M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
D.L: Cedo. Muito
provavelmente na primeira vez que entrei numa sala de Cinema, numa daquelas
sessões de Cinema infantil, com filmes como “Em Busca do Vale Encantado”
(1988). O Cinema sempre foi para mim a mais fascinante arte de contar
histórias. Como qualquer garoto criado nos anos 80 e crescido nos 90, devo ter
comido mais horas de televisão do que qualquer outro media, mas o encantamento só acontecia naquela sala de tela gigante.
Já manifestei muitas vezes, por exemplo, aquele que para mim é o filme que mais
me marcou: “Parque Jurássico” (1993). Acho que é capaz de ser o “Star Wars” da
minha geração e a cassete que mais vezes rolou no videogravador lá de casa.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
D.L: É difícil. Quando
penso em influências, penso num bolo imenso de Cultura popular. Nem quero
imaginar que respostas terão os garotos de hoje em dia quando lhes perguntarem
isso daqui a 30 anos, visto que vivemos num mundo onde tudo acontece tão
depressa. De forma muito geral, a ficção científica sempre mexeu comigo. Era um
daqueles miúdos de óculos e aparelho que devorava ovnilogia e sentia que o “Encontros
Imediatos do Terceiro Grau” (1977) podia muito bem ser um documentário. Por
isso já aqui vão 2 referências ao Steven Spielberg. Acho que ele é capaz de ter
sido uma das mais pesadas influências.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso profissional?
D.L: Nunca tive nada verdadeiramente
marcante. Sou um tipo que já fez tanta coisa dentro do audiovisual, que acabo
por me perder. Mas já que me pergunta isso, relembro aqui uma webserie, cuja ideia original não foi
minha mas para a qual contribui em peso para que se tornasse na minha primeira
coisa a sério com um público atento e alguma ressonância: chama-se “Super Mercados”
e foi um projeto que fiz em parceria com a Sapo Vídeos no estúdio onde comecei
a trabalhar em 2007. A ideia era visitar mercados municipais e interagir com
clientes e comerciantes. O resultado era um magazine semanal, ao estilo da “Liga
dos Últimos”, e foi a primeira vez que contribuí para algo que contava com
milhares de visualizações diárias e um feedback
muito positivo. Ainda está tudo online
aqui: http://videos.sapo.pt/supermercados.
M.L: Tem passado por fases diferentes, durante o seu
percurso na área do audiovisual. Gostava de, um dia, ter a possibilidade de
dirigir um projeto cinematográfico?
D.L: Gostava, claro. E
ideias não faltam. Mas o comodismo profissional nunca me deixou arriscar nessa
área. Mas nunca é tarde!
M.L: Desde 2012 que é co-anfitrião da série de podcasts, “VHS-Vilões, Heróis e
Sarrabulho”, que é dedicada nomeadamente ao chamado Cinema chunga (https://www.youtube.com/user/VHSPodcast/videos). Já alguma
vez imaginou que o “VHS” tivesse a evolução considerável que tem tido até
agora?
D.L: “Evolução
considerável” é capaz de ser uma descrição um pouco exagerada. Ganhamos o nosso
público de curiosos e seguidores, mas a verdade é que o formato podcast ainda não foi abraçado pelos
portugueses. Até me faz alguma comichão como é que há tanto ouvinte de programa
de rádio, dos mais diversos programas e contudo ninguém se digna a procurar na
Internet e a descarregar para o telemóvel a oferta online gratuita que já existe por aí, seja em inglês ou português. Somos
capazes de fazer uma viagem de autocarro ou automóvel a ouvir rádios que passam
as mesmas 5 músicas quase em loop um
dia inteiro quando se calhar, há 1 ou 2 tipos algures no Mundo a fazer um podcast ou uma setlist musical muito mais interessante e informativa. E que é a
nossa cara! Não digo que o “VHS” seja melhor que isso tudo, pelo contrário (o
nome “chunga” não veio por acaso). No entanto, ainda nos auto-flagelamos muito
como público, em Portugal.
M.L: Na sua opinião, qual foi o momento mais marcante
destes quase 3 anos de existência do “VHS-Vilões, Heróis e Sarrabulho”?
D.L: Terei de cair na
repetição e dizer, como julgo que o Paulo já disse, a entrevista com o
realizador Albert Pyun. De um momento para o outro, e graças à Internet, tínhamos
ali à nossa frente, metaforicamente falando, um dos grandes realizadores do tal
Cinema chunga. E abriu-se uma caixa de Pandora! Neste momento temos na calha
uma lista de atores, realizadores e muitos outros, que contribuíram para uma
série de filmes da nossa geração e que são, por incrível que pareça, gente comum
e extremamente acessível. E cheios de vontade de contar histórias por detrás
dessa máquina de sonhos! E olhe que não há muitos podcasts, mesmo internacionais, a fazer isto.
M.L: O “VHS-Vilões, Heróis e Sarrabulho” também tem
como co-anfitrião o Paulo Fajardo. Como é trabalhar com ele?
D.L: Bom… o Paulo que me
perdoe, mas ele é um chato do caraças. E ele se for honesto vai dizer o mesmo
de mim! Mas acho que a piada é mesmo essa. Chateamo-nos um ao outro,
discordamos visivelmente (ou melhor dizendo, audivelmente) nas gravações, mas
olhando para a génese, o conceito teria mesmo de ser esse. Dois tipos a falar
de filmes, sem filtros, como fazemos desde que nos conhecemos. E como é lógico,
isso teria de ficar agreste de vez em quando!
M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual, a nível
global?
D.L: Negro e tenebroso,
como um velho qualquer diria! Mas sendo realista, tenho alguma inveja do que se
vive hoje a nível de influências culturais e o Cinema é a grande prova disso.
Quando era puto, não havia YouTube, não havia “Harry Potter”, não havia bullying. Ok, havia, mas era “levar
porrada” e isso não tinha charme nenhum. Hoje afinaram-se os gostos e já
ninguém tem vergonha de dizer que tem um boneco do Homem-Aranha ou do Batman no
quarto. Mesmo com 30 anos. Já não estamos sozinhos. O mundo audiovisual sabe
disto tudo e tem orgulho dele próprio. Vivemos uma era saudosista e
experimentalista ao mesmo tempo. São tempos curiosos, os que vivemos.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do audiovisual?
D.L: Que pape de tudo um
pouco. Que veja filmes de que goste e que não goste. Que crie opiniões e que se
foque. Que questione o politicamente correto, que é uma das piores pragas das
redes sociais neste momento. Que seja sonhador e que ocupe os tempos livres a
experimentar e a criar.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
D.L: Uma longa-metragem, documental ou de ficção. Ah,
e correr nu com uma GoPro na cabeça. Ainda não decidi qual o projeto mais
realista.ML
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