Entrevista com... Patrícia Kogut (Jornalista)
domingo, 29 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... Ricardo Figueira
Olá. A próxima entrevista é com o jornalista Ricardo Figueira. Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo, tendo-se tornado num dos mais respeitados jornalistas portugueses em solo europeu. Desde 1999 que vive em França, onde trabalha no canal Euronews (que, em 2013, celebra 20 anos de existência), e além do jornalismo, também é fotógrafo. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 27 de Setembro.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
R.F: Penso que ainda em
criança. Foi sempre um mundo que me fascinou, embora não tivesse a certeza de
que queria ser jornalista. Quando entrei para a faculdade, a minha primeira
opção foi Direito, mas acabei por entrar para o ISCSP, em Sociologia do
Trabalho. No terceiro ano, decidi que queria seguir esta área, mudei para
Comunicação Social e fiz dois cursos no CENJOR.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
R.F: Os primeiros
formadores marcam-nos sempre. O meu primeiro contacto com o jornalismo
televisivo foi com um atelier dado
pelo Rui Araújo no CENJOR. Ele foi e ainda é uma grande influência.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
R.F: É difícil falar só de
um. Graças ao trabalho, entrevistei grandes artistas como o James Nachtwey ou o
Damien Hirst. Mais recentemente, no Fantasporto, que frequento todos os anos,
tive a grande honra de contactar com o Manoel de Oliveira. Isso em termos de
reportagem. Em termos de diretos do estúdio, conduzi várias noites eleitorais,
mas as que mais me marcaram foram as duas eleições de Barack Obama, em 2008 e
2012. Sobretudo a primeira. Tive a sensação de estar a trabalhar e a viver um
momento histórico, comparável à chegada do Homem à Lua.
M.L: Além do jornalismo, também é fotógrafo. Em qual
destas funções em que se sente melhor?
R.F: Sinto-me bem nas
duas, embora sejam duas situações diferentes. O jornalismo é a minha profissão
de todos os dias e a fotografia é algo que faço por pura paixão, para realizar
esta minha necessidade permanente de criar.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social, em
termos gerais?
R.F: A Comunicação Social
viveu duas grandes revoluções nos últimos 15 anos. A primeira foi o aparecimento
da Internet e do jornalismo online e
a segunda foi a chamada "Web 2.0", com os blogues, o Youtube e as
redes sociais como o Facebook ou o Twitter. O utilizador passou, também ele, a
ser fornecedor de conteúdos, ou seja, a Comunicação Social deixou de ser algo
de sentido único. Em termos de trabalho, quer o online, quer a multiplicação dos meios (na televisão, sobretudo)
criou emprego, mas muitas vezes (mesmo na maioria das vezes, infelizmente) esse
trabalho é precário e mal pago. A democratização dos meios também ajudou. Hoje,
com um simples telemóvel, é possível fazer um direto para o qual seria
necessário um carro-satélite, há uns anos.
M.L: Desde 1999 que vive em França, onde trabalha no
canal Euronews. O que o levou a querer viver em França?
R.F: O que me trouxe para
França foi, justamente, a Euronews. Tive a sorte de comprar o jornal (o Diário
de Notícias) no dia em que vi o anúncio a pedir jornalistas para a equipa de
língua portuguesa da Euronews. Fui à entrevista e fui selecionado. Quinze dias
depois, estava em Lyon.
M.L: Como vê, hoje em dia, Portugal e França, em
termos artísticos?
R.F: Infelizmente, e como
português custa-me dizer isto, a França acarinha muito mais as artes. Em
Portugal, hoje em dia, chamar "artista" a alguém é quase um insulto. Um
exemplo: o Paulo Nozolino, um dos maiores fotógrafos contemporâneos, é mais
conhecido no estrangeiro do que em Portugal.
M.L: A Euronews existe, desde 1993. Como vê o percurso
que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
R.F: A Euronews teve uma
evolução extraordinária. Quando a língua portuguesa foi introduzida, em 1999, foi
a sexta versão linguística. Hoje tem emissão em 13 línguas (português, inglês,
francês, espanhol, italiano, alemão, russo, árabe, persa, turco, grego,
ucraniano e húngaro) e serviços parciais noutras duas (romeno e polaco). Quando
comecei, a produção própria era muito reduzida e hoje ocupa uma grande parte da
antena, através de reportagens e magazines em áreas diferentes. No início, era
um canal anónimo, em que os jornalistas nunca davam a cara e hoje em dia dão e
o extraordinário é que são jornalistas vindos de todos os pontos do Mundo, o
que é absolutamente único!
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
R.F: Para saber escrever
bem, é preciso ler. Leiam jornais e revistas, sim, mas também livros, ficção, o
que quiserem. Leiam muito. E vejam filmes, vão ao teatro, vão a exposições,
viajem, nem que seja até ao Porto ou a Lisboa. Não fiquem fechados a ver a bola
e a jogar Playstation, o que também é bom, mas na medida certa. Abram a mente,
isso é muito importante.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como jornalista?
R.F: Já respondi sobre as
pessoas extraordinárias que encontrei no exercício da profissão e os momentos
que vivi. Fiz também bons amigos, que é uma das melhores coisas que levamos da
vida.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.F: Estou neste momento
envolvido em dois projetos. Um na área da Fotografia, que é uma recolha de 40
retratos de portugueses residentes em França, que penso lançar em livro no
próximo ano, coincidindo com os 40 anos do 25 de Abril. O outro, na área do Cinema,
é a realização de uma curta-metragem, um sonho antigo. Ambos os projetos estão
a ser desenvolvidos em parceria com duas queridas amigas: o primeiro com a
Elisabeth Machado Marcellin e o segundo com a Isabel Pina.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
R.F: Parte da resposta
está na resposta anterior. De resto, quero continuar a fazer o meu trabalho da
melhor maneira que sei e aproveitar as oportunidades que a vida me dá,
nomeadamente para viajar. Há muitos países que quero visitar e que ainda não
conheço, nomeadamente o Japão e o Brasil. Gostaria também, um dia, de fazer a
famosa viagem pelos EUA, da Costa Atlântica à Costa Pacífica.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
R.F:
Gostava de ter mais disponibilidade, quer em termos de tempo, quer de dinheiro,
para poder viajar.ML
Mário Lisboa entrevista... Sara Afonso
Olá. A próxima entrevista é com a jornalista Sara Afonso. Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo e, consequentemente, pelo Cinema, tendo estado a desenvolver um respeitado e decente percurso como jornalista, e desde 2011 que é diretora da edição portuguesa da revista de Cinema "Empire" que foi lançada nesse ano. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 23 de Setembro.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
S.A: Desde muito nova que percebi
que “aquilo que eu queria fazer, quando fosse grande” passava pela comunicação.
