M.L: Como é que está a correr o espetáculo “Sombras”?
E.S: Está a correr muitíssimo bem. Temos tido sempre as casas esgotadas desde que estreamos e o público adora. Mal acaba o espetáculo levantam-se aos bravos, portanto está a correr muito bem.
M.L: Quais são os locais que o espetáculo vai passar?
E.S: No próximo fim-de-semana, vamos estar em Guimarães. Depois vamos estar em Viseu, Lisboa, Aveiro, Portimão, Paris, Rio de Janeiro e São Paulo e portanto estas é que já estão confirmadas. Entretanto, estão em negociações para irmos também a Itália e a Madrid.
M.L: O que a levou a aceitar o convite para participar no espetáculo?
E.S: Eu já trabalho com o Ricardo Pais no (Teatro Nacional) São João há muitos anos, desde que o Ricardo veio para cá e tomou posse em 1996. Eu comecei a trabalhar com ele e criamos uma cumplicidade muito grande e entendemos muito bem. O Ricardo entendeu que devia fazer parte do espetáculo e com todo o gosto.
M.L: “Sombras” é encenado por Ricardo Pais com quem já trabalhou anteriormente. Como é trabalhar com ele?
E.S: Eu gosto imenso. Ele é uma pessoa muito rigorosa e que traz o trabalho muitíssimo preparado ainda antes de começarmos os ensaios, mas ao mesmo tempo dá-nos imensa liberdade para criar e portanto há uma segurança que ele nos transmite, porque sabe muito bem daquilo que quer do espetáculo, sabe o que quer atingir, tem o trabalho muito adiantado e portanto isso dá-nos muita segurança, mas ao mesmo tempo também sentimos que temos liberdade para interferir nessa coisa já muita preparada e que temos voar e também fazer as nossas propostas, porque o Ricardo acolhe-as muito bem. Claro que isso tem muito a ver com o fato de trabalhamos juntos há muito tempo e haver um entendimento daquilo que um espetáculo deve ser, quando se apresenta a um público, portanto é isso.
M.L: Como classifica este espetáculo?
E.S: Eu costumo dizer que nos faz bem à alma portuguesa, porque numa altura destas em que estamos todos tão em baixo por causa da crise, mais isto e mais aquilo e que está sempre tudo a puxar para baixo da nossa boa disposição, este espetáculo apela àquilo que os portugueses, a alma portuguesa e a identidade portuguesa tem de bom e de mau e portanto junta a isso tudo, mas não é um espetáculo lamechas, saudosista de tudo. É um espetáculo muito positivo em tudo aquilo que aborda e nos caminhos que dá a conhecer ao público. É por isso que eu acho que para além de ser muito divertido faz-nos bem, dá-nos uma energia positiva neste momento que é muito importante.
M.L: Antes de “Sombras” protagonizou a peça “Dueto por Um” juntamente com Jorge Pinto que esteve em cena no Teatro Carlos Alberto há pouco tempo e que marcou o regresso de ambos à companhia Ensemble-Sociedade de Atores que fundaram e que ainda dirigem. Que balanço faz da sua participação nesta peça?
E.S: Essa peça era para ser feita há um ano atrás. Foi uma peça que eu descobri e quando eu vi fiquei absolutamente fascinada com o tema e achei que era um trabalho muito interessante para a nossa companhia fazer e depois tinha essa particularidade de sermos os dois fundadores do Ensemble e estarmos os dois em cena com um texto belíssimo de um inglês (o Tom Kempinski) e que guarda uma temática muito forte que é a noção do humano e daquilo das perdas que o Homem tem e que muitas vezes damos demasiada importância às pequenas perdas e esta peça é baseada na história da Jacqueline du Pré que era uma violoncelista extraordinária e que no pico da carreira soube que tinha esclerose múltipla e portanto isto não é uma biografia da Jacqueline du Pré. É uma história inspirada nisso, mas neste caso é uma violinista que tem as suas consultas com um psiquiatra que a vai ajudar a encontrar um novo caminho para a vida, porque ela soube que não pode voltar a tocar violino, porque tem esclerose múltipla, portanto é uma temática muito humana, muito forte que nos interessou muito a fazer e que correu muito bem.
