M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
J.B: Não sei se existe um
momento particular uma vez que sempre gostei de ver filmes. Em pequeno via as
VHS que a família tinha lá em casa e via vezes sem conta. O clube de vídeo era
como uma segunda casa. O interesse pelo Cinema (com letra grande) talvez tenha
surgido no dia em que fui ver o "Jurassic Park" ao cinema. Foi a
primeira vez que vi magia no grande ecrã. Percebi aí que o Cinema era algo
especial. A partir daí foi o descalabro para a carteira e para o espaço em
casa. Comecei a colecionar filmes em VHS, cadernetas, bonecos. Mais tarde
surgiram os DVDs e comecei a minha coleção que dura até hoje. Hoje sou mais
seletivo na escolha dos filmes que compro. O espaço já não é muito para tantos filmes
e também custa a sair da carteira.
M.L: Quais são as suas referências, enquanto cinéfilo?
J.B: Isso é uma pergunta
difícil. Sou um tipo que gosta de muitas coisas de todos os géneros. Muito do
que eu acho que é referência para mim vem diretamente dos anos 80/90. Foram as
décadas que definiram o meu gosto primário de cinema. Fui uma pessoa que
cresceu a ver os filmes que saíam da máquina de sonhos do Spielberg (“Regresso
ao Futuro” (1985), “Quem Tramou Roger Rabbit?” (1988), “Os Goonies” (1985), “O
Micro-Herói” (1987), “Poltergeist-O Fenómeno” (1982), “Gremlins-O Pequeno
Monstro” (1984), “E.T.-O Extra-Terrestre” (1982), etc.). De certa forma, esses
filmes marcaram a pessoa que sou hoje. Um pouco mais tarde, o cinema de ação
dos anos 90. (Jean-Claude) Van Damme, (Arnold) Schwarzenegger, (Steven) Seagal,
e claro os meus preferidos Stallone e Jackie Chan são muito daquilo que hoje
gosto. Na minha idade adulta, tenho de referir como referência o realizador
Alfred Hitchcock. É impressionante como um realizador é capaz de tantas
obras-primas e ser inspiração para tantos outros realizadores.
M.L: Profissionalmente tem experiência no Ensino como
formador e como professor. Houve algum momento marcante, durante essa
experiência, que pudesse destacar?
J.B: Infelizmente atualmente
não estou ligado à área do ensino. Curiosamente, quando fui professor e
formador, tentei sempre ligar a área do cinema nas aulas. Lembro-me de uma
situação numa aula de Francês. Estava ainda no primeiro ano de ensino, e numa
turma do 9º ano tinha uma aula planeada em que mostrava um excerto do filme
"O Fabuloso Destino de Amélie" (2001). Confesso que na altura tinha
muitas dúvidas em como os miúdos iriam reagir ao filme. É um filme
"diferente" do que eles estavam habituados a ver e era um filme
francês. Pensei mesmo que não iriam gostar. O que é certo é que os alunos
adoraram e quase me obrigaram a passar o filme na íntegra. De resto, fui sempre
tentando integrar algum filme às aulas. Umas vezes mais bem-sucedido que noutras.
M.L: No que toca ao cinema é o criador do blogue “Revolta
da Pipoca 2” (http://revoltadapipoca2.blogspot.pt/) e artisticamente é ator de teatro amador. Gostava de, um dia,
começar a trabalhar no meio artístico profissionalmente?
J.B: Trabalhar na área do
cinema não seria a minha praia. Gostava de experimentar a representação, mas
confesso que não faço por isso. Ainda por cima em Portugal, isso seria quase
impossível conseguir sobreviver do cinema. Já no teatro, se fosse mais novo,
talvez ainda fosse estudar essa arte. Gosto muito de pisar um palco, do nervoso
que é cada momento antes de entrar em cena, da preparação das personagens que
interpreto. Mas é algo que não ambiciono a nível profissional. O teatro amador
é algo que me fascina.
M.L: É um enorme fã do action hero Sylvester Stallone que fez 70 anos de idade
recentemente. Como olha para o percurso que o Sly tem desenvolvido pelo menos
nos últimos 40 anos?
