terça-feira, 24 de setembro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Marisa Galiza Filipe

Olá. A próxima entrevista é com a blogger e historiadora Marisa Galiza Filipe. Desde muito cedo que se interessou pela História, e, em 2012, criou o blogue "Marisa's Beautiful World" (http://marisasbworld.blogspot.pt/), que fala sobre questões relacionadas com o Mundo atual, da qual tem tido uma boa reação por parte do público, tendo, em 2013, lançado o livro, com o mesmo nome, que junta uma série de textos publicados no blogue. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 11 de Agosto.

M.L: Quando surgiu a ideia de criar o blogue “Marisa’s Beautiful World”?
M.G.F: Em 2012, decidi frequentar o mestrado em Desenvolvimento, Diversidades Locais e Desafios Mundiais no ISCTE. As aulas eram tão interessantes que quando chegava a casa tinha de partilhar o que aprendia. No meio dessa partilha, foi-me sugerido que partilhasse o que pensava num blogue. E já que era para ser baseado no que eu pensava, no meu Mundo, então decidi que fosse bonito. Daí surgiu o “Marisa’s Beautiful World”.

M.L: “Marisa’s Beautiful World” fala sobre questões relacionadas com o Mundo atual. Em tempos sombrios, como vê o futuro do Mundo nos próximos anos?
M.G.F: Com um profundo otimismo. Creio que estamos a acordar como sociedade e a perceber as redes em que estamos entranhados. É da consciência coletiva das situações que surgem novas ideias, novas conquistas. E seguindo o repto do Papa Francisco, está na hora de nos revolucionarmos.

M.L: Como tem sido a reação do público ao seu blogue até agora?
M.G.F: Tem sido positiva. Acredito que muitas pessoas não concordam comigo em muitos assuntos, mas também não têm qualquer problema em me dizerem os seus pensamentos. O que é bom, porque é do debate que surge a democracia. Quando nos autocensuramos para agradar alguém, perdemos mais um bocadinho da nossa liberdade.

M.L: Que balanço faz do percurso que o “Marisa’s Beautiful World” tem feito, desde a sua criação até agora?
M.G.F: Faço um balanço muito positivo. O blogue tem alcançado diferentes públicos e isso é o mais importante. E creio que contribui também para a discussão do que é a democracia e para a discussão de qual é a melhor mala que devemos comprar.

M.L: Além de ser blogger, também é historiadora. Quando surgiu o interesse por essa área específica?
M.G.F: Desde muito cedo. Nunca imaginei tirar qualquer curso universitário que não fosse História. Gosto de pessoas, mas nós só percebemos, porque é que pensamos ou agimos desta maneira se percebermos de onde vimos, e que acontecimentos ocorreram no passado para que a nossa vida seja desta forma e não de outra. A História, enquanto disciplina, é um relato quase fiel do que o Ser Humano é capaz, tanto na sua hora de esplendor, como nas suas horas mais sombrias.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto historiadora?
M.G.F: Sempre gostei muito dos trabalhos do Prof. Manuel Mascarenhas sobre aldeias abandonadas e, neste momento, é com este professor que colaboro. Recomendo a quem possa que adquira também a enciclopédia “História de Portugal” coordenada pelo Prof. José Mattoso. Dito isto, a melhor forma de se entender a História, é ler romances. Para se perceber a Guerra Civil espanhola, basta ler (Ernest) Hemingway. Para compreender melhor a nossa História, recomendo que se leia, por exemplo, Eça de Queiroz e José Saramago. Porque um romance tira-nos o peso da responsabilidade e deixamo-nos envolver pela história que nos é contada. Não há melhor do que a sensação de se aprender sem fazermos qualquer esforço…

M.L: Sendo historiadora, na sua opinião, acha que as gerações mais novas interessam-se, hoje em dia, pelos acontecimentos históricos ocorridos no passado?
M.G.F: Sim, muito. E espero que as novas gerações façam uma revolução na disciplina da História que continua muito pesada e académica. As novas tecnologias têm contribuído muito para “contar” a História de uma maneira mais lúdica e menos pesada. Não basta saber a data do móvel e o seu estilo, porque o que deve chegar ao público é que aquele móvel era usado numa época específica por aquelas pessoas. E que aquelas pessoas pensavam de certa forma e viviam de certa maneira. É nas pessoas que deve estar a tónica e não em pequenos apontamentos. Os nossos museus precisam de se reestruturar, mas, lentamente, estão a fazê-lo. Veja-se o caso da exposição de Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda. Este é o caminho que devemos seguir.

M.L: Recentemente, lançou o livro “Marisa’s Beautiful World” que junta uma série de textos publicados no seu blogue com o mesmo nome. Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?
M.G.F: Porque me sugeriram e eu aderi à proposta da Chiado Editora. E o livro é um melhor veículo que o blogue. Está sempre acessível, podemos levá-lo para todo o lado. E o prazer de ler um livro é insubstituível.

M.L: Esta experiência despertou-lhe o interesse de prosseguir uma carreira como escritora?
M.G.F: Ainda não sei…

M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem feito até agora?
M.G.F: Faço o balanço que a minha geração também faz. Não nos deixam ser mais, temos de furar barreiras. Às vezes estamos melhor, mas nunca estamos seguros.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.G.F: Mudar o Mundo.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
M.G.F: Se mudar o Mundo, a minha vida também muda. E continuo a não ter vontade nenhuma de mudar o sofá. O que eu quero mesmo é mudar o Mundo.ML

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