Percebi, também, que a componente cultural era uma das prioridades e,
definitivamente, o Cinema era o objetivo, apesar de não saber como nem quando
isso ia acontecer.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
S.A: Penso que, acima de
tudo, ser jornalista é ser um canal de transmissão de histórias e de
experiências, por isso, as minhas principais influências são, maioritariamente,
as pessoas que vou conhecendo pelo caminho e todas aquelas com quem tenho a
sorte de me cruzar, seja na vertente profissional ou pessoal.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
S.A: O meu percurso tem
apenas treze anos, mas todos eles plenos de histórias e trabalhos que tive a
sorte e o privilégio de fazer. O momento que mais me marcou foi, talvez, a
primeira vez que entrevistei o ator Jeremy Irons. Era, certamente, o culminar de
um sonho e a certeza de que na vida não existem impossíveis. Foi igualmente
marcante pela pessoa que ele é e pela sua postura na vida. Foi um momento
único.
M.L: Desde 2011 que é diretora da edição portuguesa da
revista “Empire” que foi lançada nesse ano. Que balanço faz do tempo em que
está no cargo?
S.A: O balanço é mais do
que positivo. Sempre sonhei em fazer algo na área do Cinema e a “Empire” é o
resultado de duas variáveis muito importantes para mim: a comunicação e o Cinema.
É um projeto de grande qualidade e é um privilégio para mim e para a equipa
representar uma revista que tem uma história de mais de 20 anos no mercado
internacional e que sempre se pautou pelo respeito pela Sétima Arte, sem deixar
de informar e de entreter. No entanto, em Portugal, o Cinema é um mercado
difícil de trabalhar e portanto tem envolvido algum sacrifício de todas as
partes. Mas quando temos a sorte de fazermos o que gostamos, todo o sofrimento
compensa.
M.L: Como é que surgiu o convite para exercer o cargo?
S.A: Eu já estava na
editora Goody (que edita a revista “Empire” e tantas outras no mercado da
imprensa especializada) há cerca de cinco anos, mas tinha estado mais ligada às
tecnologias. Quando a empresa decidiu lançar a revista “Empire” em Portugal,
foi-me oferecido o desafio e a resposta afirmativa foi imediata.
M.L: Como vê o percurso que a “Empire” tem feito,
desde a sua fundação até agora?
S.A: Penso que tem
existido um esforço de a “Empire” fazer a ponte mais competente entre a versão
original e a adaptação para o mercado nacional. Fazemos o melhor com as
ferramentas que temos e temos muito orgulho no produto que publicamos todos os
meses. A “Empire” original é um produto de excelente qualidade, por isso o
nosso objetivo sempre foi trazer para a edição portuguesa, o melhor que a
versão “mãe” tem para oferecer, tentando sempre fazer o melhor possível para
acompanharmos o panorama cinematográfico nacional. Por vezes, não é um trabalho
fácil, mas tentamos sempre disponibilizar os melhores conteúdos aos nossos
leitores.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
S.A: Vejo uma Comunicação
Social que continua a tentar fazer o melhor sob as regras que regem o mercado,
mas lamento que se continue a optar maioritariamente pelas notícias menos
positivas e por aquelas que servem outros interesses que não, meramente, a
informação e o conhecimento. É uma pena que não se aproveite a comunicação de
massas para transmitir esperança e progresso em vez de um meio para alastrar a
desgraça, como acontece na maior parte das vezes.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
S.A: Não sei o que o
futuro me reserva. Mas, por enquanto, quero aproveitar a oportunidade de estar
a fazer o que estou a fazer no meu país.
M.L: Recentemente, Steven Spielberg e George Lucas
alertaram para uma possível implosão da indústria cinematográfica
norte-americana, tendo em conta o facto de Hollywood estar, atualmente, a
apostar demasiado num certo cinema repetitivo e menos em projetos mais
criativos e originais. Na sua opinião, acha que essa implosão irá acontecer na
indústria?
S.A: Penso que vai ser
necessário o aparecimento de formas alternativas, para que os filmes ditos
independentes ou aqueles que não alimentam os alicerces do que os estúdios
pretendem, tenham forma de sobreviver na indústria. Os estúdios vão continuar a
apostar em grandes blockbusters que,
na realidade, são aqueles que geram receitas atualmente. Mas, um dia, esse
modelo poderá não funcionar e uma arte não sobrevive sem o direito à
alternativa.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
S.A: Ingressar hoje no
jornalismo ou noutra área qualquer é um verdadeiro desafio. No entanto, penso
que as pessoas devem seguir aquilo que as inspira e as faz mover, independentemente se é uma área com melhores ou piores saídas profissionais,
pois quando se está na sua essência e se faz o que se gosta, as probabilidades de
fazer a diferença nessa área são muito maiores.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como jornalista?
