M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
A.M.R: Não sei bem.
Olhando para trás, não é estranho que seja jornalista. Seria estranho se fosse
astrónoma ou bióloga. Gosto de ver as estrelas, ou o voo das aves, ou abraçar
árvores, ou apanhar pedras. Mas nunca os estudaria. O meu interesse é poético,
emocional, profundo. Com o jornalismo é, mais ou menos, a mesma coisa. Não o
estudei (estudei Filosofia, e de modo irregular, e tarde), mas ele interessa-me
muito, e deixa-se impregnar das muitas coisas que me interessam, e vai dar a
tantas mais... Gosto de pensar que os caminhos têm caminhos próprios (é mesmo
assim). Escolhemos uns e somos escolhidos por outros. Não sei bem por que vim
dar a este. Mas vim.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
A.M.R: Um nome apenas:
Clara Ferreira Alves. Muito inteligente, escrita elegante, plural. Claro que há
mais, mas fico-me por este. Basicamente, gosto de ler pessoas com as características
da Clara. Na televisão e na rádio, a mesma coisa.
M.L: Durante o seu percurso como jornalista, trabalhou
na imprensa, na rádio e na televisão. Qual destes meios de comunicação que mais
gosta de trabalhar?
A.M.R: Gosto mais da
escrita. É mais confortável ter tempo para pensar, escrever, repensar,
reescrever. Sem dúvida.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
A.M.R: Talvez o que estou
a fazer agora? Não tenho uma atitude saudosista em relação ao passado e olho
pouco para o que fiz. Prefiro pensar no que tenho para fazer. Vou pensando por
etapas, desafios que ponho a mim própria. Passo a passo.
M.L: Entre 2004 e 2006, apresentou o programa
“Magazine” que foi exibido na RTP2. Que recordações guarda desse trabalho?
A.M.R: Parece que foi há
uma eternidade! Não me acontece pensar muito nisso. Às vezes encontro pessoas
muito amáveis que me falam no programa e fico sempre um pouco surpreendida. Já
fiz tanta coisa, depois do “Magazine” que acho sempre que aquela não sou
completamente eu. Já não sou eu. Agora sou aquela e a que fui sendo. Era uma
vida muito diferente. Para começar, trabalhava fora de casa uma parte boa do
dia, e com pessoas, todos os dias. Agora trabalho em casa, sozinha. Prefiro
esta modalidade. Nada contra as pessoas com quem trabalhei! Mas estar no meu
ritmo, poder ouvir-me, encontrar as respostas, é o meu registo profissional
preferido. Não quer dizer que não possa, episodicamente, ter outros.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
A.M.R: Ui... O país está
em fanicos, não é? A Comunicação Social não está pior do que a privatização dos
CTT ou as ações do BCP, pois não? Como sempre e em todo o lado: há coisas boas
e más, gente boa e gente má. Lamento que haja tão pouco dinheiro para fazer uma
reportagem ou que se pague pouco por uma entrevista que demora, tudo somado, uma
semana a fazer. Mas preocupam-me mais os números do desemprego.
M.L: Recentemente, lançou o blogue “anabelamotaribeiro.pt”
que é, em grande parte, constituído por entrevistas que tem feito ao longo dos
anos. Como é que surgiu a ideia de criar este blogue?
A.M.R: Algumas pessoas que
me são próximas insistiram comigo. E eu pensei que talvez valesse a pena ter
todo o meu trabalho disponível e sistematizado. A explicação toda está aqui: http://anabelamotaribeiro.pt/14906.html.
M.L: Como tem sido a reação do público ao seu blogue
até agora?
A.M.R: A
reação tem sido espantosa! Comovente, até. Percebo que há pessoas que me leem
há anos e que o meu trabalho (é mais o que os meus entrevistados dizem...) as
toca. Eu entrego-me muito ao que faço, tento fazê-lo o melhor possível, mas
como vivo fechada em mim às vezes esqueço-me da reverberação que estas palavras
têm lá fora... Obrigada.
M.L: Qual é a Personalidade (de qualquer área) que
gostava de entrevistar no futuro?
A.M.R: Ninguém em especial
e toda a gente. Já entrevistei muita gente e tenho muita gente para
entrevistar. Nunca tenho expectativas extraordinárias. Como explico no blogue,
aprendi que estima e admiração são coisas diferentes. Ou seja, as pessoas que
estimo podem não ser aquelas que quero entrevistar...
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
A.M.R: Trabalhar,
trabalhar, trabalhar. Ter foco, determinação, disciplina férrea. Ler, ler, ler.
E tentar pensar sem preconceitos. Aprender a ouvir, realmente, o que o outro
está a dizer.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como jornalista?
A.M.R: Meu caro, desculpe,
mas não sei responder a isso... Balanço: como todos. Às vezes corre mal, outras
vezes corre melhor. Tudo isso faz parte. Sem dramas.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.M.R: Quero consolidar o
trabalho do blogue. A minha intenção é disponibilizar todos os dias um conteúdo
novo. Tenho centenas. Ao mesmo tempo pretendo agilizar este processo. Noutra
frente, estou a fazer o mestrado em Filosofia. Concluí-lo vai ser uma das
prioridades dos próximos meses.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.M.R: Gostava de fazer
melhor o que faço. Essa é a ambição. No capítulo dos sonhos: escrever melhor,
cantar, fazer filmes, dar saltos para a piscina (é a melhor parte dos Jogos
Olímpicos: ver saltos para a água).
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
A.M.R:
Eu gostava mais que mudassem coisas cá fora, no país, que na minha vida. A
minha vida corre muito bem, obrigada.MLFotografia: Clara Azevedo
Gosto tanto do que a Anabela faz, da atenção ao detalhe que se vê nas questões que coloca aos entrevistados. Vê-se a dedicação ao trabalho e também se reconhece o esforço e o amor que tem pelo que faz.
ResponderEliminarE gosto da normalidade das suas respostas, o que faz dela, aos meus olhos, alguém ainda mais admirável.
E gosto do facto de não ser formada em jornalismo - é a prova que para se fazer bem basta ser-se apaixonado pelo que se faz e uma (enorme) dedicação.
Bravo, Anabela! E ainda bem que criou a sua página, que sigo diariamente. Obrigada a si e ao Mário Lisboa!