M.L: Em “Dueto por Um” interpretou Stéphanie, uma conhecida violinista que devido a uma esclerose múltipla fica agarrada a uma cadeira de rodas e que durante a peça está em conflito com o seu psiquiatra que foi interpretado por Jorge Pinto. Como classifica esta personagem?
E.S: É uma personagem cheia de contradições e que à partida ela não quer ser vítima da sua própria condição de doente e que recusa permanentemente de mentir e começa por dizer que tem tudo controlado, que vai dar aulas, que vai ajudar o marido, etc. E portanto, o público assiste ao longo de seis sessões que ela tem com o psiquiatra é ao desmoronamento de toda esta capa e desta fachada que ela traz na primeira consulta até ao ponto de ela se confrontar verdadeiramente com a situação em que está e tentar (interiormente e não exteriormente) arranjar um sentido para a sua vida. A peça fica em aberto, nós não sabemos o que é que ela vai fazer, não sabemos se ela vai-se suicidar ou se conseguiu arranjar um sentido para a vida dela, mas é ainda mais interessante deixar em aberto e o público especular sobre aquilo que lhe vai acontecer.
M.L: A peça foi encenada por Carlos Pimenta. Como foi trabalhar com ele?
E.S: É otimo. Nós já fizemos vários trabalhos anteriores com o Carlos Pimenta e entendemos muito bem. O Carlos tem um tipo de direção de atores que me agrada muito, porque é muito tranquilo, é muito rigoroso e dá-nos imensa margem de manobra para trabalharmos, porque confia muito nos atores e não é muito impositivo. Nós às vezes nem sempre que ele nos está a dirigir, mas na verdade ele está e tem sobretudo uma noção da encenação do espetáculo em função dos atores, o que é sempre muito bom.
M.L: Atualmente participa na telenovela “Laços de Sangue” (SIC) que marca a sua estreia nas telenovelas. Como estão a correr as gravações?
E.S: Muito bem, estou a divertir-me imenso. É uma experiência que não tinha, já tinha trabalhado em televisão, mas nunca tinha trabalhado numa novela. Eu tive muita sorte, porque este projeto foi encarado pela SIC e pela SP Televisão de uma forma muito particular e muito cuidada. É uma parceria com a (TV) Globo e portanto há muito cuidado, não só na escolha do elenco, mas nos textos, nos décors, etc. Portanto, acho que tive mesmo muita sorte e é um trabalho em que há muito bom ambiente, as pessoas sabem que são profissionais e tem de decorar aquele texto e de chegarmos lá e fazer, mas temos sempre ensaio antes e ainda antes de iniciar a novela tivemos um mês e meio de ensaios com uma diretora de atores da Globo (Laís Corrêa) que esteve a trabalhar nos grupos, nos familiares e isso dá-nos muita segurança, quando começamos a gravar, portanto está a ser uma experiência muito interessante.
M.L: O que a levou a aceitar o convite para integrar o elenco da telenovela?
E.S: A SP Televisão convidou-me. Na altura, eu disse-lhes que eu não tinha disponibilidade, porque tinha o “Dueto por Um” e o “Sombras” para fazer e andava em digressão com o “Antígona” que tinha feito e portanto tinha o meu tempo completamente organizado em função desses dois espetáculos que ia fazer. Entretanto, eles foram muito simpáticos e de fato deviam querer mesmo que eu entrasse, porque me disseram: “Diga quando é que estará livre?”, “Que dias é que tem livre para que possa vir gravar em Lisboa?” e estive a fazer o meu calendário e então combinamos que à segunda e à terça-feira eu vou lá a gravar e quando vou é evidente que gravo muitas cenas para adiantar serviço, mas foi isso. Eles foram tão simpáticos em conseguir em adaptar às minhas próprias indisponibilidades que só podia dizer que sim.
M.L: Em “Laços de Sangue” interpreta Francisca, a mãe do protagonista interpretado por Diogo Morgado cuja a filha mais nova e o pai (que foram interpretados respetivamente por Maria Botelho Moniz e por Sinde Filipe) morrem nos primeiros episódios. Como classifica esta personagem?
