Entrevista com... Barbara Brin (Cantora)
domingo, 18 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Isabel Damatta

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
I.D: Desde criança (talvez por ser
filha única), sempre gostei de inventar histórias para contar às amiguinhas e
quando as contava “representava” as várias personagens. Outras vezes, quando
não tinha ninguém para brincar, fazia isso em frente ao espelho. Mas essa
necessidade de comunicar, a partir dos 6 anos, passou, essencialmente, através
da música, quando comecei a aprender acordéon no Instituto de Música Vitorino Matono.
Estreei-me a pisar o palco num espetáculo do saudoso Marques Vidal no Cineteatro
Odeon com 8 anos, primeiro a cantar e um mês depois (e aí já com um empresário
e a ganhar o meu primeiro cachet que
foi de 250 escudos (1,25 €) a tocar acordéon. Aos 9 anos, toquei num programa
infantil na RTP intitulado “O Que Sabes Fazer” e mais tarde no programa “A
Feira” (RTP). Só anos mais tarde, ao ganhar um concurso para ir visitar os
Estúdios da Edipim, onde estavam a gravar “Vila Faia” (RTP), a 1ª telenovela
portuguesa, o saudoso Thilo Krassman, que me reconheceu do programa “A Feira”,
perguntou-me se eu queria ficar a gravar os últimos episódios, fazendo figuração
especial com algumas falas. Entretanto, entrei no Conservatório Nacional de
Teatro. Fiz casting para a telenovela
“Origens” (RTP) e esse foi o meu primeiro trabalho como profissional. No
teatro, estreei-me em Outubro de (19) 83 na companhia do saudoso José Viana,
que ao ver nas “Origens” que eu tocava e representava, entrou em contacto
comigo. Durante 5 anos, trabalhei, sempre, nas companhias do José Viana e da Dora
Leal, em várias Revistas e espetáculos que eles levavam aos nossos emigrantes
nos EUA, no Canadá e na Europa.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
I.D: Confesso que as primeiras
influências nunca se esquecem, e costumo chamar ao José Viana, “o meu Mestre”.
Aprendi muito com ele, não só a nível da representação, como de toda a forma de
estruturar um espetáculo e da própria escrita. Ele era um artista completo e
como ele dizia: “Tu aprendes, sem eu ter de te ensinar”… sempre fui muito
observadora e atenta. Mas, ao longo da minha carreira, todos com quem trabalhei
me foram influenciando, e foram fontes de inspiração. Mas posso salientar, o
Octávio Matos e o Camilo de Oliveira. Mas, felizmente, tenho muitas outras fontes.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de ter
trabalhado mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
I.D: Gostava,
sim. Mas apesar de ter começado na televisão, e ter feito um filme alemão, de
certa forma, no início da minha carreira, como, simultaneamente, estava a tirar
o meu curso de Psicologia Clinica, o Teatro expunha-me menos e talvez tenha, de
uma forma um pouco inconsciente, não investido muito em tentar fazer mais
televisão (na época, as duas profissões eram consideradas incompatíveis, no
meio da Psicologia não “ficava bem” ser Atriz… agora tudo mudou), e como se
costuma dizer: “Acabei por perder essa viagem”. Sei que pode ser que ainda seja
possível retomar (apesar de, durante os 2 anos que vivi nos EUA, fazia
televisão todos os dias, não como atriz, mas como jornalista e pivot de telejornal numa estação de
televisão portuguesa), mas não será fácil, só com alguma sorte, que nesta
profissão tem bastante peso.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
I.D: Tenho vários. E como gosto da diversidade, que é o que me dá mais prazer
(já fiz Revista, Comédia, Café-Concerto, Espetáculos para as escolas, entre os
quais “Os Maias”), tenho dificuldade em referir um. Neste momento, estou a
experimentar um novo género, totalmente novo para mim, até pela proximidade com
o público, no Teatro Rápido, que é uma micropeça de 15 minutos (“Sol ida mente
Juntos”), que escrevi para mim e para o Igor Sampaio e está a ser uma grande e
boa experiência.
M.L: Além da representação, também é encenadora,
autora e psicóloga e têm experiência como jornalista, tendo trabalhado no canal
RTP-USA nos EUA. Em qual destas funções em que se sente melhor?
I.D: Em todas, dependendo do meu
próprio momento pessoal. A Psicóloga, penso que está sempre presente (é claro
que em gabinete/consultório ganha outra dimensão e outra responsabilidade), mas
na representação gosto da conceção do espetáculo na sua totalidade. No entanto,
só em último recurso acumulo ser atriz e encenadora, porque como Atriz gosto de
ser encenada e dirigida. Tenho saudades de voltar a experienciar a função de
jornalista, mas é onde me sinto menos segura, porque não tenho tantas bases. No
entanto, fiz muitas horas de diretos, e dessa “adrenalina” tenho muitas
saudades.
M.L: Foi coautora da série “Estação da Minha Vida” que
foi exibida na RTP, durante o ano de 2001, da qual contou com Nicolau Breyner
como corealizador e como diretor de atores da série. Que recordações guarda
desse trabalho?
I.D: Foi um trabalho muito
gratificante. Adorei escrever os episódios que me foram distribuídos. E depois
vê-los concretizados, foi muito bom. No entanto, a interação com os atores e com
o Nicolau, foi pouca. A função aí era, essencialmente, escrever. Mas depois
disso, escrevi, diariamente, momentos de humor para o “Portugal no Coração” (RTP),
quando estreou, e para a “Praça da Alegria” (RTP), e também foi uma sensação muito
gratificante vê-los representados pelo Luís Aleluia, pelo Guilherme Leite e
outros.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
I.D: Acho que se evoluiu bastante.
