quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Paula de Carvalho

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista Paula de Carvalho. Filha do ator Ruy de Carvalho, iniciou-se como jornalista na Antena 1 em 1983, e tem desenvolvido um percurso na área do jornalismo que passa, essencialmente, pela rádio (tendo trabalhado na Deutsche Welle na Alemanha entre 1996 e 1998). Em 2011, saiu da rádio, e, atualmente, trabalha no gabinete de Relações Públicas e Protocolo da Câmara Municipal de Cascais. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 22 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
P.D.C: Quando tive que escolher o que queria ser colocaram-se duas hipóteses: Direito ou Jornalismo. Gostava das duas, mas o facto de não ter vaga para entrar em Direito, na Faculdade de Direito de Lisboa, foi decisivo para rumar para a Universidade Nova de Lisboa e para o primeiro curso virado para a Comunicação Social. Foi em 1979.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
P.D.C: Não gosto do jornalismo sensacionalista. O tipo de jornalismo dos tabloides, anglo-saxónico, que usam a vida das pessoas, por tudo e por nada, não é o meu estilo. Eu prefiro o jornalismo da escola francesa. Acontece que, por vezes, a vida das pessoas está "misturada", digamos assim, com os factos, mas só acho que se deve usar essa mistura se for relevante para a história.

M.L: Trabalha, essencialmente, na rádio. Gostava de ter trabalhado em outros meios de comunicação como, por exemplo, a televisão?
P.D.C: Gostava de ter trabalhado em televisão, pelo menos, para experimentar. Mas o que eu gosto mesmo é de rádio. Aliás, a escolha do Jornalismo, em especial o radiofónico, foi influenciada pela rádio, que eu ouvia de manhã à noite. Sempre me fascinou e fascina. O imediato, a proximidade com o ouvinte, a obrigatoriedade da capacidade de síntese.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
P.D.C: Foram vários. Eu fiz trabalhos em todas as áreas, desde a Política, passando pela Cultura e pela Economia, mas foram as reportagens que fiz, quando trabalhava no programa da manhã, entre as 7h00 e as 10h00, que me marcaram mais. Fiz reportagens sobre atentados bombistas, greves, explosões de fábricas, grandes incêndios... É mesmo o que eu gosto de fazer. Faltou-me fazer reportagem de guerra, mas quando tive a possibilidade, tinha um filho pequenino e a família não apoiou.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
P.D.C: Felizmente, ainda há muitos jornalistas que conseguem ser isentos, apesar de terem as suas ideias e escolhas políticas. Nem todos os jornalistas são comentadores. É preciso não esquecer que os jornalistas também votam e têm opinião. Mas creio que, na maior parte dos casos, é o fator económico que está a condicionar o jornalismo que se faz hoje em dia. Vemos muitos jovens, em início de carreira, a trabalharem por uns míseros euros, sujeitos à vontade de quem paga, com medo de dizerem o que pensam. É uma situação complicada. É a situação que se vive em muitas áreas profissionais.

M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter ficado lá?
P.D.C: Adorei trabalhar na Alemanha e gostava de ter ficado lá, mas a minha vida era em Lisboa, junto dos meus pais. Bem sei que tinha a minha vida muito facilitada, porque fui com um contrato muito bom, mas foi muito importante trabalhar fora de Portugal. Em termos de Jornalismo, no meu caso, no jornalismo radiofónico, não me parece ter aprendido muito mais com os alemães. O que eles fazem, nós portugueses também fazemos, e muito bem. O que foi bom, foi a possibilidade de viver num país, onde as pessoas e, em especial, os Jornalistas são pessoas com prestígio, credíveis. O que contribui para isso é, sem dúvida, o facto de serem muito bem pagos. Se eu disser que fui ganhar para a Alemanha, com a mesma categoria profissional, 8 vezes mais, é só por si suficiente para perceber o que estou a dizer.

M.L: É filha do ator Ruy de Carvalho. Como vê o percurso que o seu pai tem feito até agora?
P.D.C: O meu pai geriu e gere a carreira de uma forma muito simples. De uma forma geral, nunca nega um trabalho. Seja para protagonista ou não. Acho que ele só recusou trabalhos por não ter disponibilidade. Sempre o convidaram para bons papéis, mas ele também soube escolher o que fazer, e posso dizer que ele faz quase todos os géneros. Musicais, comédias, tudo...

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
P.D.C: Esteja atenta aos mais velhos. Os colegas com experiência  acrescentam um determinado tipo de saber que as escolas não nos conseguem dar. Sempre que tiverem que fazer um trabalho, façam  primeiro muita pesquisa. É muito importante sabermos do que falamos. Seja sobre uma pessoa, um determinado acontecimento. Acima de tudo, sejam humildes, mas não subservientes e evitem a arrogância.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.D.C: Neste momento, estou afastada da rádio. Saí em 2011 e ainda não sei, quando volto. O que estou a fazer é excelente. Estou num gabinete de Relações Públicas e Protocolo, com colegas que me ensinam muito todos os dias. É um trabalho muito interessante. Depois logo vejo.

M.L: Qual é a coisa que gostava que fazer e não tenha feito ainda?
P.D.C: Ter feito reportagem de guerra. Mas não foi possível.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
P.D.C: Gostava de iniciar um projeto meu, fora do jornalismo. Vamos ver.ML

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