domingo, 29 de setembro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Ricardo Figueira

Olá. A próxima entrevista é com o jornalista Ricardo Figueira. Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo, tendo-se tornado num dos mais respeitados jornalistas portugueses em solo europeu. Desde 1999 que vive em França, onde trabalha no canal Euronews (que, em 2013, celebra 20 anos de existência), e além do jornalismo, também é fotógrafo. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 27 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
R.F: Penso que ainda em criança. Foi sempre um mundo que me fascinou, embora não tivesse a certeza de que queria ser jornalista. Quando entrei para a faculdade, a minha primeira opção foi Direito, mas acabei por entrar para o ISCSP, em Sociologia do Trabalho. No terceiro ano, decidi que queria seguir esta área, mudei para Comunicação Social e fiz dois cursos no CENJOR.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
R.F: Os primeiros formadores marcam-nos sempre. O meu primeiro contacto com o jornalismo televisivo foi com um atelier dado pelo Rui Araújo no CENJOR. Ele foi e ainda é uma grande influência.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o seu percurso como jornalista?
R.F: É difícil falar só de um. Graças ao trabalho, entrevistei grandes artistas como o James Nachtwey ou o Damien Hirst. Mais recentemente, no Fantasporto, que frequento todos os anos, tive a grande honra de contactar com o Manoel de Oliveira. Isso em termos de reportagem. Em termos de diretos do estúdio, conduzi várias noites eleitorais, mas as que mais me marcaram foram as duas eleições de Barack Obama, em 2008 e 2012. Sobretudo a primeira. Tive a sensação de estar a trabalhar e a viver um momento histórico, comparável à chegada do Homem à Lua.

M.L: Além do jornalismo, também é fotógrafo. Em qual destas funções em que se sente melhor?
R.F: Sinto-me bem nas duas, embora sejam duas situações diferentes. O jornalismo é a minha profissão de todos os dias e a fotografia é algo que faço por pura paixão, para realizar esta minha necessidade permanente de criar.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social, em termos gerais?
R.F: A Comunicação Social viveu duas grandes revoluções nos últimos 15 anos. A primeira foi o aparecimento da Internet e do jornalismo online e a segunda foi a chamada "Web 2.0", com os blogues, o Youtube e as redes sociais como o Facebook ou o Twitter. O utilizador passou, também ele, a ser fornecedor de conteúdos, ou seja, a Comunicação Social deixou de ser algo de sentido único. Em termos de trabalho, quer o online, quer a multiplicação dos meios (na televisão, sobretudo) criou emprego, mas muitas vezes (mesmo na maioria das vezes, infelizmente) esse trabalho é precário e mal pago. A democratização dos meios também ajudou. Hoje, com um simples telemóvel, é possível fazer um direto para o qual seria necessário um carro-satélite, há uns anos. 

M.L: Desde 1999 que vive em França, onde trabalha no canal Euronews. O que o levou a querer viver em França?
R.F: O que me trouxe para França foi, justamente, a Euronews. Tive a sorte de comprar o jornal (o Diário de Notícias) no dia em que vi o anúncio a pedir jornalistas para a equipa de língua portuguesa da Euronews. Fui à entrevista e fui selecionado. Quinze dias depois, estava em Lyon.

M.L: Como vê, hoje em dia, Portugal e França, em termos artísticos?
R.F: Infelizmente, e como português custa-me dizer isto, a França acarinha muito mais as artes. Em Portugal, hoje em dia, chamar "artista" a alguém é quase um insulto. Um exemplo: o Paulo Nozolino, um dos maiores fotógrafos contemporâneos, é mais conhecido no estrangeiro do que em Portugal.

M.L: A Euronews existe, desde 1993. Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
R.F: A Euronews teve uma evolução extraordinária. Quando a língua portuguesa foi introduzida, em 1999, foi a sexta versão linguística. Hoje tem emissão em 13 línguas (português, inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, russo, árabe, persa, turco, grego, ucraniano e húngaro) e serviços parciais noutras duas (romeno e polaco). Quando comecei, a produção própria era muito reduzida e hoje ocupa uma grande parte da antena, através de reportagens e magazines em áreas diferentes. No início, era um canal anónimo, em que os jornalistas nunca davam a cara e hoje em dia dão e o extraordinário é que são jornalistas vindos de todos os pontos do Mundo, o que é absolutamente único!

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
R.F: Para saber escrever bem, é preciso ler. Leiam jornais e revistas, sim, mas também livros, ficção, o que quiserem. Leiam muito. E vejam filmes, vão ao teatro, vão a exposições, viajem, nem que seja até ao Porto ou a Lisboa. Não fiquem fechados a ver a bola e a jogar Playstation, o que também é bom, mas na medida certa. Abram a mente, isso é muito importante.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como jornalista?
R.F: Já respondi sobre as pessoas extraordinárias que encontrei no exercício da profissão e os momentos que vivi. Fiz também bons amigos, que é uma das melhores coisas que levamos da vida. 

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.F: Estou neste momento envolvido em dois projetos. Um na área da Fotografia, que é uma recolha de 40 retratos de portugueses residentes em França, que penso lançar em livro no próximo ano, coincidindo com os 40 anos do 25 de Abril. O outro, na área do Cinema, é a realização de uma curta-metragem, um sonho antigo. Ambos os projetos estão a ser desenvolvidos em parceria com duas queridas amigas: o primeiro com a Elisabeth Machado Marcellin e o segundo com a Isabel Pina.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
R.F: Parte da resposta está na resposta anterior. De resto, quero continuar a fazer o meu trabalho da melhor maneira que sei e aproveitar as oportunidades que a vida me dá, nomeadamente para viajar. Há muitos países que quero visitar e que ainda não conheço, nomeadamente o Japão e o Brasil. Gostaria também, um dia, de fazer a famosa viagem pelos EUA, da Costa Atlântica à Costa Pacífica.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
R.F: Gostava de ter mais disponibilidade, quer em termos de tempo, quer de dinheiro, para poder viajar.ML

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