S.A: Tal como já referi,
tenho sido uma privilegiada e tive a sorte de estar a viver o meu sonho. Como
qualquer coisa na vida, tem momentos mais desafiantes, mas tem muitas
compensações, e ter a oportunidade de dirigir uma revista de Cinema foi um
sonho tornado realidade. As entrevistas que já fiz, as pessoas que já conheci e
com quem tive a oportunidade de aprender e crescer já valeram todos os
esforços.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.A: O meu próximo projeto
é o meu agora e o meu agora passa por dar o meu melhor como diretora da “Empire”.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
S.A: Gostava muito de, um
dia, poder entrevistar a atriz e realizadora Angelina Jolie.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
S.A: Gostava que a “Empire” tivesse a oportunidade de
crescer de uma forma saudável e que o Cinema tivesse saúde para nos continuar a
ajudar a sonhar.ML
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... Marisa Galiza Filipe
Olá. A próxima entrevista é com a blogger e historiadora Marisa Galiza Filipe. Desde muito cedo que se interessou pela História, e, em 2012, criou o blogue "Marisa's Beautiful World" (http://marisasbworld.blogspot.pt/), que fala sobre questões relacionadas com o Mundo atual, da qual tem tido uma boa reação por parte do público, tendo, em 2013, lançado o livro, com o mesmo nome, que junta uma série de textos publicados no blogue. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 11 de Agosto.
M.L: Quando surgiu a ideia de criar o blogue “Marisa’s
Beautiful World”?
M.G.F: Em 2012, decidi
frequentar o mestrado em Desenvolvimento, Diversidades Locais e Desafios
Mundiais no ISCTE. As aulas eram tão interessantes que quando chegava a casa
tinha de partilhar o que aprendia. No meio dessa partilha, foi-me sugerido que
partilhasse o que pensava num blogue. E já que era para ser baseado no que eu
pensava, no meu Mundo, então decidi que fosse bonito. Daí surgiu o “Marisa’s Beautiful
World”.
M.L: “Marisa’s Beautiful World” fala sobre questões
relacionadas com o Mundo atual. Em tempos sombrios, como vê o futuro do Mundo
nos próximos anos?
M.G.F: Com um profundo
otimismo. Creio que estamos a acordar como sociedade e a perceber as redes em
que estamos entranhados. É da consciência coletiva das situações que surgem novas
ideias, novas conquistas. E seguindo o repto do Papa Francisco, está na hora de
nos revolucionarmos.
M.L: Como tem sido a reação do público ao seu blogue
até agora?
M.G.F: Tem sido positiva.
Acredito que muitas pessoas não concordam comigo em muitos assuntos, mas também
não têm qualquer problema em me dizerem os seus pensamentos. O que é bom,
porque é do debate que surge a democracia. Quando nos autocensuramos para
agradar alguém, perdemos mais um bocadinho da nossa liberdade.
M.L: Que balanço faz do percurso que o “Marisa’s
Beautiful World” tem feito, desde a sua criação até agora?
M.G.F: Faço um balanço
muito positivo. O blogue tem alcançado diferentes públicos e isso é o mais
importante. E creio que contribui também para a discussão do que é a democracia
e para a discussão de qual é a melhor mala que devemos comprar.
M.L: Além de ser blogger,
também é historiadora. Quando surgiu o interesse por essa área específica?
M.G.F: Desde muito cedo. Nunca
imaginei tirar qualquer curso universitário que não fosse História. Gosto de
pessoas, mas nós só percebemos, porque é que pensamos ou agimos desta maneira
se percebermos de onde vimos, e que acontecimentos ocorreram no passado para
que a nossa vida seja desta forma e não de outra. A História, enquanto
disciplina, é um relato quase fiel do que o Ser Humano é capaz, tanto na sua
hora de esplendor, como nas suas horas mais sombrias.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
historiadora?
M.G.F: Sempre gostei muito
dos trabalhos do Prof. Manuel Mascarenhas sobre aldeias abandonadas e, neste
momento, é com este professor que colaboro. Recomendo a quem possa que adquira
também a enciclopédia “História de Portugal” coordenada pelo Prof. José
Mattoso. Dito isto, a melhor forma de se entender a História, é ler romances.
Para se perceber a Guerra Civil espanhola, basta ler (Ernest) Hemingway. Para
compreender melhor a nossa História, recomendo que se leia, por exemplo, Eça de
Queiroz e José Saramago. Porque um romance tira-nos o peso da responsabilidade
e deixamo-nos envolver pela história que nos é contada. Não há melhor do que a
sensação de se aprender sem fazermos qualquer esforço…
M.L: Sendo historiadora, na sua opinião, acha que as
gerações mais novas interessam-se, hoje em dia, pelos acontecimentos históricos
ocorridos no passado?
M.G.F: Sim, muito. E
espero que as novas gerações façam uma revolução na disciplina da História que
continua muito pesada e académica. As novas tecnologias têm contribuído muito para
“contar” a História de uma maneira mais lúdica e menos pesada. Não basta saber a
data do móvel e o seu estilo, porque o que deve chegar ao público é que aquele
móvel era usado numa época específica por aquelas pessoas. E que aquelas
pessoas pensavam de certa forma e viviam de certa maneira. É nas pessoas que
deve estar a tónica e não em pequenos apontamentos. Os nossos museus precisam
de se reestruturar, mas, lentamente, estão a fazê-lo. Veja-se o caso da exposição
de Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda. Este é o caminho que devemos seguir.
M.L: Recentemente, lançou o livro “Marisa’s Beautiful
World” que junta uma série de textos publicados no seu blogue com o mesmo nome.
Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?
M.G.F: Porque me sugeriram
e eu aderi à proposta da Chiado Editora. E o livro é um melhor veículo que o
blogue. Está sempre acessível, podemos levá-lo para todo o lado. E o prazer de
ler um livro é insubstituível.
M.L: Esta experiência despertou-lhe o interesse de
prosseguir uma carreira como escritora?
M.G.F: Ainda não sei…
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
feito até agora?
M.G.F: Faço o balanço que
a minha geração também faz. Não nos deixam ser mais, temos de furar barreiras.
