sábado, 26 de janeiro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Manuela Jorge

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Manuela Jorge. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se formado na ACT-Escola de Atores e tem desenvolvido um interessantíssimo percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Conta-me como foi" (RTP), "Morangos com Açúcar" (TVI) e "5 para a Meia-Noite" (RTP) e além da representação também é produtora e recentemente participou nos programas "Não me Sai da Cabeça", apresentado por Sílvia Alberto, e "Conta-me História", apresentado por Luís Filipe Borges (que também escreveu "Não me Sai da Cabeça") e pelo historiador Fernando Casqueira, estando atualmente em exibição na RTP1. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 20 de Janeiro.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
M.J: Desde pequena sempre tive um encanto especial pela área. Ainda hoje guardo a lembrança do fascínio que sentia sempre que eram anunciadas peças de teatro na escola, sendo que nessa altura o sentimento mantinha-se apenas como um sonho ou um desejo enorme. Cheguei a frequentar uma formação de iniciação à prática teatral, na cidade de onde sou natural, ainda sem imaginar que um dia poderia vir a tornar-se algo mais. Entretanto enveredei por outras áreas, nas quais nunca me senti realizada, existindo sempre o sentimento de que me faltava algo, até que decidi procurar escolas de atores em Lisboa, ganhei coragem para mudar tudo, e uns meses mais tarde estava na ACT-Escola de Atores. A partir desse momento senti que encontrara o que queria fazer para o resto da vida.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.J: A minha maior influência é a vida e a relação com os outros, tudo depende da personagem que estou a interpretar.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
M.J: Gosto de todos! O que me faz sentir mesmo feliz é interpretar, independentemente do género. Em qualquer um deles dou o meu melhor e procuro usufruir o máximo possível.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou até agora, enquanto atriz?
M.J: A série "Morangos com Açúcar" (TVI) foi o projeto que mais me marcou pela aprendizagem e pela duração do projeto, que me permitiu desenvolver a minha personagem. Foi um ano muito intenso e cheio de descobertas, tanto a nível profissional, como pessoal.

M.L: Entre 2008 e 2009 participou na 6ª temporada da série “Morangos com Açúcar” (TVI), onde interpretou a personagem Micaela. Que recordações guarda desse trabalho?
M.J: As melhores! Aprendi muito, cresci, enquanto pessoa e atriz, ganhei amizades para a vida, conheci excelentes profissionais, foi um ano muito feliz.

M.L: “Morangos com Açúcar” foi cancelada ao fim de 9 anos de exibição. Como vê o percurso que a série fez até ser cancelada?
M.J: Apesar do síndrome do "Eu não vejo "Morangos…", o que é certo é que foi a série com maior sucesso em Portugal, que acompanhou várias gerações e deu a oportunidade de inicio de carreira a muitos atores e alguns músicos. É um projeto que vai deixar saudades, mas também considero muito importante fechar um ciclo para dar oportunidade à abertura de  outro.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
M.J: Confesso que todos os projetos em que participo me deixam marcas bastante importantes, no entanto, posso destacar a minha primeira cena na série "Conta-me como foi" (RTP) em que contracenava com a Catarina Avelar e com a Rita Blanco. Foi esse o momento em que me apercebi que a magia da minha infância era agora a minha realidade profissional.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
M.J: Estamos a atravessar uma fase mais complicada do que é habitual devido à crise económica que se sente no país. Os apoios à cultura são cada vez menores, os projetos escasseiam e cada vez com menos recursos financeiros, o que limita os elencos. Tirando as dificuldades que fazem parte do quotidiano de quem trabalha nestas áreas, acho que temos sobrevivido e até evoluído tanto em teatro, como em ficção. O importante é não desistir e continuar a acreditar em dias melhores.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.J: Eu sou incondicionalmente apaixonada pelo meu trabalho, independente do local, onde me encontro e do formato que me é oferecido. Como é natural, e dado que todas as experiências são enriquecedoras a todos os níveis, gostaria de ter outras experiências que passam também por trabalhar fora de Portugal, julgo que todos os atores o desejam.

M.L: Além da representação também é produtora. Qual destas funções em que se sente melhor?
M.J: A produção nasceu da necessidade de colmatar os períodos de pausa entre projetos, porque existe uma grande dificuldade em fazer face às despesas do dia-a-dia, quando não existe qualquer tipo de rendimento. Felizmente, também esta função se tornou rapidamente mais uma das minhas paixões para a vida, que desempenho com tanta dedicação e orgulho como a representação. No entanto, serei sempre fiel ao meu primeiro amor: a interpretação.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou até agora, enquanto atriz?
M.J: Tenho algumas pessoas que tiveram e têm um papel muito importante na minha vida profissional, que me ajudam a crescer e a descobrir novos caminhos, que são as pessoas que acreditam em mim, me apoiam e estão sempre ao meu lado. Dada a importância que têm na minha vida, é muito difícil para mim destacar apenas uma.

M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas ao Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
M.J: O reconhecimento vem comprovar que temos excelentes profissionais em Portugal. Existe um crescimento notável na área e espero que hajam cada vez mais projetos, com espaço e abertura para dar oportunidade a todos os atores de mostrarem a qualidade do seu trabalho.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.J: Humildade, muito trabalho e uma forte aposta na formação. Agarrem cada oportunidade com paixão. As dificuldades são muitas, mas com coragem e persistência é possível ser feliz a fazer-se o que se ama.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
M.J: O meu percurso é ainda curto, e portanto não tenho carreira suficiente para poder fazer um balanço, mas gosto do que vivi até hoje. Espero conseguir continuar a lutar, a trabalhar, a crescer. Quero mais!

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.J: Vou iniciar esta semana mais um projeto na área de produção, com a produtora de televisão com quem tenho vindo a trabalhar, e vou também gravar uma curta-metragem ainda este mês. Espero que entretanto apareçam mais projetos e que fique sem tempo para respirar.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.J: Uma longa-metragem.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
M.J: Gostava de ver justiça relativamente aos impostos que este setor enfrenta mensalmente, pelo que mudava o regime de trabalho a recibos verdes. Penso que esta pequena grande mudança seria o suficiente para me sentir ainda mais feliz e viver sem andar sempre com o coração nas mãos.ML

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