J.B: Para começar devo
dizer uma coisa: sou tão fã do Stallone que devo ser o único que se diverte com
o "Oscar-A Mala das Trapalhadas" (1991) ou o "Pára! Ou a Mamã
Dispara" (1992). Eu Stallone porque sim. Porque vejo que há ali mais que
uma action star. Se bem que ser
apenas action star não é nada mau.
Todos os rapazes da minha geração cresceram a ver porrada com estas estrelas de
ação. A rivalidade com o Schwarzenegger é mais que batida e reconhecida pelos
dois. Eu sempre fui mais do Team Stallone, por achar que este é muito melhor ator
que o “Terminator”. Uma
pessoa que vê o primeiro “Rocky”, o primeiro “Rambo”, “Copland-Zona Exclusiva”
(1997), “Creed: O Legado de Rocky” (2015), tem de admitir que ele é um grande ator.
Poderá não ter feito as melhores escolhas de filmes para fazer, mas caramba, é
um grande ator. Sempre comparei a vida de Stallone com a vida do seu alter-ego
Rocky. Ora, o Stallone foi um tipo que
começou do nada. Escreveu um filme, “Rocky”
(1976), num fim-de-semana, vendeu os direitos desse guião a uma
produtora com a condição de ser ele a protagonizar o filme. Deram-lhe essa
oportunidade e foi um estrondo. Torna-se numa das maiores estrelas de Hollywood. A certa altura da carreira
anda meio perdido, com algumas opções duvidosas na escolha de filmes. Envelhece
e tenta mostrar que ainda anda por cá. Faz uns filmes em que mostra que
realmente é bom ator. Esta é a história do Stallone em poucas linhas. A história de Rocky não é muito diferente. Balboa é um zé-ninguém
mas que gosta de lutar. Dão-lhe a oportunidade de lutar com o campeão do mundo.
Depois do combate torna-se numa super-estrela. A certa altura da carreira anda
meio perdido, com algumas opções duvidosas. Envelhece e tenta mostrar que ainda
anda por cá. Consegue-o.
M.L: Um dos seus guilty
pleasures favoritos é o muito odiado “Terra-Campo de Batalha” (2000) de
Roger Christian e protagonizado por John Travolta. O que o cativa mais naquele
que foi considerado pelos Razzies como o Pior Filme dos anos 2000 (https://www.youtube.com/watch?v=DKlEE18R5d8)?
J.B: Hoje em dia já começo
a dar razão aos críticos. Tudo naquele filme é mau. Mas é isso que me fascina.
Sempre fui um bocado do contra. E quando todos andavam a massacrar o filme, eu
conseguia vê-lo várias vezes. Na altura em que vi o filme pela primeira vez, o
Travolta era o meu ator favorito. Gostava muito daquela fase dele depois do “Pulp
Fiction” (1994), com os filmes “A Outra Face” (1997), “Jogos Quase Perigosos”
(1995), “A Filha do General” (1999), “Cidade Louca” (1997), etc. Aqui era
Travolta num filme de ficção científica, género que adoro. E confesso que o
filme me divertia. Nada no filme faz sentido, mas é isso que gosto. É daqueles
que de tão mau que é bom.
M.L: Que balanço faz do percurso tanto existencial
como profissional que tem desenvolvido até agora?
J.B: Isso é uma pergunta
muito profunda para uma pessoa que não tem assim tanta profundidade. Sou do
mais banal que existe, com um percurso banal, que passou por estudar, começar a
trabalhar, casar. E no meio disto tudo ver filmes, muitos filmes. Só tenho pena
que a minha mulher não me acompanhe em todos os filmes que vejo. Mas pronto,
não se pode ter tudo. Profissionalmente, gostaria que as coisas no nosso país
se alterassem drasticamente para conseguir exercer aquilo que estudei que é o
ensino. Não conseguindo, faço o que for preciso para me sustentar a mim e à
família, desde que consiga sempre ter tempo para ir ao cinema ou sentar-me no
sofá a ver um filme.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
J.B: Se calhar a resposta
mais óbvia a esta pergunta é um filho. Mas é isso mesmo. Quero ser pai de um
menino ou menina, e poder educar a criança aos meus olhos e da mulher.ML
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