Às vezes estamos melhor, mas nunca estamos seguros.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.G.F: Mudar o Mundo.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
M.G.F: Se mudar o Mundo, a
minha vida também muda. E continuo a não ter vontade nenhuma de mudar o sofá. O
que eu quero mesmo é mudar o Mundo.ML
domingo, 22 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... Pedro Horta
Olá. A próxima entrevista é com o realizador Pedro Horta. Desde muito cedo que se interessou pelo cinema, tendo estado a desenvolver uma promissora carreira como realizador. Cinéfilo convicto, admira, especialmente, Stanley Kubrick, Steven Spielberg, James Cameron, Alfred Hitchcock e Ridley Scott, e, atualmente, é realizador e guionista da longa-metragem de terror "O Que os Olhos Não Vêem", da qual é protagonizada por Sofia Reis, Sara Quintela, Lourenço Seruya, Marta Taborda e João Roncha, e tem estreia prevista para 2014. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 12 de Setembro.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
P.H: Quando vi o
“E.T.-O Extra-Terrestre” (1982) no Cinema Mundial em Lisboa com 4 ou 5 anos,
fiquei tão impressionado com o filme e com a magia do Cinema que, em criança,
pegava na câmara Super 8 do meu pai e simulava que fazia filmes e telejornais.
Todo o meu percurso na infância foi feito de idas aos videoclubes para alugar
filmes, em casa via-os de trás para a frente para entender como se faziam os
planos e as cenas.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
realizador?
P.H: As minhas
influências são variadas, mas admiro, especialmente, o (Stanley) Kubrick, o
(Steven) Spielberg, o James Cameron, o (Alfred) Hitchcock e o Ridley
Scott.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou até agora,
durante o seu percurso como realizador?
P.H: A minha 2ª
curta-metragem feita no 1º ano de Faculdade, chamada "Para Lá da Linha",
porque me permitiu explorar diversas técnicas de camerawork, blocking e mise en scéne. Também foi o meu primeiro
trabalho como realizador, que me permitiu visionar com prazer como sendo
espectador.
M.L: Atualmente, é realizador e guionista da
longa-metragem “O Que os Olhos Não Vêem”, da qual é protagonizada por Sofia
Reis, Sara Quintela, Lourenço Seruya, Marta Taborda e João Roncha. Como está a
correr este trabalho?
P.H: Estão a
correr muito bem, melhor do que eu esperava. Obviamente que, sendo um filme
independente, tem as dificuldades normais de produção, para que cada dia de rodagem
seja alavancada com o propósito que tudo corra bem no set. Também estou contente pelo facto de tudo o que meti em papel,
seja o argumento e storyboard, esteja
a sair igual na câmara.
M.L: Como é que surgiu a ideia de fazer esta
longa-metragem?
P.H: Surgiu a
partir de uma ideia que tive para uma curta-metragem extracurricular, sobre uma
rapariga que está a ser perseguida por algo ou alguém, dentro da própria casa e
sem escapatória possível.
M.L: “O Que os Olhos Não Vêem” é uma longa-metragem de
terror. Quais foram as longas-metragens de terror que viu e que o marcaram, até
agora, ao longo da sua vida?
P.H: Inúmeras.
Principalmente, quando era criança, nos anos 80. O meu pai alugava filmes de
terror como a saga "Sexta-Feira 13", "Halloween" (1978) e
diversos slashers americanos. Ele
esquecia-se de os esconder e eu via-os sozinho em casa. No fundo, sem querer, o
meu pai deu-me imensa cultura fílmica para eu absorver.
M.L: Como é trabalhar com o elenco?
P.H: Muito bom. Damo-nos
todos muito bem e fazemos a rodagem de uma maneira muito profissional, nunca
abdicando de uma boa disposição entre os takes,
de forma a suavizar o stress da rodagem.
M.L: Como vê, atualmente, o Cinema, em termos gerais?
P.H: Vivemos numa
época de falta de ideias novas, de remakes
e de sequelas. Esta década corre o risco de ser apelidada, no futuro, de
década dos remakes ou década híbrida,
em contraponto com as gerações anteriores, que sempre foram marcadas por um
estilo ou género. O uso abusivo do CGI no Cinema, também não é positivo, porque
os filmes deixam de ser criados pelo realizador, para passarem a ser filmes
executados pelos técnicos de efeitos especiais, portanto deixam de ter a marca
do realizador. Acho que, no entanto, o Cinema vai acabar por voltar às bases,
com a história e a execução técnica e artística por parte do realizador, como
sendo o alicerce principal da construção de um filme. Não se aguenta, por muito
mais tempo, orçamentos de 150 milhões de dólares num
filme.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
P.H: É um dos
meus grandes sonhos. Mas, primeiro, gostava de deixar a minha marca como
artista no meu próprio país, de conquistá-lo através dos meus filmes e
depois, se for possível, aí sim vou para o estrangeiro e levo a bandeira de
Portugal.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do Cinema?
P.H: Um dos
conselhos que posso dar é que estudem, que se formem em Cinema ou que, pelo
menos, tentem, porque embora o Cinema seja uma Arte democrática, não é muito
diferente de ser médico ou engenheiro. Exige um know-how gigantesco que não se aprende por si só de câmara nas mãos.
Aos que não têm possibilidades financeiras de tirar o curso, leiam livros
técnicos de Cinema e vejam muitos filmes de trás para a frente. Estudem os
grandes mestres como Kubrick, Orson Welles, Billy Wilder ou Hitchcock, é neles
que se pode encontrar uma grande base de inspiração. O Cinema não é pegar numa
câmara e faz-se uma obra-prima, há toda uma filosofia, uma técnica e uma
estética para serem aprendidas. Nunca desistam, se é mesmo esse o sonho, há que
ser obcecado e tentar de novo após o erro.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como realizador?
