M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
L.L: Desde muito jovem que
brincava com animais e lhes dava um nome, atribuía uma história, um local para
viverem. Sempre preferi coisas que fossem diferentes do standard, experimentava brincadeiras de criança com raparigas, mas
não queria perder a experiência das brincadeiras dos rapazes. Aos 6 anos
experimentei o teatro e lembro-me de pensar que tinha medo de não fazer bem as
marcações ou dizer a frase no momento certo. Hoje sei que o que senti foi
adrenalina. Foi isso que me puxou para as artes, para o teatro, para a
literatura, para o cinema. Fica-se viciado na sensação de adrenalina que o
palco nos dá. Amam-se outras artes, quando nos provocam essa mesma sensação.
Julgo que sempre senti interesse pela representação, mas, nem sempre, de forma
consciente. Aos 22 anos, tive a certeza que só seria realmente realizada, se
fosse atriz.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
L.L: Estranhamente, as
minhas referências técnicas são de homens. Sou uma admiradora fervorosa do
Denzel Washington e do Morgan Freeman. Admiro o trabalho da Angelina Jolie, pois
está bem em tudo o que faz. Gostava muito de trabalhar com a Maria João Luís e com
a Rita Blanco, são extraordinariamente inteligentes. Estes atores são
referências, possivelmente influências, mas julgo que as maiores influências
são ao nível da metodologia (Margie Haber, Michael Margotta, Stela Adler), pois
permitem-me, enquanto atriz, encontrar auxílio técnico para lidar comigo, na descoberta
da vida das personagens que é suposto viver.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
L.L: São muito díspares e
desafiantes. Todos os atores têm de fazer teatro, devem fazer televisão e têm
de ser merecedores do Cinema. O teatro ensina-nos muito, a televisão obriga-nos
a sermos melhores e mais eficientes, e quero pertencer ao Cinema sempre que possível.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
L.L: Não tenho um trabalho
que destaque mais, tive agradáveis surpresas com coisas que nunca julguei
fazer. Foi difícil e compensador fazer um documentário, onde vivi a Santa
Beatriz da Silva, lembro-me de receber indicações do realizador: “Estás morta,
e és uma santa, logo quero que os teus olhos fechados sorriam e nada de mexer a
boca”. Gostei da minha Martírio de “A Casa de
Bernarda Alba”, pelo impacto que causava no público, e a minha Sara de “Wisegirls”,
pela liberdade de improvisação que tive (ainda não estreou).
M.L: Em 2012, fez uma breve participação na
longa-metragem “Linhas de Wellington” de Valeria Sarmiento. Que recordações
guarda da sua participação nessa produção?
L.L: A produção de “Linhas
de Wellington” foi extraordinária. A equipa técnica e de atores eram
excecionais, tive a felicidade e a sorte de poder privar com atores com quem
aprendi muito. Foi uma experiência brutal, porque quando estava no plateau, efetivamente, estávamos em outro tempo, a viver
outras vidas. A Isabel Branco é formidável, e isso está espelhado na Direção de
Arte. Esteve sempre muito frio. Os dias eram muito longos, mas a partilha, as
conversas, o poder aprender com pessoas tecnicamente muito boas, obriga-nos a
evoluir. Espero que continuem a existir produções desta envergadura em Portugal.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
L.L: Infelizmente não sou
muito atenta à ficção em Portugal, mas percebi que o número de produções para
TV aumentou substancialmente, o que me agrada, pois haverá menos atores
desempregados. Consumo mais Teatro e fico feliz com o índice de criatividade
que hoje existe no teatro. A crise obriga a que as pessoas se tornem,
naturalmente, mais criativas e isso agrada-me. Lamento que os financiamentos públicos
continuem a ser sempre para “alguns”, pois existem companhias que têem feito trabalhos
excecionais sem quaisquer apoios. Vejo algumas mudanças, e a mudança agrada-me.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
L.L: Trabalho para isso.
M.L: Recentemente, participou numa masterclass dada pela atriz americana
Melissa Leo, da qual foi integrada na edição deste ano do Fest-Festival
Internacional de Cinema Jovem em Espinho. Na sua opinião, a formação é
importante para o desenvolvimento do ator?
L.L: Sou frequentadora assídua
do Fest, é um excelente festival para quem gosta de cinema. O que aconteceu,
foi que tinha uma entrevista agendada com a Melissa Leo, no âmbito da minha
tese de Mestrado. Naturalmente, assisti a masterclass da Melissa, que me auxiliou em grande escala. A formação
é essencial em qualquer área. Mas para se poder formar é essencial ser generoso
e saber-se o que se está a fazer. A Melissa tem 30 anos de carreira e mostrou-me
uma perspetiva de estudo nova, clara e útil.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como atriz?
L.L: Tem sido uma aprendizagem
e uma evolução constante. O que considero que correu pior foi o facto de ser
uma apaixonada pelo que faço e não aceitar que tudo é um negócio e que deveria
ser uma indústria. É um mal de muitos atores/artistas, que permite que o nosso
sistema abuse de nós. Não é aceitável termos uma profissão não reconhecida e
sem estatuto profissional. Não é aceitável ser artista de teatro, bailado,
cinema, rádio e televisão e não ATRIZ. Se tivesse menos obrigações fiscais e
alguns direitos, seria um balanço mais positivo. Ainda assim, este trabalho faz-me
feliz.ML
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