M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.M.V: Quando era pequena
queria muito ser agente secreta. Fascinava-me poder ser uma pessoa diferente
todos os dias, com um emprego diferente todos os dias, com um corte de cabelo
diferente todos os dias, pelo menos era isso que eu achava que se passava.
Depois com o tempo percebi que não queria dar tiros a ninguém nem andar a fugir
de tiros, então achei que ser actriz era mais seguro e tinha todas as vantagens
na mesma.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto actriz?
S.M.V: Acho que ainda sou
muito inexperiente para responder a essa pergunta. As minhas influências, para
já advêm de tudo o que vi os meus pais fazerem e o que os meus professores me
ensinaram.
Enquanto espectadora, prefiro
estilos de encenação como os do Ávila Costa e tenho vários cineastas que admiro
muito.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
S.M.V: Nunca fiz teatro
sem ser quando fiz formação, mas é sem dúvida o estilo que me dá mais
adrenalina. Sempre tive presente em mim que o que queria mesmo fazer era
cinema, mas o teatro dá-nos a volta, é viciante.
M.L: Entre 2010/12, participou na série “Lua Vermelha”
que foi exibida na SIC, na qual interpretou a personagem Maria do Céu Lage.
Que recordações guarda desse trabalho?
S.M.V: Uma
personagem que me é muito querida, muita aprendizagem especialmente em termos
de luz e som que não tinha noção antes de fazer televisão, alguns colegas com
quem falo ainda hoje. Mas a melhor parte do projecto era a equipa técnica,
desde realizadores aos técnicos de som, dos operadores de câmara aos directores
de actores, sentia-se uma segurança e companheirismo incríveis.
M.L:
Como vê, actualmente, o teatro e a ficção nacional?
S.M.V: Não
posso falar muito, pois estive fora do país dois anos. Gostava que o teatro
tivesse mais público, temos profissionais inacreditáveis neste país e a falta
de público gera falta de trabalho obviamente.
M.L:
É filha dos actores Luís Vicente e Alexandra Diogo. Como vê os respectivos percursos
que os seus pais têm desenvolvido até agora?
S.M.V: Foram
dois percursos muito diferentes, quase incomparáveis, mesmo. Sempre tive muito
orgulho de ver o meu pai em palco, ainda hoje fico com pele de galinha, e mesmo
como encenador as escolhas cénicas dele sempre me fascinaram. Admiro-o muito.
A minha mãe teve um
percurso mais complexo e ficou alguns anos sem trabalho, mas vi-a renascer na
Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva que, apesar de ter as dificuldades
económicas, infelizmente, inerentes a companhias de teatro, funciona com
condições inacreditáveis. Funcionam como uma equipa, os actores são bem
tratados e é-lhes dada a oportunidade de crescerem e fazerem um bom trabalho
sem pressões desnecessárias. Foi o que aconteceu com a minha mãe, atingiu a
excelência, já por várias vezes. Aconteceu o mesmo com o actor Pedro Cardoso,
que sempre achei um bom actor, mas quando trabalhou com o Chão de Oliva
tornou-se excelente.
M.L:
Viveu em Inglaterra, durante 2 anos. De que forma esta experiência foi
gratificante para si em termos culturais?
S.M.V: Apercebi-me
que a Cultura pode gerar dinheiro além de ser a melhor forma de educação e formação
pessoal que existe no Mundo, em Inglaterra às vezes sabem melhor os nomes dos
escritores das peças e encenadores do que dos actores. Eu pensava que o amor à
Arte deveria chegar, mas de facto não põe pão na mesa, e toda a gente precisa
de comer.
Dito isto, lembro-me de
estar no local pub, The Lyceum Tavern,
com os meus amigos e de me sentar, impulsivamente, numa mesa com um grupo de
homens com um aspecto suspeito. Descobri que eram os performers de Covent Garden, os que fazem os espectáculos todos
para os turistas, desde magia a pequenos truques de circo fazem tudo! Foram das
pessoas mais interessantes com quem falei até hoje, pela humildade com que
falavam do amor à Arte, do que significa para eles representar, da importância
artística no dia-a-dia e, essencialmente, de tudo aquilo que move um actor sem
ordenado e sem fama.
M.L:
Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na
representação?
S.M.V: Esta
pergunta já me foi posta várias vezes e acho que nunca soube bem o que dizer. É
uma profissão que pode parecer fácil e muito atraente, especialmente para
jovens, mas que necessita de um grande amor para se ser insistente. Portanto,
se é por amor: persistência. Se não há amor, não o façam.
M.L:
Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como actriz?
S.M.V: Pequeno,
quero mais. Muito mais.
M.L:
Quais são os seus próximos projectos?
S.M.V: Como actriz
não tenho nenhum em vista. Vou trabalhar fora do palco numa companhia
portuguesa, mas como o projecto ainda não está “a andar” preferia não dar dados
nenhuns, para já.
M.L:
Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua
vida?
S.M.V: Uma
heroína feminina de (William) Shakespeare, qualquer uma nem me importa qual.
Mas tenho preferência pela Hero de “Muito Barulho por Nada” ou Viola de “A
Décima Segunda Noite”.ML
A pedido da entrevistada, esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.
Fotografia: José Pinto Ribeiro
Fotografia: José Pinto Ribeiro
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