E.S: É uma mulher muito forte que é de fato, o núcleo central daquela família e que aguenta uma série de tragédias. O marido desapareceu (embora ele só vai revelar mais tarde o que é que aconteceu), a filha morre, o pai morre e de fato só uma mulher com um carácter muito forte é que se conseguiria aguentar a ela e ao resto da família no meio de tanta tragédia. Aparentemente, ela é uma mulher que aguenta as coisas e parece tranquila, mas ela é uma lutadora (eu acho), eu encaro-a muito como uma lutadora e vamos ver a Francisca a evoluir à medida que os episódios vão avançando.
M.L: Como é contracenar com o Virgílio Castelo?
E.S: Eu já conhecia o Virgílio, mas conhecia-o muito mal e o Virgílio aparece ao fim de 40 episódios e vem e é o meu marido. Foi muito bom, eu diverti-me imenso com ele, ele é muito bom ator (como se sabe), tem muita experiência e foi fantástico. Divertimo-nos imenso, correu muito bem.
M.L: Como lida com a carga horária que os atores levam, quando gravam uma telenovela?
E.S: Eu confesso que é um bocadinho complicado, porque é assim: nós no teatro normalmente trabalhamos tarde e noite, deitamos tarde e levantamos tarde. Na novela é precisamente o contrário: porque às 9 horas da manhã temos de começar a gravar e às 8 horas da manhã estamos já a maquilhar, a pentear e fazer tudo e mais alguma coisa, portanto significa que eu (quando tenho gravações) tenho de me levantar às 6 e meia da manhã e as gravações acabam às 8 horas da noite e portanto é um horário completamente diferente do teatro. Custa-me a adaptar um bocadinho a esta coisa, no início damos uma maneira de ajudar a fazer o horário das 6 e meia da manhã e depois no resto da semana levantar-me tarde e deitar-me às 3 horas da manhã. Tem sido um bocado complicado, mas entretanto lá vai-se andando.
M.L: “Laços de Sangue” é fruto de uma parceria entre a SIC e a TV Globo. Como vê esta parceria?
E.S: Eu acho fantástico. A Globo (como se sabe) é a maior produtora mundial de novelas e a melhor na opinião de muitas pessoas. Tem uma experiência incrível e de fato percebe-se que esta parceria veio trazer uma mais-valia a esta novela sem dúvida nenhuma. A experiência ajuda e eles vieram ajudar não só nos décors, mas também nos guiões (os guiões são revistos pelo Aguinaldo Silva). Como disse, nós tivemos uma diretora de atores que veio da Globo para trabalhar connosco, portanto há tudo uma forma de fazer que tem a ver com uma experiência de vários anos e de várias novelas que eles fazem no Brasil e normalmente de muita qualidade, portanto eu acho que sim, que foi uma mais-valia para esta novela com certeza.
M.L: A telenovela contou com a supervisão de Aguinaldo Silva. Como vê o contributo dele no processo de escrita da telenovela?
E.S: Pois, tanto quanto eu percebo, os guiões são revistos por ele e portanto há alterações que vão sendo feitas e acho que é uma ajuda fundamental, porque ele tem muita experiência nisso e certamente que está a ajudar imenso os nossos guionistas portugueses a perceberem melhor a limarem aquelas arestas que nem sempre estão tão bem (nas novelas que nós vemos percebe-se isso) e o Aguinaldo ajuda muitíssimo nisso com certeza que sim.
M.L: Quando é que se interessou pela representação?
E.S: Eu comecei a fazer teatro com 14 anos, foi muito cedo. O meu pai era ator no Teatro Experimental do Porto, mas na verdade eu nunca me interessei muito por isso e nem ia ver muito as peças dele. Eu andava no Liceu Carolina Michaelis e há um realizador da RTP (o Correia Alves) que ia encenar uma peça com as meninas do Liceu Carolina Michaelis e sendo uma espécie de casting (naquela altura não se chamava casting), então lá levaram-me arrastada, acabei por ficar eu e a partir daí nunca mais parei. Depois convidaram-me para a primeira peça da Seiva Trupe que foi uma peça infantil e depois entrei para a companhia do Teatro Experimental do Porto (onde estive lá, durante 10 anos) e a partir daí já não fiz parte de mais nenhuma companhia, fiquei freelancer e fui andando de companhia para companhia até formar o Ensemble com o Jorge Pinto que tem neste momento já 14 anos e vai muito bem.
