M.L: Quando surgiu o interesse pela realização e pela
escrita?
A.R: Desde a primeira vez em que
fui ao cinema, em criança, que disse que era aquilo que eu queria fazer. Na
altura, ainda não percebia o que era um argumentista ou um realizador e dizia
que queria ser ator, mas quando fui adquirindo mais conhecimentos sobre como se
faz cinema e televisão, rapidamente defini que o que queria ser ("quando
fosse crescido") era realizador e argumentista.
M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
A.R: Recolho influências muito
diversas: da literatura ao teatro e, claro, do cinema e da televisão. Mas
posso, por exemplo, referir que, quando era adolescente, houve um período
essencial que me marcou com duas influências aparentemente paradoxais, mas,
para mim, equitativamente importantes: um ciclo de cinema do Ingmar Bergman que
passou na televisão ao Domingo à noite, a que eu assisti religiosamente, ao
mesmo tempo que no cinema vi fascinado "Os Salteadores da Arca
Perdida" (1981) do (Steven) Spielberg. Penso que ambas as experiências
marcaram, em mim, a ideia de que o cinema pode ser uma profunda análise ao mais
íntimo e sombrio da alma humana e, ao mesmo tempo, uma fantasia heróica e
aventureira. Na literatura, foi também marcante, nessa altura da minha vida,
ler, por exemplo, Albert Camus e Jean-Paul Sartre ou, por exemplo, "A Montanha
Mágica" do Thomas Mann (que lembro-me ter proporcionado dias inteiros de
leitura compulsiva), ao mesmo tempo que lia ficção científica (sobretudo, o
Philip K. Dick, Robert (A.) Heinlein, etc), e o que mais uma vez demonstrava a
riqueza de mundos e ideias que a ficção nos oferecia.
M.L: Escreve para teatro, cinema e televisão. Qual
destes géneros que mais gosta de escrever?
A.R: Todos, sem preferência. Tudo
depende da ideia do projeto, da história que tenho para contar, e depois,
claro, das condições para a concretizar.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como
realizador e como escritor?
A.R: Como argumentista, foi, sem
dúvida, a minissérie "O Dom" (TVI), que ainda considero o melhor que
escrevi para televisão. Como dramaturgo, foi o monólogo para teatro "Onde
Estavas Quando Criei o Mundo?" que estreou no Teatro Nacional (D. Maria
II) em 2012 e interpretado pela Manuela Couto. Em cinema, apesar do meu
primeiro filme "Duplo Exílio" (2001) ter sido marcante por ser o
primeiro, ainda estou à espera de escrever e realizar um filme que me faça
sentir tão realizado como me senti nesse trabalho para televisão e para teatro.
M.L: Entre 2008 e 2009, realizou, juntamente com André
Cerqueira e José Manuel Fernandes, a série “Equador” que foi exibida na TVI e baseada
no livro, com o mesmo título, da autoria de Miguel Sousa Tavares. Que recordações
guarda desse trabalho?
A.R: Foi uma experiência extraordinária
pela dimensão do projeto, ao mesmo tempo que, como realizador, foi um
privilégio trabalhar com um elenco extenso e fabuloso, assim como uma equipa
criativa e dedicada, numa rodagem que, pelas próprias características
(filmagens na Índia, no Brasil, para além de Portugal e São Tomé (e Príncipe), tornou-se
inesquecível para todos os que nela participaram.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
A.R: É impossível responder a esta
pergunta sem falar, infelizmente, da crise, e é preocupante que em televisão (e
imagino que no teatro também) os orçamentos sejam cada vez mais reduzidos e,
por tal, para não se perder de todo o desenvolvimento da produção nacional, é
talvez necessário encontrar novas formas de filmar em que se privilegie o
investimento no talento, que começa na escrita e que é quase sempre o parente
pobre de uma produção, mas sem um bom guião não se faz boa ficção. E se hoje se
podem baixar os custos de produção técnicos por os equipamentos serem mais acessíveis
(câmaras, pós-produção, etc, são mais acessíveis que há alguns anos atrás), não
se deve reduzir o investimento nas pessoas com talento e na criação e no
desenvolvimento de ideias. Infelizmente, no que toca à escrita do guião, o normal
é muitas vezes as produções partirem com pouco tempo para o desenvolvimento das
ideias, escrita e reescrita, e muitas vezes isso depois reflete-se no produto
final.
M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
A.R: A minha rotina é tentar evitar
uma rotina. Por isso, vario muito, tanto nas horas a que escrevo, como onde
escrevo. Gosto de mudar de sítio, nem que seja trocar de mesa em casa, mas
ando, às vezes, de café para café, e gosto até de mudar de país (escrevi a peça
"Onde Estavas Quando Criei o Mundo?" em 4 semanas em Nova Iorque, os
cafés são muito mais convidativos à escrita). Mas, normalmente, escrevo sempre
algo de manhã, em casa, e depois saio, ou para o escritório da produtora em que
estiver a trabalhar ou mesmo para a beira-mar (onde escrevo muito também) e, às
vezes, fico pela noite dentro a escrever, mas, ultimamente, tenho tido mais
inspiração de manhã e chego a acordar às 5 horas da manhã com uma ideia e
levanto-me para ir escrever (não vale a pena ficar a dar voltas na cama a
tentar voltar a dormir, quando a inspiração pede que se escreva). Por isso,
seria incapaz de ter um horário de trabalho para escrita e uma rotina de
escritório.
M.L: Ajuda na escolha do elenco de uma produção televisiva
em que está envolvido (tanto como realizador e como guionista)?
A.R: Sim, sugiro e colaboro sempre.
Sobretudo, porque na Plural (onde tenho trabalhado nos últimos anos) ter tido
sempre essa abordagem, por parte dos diretores de projeto.
M.L: Em 2012, as telenovelas “Remédio Santo” da TVI e
“Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria de
Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
A.R: É ótimo, embora nos falte esse
reconhecimento nas séries, mas para isso é preciso continuar a investir nesse
formato.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar
numa carreira seja na realização ou na escrita?
A.R: Que escreva e realize (nem que
seja com um telemóvel), mas também leia muito, veja muito cinema e séries, e
estude (quer numa escola, quer como auto-didata).
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como realizador e como escritor?
A.R: Felizmente, apesar de,
naturalmente, ter a ambição de fazer muito mais, posso dizer que, pelo menos, tenho
conseguido trabalhar em projetos que gosto e em formatos variados com desafios
diversos, mesmo com as limitações inerentes à produção nacional.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.R: Produzir o meu próprio filme
independente, escrito e realizado por mim, rodeado dos atores e equipa com quem
mais gosto de trabalhar, e ver esse filme ter (e merecer) sucesso.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua
vida?
A.R: Gostava
que me saísse o Euromilhões para poder produzir o tal filme da pergunta
anterior... Mas, para isso, acho que tinha de jogar no Euromilhões, e nunca
jogo...MLhttp://www.youtube.com/user/ArturRibeiroChannel/videos
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