Temos excelentes Atores (em várias faixas etárias), técnicos bastante mais
aptos, excelentes autores, mas as ditas “leis de mercado” acabam por deturpar e
nivelar (na minha opinião) por baixo. Temos tudo para sermos muito bons e o
produto final que, muitas vezes, é apresentado, não faz jus ao valor das
pessoas envolvidas. O
Teatro, com as medidas que, ultimamente, têm sido tomadas pelos nossos
governantes, está a tentar, por todos os meios, sobreviver, para não morrer por
asfixia. E isso é lamentável. Direi mesmo, imperdoável, ver a Cultura ser
tratada como está a ser. Basta ler o que o nosso Grande Ruy de Carvalho
escreveu sobre este assunto há uns meses e está tudo dito.
M.L: Vive em Lisboa, mas nasceu em São
Tomé e Príncipe. Como vê, hoje em dia, a ilha?
I.D:
Infelizmente,
eu vim de S. Tomé com 4 anos, fui lá até aos 11 nas férias grandes e nunca mais
lá voltei. Espero conseguir fazê-lo em breve. Mas vou acompanhando, através das
notícias e fotos atualizadas de amigos que ainda mantenho. Penso que houve uma
evolução bastante grande em alguns aspetos. É um arquipélago lindíssimo e
paradisíaco. Mas só poderei ter uma opinião mais fidedigna, quando lá for.
M.L: É casada com o ator Octávio Matos.
Como vê o percurso que o seu marido tem feito até agora?
I.D:
Ele tem
uma carreira muito longa de 57 anos (como profissional, porque a pisar o palco
foi aos 4 anos) e muitas foram as coisas que fez. Talvez nem sempre tenha feito
as melhores opções em termos de carreira e nem sempre esteve ligado às melhores
pessoas a nível de Produção. Foram vários os que o usaram e que pouco ou nada o
ajudaram. Penso que no TMV (Teatro Maria Vitória), com a Toca dos Raposos, foi,
nos últimos tempos, onde foi mais bem tratado. Mas é um grande Ator,
principalmente de Comédia (apesar de ter ganho vários prémios com o filme “A
Cruz de Ferro” (1968) como ator dramático) e com os programas de televisão que
tem feito, é muito acarinhado pelo público que está sempre cioso de o voltar a
ver. Na televisão, ainda hoje, o público fala do par que ele fez com a Grande Atriz
Márcia Breia nas “Cenas do Casamento” (SIC). Se fosse o público que mandasse,
ele estaria, com toda a certeza, a fazer mais televisão. Enquanto isso, está, agora,
a preparar 2 novíssimos espetáculos (e uma nova Produtora): uma Comédia e
depois uma Revista, para a nova temporada teatral.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém
que queira ingressar numa carreira na representação?
I.D:
Que, se
amam mesmo a profissão (e não o aparente mediatismo, as capas de Revistas e
todas essas coisas vazias de conteúdo), apesar de todas as dificuldades que
possam encontrar, pois esta vida não é fácil, principalmente, pela grande
instabilidade, não desistam. Lutem, tentem evoluir sempre, aprendam tudo o que
possam aprender (com os mais velhos, com todos os colegas, pois é da partilha
que se evoluí e cresce) e acreditem que se estiverem de alma e coração nesta carreira,
mais cedo ou mais tarde, o reconhecimento virá, mas, se eventualmente não vier,
a realização pessoal existirá sempre.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem
feito até agora como atriz?
I.D:
Confesso
que não é um balanço muito positivo. Fiz muitas escolhas erradas. Deixei-me
condicionar demais e durante demasiado tempo, ligada a projetos que não gostava
e com os quais não me identificava. Abri, demasiadas vezes, a mão daquilo que
gostava e queria em prol dos outros. Mas, na realidade, nunca é tarde para
aprender. Não sei se ainda vou a tempo, mas, principalmente, desde Maio que
prometi a mim mesma que agora o que fizer é por mim e segundo os meus objetivos.
M.L: Quais são os seus próximos
projetos?
I.D:
Depois do
Teatro Rápido, uma Comédia (da qual ainda não posso adiantar muito) e estou em
negociações com um projeto para o estrangeiro. E claro, quem sabe, adorava
mesmo um regresso à TV…
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer
e não tenha feito ainda?
I.D: Uma boa
personagem, com conteúdo e de continuidade num projeto televisivo!ML
sábado, 17 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Jorge Pinto

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.P: Desde muito pequeno, antes mesmo da escola primária.
Adorava comunicar ideias, através da expressão dramática, desenhando com o
corpo. Ou então improvisando histórias, em sucessões intermináveis de acontecimentos,
que às vezes duravam semanas, até perder a noção de que partes eram verdadeiras
ou não. Na escola, comecei a orientar esse exercício para um público (Colegas e
Professores) e fascinava-me vê-los a reagir, perplexos os divertidos, a interrogarem-se
sobre o que viam. O meu pai contava muitas histórias que vivera no teatro
amador, e quando fiz a catequese, no Bonfim, percebi que havia um grupo de
teatro na Juventude Operária Católica. Deitei assim a mão, ao primeiro grupo de
teatro amador que apanhei, na Pré-J.O.C. Passei a ver teatro e a ver o teatro
como uma coisa do meu mundo, sem imaginar que viria a ser ator. O primeiro
grupo mais sério que integrei foi o Teatro Académico do Instituto Comercial.
Depois o TUP, etc.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
J.P: A influência viva do trabalho dos atores.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de ter
trabalho mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
J.P: Não. Está bem assim.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como ator?
