M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.M: O interesse pela
representação e, em especial, pelo teatro e pelo cinema surgiu muito cedo. Lembro-me
ainda de ser criança e sonhar em ser atriz, de acompanhar o percurso de alguns
atores, e sonhar fazer o que eles faziam. A verdade é que, desde muito cedo, recriava
situações e personagens nas brincadeiras que, muito mais tarde, descobri
serem iguais a alguns exercícios que aprendi na minha formação
como atriz!
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.M: As minhas influências
foram, desde sempre, o interesse pelo Ser Humano em geral e em particular!
Sempre me interessou as diferentes energias, estados de alma e
corporalidade do Ser Humano. Fui, desde muito cedo, influenciada
pelo cinema americano (que admiro) e, só muito mais tarde, pelo cinema
europeu!
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
M.M: Gosto dos três
géneros e cada um oferece um tipo de prazer e emoções diferentes! Tenho tido o
privilégio de fazer mais Teatro e neste género o processo de trabalho é diferente
e é nos permitido aprofundar, ao longo do tempo de ensaios, o texto e as
personagens! A verdade é que, depois de um dia de filmagens, já me aconteceu
lembrar-me da cena que tinha feito e pensar noutra abordagem que poderia
ter feito à cena... Mas, como já está filmada, não se pode fazer mais
nada... Enquanto que, em teatro, de dia para dia vamos descobrindo e enraizando
o texto e a personagem e a verdade é que não gosto de processos
estanque... Gosto de viver tudo como se fosse a primeira vez... E esse é um
trabalho interior intenso que aprecio, enquanto estou num palco. Claro que, quando
descubro algo num dia que, para mim, é a verdade daquela cena, então
agarro-a sentimentalmente e, nas próximas vezes em palco, revivo-a! Não
posso dizer que gosto mais de um género do que outro, a verdade é que quero
muito fazer Cinema, que quero muito fazer televisão e que quero muito continuar
a fazer teatro! O que gostava, acima de tudo, era conseguir escolher as
personagens e os textos que me interessam e, por enquanto, nada disso é
possível, pois tenho que agarrar todas as oportunidades que chegam até mim.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
M.M: Não posso falar de um
só trabalho que me tenha marcado mais, durante o meu percurso e, sinceramente, estou
sempre à espera que esse trabalho chegue! Mas, de todos os trabalhos, existem
vários que me marcaram! O primeiro foi em Teatro, ainda na escola, quando fiz
"O Gato", e tive o privilégio de ter na plateia, o grande Henrique
Santana!!! Ser ainda tão miúda e ter na plateia o autor a elogiar o nosso trabalho
e ficar emocionado foi, sem dúvida, um momento marcante... Faleceu pouco tempo
depois e, para mim, foi uma honra! Todas as vezes que pisei um palco marcou-me
e continua a marcar-me! O privilégio de estar ali e de fazer aquilo
que mais amo é uma bênção que agradeço sempre! Dos últimos trabalhos, posso
referir o percurso que tenho feito com o Peter Pina (meu colega e
encenador), com o qual tenho tido a oportunidade de criar a um nível mais
profundo, tanto a nível da personagem, como da encenação, como a nível da
dramaturgia, e tem sido um privilégio trabalhar assim, apesar de acarretar mais
sangue, suor e lágrimas, durante o processo de construção... Com ele, fiz
o "Abraça-me" e "A Culpa" e foram, sem dúvida
nenhuma, os trabalhos em que a viagem foi mais dolorosa, mas depois também mais
gratificantes! Marcou-me, igualmente, a série (agora transformada em filme)
"Bairro" de Francisco Moita Flores. "Bairro" foi feito
em registo de cinema e tanto a história, como a personagem, como toda a
equipa, atores, técnicos e realizadores me fizeram e fazem sentir orgulhosa e
privilegiada por fazer parte deste projeto maravilhoso!
M.L: Em 2011, escreveu a letra da canção “Como Um Fado”
que foi interpretada por Mikkel Solnado e por Patrícia Vasconcelos, da qual fez
parte do álbum “Se o Amor Fosse Só Isso” da própria Patrícia Vasconcelos. Que
recordações guarda dessa experiência?
