M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
D.R: Foi por acaso. Foi quando comecei a ser produtora. Eu já tinha cerca de 30 anos, nunca me tinha passado pela cabeça, e pediram-me ajuda para produzir um anúncio, onde entravam alguns dos meus filhos como atores, e eu comecei a ajudar na produção e senti-me completamente à vontade. Percebi que tinha jeito, e depois começaram a investir em mais coisas, e quando dei por isso já estava a trabalhar como produtora na Miragem (atual Hop Filmes).
M.L: Quais são as suas referências nessa área?
D.R: Talvez tenham sido os
trabalhos que eu fiz primeiro na Miragem como produtora. Também um programa,
“Clube dos Totalistas” (RTP), onde eu fazia tudo praticamente sozinha, que era
muito giro, com a minha querida amiga Cristina Esteves, e que era sobre as pessoas que ganhavam o
Totoloto e aquilo que elas faziam com o dinheiro. Foram bastantes naquela
altura. Depois disso, as minhas referências, em termos audiovisuais, são boas
séries portuguesas e estrangeiras, bons filmes, etc.
M.L: De tudo o que tem feito até agora a nível
profissional, qual é a parte do seu percurso que guarda com muita estima?
D.R: É muito difícil. Eu
adorei os meus anos na Miragem. A seguir, fiz produção de novelas na antiga
NBP. Fazia também produção de publicidade na Nova Imagem e depois na Show Off
Films que era parte da produção da Nova Imagem. Na verdade, eu posso dizer-te
que cada vez que eu estava bastante tempo a fazer novelas, tinha saudades da
publicidade. Quando eu estava a fazer publicidade durante um tempo, ficava com
saudades de fazer novelas/ficção. Portanto, alternava entre as duas coisas
sempre com muito prazer.
M.L: Que recordações guarda do tempo em que trabalhou
na NBP (atual Plural Entertainment Portugal)?
D.R: Eu adorava. Ainda estão
lá pessoas que trabalharam comigo naquele tempo, e fiquei com amigos para toda
a vida que, entretanto, até encontro noutras produções e noutras coisas, e
agora, como agente, vou encontrando nas produtoras que contratam os nossos
atores e até, às vezes, quando vêm ao Porto trabalhar.
M.L: Nasceu em Lisboa e vive no Porto desde os dois
anos de idade. Como olha, hoje em dia, para a cidade?
D.R: Eu gosto do atual
Presidente da Câmara (Rui Moreira), porque é uma grande mudança e uma grande
evolução em relação ao anterior, em termos culturais. Tivemos muita sorte,
porque, neste momento, o Rui Moreira é um homem verdadeiramente interessado na
cultura da cidade ao contrário do que era o Rui Rio. Portanto, é uma lufada de
ar fresco e estou muito contente com o que se tem passado e espero que se
continue a passar durante mais tempo e que isto seja só o início. A cidade está
a crescer e isso nota-se. As pessoas estão mais evoluídas, têm mais acesso à
cultura e acontecem mais coisas. Há uma coisa muito importante que eu gostava
de enaltecer que são as nossas escolas de teatro, de cinema. Muito boa gente
sai daqui para ir trabalhar por este país fora, e há muito boas escolas e muito
boa formação.
M.L: Co-fundou a agência/produtora Agente a Norte que
iniciou a sua atividade em Novembro de 2014. Como é que tem sido para si a sua
evolução?
D.R: Nós temos feito tudo o
que podemos para chamar a atenção para os atores do Norte do país, a todos os
níveis. Já conseguimos muito, já conseguimos, pelo menos, centralizá-los aqui,
portanto quando alguém vem filmar ou fazer qualquer coisa ao Porto sabe que na
Agente a Norte encontra bons atores e que vale a pena conhecer e isso não
existia. Por outro lado, também tentamos levá-los para fora desta centralização
e deste mundo pequenino que é o Porto e dá-los a conhecer ao resto do país e
aos poucos temos conseguido. A generosidade dos atores do Porto é muito grande,
é diferente, portanto eles levam-se uns aos outros e a certa altura fazem mesmo
questão de conversarem entre eles quando estão nas suas produções, de darem a
conhecer os colegas, de falarem sobre os colegas. Essa rede de contactos acaba
por ser muito importante e estabelece aqui uma rede que ajuda todos.
M.L: Iniciou o seu caminho artístico aos 30 anos. Qual
foi para si a parte boa ou menos boa que foi determinante para este caminho?
D.R: É engraçado que me
perguntes, porque a parte menos boa foi uma parte antes de criar a Agente a
Norte, onde eu estive parada. Trabalhava numa empresa e não correu bem. Era
empregada e fiquei sem saber o que fazer e, parecendo que não, às vezes esse
impasse dá origem a qualquer coisa muito boa e neste caso foi a Agente a Norte.
Foi o não saber o que fazer e haver uma paragem na vida. De repente, há um
estalido e vamos mudar de rumo e vamos fazer outras coisas. E mudamos eu e a
Marta (Lima) e resolvemos montar a agência que nos dá um gozo enorme, porque na
verdade é um sonho. Significa que podemos fazer a diferença e isso é muito bom.
Mas, acima de tudo, porque continuamos a poder fazer os nossos trabalhos de
produção e a agarrar trabalhos de produção, que também é um gozo, porque não
precisamos de deixar de fazer umas coisas para fazer outras.
Marta Lima & Diana Roquette |
M.L: É mãe do ator Pedro Roquette. Sendo mãe e também
agente dele, sente-se aliviada pelo que o seu filho tem feito até agora?
D.R: Sim, claro que gostava
que ele fizesse muito mais, mas também gostava que todos os outros agenciados
fizessem muito mais. Mas o facto de ter um filho ator e o facto da Marta ter um
marido ator (Pedro Frias), ajuda-nos muito a perceber quais são os verdadeiros
problemas que eles têm e também ter a visão deles das coisas. Não ser só uma
visão económica ou eventualmente uma visão de produção e de produtora. Em
relação ao Pedro, ele é sempre um orgulho, mas é um orgulho como filho e é um
orgulho como um todo.
M.L: Assumiu diferentes funções no meio audiovisual.
Gostava de um dia assumir, por exemplo, a realização ou a escrita?
D.R: A escrita mais um
bocadinho, porque gosto de escrever, mas não me imagino a escrever um argumento
com pés e cabeça e com bons diálogos. A realização também não. Acho que como
produtora tenho um espírito super-prático, portanto dificilmente teria a
criatividade que se exige num realizador. São atos completamente diferentes.
Acho que a minha capacidade é tornar possível o que o realizador imagina. Ele conta
o que imagina e nós, com o nosso espírito pragmático, tentamos pôr aquilo em
prática. É muito mais essa a minha função.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira artística?
D.R: Que se prepare para
ouvir muitos “nãos”, que se prepare para ter muitas desilusões, e que seja
muito resiliente, persistente e capaz de se levantar todos os dias com um ânimo
diferente.
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
desenvolvido até agora?
D.R: Eu já passei por tantas
fases diferentes na vida que acho que francamente tive um bom percurso e uma
boa vida profissional. Acho que foi muito interessante e que dificilmente
imaginaria quando comecei que poderia ser tão interessante, portanto estou
contente.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
D.R: O que eu adorava neste
momento era que a agência tivesse o maior sucesso e que os nossos atores
conseguissem todos mostrar o seu talento por este mundo fora e por este país
fora e que fossem reconhecidos. Isso seria altamente gratificante.ML
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