domingo, 22 de dezembro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Margarida Moreira

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Margarida Moreira. Irmã gémea da atriz Anabela Moreira, desde muito cedo que se interessou pela representação, sendo um dos talentos mais promissores do meio artístico português. Apaixonada pelo que faz, tem desenvolvido um percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão, e, em 2011, escreveu a letra da canção "Como Um Fado" que foi interpretada por Mikkel Solnado e por Patrícia Vasconcelos, da qual fez parte do álbum "Se o Amor Fosse Só Isso" da própria Patrícia Vasconcelos. Recentemente, foi coprotagonista da peça "Danny e o Profundo Mar Azul" do dramaturgo, guionista e realizador John Patrick Shanley (ganhou, em 1988, o Óscar de Melhor Argumento Original por "O Feitiço da Lua" (1987) de Norman Jewison), da qual foi produzida pela companhia Below The Belt que foi fundada, em 2013, pelo encenador, guionista e ator americano John Frey, da qual faz parte do elenco residente. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 28 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.M: O interesse pela representação e, em especial, pelo teatro e pelo cinema surgiu muito cedo. Lembro-me ainda de ser criança e sonhar em ser atriz, de acompanhar o percurso de alguns atores, e sonhar fazer o que eles faziam. A verdade é que, desde muito cedo, recriava situações e personagens nas brincadeiras que, muito mais tarde, descobri serem iguais a alguns exercícios que aprendi na minha formação como atriz!

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.M: As minhas influências foram, desde sempre, o interesse pelo Ser Humano em geral e em particular! Sempre me interessou as diferentes energias, estados de alma e corporalidade do Ser Humano. Fui, desde muito cedo, influenciada pelo cinema americano (que admiro) e, só muito mais tarde, pelo cinema europeu!  

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
M.M: Gosto dos três géneros e cada um oferece um tipo de prazer e emoções diferentes! Tenho tido o privilégio de fazer mais Teatro e neste género o processo de trabalho é diferente e é nos permitido aprofundar, ao longo do tempo de ensaios, o texto e as personagens! A verdade é que, depois de um dia de filmagens, já me aconteceu lembrar-me da cena que tinha feito e pensar noutra abordagem que poderia ter feito à cena... Mas, como já está filmada, não se pode fazer mais nada... Enquanto que, em teatro, de dia para dia vamos descobrindo e enraizando o texto e a personagem e a verdade é que não gosto de processos estanque... Gosto de viver tudo como se fosse a primeira vez... E esse é um trabalho interior intenso que aprecio, enquanto estou num palco. Claro que, quando descubro algo num dia que, para mim, é a verdade daquela cena, então agarro-a sentimentalmente e, nas próximas vezes em palco, revivo-a! Não posso dizer que gosto mais de um género do que outro, a verdade é que quero muito fazer Cinema, que quero muito fazer televisão e que quero muito continuar a fazer teatro! O que gostava, acima de tudo, era conseguir escolher as personagens e os textos que me interessam e, por enquanto, nada disso é possível, pois tenho que agarrar todas as oportunidades que chegam até mim.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.M: Não posso falar de um só trabalho que me tenha marcado mais, durante o meu percurso e, sinceramente, estou sempre à espera que esse trabalho chegue! Mas, de todos os trabalhos, existem vários que me marcaram! O primeiro foi em Teatro, ainda na escola, quando fiz "O Gato", e tive o privilégio de ter na plateia, o grande Henrique Santana!!! Ser ainda tão miúda e ter na plateia o autor a elogiar o nosso trabalho e ficar emocionado foi, sem dúvida, um momento marcante... Faleceu pouco tempo depois e, para mim, foi uma honra! Todas as vezes que pisei um palco marcou-me e continua a marcar-me! O privilégio de estar ali e de fazer aquilo que mais amo é uma bênção que agradeço sempre! Dos últimos trabalhos, posso referir o percurso que tenho feito com o Peter Pina (meu colega e encenador), com o qual tenho tido a oportunidade de criar a um nível mais profundo, tanto a nível da personagem, como da encenação, como a nível da dramaturgia, e tem sido um privilégio trabalhar assim, apesar de acarretar mais sangue, suor e lágrimas, durante o processo de construção... Com ele, fiz o "Abraça-me" e "A Culpa" e foram, sem dúvida nenhuma, os trabalhos em que a viagem foi mais dolorosa, mas depois também mais gratificantes! Marcou-me, igualmente, a série (agora transformada em filme) "Bairro" de Francisco Moita Flores. "Bairro" foi feito em registo de cinema e tanto a história, como a personagem, como toda a equipa, atores, técnicos e realizadores me fizeram e fazem sentir orgulhosa e privilegiada por fazer parte deste projeto maravilhoso!