J.P: Acho que não sou
capaz de responder.
M.L: Dois dos seus trabalhos mais marcantes em
televisão foram as séries “Clube Paraíso” e “Os Andrades” que foram produzidas
pela RTP Porto. Que recordações guarda destes dois trabalhos?
J.P: Muito boas. Principalmente do “Clube Paraíso”. Era
um trabalho muito sério, tecnicamente muito próximo do teatro. Aprendemos
muito.
M.L: Como foi trabalhar com Paulo Afonso Grisolli e
com António Moura Mattos que realizaram, respetivamente, as duas séries?
J.P: Foram duas
experiências muito diferentes. Com o Paulo Grisolli, era o de aprender uma nova
linguagem, não só para os atores, mas, principalmente, para os guionistas, os
realizadores, os editores (que nem os havia), etc. A experiência de “Os Andrades”
era mais uma tentativa de começar uma “indústria”, a prioridade era gravar,
produzir. O Moura Mattos era um realizador “eficaz” de um produto sem rigor,
sem qualidade artística.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
J.P: Houve um
extraordinário avanço na qualidade do trabalho, em todos os setores da atividade
teatral. Vejo, hoje, o teatro, mais do que nunca, como o sítio, onde queremos
estar. Quanto à ficção, deixo o sucesso de “A Gaiola Dourada” (2013) falar por
mim. E fico muito contente.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
J.P: Claro que sim (não sei
bem, o que isso é).
M.L: Este ano, celebra 46 anos de carreira, desde que
começou como ator amador no Teatro Académico do Instituto Comercial em 1967.
Que balanço faz destes 46 anos?
J.P: Costumamos contar os
anos de carreira profissional, que
serão menos. Balanço… é melhor esperar por mais uns 40, depois fazemos.
M.L: Dedicou, praticamente, a sua vida profissional no
Porto. Gostava de ter trabalhado mais em Lisboa?
J.P: Não. De todo. Ter-me
mudado, em tempos? Não, nunca me pareceu interessante. E agora muito menos. Neste
momento, os nossos espetáculos são mostrados no (Teatro Nacional) D. Maria II,
no (Teatro Municipal) São Luiz, no CCB. E até acontece que as nossas próximas produções
vão estrear em Lisboa, antes de serem exibidas no Porto.
M.L: É cofundador da companhia Ensemble-Sociedade de
Atores, da qual fundou, juntamente, com Emília Silvestre. Como é que surgiu a
ideia de fundar a companhia?
J.P: O manifesto de
apresentação do projeto Ensemble explica, direitinho, como apareceu a companhia
(está no site http://www.ensembledeactores.com/). Mas posso acrescentar que as inquietações que nos
trouxeram até ao Ensemble em (19) 96 vêm dos tempos do TEP (Teatro Experimental
do Porto) dos anos 70: a necessidade de formação contínua dos atores, a profissionalização
de todos os setores da criação teatral. Na verdade, foram décadas de procura,
de investigação, e porque não chamar-lhe assim: de luta.
M.L: A Ensemble-Sociedade de Atores existe, desde
1996. Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito, desde a sua
fundação até agora?
J.P: Não podíamos estar
mais contentes com os resultados que temos alcançado a todos os níveis da criação
teatral e do estatuto do ator, com as pessoas que temos reunido à nossa volta,
com os públicos que temos conquistado. O que chegou, nos anos 80, a parecer
impossível atingir, é agora uma realidade.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.P: Vai para a escola e
aprende, dentro e fora dela. Vê tudo, percebe tudo. E faz. O teatro só se faz
fazendo.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.P: Contaminar toda a
sociedade com a humanidade do teatro.
M.L: Se não fosse o Jorge Pinto, qual era o ator que
gostava de ter sido?
J.P: O ator Jorge Pinto.ML
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Pedro Cavaleiro
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação e
pela escrita?
P.C: Creio que sempre tive
o "bichinho" da escrita, dentro de mim. Sempre li muito e em miúdo, gostava
de escrever as minhas histórias, embora as guardasse para mim. A representação
já foi diferente, a minha mãe (Isabel Medina) levava-me aos fins-de-semana para
o Teatro da Comuna, onde trabalhava, e eu habituei-me a esse meio. Gostava da
cumplicidade que sentia entre as pessoas, adorava ver os ensaios, e tornou-se
difícil não ambicionar fazer o mesmo. Fora isso, era, e sou, um fanático por
cinema.
M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
P.C: A minha mãe, como é
óbvio. De resto, acredito que tudo o que vejo ou leio acaba por me influenciar,
tanto o bom, como o mau. Mesmo o que está mal feito pode guiar-nos de forma a
não cometer o mesmo tipo de erros.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como
ator e como escritor?
P.C: O último trabalho é
sempre aquele que mais me marca. Neste momento, é o “Mundo ao Contrário” (TVI).
M.L: Como ator, faz teatro, cinema e televisão. Qual
destes géneros que mais gosta de fazer?
P.C: Tive poucas incursões
no teatro e no cinema, mas creio que o cinema é aquele que me agrada mais. Há
um tempo que não há em televisão, as cenas podem e devem ser repetidas até que
estejam como as imaginamos, sem tantas pressões. Agrada-me a ideia de procurar
a perfeição.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
P.C: Olho, e vejo política
e crise em tudo. Companhias de Teatro que estão a ser obrigadas a fechar as
portas, falta de dinheiro para fazer os projetos… Mesmo em televisão, sente-se
o mesmo. É terrível.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
P.C: Se dissesse que não
estaria a mentir. Acho que não há quem não deseje ver o seu trabalho
reconhecido noutros países.