M.M: Desde muito cedo que escrevo,
escrevo poesia e prosa, mas sempre na minha intimidade! Guardo a minha escrita,
sem esperar que outros a leiam, pois fazem parte do meu Ser mais íntimo e
profundo e por isso, até hoje, só publiquei dois poemas meus e um deles ganhou
um prémio! Na altura, eu estava a trabalhar com o Nanu Figueiredo dos Mola
Dudle num projeto onde, para além de representar, tinha de cantar e eu estava a
ter alguma dificuldade em perceber como se conseguia interpretar um texto,
quando era cantado... E nesse momento, como ele sabia que eu escrevia,
perguntou-me se eu trazia algum dos meus poemas comigo e como ando sempre com
um caderninho, onde escrevo o que me vai na alma... Escolheu um poema e
começamos a construir uma música com aquele texto... O poema chamava-se
"Como Um Fado" e, rapidamente, criamos a melodia e os arranjos para
acompanhar a letra. Entretanto, esta música ficou guardada, apesar de que ambos
sabíamos que tínhamos criado algo muito especial! Só muito mais tarde, quando a
Patrícia Vasconcelos ouviu a música e quis cantá-la e foi assim que esta música
se tornou pública, depois o Mikkel Solnado, por sua vez, adorou a música que a
Patrícia cantava e quis cantá-la também! A verdade é que a música saiu da
gaveta e ganhou vida própria e é um orgulho enorme saber que do meu cantinho,
onde escrevi o poema original, nasceu algo tão precioso e que ganhou vida
própria. De todas as versões da música que ouvi, aquela que, ainda hoje,
considero ser a mais bonita, é mesmo a original cantada pelo Nanu naquela tarde
em que ambos criamos aquela música.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
M.M: Em Portugal, as
artes, de um modo geral, ainda não são muito valorizadas e o Teatro, em
particular, ainda não tem um lugar cativo no coração dos portugueses, mas,
pouco a pouco, acredito que as coisas vão melhorando. Os grupos e companhias
subsidiados são poucos e aqueles que fazem parte de grupos que não têm apoios
sofrem e batalham todos os dias para que o público encha as salas e que venha a
receber, de braços abertos, o nosso trabalho! Relativamente à ficção em
Portugal, esta tem percorrido um longo caminho e tem evoluído e crescido muito,
e é um mercado de trabalho muito bom para muitos atores! Acho que
o trabalho em ficção, em Portugal, tem permitido que as gerações mais novas estejam
mais atentas aos nossos atores e aos nossos trabalhos e, no futuro, vai trazer
bons frutos e aproximar o público do teatro e do cinema feito em Portugal!
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.M: Gostaria muito de
poder trabalhar com muitos atores e realizadores internacionais que admiro
e, por isso, seria um sonho e um privilégio ter essa oportunidade! A verdade é
que admiro o trabalho feito lá fora e, por isso, seria uma honra!
M.L: É irmã gémea da atriz Anabela Moreira. Como vê o
percurso que a sua irmã tem feito até agora?
M.M: Tenho muito orgulho
no percurso que a minha irmã tem feito e, por isso, tenho acompanhado o trabalho
dela sem grandes surpresas, pois ambas começamos a sonhar, muito cedo, com esta
profissão e, desde sempre, sabia e sei que o céu é o limite!!!
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
M.M: O único conselho que
posso dar é trabalhar, trabalhar, trabalhar muito, com muita paixão e
amor, pois só assim se pode e deve estar nesta área! E nunca desistir... nunca...
as barreiras servem para crescermos e evoluirmos como Seres Humanos e,
consequentemente, evoluirmos como atores e são, acima de tudo, desafios para
serem ultrapassados!!!
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como atriz?
M.M: O meu percurso tem
sido o percurso de alguém que ama fazer o que faz e que, apesar das dificuldades
de se ser ator em Portugal, nunca desistiu! É um percurso recheado de muitas
alegrias e de muitas dores! É um percurso que, apesar de tudo, ainda tem
muito trilho para percorrer!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.M:
Falta-me dar a volta ao Mundo e aventurar-me além-fronteiras…ML
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