M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
J.A.F: Surgiu muito cedo!
Fui para Angola em 1958 com 3 anos, mas quando vinha a Portugal e visitava os
meus avós ficava vidrado no televisor lá de casa! Lembro-me de, no início dos
anos 60, ver programas do Júlio Isidro com quem trabalhei há bem poucos anos na
RTP! Toda aquela magia do pequeno ecrã sempre me fascinou, e sempre tive muita
curiosidade de conhecer os bastidores. Já a rádio sempre me acompanhou desde os
tempos de Angola, pois não havia televisão!
M.L: Quais foram as suas influências nesta área?
J.A.F: Todos os grandes
profissionais da RTP (técnicos, realizadores, operadores de imagem,
jornalistas) me influenciaram… Com eles cresci, convivi e aprendi muito do que
sei em televisão. Recordo alguns: Carlos Alberto Henriques, Hélder Duarte, Luís
Andrade, Fernando Pessa, Raúl Durão, Carlos Pinto Coelho, Judite Sousa, José
Rodrigues dos Santos, Miguel Lemos, José Galvão, Augusto Rosa… A lista é
infindável e que me desculpem todos os meus amigos da RTP, SIC e TVI e
independentes que não mencionei.
M.L: Trabalhou na RTP entre 1979 e 2010. Que balanço
faz do tempo em que trabalhou no canal?
J.A.F: Em 1979, entrei na
RTP por concurso, e fiz o curso para Documentalista de Programas no Arquivo
Audiovisual do Lumiar o que me deu as bases e conhecimentos futuros para
trabalhar em televisão.
Em 1987, fiz o curso para
Assistentes de Informação (Desporto, Informação Diária e Não Diária) o que me
proporcionou participar em grandes programas: Futebol, Basquetebol, Andebol,
Motocross, Golfe, Ténis, Atletismo, Fórmula 1, Ciclismo (3 Voltas a Portugal), “Remate”,
“Rotações”, etc...
Em 1994, fiz o curso de
Realizador de Informação (função que exerci até ao final de 2010). Realizei
muitos programas e destaco: o “Caderno Diário”, diversos programas da RTP
Internacional, “Jornal 2”, “Ponto-Por-Ponto” com o saudoso amigo Raúl Durão, o “Telejornal”
(1992-2006), várias Emissões de Eleições (Presidenciais, Legislativas,
Europeias), Eleições Gerais em Espanha em 1993, a cobertura da OSCE em
Portugal, a inauguração da Ponte Vasco da Gama, a Expo98, a transição de Macau
(Realização em direto de Macau), “Grande Entrevista”, “Grande Informação”, a inauguração
do Porto 2001, “Debate da Nação”, RTP África (vários Programas), RTP Memória
(vários programas).
Entrei com 23 anos e saí
aos 55 e sou dos poucos que pode dizer que fiz aquilo que sempre quis com todo
o prazer do mundo. Conheci, trabalhei, convivi e aprendi com os melhores
profissionais de televisão em Portugal! Obrigado, RTP!
M.L: Em 2014, a RTP celebra 57 anos de existência.
Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
J.A.F: A RTP tem cumprido
a sua missão de informar, formar e divertir os portugueses. Apesar de ter
passado por muitos altos e baixos, espero que continue a ganhar espectadores
não só em Portugal, mas também no resto do Mundo.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
tempo em que trabalhou na RTP?
J.A.F: São tantos! Destaco
dois programas: o primeiro foi uma “Grande Entrevista” Especial que gravei no
hospital de Saragoça, onde a Judite Sousa entrevistou o alpinista João Garcia, antes
de ser operado às graves queimaduras que sofreu no (Monte) Evereste. O segundo
foi a
cobertura em 1999 da transição de Macau para a China. Participar num evento
daquela dimensão com todos aqueles profissionais da RTP, durante quase um mês
longe de Portugal e com os resultados obtidos, marcam qualquer profissional de
televisão!
M.L: Realizou, numa fase inicial, o talk-show diário “Há Conversa” que,
atualmente, está em exibição na RTP Memória e apresentado por Joana Teles,
Helena Ramos, Eládio Clímaco, Isabel Angelino e Maria João Gama. Que
recordações guarda do tempo em que realizou o programa?
J.A.F: Muito boas
recordações! Foi um grande desafio feito pelo Hugo Andrade, então diretor da
(RTP) Memória. Era um pouco cansativo, pois por vezes tínhamos de gravar 3 ou 4
programas seguidos e éramos só 2 realizadores. Mas com aqueles apresentadores,
convidados e as equipas da RTP que gravavam os programas, era sempre um prazer!
Sem esquecer as excelentes apresentadoras de quem sou amigo, quero aqui
destacar o prazer que foi trabalhar com um grande senhor da Televisão que é o
Eládio Clímaco.
M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual em Portugal?
J.A.F: Estou um pouco
desiludido, pois agora faz-se televisão mais a pensar nos objetivos financeiros
em vez de se focar no alvo principal: o espectador. Felizmente existem novas
tecnologias de informação que nos permitem escolher o que queremos ver. O
espectador é o realizador!
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do audiovisual?
J.A.F: Que deve pensar
muito bem! E só avançar se estiver 99% certo de que é nesta área que quer
trabalhar!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.A.F: Em televisão, gostava
de realizar um concerto de música rock!
Na rádio, gostava de ter um programa para partilhar os meus gostos musicais.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
J.A.F: Agora que já me
encontro na pré-reforma, gostava de viajar mais!ML
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