M.L: O seu percurso como atriz foi praticamente dedicado ao teatro. Gostava de ter trabalhado mais no audiovisual?
E.S: Tudo o que se fez cá no Porto de audiovisual e em televisão, eu tive a sorte de entrar e diverti-me imenso. Eu gosto imenso de fazer televisão, há um tipo de técnica completamente diferente do teatro. É muito excitante, porque é outro tipo de tempos. Nós no teatro temos dois meses para preparar um espetáculo, é uma coisa que se vai incorporando em nós. Na televisão é no momento e portanto a nossa experiência garante e eu gosto daquela emergência, daquela coisa de “Ok. Ação!” e uma pessoa tem de dar naquele momento, gosto imenso disso e tudo o que se fez cá no Porto, eu fiz. Agora, tenho imensa pena que a produção audiovisual cá em cima praticamente esteja inexistente e que esteja tudo concentrado em Lisboa, porque há aqui muitos recursos humanos muito bons que deviam ser aproveitados e não são. É uma pena.
M.L: Dois trabalhos seus na televisão que foram marcantes foram as séries “Clube Paraíso” e “Os Andrades” que foram produzidas pela RTP Porto. Que recordações leva desses trabalhos?
E.S: Foi fantástico. Esta história de fazer parte de um elenco fixo ou seja de uma novela ou de uma série como foram “Os Andrades” ou o “Clube Paraíso” dá-nos uma outra segurança, porque a preparação é diferente. Uma coisa é uma pessoa ir fazer um episódio ou dois de uma série, uma outra coisa é fazeres parte de um elenco que sabe que vai estar a gravar vários episódios com aquelas pessoas todas, portanto o que se produz é uma coisa mais do que conjunto e não tanto eu chegar lá e já gravar o papel num episódio que é completamente diferente, portanto eu tenho as melhores recordações. Divertimo-nos imenso a fazer “Os Andrades”. Ainda por cima, porque é uma coisa que nos identifica muito cá em cima. Tínhamos as melhores reações do público sem dúvida nenhuma. As pessoas abordavam-nos na rua, eu achava imensa piada, davam-nos os parabéns e por isso ficamos com imensa pena de se ter parado com a produção cá em cima da RTP que acho é uma lástima, porque fizeram coisas tão engraçadas que tiveram tanto êxito e continuam ainda ter na RTP Memória e portanto acho que é uma pena não se aproveitar não só dos atores que temos cá em cima, mas também dos técnicos que são fantásticos e penso que há um desaproveitamento que é uma lástima isso acontecer.
M.L: Como foi trabalhar com o Paulo Afonso Grisolli e com o António Moura Mattos que realizaram respetivamente as duas séries?
E.S: O Paulo Grisolli era brasileiro e ele veio não só para realizar o “Clube Paraíso”, mas também para fazer formação de atores, de técnicos, de cameramen, etc. O que foi uma aprendizagem maravilhosa, porque um ator que nunca tinha feito televisão obviamente que tem alguma dificuldade em adaptar-se àquela técnica que são coisas completamente diferentes do teatro e o que o Paulo fez e o que nos ajudou muito foi dar-nos também formação para além de sermos os atores da série. Escolheu o elenco e depois tudo aquilo era trabalhado com muito cuidado, porque ele dava ao mesmo tempo formação tanto aos atores como aos técnicos, portanto foi fantástico. No caso do António Moura Mattos, foi a continuação, foi a série a seguir, tivemos a sorte de continuar com ele e foi “Os Andrades” que é de fato uma daquelas coisas que eu tenho imenso orgulho de ter entrado ainda por cima, porque interpretava uma nova-rica muito pirosa e eu achava imensa graça a fazer aquilo, mas foram experiências muito boas mesmo, tenho as melhores recordações.
M.L: Dedicou praticamente a sua vida profissional no Porto. Gostava de ter trabalhado mais em Lisboa?
