M.L: Como é que está a correr a peça “Os 39 Degraus”?
J.D: Está a correr muito
bem, felizmente. Estamos há um ano e pouco em cena praticamente sempre em
digressão e agora é já a 3ª vez que estamos aqui no Porto, porque fomos sempre
bem recebidos, o público tem aparecido, as pessoas gostam, portanto são motivos
para estarmos contentes e satisfeitos.
M.L: Quais são os próximos locais que a peça vai
passar?
J.D: Que eu me recorde,
depois do Porto temos o (Teatro da) Malaposta em Odivelas que é ao pé de
Lisboa, depois Lamego, depois em Sintra, Nazaré e outras que também não tenho
de cor ainda…
M.L: Como é que surgiu esta peça?
J.D: Esta peça foi
estreada pela 1ª vez em Londres, depois nos Estados Unidos. Esta é uma
adaptação de um filme do (Alfred) Hitchcock com o mesmo nome “Os 39 Degraus”
que é uma intriga à Hitchcock sobre uma pessoa que é acusada de um assassinato
que não cometeu, portanto isto passa-se ao mesmo tempo, antes da 2ª Guerra
Mundial, portanto tem homicídio e história de espionagem. O herói desta
história tem que andar a fugir da polícia e atrás das pessoas que mataram a
Anabella Schmidt que é a pessoa que é assassinada na casa dele e então é à
volta disto. Ele anda a fugir da polícia, atrás das pessoas que mataram a
mulher para provar a sua inocência. O que é que acontece? Depois para teatro é
passado com poucos meios, portanto cinema, depois é adaptado para teatro, mas
com poucos meios que a ideia era mesmo essa. Um cenário com quatro baús e
poucos elementos: há uma janela, há uma porta, mais um cadeirão e com isto nós
conseguimos recriar todas as situações por onde o filme passa, portanto isso a
nível de cenário. Somos quatro atores: um ator faz uma personagem que é o
protagonista que no fundo passa pela peça toda e depois a Vera (Kolodzig) faz
três mulheres e eu e o Rui (Melo) fazemos bastantes personagens, portanto
andamos sempre a trocar de personagens. É uma loucura muito grande e acho que
resulta, porque a história não perde a intriga, mas torna-se depois também
cómica com aquela lotação de personagens, a lotação dos cenários, depois temos
o som, a luz, etc. Isto é uma espécie de relógio suíço que tem que funcionar
tudo para nós contarmos a história.
M.L: “Os 39 Degraus” é baseada numa longa-metragem com
o mesmo título realizada por Alfred Hitchcock. Já tinha visto a longa-metragem,
antes de se envolver na peça?
J.D: Não, por acaso essa
não tinha visto. Mas antes de começar os ensaios, quando soubemos vimos o filme
juntos. Tivemos a curiosidade de ver o filme, foi importante.
M.L: A peça é encenada por Claudio Hochman com quem já
trabalhou anteriormente. Como é trabalhar com ele?
J.D: É fantástico, porque
ele é muito imaginativo, muito criativo, exigente e rigoroso, portanto acho que
foi importante para este tipo de trabalho e foi muito bom. Um bom trabalho.
M.L: Em “Os 39 Degraus” interpreta várias personagens.
Como é que consegue passar de uma personagem para outra?
J.D: Com ginástica. Acima
de tudo muita ginástica. Nós temos um processo de ensaios relativamente louco
que dá para treinar no fundo e ensaiar essas passagens… são cliques que nós
temos que fazer, de prepara-nos para isso: saímos de cena, trocamos um chapéu, um
casaco, temos um casaco, adoptamos uma outra postura física, outra voz e
entramos em cena. Tem que ser assim, uma coisa rápida.
M.L: Como é trabalhar com o elenco?
J.D: É fantástico. Nós
divertimos, cruzando-nos bem, vamos conhecendo bem e está a correr muito bem em
cena.
M.L: Como tem sido a reação do público a esta peça?
J.D: Tem sido fantástica.
