M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.P: Sempre estive ligado
ao teatro, o meu pai era actor e a minha avó, mãe dele, tenha feito teatro,
embora eu nunca a tinha visto representar. O meu pai morreu quando eu tinha 9
anos e comecei a fazer teatro aos 12 no Teatro Nacional em Lisboa. Mas desde
que me lembro sempre passava a maior parte do meu tempo nos teatros.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto actor?
J.P: São tão variadas que
nem consigo determinar quais foram os que me influenciaram mais. Mas talvez os
actores e directores com quem trabalhei no início, visto nessa altura ser mais
permeável a receber informação sobre como fazer.
M.L: Há algum género específico que mais gosta de
fazer como actor?
J.P: Gosto da profissão no
seu todo mas não destaco nenhuma das formas em especial. Teatro, cinema e
televisão recorrem a métodos aparentemente diferentes de expressão mas o centro
é sempre o mesmo. Todas as personagens que tenho feito acrescentaram sempre,
pela positiva e pela negativa, conhecimentos que se vão reflectir em desafios
futuros.
M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora
como actor, houve algum que teve um impacto marcante em si?
J.P: Não tenho, até hoje,
escolhas muito destacadas nem ligações ao que fiz anteriormente. O que fica
para trás é abandonado como a pele de um réptil. Apenas me interessa o futuro.
Sei que fizeram parte da minha estrutura de hoje mas não me reconheço no que
fiz. No entanto, a última coisa que fiz serve-me de partida para a próxima
viagem.
M.L: Entre 2000/01, protagonizou a telenovela “Ajuste
de Contas” que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem José
Eduardo. Que recordações guarda desse trabalho específico?
J.P: Talvez a
possibilidade de fazer uma revisão de situações, que eu felizmente não vivi na
realidade. Nesse período apenas estive em África em (19) 64 em tournée com o Grupo Fernando Pessoa e só
vi fragmentos do que se estava a passar. Todas as guerras e conflitos violentos
geram situações de enorme injustiça e tenho sempre profunda aversão à falta de
diálogo verbal que conduz a tais excessos.
M.L: Estreou-se como actor com a peça “Rapaziadas” no
Teatro Nacional D. Maria II em 1953. Que balanço faz do percurso que tem
desenvolvido até agora como actor?
J.P: Não tenho sobre o meu trajecto na profissão uma consciente panorâmica. Felizmente foi-me dada a possibilidade de fazer coisas e funções muito variadas, por exemplo, passando pelas dobragens e montagens de cenários e de luzes. A monotonia é uma coisa exasperante e pouco criativa.
Maria João Silveira, João Perry, Raul Solnado e o realizador Gonçalo Mourão nas gravações de "Ajuste de Contas" |
J.P: Não tenho sobre o meu trajecto na profissão uma consciente panorâmica. Felizmente foi-me dada a possibilidade de fazer coisas e funções muito variadas, por exemplo, passando pelas dobragens e montagens de cenários e de luzes. A monotonia é uma coisa exasperante e pouco criativa.
J.P: Lido actualmente
melhor com a exposição pública por comparação com os primeiros anos. Contínuo a
ser introvertido, tímido talvez. Não me reconheço como uma pessoa de grandes
demonstrações de afecto. A multidão assusta-me por imprevisível que é.
M.L: Em 2014 ganhou tanto o Prémio Autores como o
Globo de Ouro na categoria de Melhor Actor de Teatro pela peça “O Preço” e também
ganhou em 2015 o Prémio Sophia de Melhor Actor Secundário pela longa-metragem
“Os Maias-Cenas da Vida Romântica” de João Botelho. Como é a sua relação com o
reconhecimento no que diz respeito aos prémios?
J.P: Acho que partem de um
princípio simpático. Mas o seu efeito dura pouco e é preciso ter presente que
correspondem à escolha de um grupo de pessoas e, certamente, haver quem não
esteja de acordo com essa distinção.
João Perry e o seu Prémio Sophia de Melhor Actor Secundário por "Os Maias-Cenas da Vida Romântica" |
M.L: Fez parte do elenco residente do Teatro Nacional
D. Maria II, onde recusou por duas vezes o cargo de director. Como vê, hoje em
dia, o Teatro Nacional D. Maria II?
J.P: Recusei também a
direcção do São João no Porto. Não sou a pessoa indicada para um projecto de
longo curso. No Nacional de Lisboa, havia também outro facto incontornável: o
afecto pelo edifício. Depois das obras feitas, após o incêndio que destruiu o
antigo teatro, o espaço interior, palco e público, sofreram alterações tão
radicais que se tornava muito difícil aceitar dirigir, e também representar, na
aberração existente.
M.L: Entre 2010/11, participou na telenovela
“Sedução”, que foi a última que o Rui Vilhena escreveu para a TVI, na qual
interpretou o arrogante apresentador de televisão José Carlos Faria. Em que se
inspirou para interpretar esta personagem?
J.P: Vi várias séries
televisivas, sobretudo americanas. Não tenho talento para caricaturar situações
vigentes em Portugal nem me parecia justo nem oportuno para o texto em questão.
Mas gostei muito de fazer a personagem escrita pelo Rui Vilhena, que considero
um óptimo criativo nesta matéria televisiva.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.P: Que tenha sempre
presente que nunca há um vencedor que dure mais do que 3 ou 4 dias. Não há,
portanto, espaço para o descanso. Só o trabalho constante e obsessivo leva a
conseguir-se alcançar o que se sonha, por períodos de tempo mais extensos.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
J.P: Ser rico.MLEsta entrevista não está sob o novo Acordo Ortográfico
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