E.S: Como pode imaginar, tive imensos convites para ir trabalhar para Lisboa. Aliás, desde muito novinha, eu fui com uma peça ao Teatro (Nacional) D. Maria II e convidaram-me para ficar novamente no Teatro D. Maria II. Na altura, eu era muito nova e tinha um namorado no Porto de maneira que disse que não, mas não é de arrepender-se de tudo. Eu tive muita sorte de ter tido sempre muito trabalho e um trabalho também reconhecido que é sempre agradável, portanto eu percebo que há mais oportunidades em Lisboa sem dúvida nenhuma e percebe-se que cada vez que eu vou a Lisboa fazer um espetáculo surgem vários convites para fazer outras coisas. Por exemplo, cá fiz dobragens (eu já não faço dobragens há muito tempo), locuções e publicidade. Em Lisboa é a triplicar, portanto de fato que estando a trabalhar em Lisboa tenho muito mais oportunidade de trabalho e de variedade de trabalho. Eu não me posso queixar, porque tenho tido sempre muito trabalho no Porto, fiz cá a minha família e sinto-me muito bem cá. O público conhece-me, o trabalho que se faz cá é com outra calma, com outra tranquilidade e tem vindo a amadurecer, por isso é que de fato a nível nacional que se considera o teatro que se faz no Porto de alta qualidade, porque nós temos esse tempo e portanto por um lado se temos menos participações em outras coisas como há em Lisboa, por outro lado (no lado positivo) amadurecemos mais o nosso trabalho, porque temos esse tempo e portanto eu não me arrependo nada. Agora, o que tem acontecido (algum dia tinha de acontecer e aconteceu agora) é que agora eu divido entre o Porto e Lisboa, mas na verdade sou uma atriz do Porto com certeza.
M.L: O que a levou a querer fundar a companhia Ensemble-Sociedade de Atores?
E.S: Eu nunca quis ter uma companhia até porque tinha estado 10 anos na companhia do Teatro Experimental do Porto e jurei para nunca mais. Não é que tenha corrido mal, mas de repente percebi que era mais interessante saltar de companhia para companhia, de experiência para experiência, de encenador para encenador e ser eu própria a escolher o meu percurso, porque enquanto se faz parte de uma companhia estamos um bocado sujeitos a uma direção artística quer haja quer não haja do que vier e nós somos obrigados a fazer, portanto durante alguns anos andei a saltitar de companhia para companhia. Houve uma altura em que nós sentimos que no Porto existia apenas o Teatro Experimental do Porto e a Seiva Trupe, foi uma altura em que não havia mais nenhuma, só havia estas duas companhias e portanto nós que éramos os atores mais antigos da cidade achávamos que havia um lugar de fato a uma nova companhia com outras características que não a do Teatro Experimental do Porto e da Seiva Trupe, por isso fundamos o Ensemble e a nossa ideia desde o início era dividir em várias áreas: uma que não ia haver direção artística, não ia haver um diretor artístico, porque estávamos interessados precisamente em ter experiências com várias pessoas e portanto seriamos nós a convidar este ou aquele encenador com um dos quais nos identificaríamos para podermos evoluir no nosso trabalho, progredir e ter experiências diferentes, a outra era a questão da formação. Insistimos muito que o Ensemble devia proporcionar formadores aos outros atores e portanto, durante vários anos fizemos isso. O trabalho com as escolas que ainda fazemos agora tanto ao nível primário como ao nível superior é uma coisa que nós insistimos muito, de nos ligarmos à comunidade e é evidente o fato de termos uma companhia permite-nos organizar uma programação em função daquilo que queremos, que achamos que faz falta e que o público merece ver, portanto é uma coisa que está nas nossas mãos e está a andar bem. Há 14 anos que estamos assim.