Não quero estar a exagerar, mas a maior parte das vezes acabamos o espetáculo
com as pessoas a aplaudirem de pé e eu depois, quando saio do teatro ainda me
cruzo com alguém que tenha visto o espetáculo. As pessoas estão com um ar
bem-disposto por falar de coisas do espetáculo, a rirem-se ainda, portanto a
reação tem sido a melhor possível.
M.L: Como classifica esta peça?
J.D: Eu acho que é um bom
objeto de teatro, uma boa comédia, tem um humor muito engraçado, é um tipo de
teatro que não é muito visto em Portugal que é um teatro mais físico. E tem um
humor inteligente (acho eu) sem ser-se complicado, mas tem um humor
inteligente.
M.L: Atualmente participa na telenovela “Doce
Tentação” (TVI), onde interpreta a personagem Evaristo Nobre. Como estão a
correr as gravações?
J.D: Estão a correr bem
felizmente. Estamos a meio do processo mais ou menos, mas está tudo a correr às
mil maravilhas, nós estamos a gostar do que estamos a fazer e acho que as
pessoas também estão a gostar de ver.
M.L: Como é trabalhar com a São José Correia e com a
Sofia Nicholson?
J.D: É muito engraçado.
Divertimos muito, elas são duas atrizes fantásticas e temos sempre de fazer muito
trabalho de uma forma séria, mas também de vez em quando tem lugar para alguma
risada ou brincarmos um bocadinho, mas está a ser uma boa experiência.
Principalmente, porque por acaso com as duas nunca tinha contracenado, está a
ser a primeira vez e está a correr muito bem.
M.L: A telenovela portuguesa celebra este ano 30 anos
de existência. Que balanço faz destes 30 anos?
J.D: Eu acho que houve uma
grande evolução desde da história até ao nível técnico, temos melhores atores,
evoluímos bastante, a escrita… acho que tem sido um balanço positivo. Ao
princípio, quando eu comecei a ser ator, uma das coisas que eu dizia era: “Isto
é uma coisa que se tem de fazer. Para se aprender tem que se fazer”. E não é só
aos atores que têm de aprender, mas também os técnicos, os realizadores, quem
escreve, a produção… tem que se aprender. Fazia-se muita comparação entre a
novela brasileira e a portuguesa, quando a novela portuguesa apareceu. Quando
nós aparecemos, os brasileiros já tinham 30 anos de novela, portanto nós
tínhamos 30 anos de atraso provavelmente. Portanto, agora estamos a começar a
dominar o que é aquela línguagem toda. O balanço é positivo.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
J.D: O interesse pela representação
surgiu numa altura da minha vida em que eu estava a estagiar em Alcácer do Sal e
aconteceu que houve um curso de iniciação ao trabalho de ator patrocinado pela
Câmara e eu frequentei esse curso e de repente percebi que era aí que eu me
sentia bem e era isso que eu gostava de fazer. Depois, a partir daí foi à luta.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
J.D: Eu acho que uma
pessoa, quando gosta de representar (como o meu caso, como gosto de representar
gosto de fazer os três) digamos que a minha escola, onde eu comecei é o teatro
e é uma coisa que eu sinto sempre necessidade de voltar. Agora, gosto de fazer
televisão e gosto de fazer cinema também, portanto dão um gozo diferente. O
teatro tem esta questão do público, ao vivo. A televisão tem outras questões:
há a questão da resposta imediata, nós temos que dar respostas rapidamente às
situações que vão surgindo, às cenas que vamos fazendo, fazemos muitas cenas e
depois evidentemente temos o reconhecimento, as pessoas gostam de nós, nós
sentimos isso na rua. O cinema é um lado que também se chama pela imagem, mas
tem-se um bocadinho mais de tempo, conta-se uma história mais rapidamente uma
hora ou uma hora e meia mais ou menos, portanto cada um tem a sua aliciante,
cada um tem formas diferentes de eu gostar.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o
marcou, durante o seu percurso como ator?
