M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.F: Surgiu, desde muito
novo. A primeira vez que pensei, a sério, nisto tinha 9 anos: foi a representar
o conto da Sopa da Pedra na 4ª classe. Eu era aquele miúdo lá atrás na sala de
aula, muito metido para comigo e, de repente, estava toda a gente a olhar para
mim, atentos a tudo o que eu fazia, a rirem-se e descobri que me sentia muito bem
em cima do palco. Ali podia exprimir-me à vontade.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
A.F: Sempre vi muita
televisão e muito cinema, sempre que podia. Sem saber, sempre fui muito
influenciado pelos atores do Método como o Marlon Brando, o Al Pacino, o Robert
DeNiro. Sempre lhes achei alguma coisa de especial na representação deles, sempre
ambicionei ser como eles, fazer o que eles faziam. E, curiosamente, mais tarde,
estive, de facto, a estudar o Método do Actors Studio no The Lee Strasberg
Theatre and Film Institute, durante ano e meio, em Nova Iorque. Uma experiência
única graças a uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
A.F: Gosto de todos. Cada
qual tem a sua especificidade. Na televisão, adoro a rapidez, o stress constante, o tentar sempre fazer
depressa e bem. A maioria das pessoas não sabe, mas em televisão, fazem-se
milagres a maior parte do tempo. Gosto do cinema, porque há um maior cuidado
com a imagem e com o trabalho do ator, porque costuma haver mais tempo. Mas
tempo é dinheiro... E gosto de teatro, porque existe aquela sensação de festa
de acontecimento único, de partilha com o público, aquela sensação de que
estamos todos ali, ao mesmo tempo, a viver a mesma coisa, a respirar o mesmo ar
e a evocarmo-nos uns aos outros. Gosto muito desse sentido de comunhão com o
público que só se obtém no teatro.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como ator?
A.F: Em teatro, foi o meu
segundo trabalho profissional em que trabalhei com o grupo catalão Els Comediants,
onde esforcei-me para dar o meu melhor e eles também. Gosto, quando há uma
equipa de criativos e estão todos a remar para o mesmo porto que é um trabalho
de excelência. Em televisão, foi a série “Residencial Tejo” (SIC), porque foi o
meu primeiro projeto de longo curso e, sinceramente, aprendi muito com os erros
que fiz. Era muito verde, não sabia bem o que estava a fazer. Aquilo era um
misto de teatro e televisão e eu nunca soube bem o que estava a fazer.
M.L: Em 2005, participou na telenovela “Ninguém como
Tu” que foi exibida na TVI, da qual interpretou a personagem Nuno Paiva Calado.
Que recordações guarda desse trabalho?
A.F: “Ninguém como Tu” foi
um projeto muito atribulado. Eu vim, diretamente, de Nova Iorque para Lisboa,
para fazer o casting e fiquei com uma
das personagens principais. Duas semanas de gravações depois, a equipa foi toda
mudada e eu tive muita sorte em não ser despedido e ter só sido substituído. Vesti
a pele do Nuno um bocadinho aos trambolhões, com alguma mágoa por ter sido substituído,
não o nego. Talvez por isso, tenha sido o meu último trabalho, num elenco fixo,
em televisão.
M.L: Já alguma vez imaginou que “Ninguém como Tu”
tivesse o sucesso que teve?
A.F: Todos nós sabíamos
que aquele projeto tinha qualquer coisa de especial. O texto era novo, os
assuntos eram novos, os atores e técnicos tinham todos muita vontade de tornar
aquilo num produto especial. Constituiu-se ali uma boa família, da qual ainda
guardo muito boas recordações.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
A.F: No teatro, sei que há muita gente aflita, por
causa dos subsídios. Eu não sou muito apologista dos subsídios, porque, raras
vezes, beneficiei deles. Eu acho é que tem que haver risco e garra, da parte
dos criadores. Acho que existe algum abuso, por parte de alguns criadores, em
relação aos subsídios, que os faz virar as costas ao público. Acontece que eu
não acredito que, sem público, haja teatro. Quanto à ficção nacional, vejo
muita vontade de se fazerem coisas novas. Lamento que não haja mais produção
nacional nos canais por cabo, porque isso abriria todo um nicho de mercado
muito mais específico que os generalistas e podiam surgir propostas muito
interessantes, tal como se faz no estrangeiro.
M.L: Recentemente, encenou a micropeça “Amanhã” de
Frederico Pombares e Joana Gama e protagonizada por André Nunes e Vânia Naia,
da qual esteve em cena no Teatro Rápido, durante o passado mês de Junho. Como
correu este trabalho?
A.F: Foi muito positivo. É
um trabalho muito duro, especialmente, para os atores que, cinco dias por
semana, têm que reviver uma peça de 15 minutos, cinco vezes cada dia. Mas acho
que ficámos todos muito satisfeitos com o resultado.
M.L: Como é que surgiu a ideia de fazer esta
micropeça?
A.F: Tudo partiu de uma
vontade de fazer coisas. Basicamente, foi a Vânia Naia que teve a ideia de
fazer um espetáculo no Teatro Rápido, que tem particularidades muito
específicas. O texto foi uma encomenda e saiu-nos muito bem a encomenda. O texto
da Joana Gama e do Frederico Pombares corresponde a um extraordinário
espetáculo de 15 minutos. Depois, foi só encontrar mais um cúmplice: André
Nunes, um extraordinário ator com quem queríamos trabalhar e que se mostrou
disponível para isso.
M.L: Como foi a reação do público a esta micropeça,
durante a sua exibição?
A.F: Tivemos bastante
público e as críticas foram muito positivas.
M.L: O Teatro Rápido foi fundado em Maio de 2012 e é
um projeto da Encena-Agência de Atores. Como vê o percurso que o teatro tem feito,
desde a sua fundação até agora?
A.F: Acho que tem crescido
e perseverado e acho que muita gente tem lá feito belíssimos espetáculos e
experiências performáticas que não teria oportunidade de efetuar de outra maneira.
É uma boa casa, que acolhe, com muito carinho, todo o criativo que queira
mostrar a sua arte.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
A.F: Se imaginar a fazer outra coisa, poupe-se o
trabalho de ser ator. Ser ator é ser rejeitado, é não trabalhar, é estar
constantemente a cair e a levantar. Quem não tenha estofo para isso, poupe-se o
trabalho e faça outra coisa. Agora se não se imagina a fazer outra coisa,
força, que os Deuses estejam contigo. Estuda, faz, estuda, faz e estuda e faz.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como ator?
A.F: Entre as tristezas e as alegrias, sou,
felizmente, daqueles que não se pode queixar. Gostava de ter mais trabalho em
televisão e cinema, mas tenho chegado à conclusão que, provavelmente, só o
serei em projetos meus, só assim, se calhar, farei completamente o que quero
fazer. Em relação ao teatro, tenho andado afastado do teatro propriamente dito,
porque ando a descobrir uma outra arte: a arte da stand-up comedy. Comecei em 2011 e tem sido um enorme desafio e a
minha grande paixão neste momento.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.F: Ando a tentar vender
o meu espetáculo de stand-up comedy a
solo que estreou em Julho no Teatro Villaret: “Extronauta”. E ando com ideias
para projetos de ficção às voltas na cabeça.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.F:
Tenho demasiados projetos e sonhos para o tempo que tenho. Idealmente, gostava
de ter a minha própria companhia/produtora com o meu próprio espaço. A ver
vamos.ML
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