E.S: Eu nunca quis ter uma companhia até porque tinha estado 10 anos na companhia do Teatro Experimental do Porto e jurei para nunca mais. Não é que tenha corrido mal, mas de repente percebi que era mais interessante saltar de companhia para companhia, de experiência para experiência, de encenador para encenador e ser eu própria a escolher o meu percurso, porque enquanto se faz parte de uma companhia estamos um bocado sujeitos a uma direção artística quer haja quer não haja do que vier e nós somos obrigados a fazer, portanto durante alguns anos andei a saltitar de companhia para companhia. Houve uma altura em que nós sentimos que no Porto existia apenas o Teatro Experimental do Porto e a Seiva Trupe, foi uma altura em que não havia mais nenhuma, só havia estas duas companhias e portanto nós que éramos os atores mais antigos da cidade achávamos que havia um lugar de fato a uma nova companhia com outras características que não a do Teatro Experimental do Porto e da Seiva Trupe, por isso fundamos o Ensemble e a nossa ideia desde o início era dividir em várias áreas: uma que não ia haver direção artística, não ia haver um diretor artístico, porque estávamos interessados precisamente em ter experiências com várias pessoas e portanto seriamos nós a convidar este ou aquele encenador com um dos quais nos identificaríamos para podermos evoluir no nosso trabalho, progredir e ter experiências diferentes, a outra era a questão da formação. Insistimos muito que o Ensemble devia proporcionar formadores aos outros atores e portanto, durante vários anos fizemos isso. O trabalho com as escolas que ainda fazemos agora tanto ao nível primário como ao nível superior é uma coisa que nós insistimos muito, de nos ligarmos à comunidade e é evidente o fato de termos uma companhia permite-nos organizar uma programação em função daquilo que queremos, que achamos que faz falta e que o público merece ver, portanto é uma coisa que está nas nossas mãos e está a andar bem. Há 14 anos que estamos assim.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
E.S: Eu acho que apesar de tantos problemas que nós temos e perante o Estado para se ver que temos sempre de provar o nosso trabalho, o que é uma lástima, porque de fato pessoas que estão cá há tantos anos como nós terem de estar constantemente a provar como se estivéssemos acabados de chegar à profissão é um bocadinho desgastante. Por outro lado, esta questão do apoio que se tem do Estado se é considerado subsídio-dependente é uma coisa que me irrita muito, porque o Estado dá apoio a tantas coisas privadas e estes não são apelidados de subsídio-dependentes e nós fazemos um trabalho de serviço público obviamente. Muitas vezes somos considerados quase parasitas, mas nós temos de lidar com esse tipo de problemas, mas eu acho que o público de teatro tenha aumentado e eu sinto que as pessoas cada vez mais estão a ver teatro e isso é muito bom. Em relação à ficção nacional, basicamente eu acho que ela tem vindo amadurecer ao longo dos anos. Como disse, tenho pena que o Porto não produz, eu acho que é uma lástima e é desaproveitar completamente os recursos humanos de cá de cima, mas eu acho que sim, eu acho que a produção nacional tem vindo a melhorar lentamente. Claro que são aqueles produtos (a novela é um produto e as séries é outro produto) e devem ser respeitados como tal, porque tem o seu público. Não devemos equivocar-nos, uma coisa é por exemplo fazer uma série de época, é evidente que dá muito gozo, porque é sempre com muito cuidado que se faz aquilo. Por exemplo, o “Equador” (TVI), o “Conta-me como foi” (RTP) são coisas fantásticas, porque tem a ver muito com a nossa história e que se vai levantar a isso tudo e feito muita investigação à volta disso e para os atores é muito bom, mas não deixa de ser igualmente um trabalho profissional, rigoroso e com qualidade a certas novelas que se fazem em Portugal, portanto eu acho que sim, que a ficção tem vindo amadurecer e o teatro sem dúvida nenhuma.
M.L: Gostava de ter trabalhado no estrangeiro?
E.S: Não é uma coisa que eu penso muito. Quando vou com espetáculos por exemplo ao Brasil, Paris, Roma e Madrid e as pessoas gostam muito de nos ver e aplaudem-nos muito é muito compensador, mas é compensador, porque é o nosso trabalho que está sendo reconhecido e que está a ser aplaudido. Nunca me imaginei, nunca pensei nisso na verdade em ir-me embora e trabalhar no estrangeiro. É uma coisa que pode irá acontecer (não sei, nunca se sabe), mas não é uma daquelas coisas em que eu me penso: “Quem me dera…”, mas na verdade não é.
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou no teatro?