P.H: Sustentado,
com um passo de cada vez. Julgo ter, até agora, um percurso coeso, tentar
sempre evoluir para o próximo patamar.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.H: Eu e a atriz
Sofia Reis (que tem um dos papéis principais neste filme) estamos a pensar em
fazer um drama musical com música Pop
ao estilo de "Flashdance" (1983), "Footloose-A Música Está do
Teu Lado" (1984) ou "All That Jazz-O Espetáculo Vai Começar"
(1979). Mas também penso noutras coisas como alta fantasia e ficção científica
de terror.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.H: Tanta coisa,
tenho muitos sonhos para serem concretizados.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
P.H: A nível
de trabalho, gostaria que surgissem mais apoios financeiros de privados, porque
fazer um filme dá muito trabalho, e os apoios seriam excelentes.ML
sábado, 21 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... Attílio Riccó
Olá. A próxima entrevista é com o realizador brasileiro Attílio Riccó. Pai do também realizador Rodrigo Riccó, desde muito cedo que se interessou pelo audiovisual, tornando-se num dos mais respeitados realizadores do meio audiovisual lusófono, com um percurso que passa, essencialmente, pela televisão (onde trabalhou em produções como "Os Imigrantes" (TV Bandeirantes), "Amor com Amor Se Paga" (TV Globo), "Pantanal" (TV Manchete), "Nunca Digas Adeus" (TVI), "Sonhos Traídos" (TVI), "Morangos com Açúcar" (TVI), "Inspetor Max" (TVI), "Floribella" (SIC), "Vingança" (SIC), "Rebelde Way" (SIC), "Sedução" (TVI) e "Louco Amor" (TVI). Vive, atualmente, em Portugal, e também têm experiência no teatro como encenador, e foi diretor artístico da extinta TV Manchete, e um dos seus sonhos é montar, em Portugal, a peça "Trair e Coçar É Só Começar", que está em cena no Brasil desde 1986, da qual encena, e é, no Livro do Guinness, a segunda peça com maior duração em cena do Mundo. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 30 de Junho.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
A.R: O meu Pai tinha
cinemas, com 13 anos já trabalhava num. Imagina...
M.L: Como realizador, trabalha, essencialmente, na Televisão.
Gostava de ter trabalhado no Cinema?
A.R: Além da Televisão,
sempre encenei muito Teatro. Por falta de oportunidade, ainda não fiz Cinema, a
não ser publicitário, e como ator num único filme.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como realizador?
A.R: São muitos e muitos
trabalhos em 45 anos de ficção. Talvez o "Pantanal" (TV Manchete) ou
o "Éramos Seis" (a primeira versão na TV Tupi) ou o “Amor com Amor Se
Paga” (TV Globo). Portanto, muitos marcaram a minha carreira, alguns até com o
Prémio APCA, de melhor Diretor do ano.
M.L: Em 2002, corealizou a telenovela “Sonhos Traídos”
que foi exibida na TVI e protagonizada por Cristina Carvalhal, Mafalda Vilhena,
Susana Arrais e Danae Magalhães. Que recordações guarda desse trabalho?
A.R: Ficou as saudades de
um belo trabalho e de um maravilhoso elenco.
M.L: Como vê, atualmente, a ficção nacional?
A.R: Poderia estar bem
melhor em vários aspetos. Devemos levar mais em consideração que a atual
CRISE também vêm afetando a ficção, principalmente, no que diz respeito à
produção.
M.L: Vive em Portugal, mas nasceu no Brasil. O que o
levou a querer viver em Portugal?
A.R: Fui convidado para
realizar "Nunca Digas Adeus" (TVI). Vim, gostei e fiquei.
M.L: Como vê, hoje em dia, Portugal, em termos
artísticos?
A.R: Portugal sempre teve
e sempre terá, uma grande importância no meio artístico internacional.
M.L: É pai do também realizador Rodrigo Riccó. Como vê
o percurso que o seu filho tem feito até agora?
A.R: Gosto da evolução do
Rodrigo, a cada trabalho que realiza, seja ficção ou entretenimento. Tenho
muito orgulho.
M.L: Também têm experiência no Teatro como encenador.
Entre a realização e a encenação, em qual destas funções em que se sente
melhor?
A.R: Na televisão, estou
totalmente à vontade. São, realmente, muitos anos. Sinto a falta de encenar
mais peças de teatro. No Brasil, eram, pelo menos, 5 por ano, aqui devo ter
encenado 5 em 12 anos.
M.L: Foi diretor artístico da extinta TV Manchete. Que
recordações guarda do tempo em que exerceu o cargo?
A.R: A Manchete foi uma
experiência marcante na minha vida profissional.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na realização?
A.R: Em primeiro lugar, que
tenham o curso de dramaturgia. Realizar não é só marcar os atores em cena. É,
principalmente, dirigir os atores em cena. Motivo pelo qual, no Brasil, somos
Diretores e não realizadores.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como realizador?
A.R: Em Televisão, por
tudo o que fiz, por tudo o que ganhei, por tudo o que aprendi e contínuo
aprendendo.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.R:
Um dos meus sonhos é montar, em Portugal, a peça "Trair e Coçar É Só
Começar". Em cartaz há 27 anos no Brasil, com minha Direção, na qual já
nos deu alguns prémios, homenagens e somos, no Livro do Guinness, a segunda
peça com maior duração em cartaz do Mundo.ML
domingo, 15 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... Paula Oliveira
Olá. A próxima entrevista é com a cantora Paula Oliveira. Desde muito cedo que se interessou pela música, tornando-se numa das mais reputadas cantoras de jazz portuguesas, tendo desenvolvido um interessante percurso como cantora. E além da música, também é professora, tendo sido professora de voz e de estilo e posteriormente diretora da Escola de Música do programa "Operação Triunfo" (RTP). Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 18 de Abril.
M.L: Quando surgiu o interesse pela Música?
P.O: Talvez na barriga da minha
mãe. Desde que me conheço que amo Música.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto cantora?
P.O: Tudo me influência na música, no ar,
no mar, na terra, na gente…
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como cantora?
P.O: Todos me ensinaram coisas.
Principalmente, sobre aquilo que devo ou não seguir, fazer...
M.L: Além da música, também é professora. Em qual
destas funções em que se sente melhor?
P.O: As duas implicam Música. Por
isso, a Música.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o
seu percurso como cantora?
P.O: Mais uma vez, todos. Cada momento
das nossas vidas é um pedaço de nós e isso, naturalmente, se reflete na nossa
história musical.
