar" (TVI) foi o projeto que mais me marcou pela
aprendizagem e pela duração do projeto, que me permitiu desenvolver a minha
personagem. Foi um ano muito intenso e cheio de descobertas, tanto a nível
profissional, como pessoal.
M.L: Entre 2008 e 2009 participou na 6ª temporada da
série “Morangos com Açúcar” (TVI), onde interpretou a personagem Micaela. Que
recordações guarda desse trabalho?
M.J: As melhores! Aprendi muito, cresci, enquanto pessoa e atriz, ganhei
amizades para a vida, conheci excelentes profissionais, foi um ano muito feliz.
M.L: “Morangos com Açúcar” foi cancelada ao fim de 9
anos de exibição. Como vê o percurso que a série fez até ser cancelada?
M.J:
Apesar do síndrome do
"Eu não vejo "Morangos…", o que é certo é que foi a série
com maior sucesso em Portugal, que acompanhou várias gerações e deu a
oportunidade de inicio de carreira a muitos atores e alguns músicos. É
um projeto que vai deixar saudades, mas também considero muito importante
fechar um ciclo para dar oportunidade à abertura de outro.M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
M.J: Confesso que
todos os projetos em que participo me deixam marcas bastante importantes, no
entanto, posso destacar a minha primeira cena na série "Conta-me como
foi" (RTP) em que contracenava com a Catarina Avelar e com a Rita Blanco. Foi
esse o momento em que me apercebi que a magia da minha infância era agora a
minha realidade profissional.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
M.J: Estamos a atravessar uma fase mais complicada
do que é habitual devido à crise económica que se sente no país. Os apoios à
cultura são cada vez menores, os projetos escasseiam e cada vez com menos
recursos financeiros, o que limita os elencos. Tirando as dificuldades que
fazem parte do quotidiano de quem trabalha nestas áreas, acho que temos
sobrevivido e até evoluído tanto em teatro, como em ficção. O importante é não
desistir e continuar a acreditar em dias melhores.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.J: Eu sou
incondicionalmente apaixonada pelo meu trabalho, independente do local, onde me
encontro e do formato que me é oferecido. Como é natural, e dado que todas as
experiências são enriquecedoras a todos os níveis, gostaria de ter outras
experiências que passam também por trabalhar fora de Portugal, julgo que todos
os atores o desejam.
M.L: Além da representação também é produtora. Qual
destas funções em que se sente melhor?
M.J: A produção
nasceu da necessidade de colmatar os períodos de pausa entre projetos, porque
existe uma grande dificuldade em fazer face às despesas do dia-a-dia, quando
não existe qualquer tipo de rendimento. Felizmente, também esta função se
tornou rapidamente mais uma das minhas paixões para a vida, que desempenho com
tanta dedicação e orgulho como a representação. No entanto, serei sempre fiel
ao meu primeiro amor: a interpretação.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou até agora,
enquanto atriz?
M.J: Tenho algumas
pessoas que tiveram e têm um papel muito importante na minha vida profissional,
que me ajudam a crescer e a descobrir novos caminhos, que são as pessoas que
acreditam em mim, me apoiam e estão sempre ao meu lado. Dada a importância que
têm na minha vida, é muito difícil para mim destacar apenas uma.
M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da
TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas ao Emmy Internacional na categoria de
Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
M.J: O
reconhecimento vem comprovar que temos excelentes profissionais em Portugal. Existe
um crescimento notável na área e espero que hajam cada vez mais projetos, com
espaço e abertura para dar oportunidade a todos os atores de mostrarem a
qualidade do seu trabalho.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
M.J: Humildade, muito
trabalho e uma forte aposta na formação. Agarrem cada oportunidade com paixão. As
dificuldades são muitas, mas com coragem e persistência é possível ser feliz a
fazer-se o que se ama.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como atriz?
M.J: O meu
percurso é ainda curto, e portanto não tenho carreira suficiente para poder
fazer um balanço, mas gosto do que vivi até hoje. Espero conseguir continuar a lutar,
a trabalhar, a crescer. Quero mais!
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.J: Vou iniciar
esta semana mais um projeto na área de produção, com a produtora de televisão
com quem tenho vindo a trabalhar, e vou também gravar uma curta-metragem ainda este
mês. Espero que entretanto apareçam mais projetos e que fique sem tempo para
respirar.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.J: Uma longa-metragem.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
M.J: Gostava de
ver justiça relativamente aos impostos que este setor enfrenta mensalmente,
pelo que mudava o regime de trabalho a recibos verdes. Penso que esta pequena
grande mudança seria o suficiente para me sentir ainda mais feliz e viver sem
andar sempre com o coração nas mãos.ML
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