M.L: É filho da atriz Isabel Medina. Como vê o
percurso que a sua mãe tem feito até agora?
P.C: Não podia ser melhor,
devia ser um exemplo para muita gente. Conseguiu tudo através do seu trabalho,
sem deixar que a sua privacidade fosse invadida. Poucos o conseguem, vemos as
vidas dos atores a serem debatidas e devassadas em revistas e em programas de televisão,
as pessoas conseguem o sucesso dessa forma, e isso entristece-me. Sou um filho
orgulhoso.
M.L: Atualmente, escreve, juntamente com João Matos,
Marta Coelho e Raquel Palermo, a telenovela “Mundo ao Contrário”, que está em
exibição na TVI. Como está a correr este trabalho?
P.C: A Marta,
infelizmente, deixou a nossa equipa e está a dedicar-se a um outro projeto. Felizmente,
temos agora a Sandra Santos connosco e não podíamos estar melhor. Quanto ao
trabalho, acho que está a correr muito bem, é muito raro conseguirmos olhar
para uma cena que escrevemos e pensar: “É mesmo isto!”. E neste projeto já me
aconteceu várias vezes.
M.L: Como é que surgiu o convite para escrever esta
telenovela?
P.C: Já tinha trabalhado
tanto com o João Matos, como com a Raquel Palermo, além de termos criado uma
boa amizade, sempre achámos que a nossa escrita se completava. Já há muito tempo
que esperávamos uma oportunidade de voltarmos a fazer algo juntos. Assim que o
João viu o seu projeto aprovado, ligou-me e disse que ia tentar que fizesse
parte da equipa. E assim foi.
M.L: Como é que se sente ao escrever uma telenovela
que conta com a participação da sua mãe?
P.C: Quando escrevo para a
minha mãe, não penso nela, mas sim na Adelaide, a personagem que interpreta.
Acaba por ser igual a escrever para qualquer outra pessoa. Não escrevo a pensar
no ator. Espero, sim, que este tenha a capacidade de entrar na personagem.
M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
P.C: É evitar rotinas e,
dentro do dia de trabalho, tirar o máximo gozo que me for possível.
M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da
TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria
de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
P.C: Se lá fora soubessem
como são feitas as novelas em Portugal, o tempo que se têm para escrever,
produzir, realizar, editar… Não havia novela portuguesa que não merecesse um
Emmy.
M.L: Qual foi a pessoa que o marcou, tanto como ator e
como escritor?
P.C: A minha mãe, claro.
De resto, é um conjunto de influências, toda a gente com quem trabalhei me
ensinou algo.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira seja na representação ou na escrita?
P.C: Não aconselho a
ninguém. Muito stress, muitas
frustrações, muito tempo sem trabalho e sem saber como será o dia de amanhã.
Mas se a pessoa estiver mesmo determinada, o meu conselho é um cliché: Não desistam e continuem a
tentar, por muitos “nãos” que ouçam.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como ator e como escritor?
P.C: Que está tudo ainda
no início e que há muito para fazer.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.C: Vou escrever uma peça
de teatro infantil para a Escola de Mulheres e continuar a trabalhar em projetos
pessoais.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.C: Era uma lista demasiado comprida, há muita
coisa que ainda sonho fazer.ML
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Mafalda Bessa

M.L: É cofundadora da produtora Cinecool que produziu,
por exemplo, o talk-show “Nico à
Noite” que foi exibido na RTP entre 2011 e 2012. Como é que surgiu a ideia de
fundar a produtora?
M.B: Foi uma ideia em
conjunto com o Nicolau (Breyner) e com a Ana Costa (da produtora Cinemate) e resolvemos
que iriamos ter uma sociedade para podermos fazer o tipo de programas que
quiséssemos. E, graças a Deus, assim foi.
M.L: Que balanço faz do percurso que a produtora tem
feito, desde a sua fundação até agora?
M.B: A produtora teve um belíssimo início.
Começámos com “Nico à Noite” em simultâneo com "Os Compadres" (RTP)
e como, felizmente, estes programas tiveram êxito, continuámos com mais um ano
de "Nico à Noite" e uma segunda série de "Os Compadres".
Logo depois, fizemos a primeira série de uma nova sitcom para a TVI intitulada
"A Casa é Minha" com nomes como Rita Salema, Maria João Abreu, José
Raposo, António Machado, entre outros. Continuamos com novos projetos e algumas
parcerias e esperamos ultrapassar esta crise.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso profissional?
M.B: A primeira série de "Os
Compadres".
M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual (Cinema e
Televisão) em Portugal?
M.B: São dois campos
totalmente diferentes e eu só posso falar sobre a televisão, o meu conhecimento
sobre cinema é única e exclusivamente como público. Em relação à TV, acho que, não
só pela crise que nos atinge, mas também pela falta de profissionalismo, a
televisão está parada. Não me quero alongar, porque, por vezes, não nos fazemos
entender como desejamos. Mas acho que está à vista de todos, as
audiências dos canais (estrangeiros) por cabo.
M.L: Desde 2006 que é casada com o ator Nicolau
Breyner. Como vê o percurso que o seu marido tem feito até agora?
M.B: Brilhante, apesar de
ter pena que não haja em Portugal, condições para fazer mais e melhor (Cinema e
Televisão).
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
feito até agora?
M.B: Muito positivo. Tenho
uma produtora, com dois sócios com muito conhecimento e know-how e que me têm ensinado quase tudo o que sei do audiovisual.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.B: Ainda estão no
segredo dos Deuses, mas em TV e cinema.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.B: Produzir uma peça de
teatro. Tinha que ser uma comédia.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
M.B: Nada.ML
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Rute Moreira

M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita e pela
psicologia?