E.S: Isso é muito difícil de responder, muito mesmo. Há tantos trabalhos que me marcam. É evidente que há alguns que são particularmente complicados e difíceis que são tão dolorosos de fazer e exigem tanto de nós que esses nos marcam mais, mas não sei. Eu acho que é sempre o próximo que eu vou fazer.
M.L: Qual foi a figura da representação que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
E.S: Não tenho uma figura. Eu acho que há tão bons atores e atrizes em Portugal, há tantos que eles são as minhas referências e marcam-me sempre. Mesmo hoje, quando eu vou ver um espetáculo com colegas meus em que eles estão fantásticos, eu fico muito para além de muito comovida e muito tocada por aquilo e eles ensinam tanto que eu acho que essas são as minhas marcas que são os meus colegas, os colegas com quem eu trabalho, os encenadores com quem eu trabalho que me marcam mais do que propriamente aquela coisa de dizer: “É isto ou não é aquilo”. Claro que se vais ver a Eunice Muñoz a fazer “O Ano do Pensamento Mágico” digo: “Meu Deus! Esta mulher é extraordinária.” ou outra atriz qualquer que seja boa, mas na verdade não é assim. “Eu quero ser a Eunice Muñoz.”: não é de tudo isso, eu quero fazer o trabalho tão bom como ela faz e outras atrizes fazem ou outros atores. A qualidade, eu acho que nos move, a mim mova-me muito e eu como sou muito insatisfeita e muito obcecada com a qualidade qualquer colega meu que seja ator ou atriz me marcam.
M.L: Quais são os seus próximos projetos, depois das gravações da telenovela “Laços de Sangue” terminarem?
E.S: Eu vou agora andar em digressão com “Sombras”, depois vou repor o “Antígona” que fiz, porque temos de ir a Almada com “Antígona”, depois vamos fazer o “Dueto por Um” a Lisboa ao (Teatro) São Luiz, depois de acabar a novela espero ter férias que eu mereço e depois a seguir o Ensemble vai fazer um cocktail e é esse o meu próximo espetáculo.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
E.S: Eu não sou uma atriz que tenha o meu plano para o futuro, eu não programo a minha vida futura em termos de “Agora faço isto e depois é que irei de fazer aquilo”. Não faço mesmo nada disso. Como disse, nós no Ensemble por exemplo lemos muitas peças e temos muitas peças que conhecemos e que queremos programar nos próximos anos e que queremos fazer, mas não é bem objetivos, é sempre um sentido de “A próxima coisa que eu fizer, eu quero melhorar com aquilo, quero aprofundar mais os meus conhecimentos, quero ser melhor, quero corrigir os meus defeitos”. Se quisermos falar de objetivos era isso. É progredir, é amadurecer, é aprofundar, é ser cada vez mais rigorosa, que o meu trabalho seja com qualidade e ser sobretudo verdadeira comigo com os meus objetivos enquanto atriz e em relação ao público, portanto não é propriamente aquela coisa de “Vou fazer isto, depois vou fazer aquilo e depois quero fazer aquilo”. Isto nunca me passou muito bem, as coisas vão-me surgindo e eu vou-me adaptando ao que vai surgindo.
M.L: Se não fosse a Emília Silvestre, qual era a atriz que gostaria de ter sido?
E.S: Não sei, sinceramente. Eu podia apontar uma dúzia de atrizes maravilhosas que eu já vi a representar e que me comovem imenso e que me dão imensa inveja, mas inveja no sentido positivo, naquele sentido de “És fantástica! Eu adorava trabalhar com ela, adorava fazer uma coisa juntas”. Mas não é aquela coisa de “Eu gostava de ser aquela atriz”. Eu acho que nós somos o que somos, a ver o que podemos, mas não tenho propriamente um modelo. O meu modelo se quisermos falar nisso é a qualidade do trabalho e é a verdade naquilo que se faz, é a entrega naquilo que se faz, não é propriamente aquela coisa de “Gostava de ser aquela pessoa”. Eu acho que as pessoas são como são e o seu percurso é feito de muitas coisas e de muitas influências. Não sei se isto vai desgostar muitas pessoas, mas não tenho um modelo, tenho várias influências e estas coisas em que se entranha em nós vindas de fora de vários lados acho que é o mais importante para nos ajudarem no nosso percurso. Acho que é mais isso.ML
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