M.L: Em 2011, escreveu a letra da canção “Como Um Fado” que foi interpretada por Mikkel Solnado e por Patrícia Vasconcelos, da qual fez parte do álbum “Se o Amor Fosse Só Isso” da própria Patrícia Vasconcelos. Que recordações guarda dessa experiência?
M.M: Desde muito cedo que escrevo, escrevo poesia e prosa, mas sempre na minha intimidade! Guardo a minha escrita, sem esperar que outros a leiam, pois fazem parte do meu Ser mais íntimo e profundo e por isso, até hoje, só publiquei dois poemas meus e um deles ganhou um prémio! Na altura, eu estava a trabalhar com o Nanu Figueiredo dos Mola Dudle num projeto onde, para além de representar, tinha de cantar e eu estava a ter alguma dificuldade em perceber como se conseguia interpretar um texto, quando era cantado... E nesse momento, como ele sabia que eu escrevia, perguntou-me se eu trazia algum dos meus poemas comigo e como ando sempre com um caderninho, onde escrevo o que me vai na alma... Escolheu um poema e começamos a construir uma música com aquele texto... O poema chamava-se "Como Um Fado" e, rapidamente, criamos a melodia e os arranjos para acompanhar a letra. Entretanto, esta música ficou guardada, apesar de que ambos sabíamos que tínhamos criado algo muito especial! Só muito mais tarde, quando a Patrícia Vasconcelos ouviu a música e quis cantá-la e foi assim que esta música se tornou pública, depois o Mikkel Solnado, por sua vez, adorou a música que a Patrícia cantava e quis cantá-la também! A verdade é que a música saiu da gaveta e ganhou vida própria e é um orgulho enorme saber que do meu cantinho, onde escrevi o poema original, nasceu algo tão precioso e que ganhou vida própria. De todas as versões da música que ouvi, aquela que, ainda hoje, considero ser a mais bonita, é mesmo a original cantada pelo Nanu naquela tarde em que ambos criamos aquela música.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
M.M: Em Portugal, as artes, de um modo geral, ainda não são muito valorizadas e o Teatro, em particular, ainda não tem um lugar cativo no coração dos portugueses, mas, pouco a pouco, acredito que as coisas vão melhorando. Os grupos e companhias subsidiados são poucos e aqueles que fazem parte de grupos que não têm apoios sofrem e batalham todos os dias para que o público encha as salas e que venha a receber, de braços abertos, o nosso trabalho! Relativamente à ficção em Portugal, esta tem percorrido um longo caminho e tem evoluído e crescido muito, e é um mercado de trabalho muito bom para muitos atores! Acho que o trabalho em ficção, em Portugal, tem permitido que as gerações mais novas estejam mais atentas aos nossos atores e aos nossos trabalhos e, no futuro, vai trazer bons frutos e aproximar o público do teatro e do cinema feito em Portugal!

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.M: Gostaria muito de poder trabalhar com muitos atores e realizadores internacionais que admiro e, por isso, seria um sonho e um privilégio ter essa oportunidade! A verdade é que admiro o trabalho feito lá fora e, por isso, seria uma honra!

M.L: É irmã gémea da atriz Anabela Moreira. Como vê o percurso que a sua irmã tem feito até agora?
M.M: Tenho muito orgulho no percurso que a minha irmã tem feito e, por isso, tenho acompanhado o trabalho dela sem grandes surpresas, pois ambas começamos a sonhar, muito cedo, com esta profissão e, desde sempre, sabia e sei que o céu é o limite!!!

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.M: O único conselho que posso dar é trabalhar, trabalhar, trabalhar muito, com muita paixão e amor, pois só assim se pode e deve estar nesta área! E nunca desistir... nunca... as barreiras servem para crescermos e evoluirmos como Seres Humanos e, consequentemente, evoluirmos como atores e são, acima de tudo, desafios para serem ultrapassados!!!

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz?
M.M: O meu percurso tem sido o percurso de alguém que ama fazer o que faz e que, apesar das dificuldades de se ser ator em Portugal, nunca desistiu! É um percurso recheado de muitas alegrias e de muitas dores! É um percurso que, apesar de tudo, ainda tem muito trilho para percorrer!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.M: Falta-me dar a volta ao Mundo e aventurar-me além-fronteiras…ML

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