R.M: O meu percurso foi, desde que
me lembro, atípico. A Vida consegue sempre surpreender-me e desafiar-me, para
além do que eu consigo imaginar ou planear. Acho que posso dizer que não fui eu
que me interessei pela escrita ou pela psicologia. Foi ao contrário. De
repente, a escrita e a psicologia interessaram-se por mim! Licenciei-me em
Matemáticas Aplicadas à Investigação Operacional e Engenharia de Sistemas. Aos
vinte anos, quando já estava no IST a fazer o mestrado em Engenharia de Sistemas,
a vida mostrou-me, pela primeira vez, que os planos que fazemos não têm grande
utilidade. De um dia para o outro, dei por mim a percorrer o país a fazer marketing político (logo eu, que nunca
me tinha interessado por política). Este trabalho, que durou seis meses, foi
provavelmente a formação mais transformadora e rica que tive. Do marketing político, passei para a
organização e produção de eventos, onde se destacam as comemorações de Elevação
de Sintra a Património Mundial e a direção de produção do Dia de Inglaterra na
Expo 98. No entretanto, criei uma empresa de transformação de camiões TIR para
eventos e road-shows, fiz produção
musical, aprendi cinema com a produtora Rosi Burguete e fui assistente de realização.
Acabei por aterrar na publicidade. Dei aulas, estudei grafologia e trabalhei em
vários projetos sociais. Quando me cansei da publicidade, convidaram-me para
criar os conteúdos para um programa de televisão. Sem saber ao que ia, fui. Descobri
uma nova paixão. Fui coautora de vários formatos infanto-juvenis, coordenei o “Disney
Kids” (SIC), durante um ano e especializei-me em conteúdos infanto-juvenis. A
escrita tornou-se, sem eu dar por isso, na minha profissão. Por coincidência, ou
não, integrei a equipa de escrita da revista “XIS”, com quem colaborei,
regularmente, durante três anos. Fui cronista na revista “Olá Semanário!” e
comecei a escrever telenovelas. Um
artigo que escrevi para a “XIS” sobre a alegria, fez-me descobrir uma nova
paixão: os Palhaços do Hospital. Fui ao Brasil e, numa consequência de felizes
encontros, construí com um grupo de pessoas fantásticas, o projeto Operação
Nariz Vermelho. Tornei-me numa especialista em palhaços e a minha função
levou-me a voltar a estudar. Senti que a licenciatura em Psicologia era
essencial para o meu trabalho. Uma nova aventura que se tornou numa nova
paixão. Ao longo de sete anos, dediquei-me de alma e coração a este projeto. Em
simultâneo, escrevi e produzi teatro ("Eu Ligo-te" foi, talvez, a
peça que mais gostei de escrever). Ajudei a criar o projeto “Caras” em Angola,
cuja direção editorial esteve a meu cargo, durante três anos e desenvolvi
vários projetos educativos. Neste contexto escrevi um livro "Livro para
saber o que as raparigas pensam" e criei a marca Caixa de Tempo com
jogos pedagógicos. Sem ter planeado, transformei-me em editora. Durante este
tempo, a escrita para ficção nunca parou e assinei vários projetos para todos
os canais: “Louco Amor” (TVI), “Dei-te Quase Tudo” (TVI), “Cuidado com Elas” (SIC), “Campeões e Detetives” (TVI), “Maka Hotel” (TV Zimbo, Angola), “Câmara
Café” (RTP), “Detetive Maravilhas” (TVI), entre outros. No
último ano, tenho dedicado grande parte do meu tempo, a conjugar a escrita com
a psicologia, no projeto "A Verdade de Cada Um", um programa para
adolescentes na TVI, onde, pela primeira vez, me apresentei à frente das
câmaras. Ao nível académico, estou a preparar o meu doutoramento e, no último
ano, integrei uma equipa pedagógica de intervenção social na Roménia, a convite
da CE.
M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
R.M: O que me influência em
qualquer uma destas áreas é a Vida. O que vivo, o que aprendo, o que me
apaixona. Sou viciada em investigação e em aplicar o que estudo na vida com o
objetivo de acrescentar algo de novo e útil para quem usufrui, de alguma forma,
do meu trabalho.
M.L: Como escritora, escreveu para teatro, televisão e
literatura. Gostava de, um dia, escrever para cinema?
R.M: Não é uma das minhas metas. Já
escrevi um telefilme em parceria com o Tozé Martinho, já escrevi alguns filmes
publicitários, mas não tenho especial ambição em escrever para cinema. Gosto de
Histórias. Gosto de escrever Histórias que toquem as pessoas. Não faço questão
que passem no cinema.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, tanto como
escritora e como psicóloga?
R.M: Ser mãe. É o meu principal
trabalho, o meu maior desafio e o que mais me faz crescer como ser humano.
Educar ajuda-nos a aprender a relativizar as situações, a dar importância ao
que é realmente importante e a colocar em causa as nossas crenças, aprendendo,
diariamente, a olhar para as situações por outro ponto de vista. Todas estas
experiências são profundamente enriquecedoras, quer na atividade, enquanto
guionista, quer na atividade, enquanto psicóloga.
M.L: Entre 2002 e 2003, escreveu, juntamente com Tozé
Martinho e Ana Rita Martinho, a telenovela “Amanhecer” que foi exibida na TVI.
Que recordações guarda desse trabalho?
