M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
P.D.C: Quando tive que
escolher o que queria ser colocaram-se duas hipóteses: Direito ou Jornalismo. Gostava
das duas, mas o facto de não ter vaga para entrar em Direito, na Faculdade
de Direito de Lisboa, foi decisivo para rumar para a Universidade Nova de
Lisboa e para o primeiro curso virado para a Comunicação Social. Foi em
1979.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
P.D.C: Não gosto do
jornalismo sensacionalista. O tipo de jornalismo dos tabloides, anglo-saxónico,
que usam a vida das pessoas, por tudo e por nada, não é o meu estilo. Eu
prefiro o jornalismo da escola francesa. Acontece que, por vezes, a vida das
pessoas está "misturada", digamos assim, com os factos, mas só acho
que se deve usar essa mistura se for relevante para a história.
M.L: Trabalha, essencialmente, na rádio. Gostava de
ter trabalhado em outros meios de comunicação como, por exemplo, a televisão?
P.D.C: Gostava de ter
trabalhado em televisão, pelo menos, para experimentar. Mas o que eu gosto
mesmo é de rádio. Aliás, a escolha do Jornalismo, em especial o
radiofónico, foi influenciada pela rádio, que eu ouvia de manhã à
noite. Sempre me fascinou e fascina. O imediato, a proximidade com o
ouvinte, a obrigatoriedade da capacidade de síntese.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
P.D.C: Foram vários. Eu fiz trabalhos em todas as
áreas, desde a Política, passando pela Cultura e pela Economia, mas foram
as reportagens que fiz, quando trabalhava no programa da manhã, entre as 7h00 e
as 10h00, que me marcaram mais. Fiz reportagens sobre atentados bombistas,
greves, explosões de fábricas, grandes incêndios... É mesmo o que eu gosto de
fazer. Faltou-me fazer reportagem de guerra, mas quando tive a possibilidade, tinha
um filho pequenino e a família não apoiou.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
P.D.C: Felizmente, ainda
há muitos jornalistas que conseguem ser isentos, apesar de terem as suas
ideias e escolhas políticas. Nem todos os jornalistas são comentadores.
É preciso não esquecer que os jornalistas também votam e têm opinião. Mas
creio que, na maior parte dos casos, é o fator económico que está a
condicionar o jornalismo que se faz hoje em dia. Vemos muitos jovens, em início
de carreira, a trabalharem por uns míseros euros, sujeitos à vontade de
quem paga, com medo de dizerem o que pensam. É uma situação complicada. É a
situação que se vive em muitas áreas profissionais.
M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter
ficado lá?
P.D.C: Adorei trabalhar na
Alemanha e gostava de ter ficado lá, mas a minha vida era em Lisboa, junto dos
meus pais. Bem sei que tinha a minha vida muito facilitada, porque fui com um
contrato muito bom, mas foi muito importante trabalhar fora de Portugal. Em
termos de Jornalismo, no meu caso, no jornalismo radiofónico, não me parece ter
aprendido muito mais com os alemães. O que eles fazem, nós portugueses também
fazemos, e muito bem. O que foi bom, foi a possibilidade de viver num país,
onde as pessoas e, em especial, os Jornalistas são pessoas com prestígio,
credíveis. O que contribui para isso é, sem dúvida, o facto de serem muito bem
pagos. Se eu disser que fui ganhar para a Alemanha, com a mesma categoria
profissional, 8 vezes mais, é só por si suficiente para perceber o que estou a
dizer.
M.L: É filha do ator Ruy de Carvalho. Como vê o
percurso que o seu pai tem feito até agora?
P.D.C: O meu pai geriu e
gere a carreira de uma forma muito simples. De uma forma geral, nunca nega um
trabalho. Seja para protagonista ou não. Acho que ele só recusou trabalhos por
não ter disponibilidade. Sempre o convidaram para bons papéis, mas ele também
soube escolher o que fazer, e posso dizer que ele faz quase todos os géneros.
Musicais, comédias, tudo...
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
P.D.C: Esteja atenta aos
mais velhos. Os colegas com experiência acrescentam um determinado tipo
de saber que as escolas não nos conseguem dar. Sempre que tiverem que fazer um
trabalho, façam primeiro muita pesquisa. É muito importante sabermos do
que falamos. Seja sobre uma pessoa, um determinado acontecimento. Acima de
tudo, sejam humildes, mas não subservientes e evitem a arrogância.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.D.C: Neste momento, estou
afastada da rádio. Saí em 2011 e ainda não sei, quando volto. O que estou a
fazer é excelente. Estou num gabinete de Relações Públicas e Protocolo, com
colegas que me ensinam muito todos os dias. É um trabalho muito interessante. Depois
logo vejo.
M.L: Qual é a coisa que gostava que fazer e não tenha
feito ainda?
P.D.C: Ter feito
reportagem de guerra. Mas não foi possível.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
P.D.C:
Gostava de iniciar um projeto meu, fora do jornalismo. Vamos ver.ML
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