J.D: Posso dizer que em
televisão, os “Jornalistas” (SIC) com o Caixinha que terá sido uma personagem
que eu gostei muito de fazer, depois também em cinema fiz um telefilme que
quase que era uma biografia sobre o Mário de Sá Carneiro e em teatro tive
vários: “Sonho de uma Noite de Verão”, os trabalhos que fiz com o (Teatro da)
Garagem, com o (Teatro) Meridional. Aqui vários exemplos de coisas que me
marcaram.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Lusitana Paixão” (RTP), onde interpretou a personagem Augusto
Salada. Que recordações leva desse trabalho?
J.D: É uma boa recordação.
É uma adaptação de “Os Maias” para os nossos dias e tinha um grupo muito divertido
que fazia parte daqueles grupos dos políticos e dos corruptos (por assim dizer)
e eu era um corrupto falhado… era corrupto, mas depois a minha vida como vida,
como pessoa era um bocado falhado e tinha situações muito engraçadas, muito
caricatas e muito cómicas e lembro-me perfeitamente que era com o João Lagarto,
com o Carlos Mendes, tínhamos um grupo bem engraçado… acho que fui fazendo umas
cenas cómicas e estavam lá a acontecer coisas, que eu era um bocado gabarolas e
dizia que fazia, que acontecia, mas no fundo era um cobardezinho e estava uma
personagem bastante engraçada. É engraçado estar a falar nisso, porque eu
percebi que essa novela foi muito vista fora de Portugal. Não tanto em
Portugal, mas fora de Portugal foi muito vista, porque quando chegou o Verão e Agosto
andava em digressão com uma peça e passava pelos sítios e os emigrantes é que
me falavam mais dessa novela que os portugueses… quer dizer, as pessoas que
viviam cá falavam menos da novela que os emigrantes e os emigrantes fartavam-se
de vir ter comigo e falar do Salada e da novela em si.
M.L: “Lusitana Paixão” foi realizada por André
Cerqueira e por Jorge Paixão da Costa. Como foi trabalhar com eles?
J.D: Bem, são duas pessoas
diferentes, mas que no fundo estavam a trabalhar para o mesmo fim. O Jorge
Paixão é um realizador com uma grande experiência e é uma pessoa que tem uma
grande capacidade de nos dirigir, tem uma grande força e uma presença em palco
forte e ao mesmo tempo é muito divertido. O André é outra escola, é uma escola
que vem mais da escola da (TV) Globo e tem uma outra maneira de estar connosco,
outra maneira de nos dirigir, de nos conduzir, mas também de uma forma bastante
agradável e consistente e coesa. Portanto, tenho boas recordações desses dois
realizadores.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
J.D: Como é que eu vejo?
Tem muita coisa para acontecer ainda. Nós temos de continuar a trabalhar e
explorar novos caminhos e fazer coisas para dar continuidade a esta bela
profissão.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
J.D: Sim, acho que sim.
Porque não? É agora uma dúvida que vou ter.
M.L: Como lida com o público que acompanha a sua
carreira há vários anos?
J.D: Lido bem e fico contente
que as pessoas gostem do meu trabalho. Só tenho a agradecer-lhes e espero que
continuem a gostar e a agradecer sempre o carinho que me têm dado.
M.L: Quais são os seus próximos projetos (depois de
“Os 39 Degraus” e “Doce Tentação”)?
J.D: Estes projetos ainda
estão para demorar um bocadinho, portanto para já não tenho assim nada em vista
que possa também falar… também passa por aí. Se calhar há coisas para o futuro,
mas ainda estão um bocadinho no segredo dos Deuses e onde deixar de estar. Não
há certezas, portanto não vale a pena estar a falar de uma coisa que não sei se
vai acontecer ou não.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.D: Não sei, há tanta coisa por fazer. É difícil,
sabes? Há tantos textos que não fiz, que não guardei… É complicado dizer.
Precisava de voltar por exemplo ao (William) Shakespeare, gosto dos clássicos,
gosto de fazer personagens históricas, não me importava de fazer mais
personagens históricas, coisas novas que existam… É difícil de dizer: “É
aquele, tem de ser aquele”. Há muita coisa.ML
Sem comentários:
Enviar um comentário