M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter
ficado lá?
P.O: Sim.
M.L: Como lida com o público que acompanha a sua
carreira há vários anos?
P.O: Com respeito, muito respeito!
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu
percurso como cantora?
P.O: Muitas. E isso é uma lista
muito vasta e profunda, não é possível resumir...
M.L: Como vê o futuro da Música, em termos gerais, nos
próximos anos?
P.O: O último verso do tema "No Teu
Poema " e que diz: "E um verso em branco à espera do… futuro."…
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na Música?
P.O: Força e “good luck” (“boa sorte”).
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora
como cantora?
P.O: É para continuar e seguir em frente.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.O: Também gostava de saber…
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.O: Ir à Lua!
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
P.O: Ganhar o Euromilhões!!!ML
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... José Vieira Mendes
Olá. A próxima entrevista é com o jornalista José Vieira Mendes. Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo, tornando-se num dos mais reputados jornalistas do meio jornalístico português, com um percurso que passa, essencialmente, na imprensa e na televisão. Foi diretor da "PREMIERE-A Revista de Cinema" (que existiu entre 1999 e 2012), entre 2009 e 2013 apresentou, na RTP Memória, "Noite de Cinema", um espaço que era dedicado à apresentação dos ciclos de cinema que o canal exibe aos fins-de-semana e entre 2000 e 2011 comentou, na TVI, a cerimónia de entrega dos Óscares. Realizou as curtas-metragens "Ó Pai, o que é a Crise?" (2012) e "Gerações Curtas" (2012) e está, atualmente, a terminar uma curta-metragem documental. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 3 de Junho.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
J.V.M: Desde criança que sempre quis
ser jornalista, mesmo contra a vontade dos meus pais e as oportunidades e
trabalhos diversos que me foram surgindo na vida. Na verdade, aprendi a ler
pelos jornais (e pelos livros aos quadradinhos), que o meu avô vendia na banca
dos jornais. O meu avô materno é aquilo que se chamava um ardina/jornaleiro. E
sempre sonhei 'aparecer' na televisão, pois adorava ver televisão, quando era
pequeno.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
J.V.M: São a História, a Literatura,
o Cinema e, claro, a Língua Portuguesa.
M.L: Trabalha, essencialmente, na imprensa e na
televisão. Qual destes meios de comunicação que mais gosta de trabalhar?
J.V.M: Gosto muito de fazer
televisão. Aliás para um tipo, de certo modo, tímido como eu, foi um grande
desafio. Sou, na essência, um homem da observação, da reflexão e da escrita.
Portanto, estou mais à vontade na imprensa. O jornalismo é feito, hoje em dia, nas
diversas plataformas, portanto estou a aprender, rapidamente, a lidar com todos
novos media, formatos, conteúdos, suportes,
redes sociais. Utilizo o Facebook para colocar as minhas crónicas e textos, por
exemplo.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
J.V.M: Foi a primeira cobertura que fiz
do Festival de Cannes em 2001, onde tive a sorte de entrevistar logo a Nicole
Kidman, a propósito do 'Moulin Rouge' (2001) do Baz Luhrmann. Senti que tinha
concretizado um sonho, pelo qual tinha lutado bastante. Estar em Cannes no
Festival!
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
J.V.M: É uma grande discussão.
Estamos num período de grande mutação nos media.
É preciso repensar o 'negócio'. Isto é, seja no papel, rede, televisão, quem
vai pagar essas tarefas de produzir e introduzir conteúdos. E quem, realmente, está
preparado para lhes dar credibilidade? Estes são os grandes paradoxos da
Comunicação Social atualmente...
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
J.V.M: De certo modo, acho que fiz uma
carreira internacional. Trabalhei, em Portugal, para um grande grupo de
comunicação francês: Lagardère Global Media (Hachette Filipacchi), enquanto Diretor
da “PREMIERE-A Revista de Cinema”. Graças à cobertura de festivais e
entrevistas, corri e conheci o mundo inteiro. Só para terem uma ideia: desde
Maio de 2012 até Maio de 2013, fiz 14 viagens internacionais, incluindo as
coberturas dos maiores festivais internacionais e depois ainda os festivais
nacionais. Quer dizer, passei bastante mais tempo fora do que em casa...
M.L: Qual é a personalidade do Cinema que gostava de
entrevistar no futuro?
J.V.M: Não tenho muito esse fascínio pelas estrelas como
alguns dos meus companheiros. Gosto muito de falar com realizadores, pois é uma
forma de aprender cinema. Mas não tenho nenhum em especial...
M.L: Desde 2000 que comenta, na TVI, a cerimónia de
entrega dos Óscares. Como vê, hoje em dia, a cerimónia?
J.V.M: Há duas edições que não comento
a Noite dos Óscares (2012 e 2013). Os Óscares perderam muito com a mediatização
dos outros prémios... Mas, apesar de tudo, continuam a ser os prémios mais
importantes da indústria do Cinema. As últimas edições têm tido altos e
baixos... Gostei muito da última e espero que, pelo menos, continuem a ser um
grande espetáculo de televisão.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
J.V.M: Não gosto de dar conselhos...
Mas creio que é uma profissão em grande mutação e não sei muito bem o que vai
acontecer... O futuro está, decerto modo, incerto para o jornalismo
tradicional... Se calhar vai-se chamar outra coisa qualquer: produtor de conteúdos???
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como jornalista?
J.V.M: Não gosto de fazer balanços da
minha vida, porque ainda tenho um longo percurso a percorrer. Posso dizer que quem
corre por gosto não cansa e gosto muito daquilo que faço, embora com todos os constrangimentos da
atualidade.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
J.V.M: É terminar uma curta-metragem documental que
iniciei, depois das duas que já realizei: 'Ó Pai, o que é a Crise?' (2012) e
'Gerações Curtas' (2012), a propósito dos 20 Anos do Curtas de Vila do Conde. E
continuar a fazer mais filmes...