R.M: "Amanhecer" foi a
telenovela que mais gostei de escrever. Talvez por ser a primeira. Foi um
trabalho de grande paixão e entusiasmo. Os últimos vinte episódios
transformaram-se num grande desafio. O Tozé Martinho teve uma complicação
cardíaca e foi hospitalizado. Para além da natural preocupação com a sua saúde,
havia a necessidade de cumprir com os rigorosos prazos de entrega de episódios.
Dadas as contingências da ocasião, tinha de ser eu a assumir o trabalho. No
último mês, escrevi, sozinha, um episódio por dia. Fica para sempre, na minha
memória, a responsabilidade que senti e a alegria de ter conseguido
corresponder às expectativas das pessoas que confiaram em mim.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura e a Psicologia em
Portugal?
R.M: A Cultura de um país espelha o
próprio país. Na conjuntura atual, podemos olhar para a nossa Cultura como
exercício de reflexão. Talento é algo que não nos falta, as novas gerações
estão a propor novas formas de comunicação e de expressão mais sustentáveis e
democráticas e continuamos, massivamente, a dar mostras que somos um povo que
não dispensa eventos culturais. A adesão aos festivais de Verão, apesar da
crise, é uma prova irrefutável disso. A Cultura está, como o país, à procura de
novos paradigmas mais sólidos e sustentáveis. Acho que não sei responder à
segunda parte da pergunta. Nunca olhei para a Psicologia com esta perspetiva.
Para mim, a Psicologia é uma ferramenta que nos ajuda a compreender melhor os
mecanismos emocionais do ser humano. Em alturas de crise as pessoas
questionam-se mais e, nessa vertente, é possível que haja mais pessoas
interessadas em descobrir como lidar melhor consigo próprias e com a
adversidade.
M.L: Também têm experiência na Comunicação Social.
Entre a escrita, a Psicologia e a Comunicação Social, em qual destas funções em
que se sente melhor?
R.M: Nunca gostei de rótulos, por
achar que são redutores. A escrita, a Comunicação Social e a Psicologia têm,
para mim, um denominador comum. É esse denominador comum que me move: o de
contribuir, através do meu olhar e das minhas experiências, de uma forma não
intrusiva, para trazer novos pontos de vista e novos paradigmas que possam ser
úteis. Acredito que é através da comunicação e da troca de ideias que todos
evoluímos. É esse o propósito do meu trabalho, independentemente da forma
que utilizo para o desenvolver.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira seja na escrita ou na psicologia?
R.M: Acredito que o que nos move, quando
decidimos ingressar numa carreira, é algo muito forte e pessoal que nos faz
encontrar a força necessária para não desistirmos perante a adversidade. Seja
qual for a área, contando que exista uma motivação profunda e força de vontade,
devemos perseguir os nossos sonhos e concretiza-los, mesmo que aos olhos dos outros,
o sucesso seja improvável. A grande aprendizagem não está nos sucessos que
podemos alcançar, mas sim nos obstáculos que se escondem pelo caminho.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como escritora e como psicóloga?
R.M: Sou muito grata à vida em
todos os aspetos. Olhando para trás, vejo nas derrotas, as melhores lições. Nos
momentos difíceis, as oportunidades que tive para me tornar mais forte e nos
sucessos… as oportunidades de compreender o meu sentido de vida. Quando se fala
em balanço, imagino um livro de contabilidade com o "deve" de um lado
e o "haver" do outro. Acho que tudo o que sou e fiz, devo às minhas
paixões e às pessoas que amo e aquilo que tenho na coluna do "haver"
é igual a tudo o que "devo". Em contas de merceeiro, o balanço é
zero. E isso faz-me sentir muito realizada.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.M: Há vinte anos, decidi
trabalhar por conta própria nas áreas de comunicação e educação. É nestas áreas
que centro os meus projetos. Para além dos projetos profissionais que vão
surgindo e dos quais dependem o meu sustento e o da minha família, tenho em
paralelo, como projeto pessoal, durante os próximos quatro anos, fazer o
doutoramento.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
R.M: Há milhares de coisas que
gostava de fazer e que ainda não fiz. Interessa-me muito a pesquisa e
investigação no âmbito da Física Quântica e gostava de aprofundar os meus
conhecimentos na área de forma a poder contribuir para o desenvolvimento da
mesma.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
R.M: Gostava de
conseguir fazer o meu trabalho com mais eficácia e em menos tempo. Não quero
deixar de abraçar os desafios profissionais, nem posso, por questões
financeiras, ter menos trabalho. Mas gostava de ter mais tempo para me divertir
e tirar partido de outros prazeres da vida.ML
sábado, 10 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Vicente Alves do Ó
Olá. A próxima entrevista é com o realizador e escritor Vicente Alves do Ó. Desde muito cedo que se interessou pelo Cinema e pela escrita, sendo, atualmente, um dos nomes mais promissores do Cinema Português, com um percurso que também passa pelo teatro, pela televisão e pela literatura. Em 2011, estreou-se na realização de longas-metragens com "Quinze Pontos na Alma", mas o seu maior triunfo, até ao momento, como realizador, foi com "Florbela" (2012), a sua 2ª longa-metragem, da qual é um biopic sobre a poetisa Florbela Espanca (1894-1930), e foi uma das longas-metragens mais vistas, a nível nacional, em 2012, tendo tido, até ao momento, reconhecimento, tanto nacional e como internacional, e é protagonizada por Dalila Carmo, Albano Jerónimo e Ivo Canelas. E vai repôr, entre os dias 22 de Agosto e 8 de Setembro no Teatro da Trindade, o monólogo "A Voz Humana" de Jean Cocteau, da qual encena e é protagonizado por Carmen Santos, tendo sido estreado, pela primeira vez, em 2012 no Fórum Municipal Romeu Correia em Almada. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 2 de Junho.
