M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
R.F: Penso que ainda em
criança. Foi sempre um mundo que me fascinou, embora não tivesse a certeza de
que queria ser jornalista. Quando entrei para a faculdade, a minha primeira
opção foi Direito, mas acabei por entrar para o ISCSP, em Sociologia do
Trabalho. No terceiro ano, decidi que queria seguir esta área, mudei para
Comunicação Social e fiz dois cursos no CENJOR.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
R.F: Os primeiros
formadores marcam-nos sempre. O meu primeiro contacto com o jornalismo
televisivo foi com um atelier dado
pelo Rui Araújo no CENJOR. Ele foi e ainda é uma grande influência.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
R.F: É difícil falar só de
um. Graças ao trabalho, entrevistei grandes artistas como o James Nachtwey ou o
Damien Hirst. Mais recentemente, no Fantasporto, que frequento todos os anos,
tive a grande honra de contactar com o Manoel de Oliveira. Isso em termos de
reportagem. Em termos de diretos do estúdio, conduzi várias noites eleitorais,
mas as que mais me marcaram foram as duas eleições de Barack Obama, em 2008 e
2012. Sobretudo a primeira. Tive a sensação de estar a trabalhar e a viver um
momento histórico, comparável à chegada do Homem à Lua.
M.L: Além do jornalismo, também é fotógrafo. Em qual
destas funções em que se sente melhor?
R.F: Sinto-me bem nas
duas, embora sejam duas situações diferentes. O jornalismo é a minha profissão
de todos os dias e a fotografia é algo que faço por pura paixão, para realizar
esta minha necessidade permanente de criar.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social, em
termos gerais?
R.F: A Comunicação Social
viveu duas grandes revoluções nos últimos 15 anos. A primeira foi o aparecimento
da Internet e do jornalismo online e
a segunda foi a chamada "Web 2.0", com os blogues, o Youtube e as
redes sociais como o Facebook ou o Twitter. O utilizador passou, também ele, a
ser fornecedor de conteúdos, ou seja, a Comunicação Social deixou de ser algo
de sentido único. Em termos de trabalho, quer o online, quer a multiplicação dos meios (na televisão, sobretudo)
criou emprego, mas muitas vezes (mesmo na maioria das vezes, infelizmente) esse
trabalho é precário e mal pago. A democratização dos meios também ajudou. Hoje,
com um simples telemóvel, é possível fazer um direto para o qual seria
necessário um carro-satélite, há uns anos.
M.L: Desde 1999 que vive em França, onde trabalha no
canal Euronews. O que o levou a querer viver em França?
R.F: O que me trouxe para
França foi, justamente, a Euronews. Tive a sorte de comprar o jornal (o Diário
de Notícias) no dia em que vi o anúncio a pedir jornalistas para a equipa de
língua portuguesa da Euronews. Fui à entrevista e fui selecionado. Quinze dias
depois, estava em Lyon.
M.L: Como vê, hoje em dia, Portugal e França, em
termos artísticos?
R.F: Infelizmente, e como
português custa-me dizer isto, a França acarinha muito mais as artes. Em
Portugal, hoje em dia, chamar "artista" a alguém é quase um insulto. Um
exemplo: o Paulo Nozolino, um dos maiores fotógrafos contemporâneos, é mais
conhecido no estrangeiro do que em Portugal.
M.L: A Euronews existe, desde 1993. Como vê o percurso
que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
R.F: A Euronews teve uma
evolução extraordinária. Quando a língua portuguesa foi introduzida, em 1999, foi
a sexta versão linguística. Hoje tem emissão em 13 línguas (português, inglês,
francês, espanhol, italiano, alemão, russo, árabe, persa, turco, grego,
ucraniano e húngaro) e serviços parciais noutras duas (romeno e polaco). Quando
comecei, a produção própria era muito reduzida e hoje ocupa uma grande parte da
antena, através de reportagens e magazines em áreas diferentes. No início, era
um canal anónimo, em que os jornalistas nunca davam a cara e hoje em dia dão e
o extraordinário é que são jornalistas vindos de todos os pontos do Mundo, o
que é absolutamente único!
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
R.F: Para saber escrever
bem, é preciso ler. Leiam jornais e revistas, sim, mas também livros, ficção, o
que quiserem. Leiam muito. E vejam filmes, vão ao teatro, vão a exposições,
viajem, nem que seja até ao Porto ou a Lisboa. Não fiquem fechados a ver a bola
e a jogar Playstation, o que também é bom, mas na medida certa. Abram a mente,
isso é muito importante.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como jornalista?
R.F: Já respondi sobre as
pessoas extraordinárias que encontrei no exercício da profissão e os momentos
que vivi. Fiz também bons amigos, que é uma das melhores coisas que levamos da
vida.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.F: Estou neste momento
envolvido em dois projetos. Um na área da Fotografia, que é uma recolha de 40
retratos de portugueses residentes em França, que penso lançar em livro no
próximo ano, coincidindo com os 40 anos do 25 de Abril. O outro, na área do Cinema,
é a realização de uma curta-metragem, um sonho antigo. Ambos os projetos estão
a ser desenvolvidos em parceria com duas queridas amigas: o primeiro com a
Elisabeth Machado Marcellin e o segundo com a Isabel Pina.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
R.F: Parte da resposta
está na resposta anterior. De resto, quero continuar a fazer o meu trabalho da
melhor maneira que sei e aproveitar as oportunidades que a vida me dá,
nomeadamente para viajar. Há muitos países que quero visitar e que ainda não
conheço, nomeadamente o Japão e o Brasil. Gostaria também, um dia, de fazer a
famosa viagem pelos EUA, da Costa Atlântica à Costa Pacífica.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
R.F:
Gostava de ter mais disponibilidade, quer em termos de tempo, quer de dinheiro,
para poder viajar.ML
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