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.V.M: Realizar uma longa-metragem de
ficção, a partir dos vários argumentos e sinopses que tenho escrito e arquivado
lá em casa, alguns sobre factos e histórias verídicas da nossa realidade. Também
gostava muito de programar um complexo de duas salas de (outro) cinema
alternativas e um canal de televisão só dedicado ao cinema.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
J.V.M: Gostava que houvesse mais
estabilidade económica, e que esta maldita crise que nos atormenta e cria incerteza
a todos, passe depressa. Quero lançar novos projetos, como os que referi acima.
Sou um empreendedor e um criador por natureza e temperamento.ML
domingo, 8 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... José Mussuaili
Olá. A próxima entrevista é com o jornalista José Mussuaili. Interessou-se, tardiamente, pelo jornalismo, tendo desenvolvido um curioso e interessante percurso como jornalista, da qual passa, essencialmente, pela rádio e pela televisão (é cofundador da TVI, onde trabalhou entre 1993 e 1998), e além do jornalismo, também é produtor, estando, atualmente, a dirigir a produtora Oásis Padrão, da qual é o fundador. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 6 de Agosto.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
J.M: O
meu interesse pelo jornalismo não foi imediato. Quando apareceram as rádios
privadas, eu fui convidado por um irmão mais velho que fazia um programa na
Rádio Opção, uma emissora com sede em Alhos Vedros. Era um programa de música
moderna portuguesa, sendo ele militar na Força Aérea, foi deslocado para a Base
das Lajes e a direção da rádio pediu-me para eu continuar o programa, enquanto o
meu irmão estivesse de serviço e a coisa correu tão bem que me ofereceram um
outro espaço: realizar um programa de música soul, pois era especialista. Passadas umas semanas, comecei a fazer
notícias, estudava à noite, foi o meu primeiro emprego. Com o fecho das rádios
para legalização, frequentei um curso no Cenjor. Passei por várias rádios como a
Rádio Margem Sul ou a Rádio Corridinho, e antes de ir para a TVI, ingressei na
Rádio A Voz de Almada.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
J.M: Tive várias
influências. Pessoas que, pelo seu percurso, se tornaram minhas amigas. Falo de
Francisco Sena Santos, José Rodrigues dos Santos, Rodrigo Guedes de Carvalho…
Na locução, a minha referência é Adelino Gonçalves!
M.L: Durante o seu percurso como jornalista,
trabalhou, essencialmente, na rádio e na televisão. Qual destes meios de
comunicação que mais gosta de trabalhar?
J.M: São
dois amores, mas o meu primeiro amor, em termos profissionais, foi a rádio, por
isso regressei à Rádio. Se fizer as duas coisas, melhor!
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
J.M: Tenho
vários, mas sempre tive uma grande paixão pela causa Timorense e acompanhei as
primeiras conversações em Londres e as reuniões da resistência em Portugal. Fui
o segundo Jornalista a entrevistar o D. Basílio do Nascimento, quando este
venceu o Prémio Nobel da Paz, em 2009 fui a Timor pela TV Record Internacional
e fiz a cobertura do 10º aniversário do referendo que deu a liberdade a
Timor-Leste.
M.L: É cofundador da TVI, onde trabalhou entre 1993 e
1998. Que recordações guarda do tempo em que trabalhou no canal?
J.M: Maravilhosas,
tenho grandes recordações. Foi uma grande escola, pois deu-me a oportunidade
para evoluir, profissionalmente, e descobrir a minha verdadeira vocação: jornalista
de TV. Aparecer como pivô foi um incidente, pois fui convidado por causa do
Miguel Ganhão Pereira, que estava doente, e então como fazia parte da equipa de
fim-de semana, avancei e correu bem!
M.L: A TVI celebra, este ano, 20 anos de existência.
Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
J.M: É
com alegria que vejo que a TVI, nesta altura, é líder de audiências. Mas acho
que não foi feita justiça a quem fundou o canal. Deu sangue, suor e lágrimas, alguns
de nós fomos injustiçados, mas a vida é assim. Parabéns TVI!!!
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
J.M: Estou
de regresso à Rádio, mas vejo com muita preocupação. Vê-se muita manipulação, os
jornalistas têm dificuldade em dizer a verdade, as empresas de comunicação
estão integradas em grupos económicos e estando o País como está, onde se
precisa de publicidade, como do pão para a boca, não se pode denunciar, pois
está-se a colocar em perigo a sobrevivência do órgão de Comunicação Social.
M.L: Além do jornalismo, também é produtor, estando,
atualmente, a dirigir a produtora Oásis Padrão, da qual é o fundador. Em qual
destas funções em que se sente melhor?
J.M: Olha,
se soubesse o que sei hoje, não me tinha metido nisto. É que gerir não é fácil
e, em tempos de crise, pior, mas vamos aguentar o barco. Um dia isto muda.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
J.M: Não
se metam nisto, o mercado está saturadíssimo. Existe agora o ciberjornalismo, é
uma alternativa, mas, se puderem, evitem vir para a nossa área.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como jornalista?
J.M: Apesar
dos pesares, de ter saído da TVI prematuramente, consegui fazer a minha
carreira. Com erros, mas consegui fazer o que queria. Olho para trás e vejo uma
carreira de que me posso orgulhar. Podia ter feito melhor, mas faço um balanço
positivo.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
J.M: Tenho
bastantes, mas, para já, quero resolver algumas questões pendentes, esperar que
o País melhore para retomar a produção de programas de TV. Para já, vou
apresentar um programa diário em Angola. A seu tempo terão conhecimento.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.M: Gostava
de apresentar um programa de entretenimento. Vou conseguir satisfazer esse
desejo.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
J.M: Não tenho muito para
mudar. Coisas pessoais que a idade já não o permite. Talvez o feitio, teimoso. Profissionalmente,
não teria tomado algumas decisões que se mostraram erradas. Vamos em frente.ML
sábado, 7 de setembro de 2013
Mário Lisboa entrevista... Anabela Mota Ribeiro
Olá. A próxima entrevista é com a jornalista Anabela Mota Ribeiro. Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo, tornando-se numa das melhores jornalistas da sua geração, com um percurso versátil que passa pela imprensa, pela rádio e pela televisão, e recentemente lançou o blogue "anabelamotaribeiro.pt" que é, em grande parte, constituído por entrevistas que tem feito ao longo dos anos. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 8 de Julho.