M.L: Quando surgiu o interesse pela realização e pela
escrita?
V.A.D.O: O interesse pelo cinema surge muito cedo. O
cinema e o grande ecrã era a maior evidência do sonho numa terra pequena e
alentejana. Era um escape, uma neverland
(terra do nunca), uma viagem
constante pelos universos da imaginação que me acompanhou, cresceu e
desenvolveu. O amor e a identificação com o cinema acabou por mantê-lo na minha
vida, assim como a escrita.
M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
V.A.D.O: As influências são muitas e não estão só no
cinema. Vêm da literatura, do teatro, da música, da arquitetura, da História,
um mundo infinito que depois acaba por encontrar forma num filme. E cada vez
mais é fora do cinema que encontro as ditas influências.
M.L: Escreve para teatro, cinema, televisão e
literatura. Qual destes géneros que mais gosta de escrever?
V.A.D.O: Como escrita? Literatura, narrativa, poesia
(que um dia espero publicar, mas que ainda não tive coragem). E na linguagem e
na sua construção que me encontro com as palavras e gosto muito de palavras.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como
realizador e como escritor?
V.A.D.O: Essa pergunta vive do tempo e por isso mesmo,
o último filme (“Florbela” (2012) e o primeiro romance (“Marilyn à Beira-Mar”)
ocupam ainda muito espaço, dentro de mim, mas começo já a trabalhar noutras
coisas e que acabam por se tornar em nova paixões.
M.L: Em 2000, escreveu o guião do telefilme “Facas e
Anjos” de Eduardo Guedes e exibido na SIC. Que recordações guarda desse
trabalho?
V.A.D.O: Uma grande responsabilidade, uma grande
amizade com o Eduardo que me faz muita falta e, acima de tudo, a recordação que
ali ainda vivem as razões mais puras para continuar a fazer o que faço: porque
amo e porque gosto de comunicar com as pessoas. Não somos nada sem os outros.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
V.A.D.O: Cansada, fechada, agrilhoada, censurada,
pobre, triste, vaidosa, pretensiosa, perdida, provinciana, pura. Todas estas
razões, boas e más, são também as mesmas razões, pelas quais gosto de viver em
português e fazer coisas em Portugal. No meio de toda esta loucura, há ainda
uma ideia de começo e recomeço que morreu noutros lugares e que aqui alimenta
os artistas: há tanto por fazer.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
V.A.D.O: Gostava e gosto que os meus filmes viagem
pelo mundo e isso têm acontecido. Se "carreira internacional" passa
por reconhecimento, tenho uma relação difícil com isso, porque pode ser uma
ilusão/desilusão. Há qualquer coisa no anonimato que nos mantêm com a cabeça no
lugar e não quero perder a ideia do que sou e de quem sou.
M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
V.A.D.O: Depende do projeto, mas gosto muito de
escrever ao fim do dia, quando o sol começa a desaparecer. Há qualquer coisa na
morte da luz que me desespera, o que é ótimo, porque me motiva e tira da
preguiça e da desculpa. Arranjamos tantas razões para enfrentar o trabalho e eu
não sou exceção.
M.L: É um dos fundadores da Academia Portuguesa de
Cinema que é equivalente à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de
Hollywood. Que balanço faz do percurso que a Academia tem feito, desde a sua
fundação até agora?
V.A.D.O: Um balanço muito positivo até porque o nosso
país tem esta dificuldade no associativismo, na dinamização, numa ideia de
comunidade. A Academia dá os primeiros passos, tenta motivar os seus futuros
membros e tem muitos projetos que pretende levar a bom porto.
M.L: Trabalha, frequentemente, com a atriz Carmen
Santos. Como vê o percurso que ela tem desenvolvido ao longo dos anos?
V.A.D.O: Bem, não sei se serei a pessoa indicada para
responder a isso e se isso tem resposta. O percurso de um ator é como a vida:
cheio de particularidades. Mas adoro trabalhar com ela, acho-a uma atriz
brilhante, discreta, elegante, muito digna, muito honesta e como tal é sempre
um prazer e um regozijo.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira seja na realização ou na escrita?
V.A.D.O: Não há conselhos, nem receitas, tudo depende
da vontade de cada um. É apenas isso. A vontade que marca o caminho. Mais nada.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como realizador e como escritor?
V.A.D.O: Não faço balanços nenhuns. Acho que ainda
tenho muita estrada para fazer, até mesmo para me sentir satisfeito, o que
espero, nunca acontecer, porque senão, deixo de fazer, de escrever, de filmar.
Preciso da inquietação e da insegurança de tudo isto para ter força e vontade,
para descobrir.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
V.A.D.O: Uma ópera.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
V.A.D.O:
Isso é privado, não lhe vou dizer.ML
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Margarida Rebelo Pinto
M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
M.R.P: Desde
muito cedo, aos 12/13 anos. Sempre fui apaixonada por livros. Aos 8 anos, tive
uma febre reumática que me isolou das outras crianças, tinha que me entreter
sozinha, a paixão pela leitura começou logo aí.
A doença obrigou-me a pouca mobilidade até aos 12 anos, por isso
sempre me habituei a estar sozinha, com os meus livros, os meus sonhos e os
meus pensamentos. Escrever sempre foi, para mim, um processo natural, uma
forma de estar na vida. Sempre escrevi em todo o lado, no final dos exames (quando
o tempo ainda não tinha terminado), na praia, nas férias, à noite,
antes de dormir. Os meus amigos da adolescência sempre me viram a
escrever.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
escritora?