Fotografia: Clara Azevedo
M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
A.M.R: Não sei bem.
Olhando para trás, não é estranho que seja jornalista. Seria estranho se fosse
astrónoma ou bióloga. Gosto de ver as estrelas, ou o voo das aves, ou abraçar
árvores, ou apanhar pedras. Mas nunca os estudaria. O meu interesse é poético,
emocional, profundo. Com o jornalismo é, mais ou menos, a mesma coisa. Não o
estudei (estudei Filosofia, e de modo irregular, e tarde), mas ele interessa-me
muito, e deixa-se impregnar das muitas coisas que me interessam, e vai dar a
tantas mais... Gosto de pensar que os caminhos têm caminhos próprios (é mesmo
assim). Escolhemos uns e somos escolhidos por outros. Não sei bem por que vim
dar a este. Mas vim.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
A.M.R: Um nome apenas:
Clara Ferreira Alves. Muito inteligente, escrita elegante, plural. Claro que há
mais, mas fico-me por este. Basicamente, gosto de ler pessoas com as características
da Clara. Na televisão e na rádio, a mesma coisa.
M.L: Durante o seu percurso como jornalista, trabalhou
na imprensa, na rádio e na televisão. Qual destes meios de comunicação que mais
gosta de trabalhar?
A.M.R: Gosto mais da
escrita. É mais confortável ter tempo para pensar, escrever, repensar,
reescrever. Sem dúvida.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
A.M.R: Talvez o que estou
a fazer agora? Não tenho uma atitude saudosista em relação ao passado e olho
pouco para o que fiz. Prefiro pensar no que tenho para fazer. Vou pensando por
etapas, desafios que ponho a mim própria. Passo a passo.
M.L: Entre 2004 e 2006, apresentou o programa
“Magazine” que foi exibido na RTP2. Que recordações guarda desse trabalho?
A.M.R: Parece que foi há
uma eternidade! Não me acontece pensar muito nisso. Às vezes encontro pessoas
muito amáveis que me falam no programa e fico sempre um pouco surpreendida. Já
fiz tanta coisa, depois do “Magazine” que acho sempre que aquela não sou
completamente eu. Já não sou eu. Agora sou aquela e a que fui sendo. Era uma
vida muito diferente. Para começar, trabalhava fora de casa uma parte boa do
dia, e com pessoas, todos os dias. Agora trabalho em casa, sozinha. Prefiro
esta modalidade. Nada contra as pessoas com quem trabalhei! Mas estar no meu
ritmo, poder ouvir-me, encontrar as respostas, é o meu registo profissional
preferido. Não quer dizer que não possa, episodicamente, ter outros.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
A.M.R: Ui... O país está
em fanicos, não é? A Comunicação Social não está pior do que a privatização dos
CTT ou as ações do BCP, pois não? Como sempre e em todo o lado: há coisas boas
e más, gente boa e gente má. Lamento que haja tão pouco dinheiro para fazer uma
reportagem ou que se pague pouco por uma entrevista que demora, tudo somado, uma
semana a fazer. Mas preocupam-me mais os números do desemprego.
M.L: Recentemente, lançou o blogue “anabelamotaribeiro.pt”
que é, em grande parte, constituído por entrevistas que tem feito ao longo dos
anos. Como é que surgiu a ideia de criar este blogue?
A.M.R: Algumas pessoas que
me são próximas insistiram comigo. E eu pensei que talvez valesse a pena ter
todo o meu trabalho disponível e sistematizado. A explicação toda está aqui: http://anabelamotaribeiro.pt/14906.html.
M.L: Como tem sido a reação do público ao seu blogue
até agora?
A.M.R: A
reação tem sido espantosa! Comovente, até. Percebo que há pessoas que me leem
há anos e que o meu trabalho (é mais o que os meus entrevistados dizem...) as
toca. Eu entrego-me muito ao que faço, tento fazê-lo o melhor possível, mas
como vivo fechada em mim às vezes esqueço-me da reverberação que estas palavras
têm lá fora... Obrigada.
M.L: Qual é a Personalidade (de qualquer área) que
gostava de entrevistar no futuro?
A.M.R: Ninguém em especial
e toda a gente. Já entrevistei muita gente e tenho muita gente para
entrevistar. Nunca tenho expectativas extraordinárias. Como explico no blogue,
aprendi que estima e admiração são coisas diferentes. Ou seja, as pessoas que
estimo podem não ser aquelas que quero entrevistar...
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
A.M.R: Trabalhar,
trabalhar, trabalhar. Ter foco, determinação, disciplina férrea. Ler, ler, ler.
E tentar pensar sem preconceitos. Aprender a ouvir, realmente, o que o outro
está a dizer.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como jornalista?
A.M.R: Meu caro, desculpe,
mas não sei responder a isso... Balanço: como todos. Às vezes corre mal, outras
vezes corre melhor. Tudo isso faz parte. Sem dramas.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.M.R: Quero consolidar o
trabalho do blogue. A minha intenção é disponibilizar todos os dias um conteúdo
novo. Tenho centenas. Ao mesmo tempo pretendo agilizar este processo. Noutra
frente, estou a fazer o mestrado em Filosofia. Concluí-lo vai ser uma das
prioridades dos próximos meses.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.M.R: Gostava de fazer
melhor o que faço. Essa é a ambição. No capítulo dos sonhos: escrever melhor,
cantar, fazer filmes, dar saltos para a piscina (é a melhor parte dos Jogos
Olímpicos: ver saltos para a água).
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
A.M.R:
Eu gostava mais que mudassem coisas cá fora, no país, que na minha vida. A
minha vida corre muito bem, obrigada.MLFotografia: Clara Azevedo
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