M.R.P: É
difícil dizer, têm a ver com fases diferentes da minha vida. Autores mais
importantes da infância: Condessa de Segur, Sophia de Mello Breyner (Andresen),
(Jean-Jacques) Sempé, Virgínia de Castro e Almeida. Na Adolescência: Florbela Espanca,
Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, (John) Steinbeck, Pearl Buck, Jack
London. Mais tarde, Mário Zambujal, Paulo Castilho, Marguerite Yourcenar,
Marguerite Duras, Alexandre O'Neill, Agustina Bessa-Luís, Ruben A., Clarice
Lispector, (Haruki) Murakami, José Agostinho Baptista.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como escritora?
M.R.P: O
romance histórico “Minha Querida Inês” sobre a tragédia de Inês de Castro. Um
sonho de adolescência, 4 anos de investigação, foi a minha maior e mais
apaixonante aventura literária, e levou aos meus leitores, uma fatia da história
de Portugal.
M.L: Em 1999, escreveu a biografia “Herman Superstar”,
sobre Herman José. Como é que surgiu a ideia de escrever esta biografia?
M.R.P: Foi
um convite da D. Quixote. O próprio Herman (meu amigo, desde os 20 anos) sugeriu
o meu nome.
M.L: Como foi a reação do público a esta biografia na
altura do seu lançamento?
M.R.P: Foi
boa, mas o livro teve pouca promoção. O Herman e eu divertimo-nos muito.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
M.R.P: Estagnada, triste e
com pouco rasgo, tudo isto acentuado pela crise. Mas há exceções que são
glorificadas em vida, o que me faz pensar que já não precisamos de matar os artistas
para os podermos admirar. Como a Joana Vasconcelos, por exemplo. O trabalho
dela é ousado e genial, e não sendo consensual, o que é uma qualidade, já
ganhou o respeito de todos.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
M.R.P: Estou
publicada em Espanha, Alemanha, Holanda, Bélgica, Brasil, França
e Itália. Os mercados, onde vendo mais, são o Brasil e a Holanda. São
vários livros publicados em vários países. Se não fosse Mãe, teria tido
mais tempo para investir num desses mercados, mas a maternidade fala mais alto
do que a escrita e nunca o inverso.
M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
M.R.P: De
manhã, antes das 9 horas, já estou sentada. Interrompo para almoçar. Se está a
correr bem, encurto o almoço, quase não atendo o telefone (só se for família ou
urgências) e à tarde contínuo ou não, consoante ao que sinto. As manhãs são
sagradas. Tento não escrever aos fins-de-semanas e nas férias, mas, por vezes,
é mesmo impossível não o fazer, porque há muito de compulsão no ato da escrita
e quando as ideias começam a dançar dentro da cabeça, têm de ser arrumadas no papel rapidamente. Há um sentimento de urgência na escrita que
sempre tive e que penso nunca vir a perder. Depois da família, vem a escrita,
logo a seguir. É o meu modo de ser, de estar e de viver.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na escrita?
M.R.P: Ler,
ler, ler, escrever, escrever, escrever.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como escritora?
M.R.P: Tive
sorte, apanhei Portugal no boom, os
livros a chegarem às grandes superfícies, a abertura da Fnac. Mas sempre
também trabalhei e continuo a trabalhar muito. Ainda estou na faixa
dos 40 anos e já publiquei 18 livros, dos quais
10 são romances. É uma obra vasta para a minha idade.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.R.P: Tenho o guião do “Sei
Lá” (que é baseado no seu primeiro
romance, com o mesmo título, que foi lançado em 1999) em fase final para
adaptação ao cinema e um livro de crónica a sair, antes do Verão. Quanto ao próximo romance,
isso ainda está no segredo dos Deuses.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito
ainda?
M.R.P: Fazer
uma adaptação de “Minha Querida Inês” para o cinema internacional.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
M.R.P: Nada,
tenho uma vida perfeita. Sou grata a tudo o que tenho, uma boa família e um
trabalho que adoro. E saúde, que é o mais importante.ML
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Mário Lisboa entrevista... Carmo Soares

M.L: Quando surgiu o interesse de ser professora?
C.S: Desde miúda. Eu
sempre gostei de lidar com crianças, portanto eu tenho esse interesse, desde
que me lembro.
M.L: Qual é a/as disciplina/s em que se especializou?
C.S: Português e Francês.
M.L: Houve algum momento marcante para si, durante o
seu percurso como professora?
C.S: Não. Tive vários
momentos que, realmente, me marcaram por este acontecimento ou outro, mas não
houve, assim, um momento que me tenha marcado particularmente.
M.L: Gostava de ter trabalhado no estrangeiro?
C.S: Não.
M.L: Atualmente, trabalha na Escola Básica E.B 2/3 da
Corga de Lobão, onde é adjunta do Diretor da escola, mas antes dava apoio
especial a alunos com dificuldades. Sente-se feliz em fazer este tipo de ajuda?
C.S: Trabalhar diretamente
com os alunos é o que eu mais gosto de fazer.
M.L: Gostava de voltar a lecionar uma disciplina?
C.S: De vez em quando, eu
lembro-me disso. Também faz-me falta trabalhar com um grupo de alunos. Tenho
saudades, mas não trocava pela Educação Especial.
M.L: Houve alguma pessoa que a tenha marcado, durante
o seu percurso como professora?
C.S: Não. Há várias
pessoas que foram importantes no meu percurso, seja colegas ou alunos, mas,
como professora, não tenho, assim, nenhuma pessoa que me tenha marcado
especialmente.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
C.S: Gostava de visitar
alguns países que ainda não visitei.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
C.S: Eu estou satisfeita com a vida que tenho.ML
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