M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
A.P.V: Eu sempre gostei de
contar histórias. Antes do cinema, comecei por me interessar pela literatura,
pelos romances, devorava livros, desde que me lembro. Na altura em que eu tive
que escolher, se assim posso dizer, a minha vocação, o cinema nos finais dos anos
50 era uma coisa extraordinária, porque simultaneamente na Europa surgiu o
movimento da Nouvelle Vague francesa,
portanto houve oportunidades para jovens de fazerem filmes de outra maneira, e
por outro lado houve a descoberta do cinema americano em grande parte graças à
Cinemateca francesa que recuperou tudo o que pôde recuperar e divulgar da
História do Cinema. Eu vivia em Paris nessa altura e frequentava a Cinemateca
francesa, tendo visto uma média de mais de mil filmes por ano, todos os dias,
durante quase três anos. Foi uma paixão que me surgiu como um prolongamento
daquilo que era a minha curiosidade pelas histórias e achei que era mais
fascinante contar histórias através de imagens, com personagens reais e
filmando a realidade, do que através dos livros - apesar de a literatura ser a
minha grande paixão ainda hoje.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
realizador?
A.P.V: São imensas. O
cinema americano sempre me marcou muito nomeadamente o film noir. No que diz respeito a realizadores, o John Ford, o
Howard Hawks, o Nicholas Ray, o Otto Preminger, o (Samuel) Fuller, o (Elia)
Kazan, depois o Martin Scorsese dos primeiros filmes, o Clint Eastwood dos
últimos, o Roberto Rossellini, o (Jean) Renoir, mais tarde o Jean-Luc Godard, o
François Truffaut, etc.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso como realizador?
A.P.V: Há filmes mais difíceis, com mais dificuldades. Os
meus primeiros filmes foram muito difíceis, porque eu era simultaneamente o
realizador e o produtor, portanto é sempre difícil de gerir. Foram filmes que
tiveram muitos problemas, mas isto é como os filhos, a gente gosta de todos.
Depois houve um grande
salto na minha obra que foi o “Aqui D’El Rei!” (1992), porque de repente eu
vejo-me confrontado com um filme que tem um orçamento 30 vezes superior àquilo
que era normal em Portugal e foi um filme que se tornou numa série, com 4 meses
de filmagem, em que me confrontei pela primeira vez com uma estrutura
profissional de produção.
Já neste século, fiz “Os
Imortais” (2003) que teve uma produção difícil e foi um filme bastante mal
produzido, portanto eu tive de me debater contra as dificuldades da produção,
mas desde que trabalho com o Tino Navarro que deixei de ter este tipo de
problemas. “Os Imortais” foi um filme muito difícil e pelo qual eu tenho um
carinho especial, porque acho que é o meu filme que marca a minha maturidade
como realizador e como pessoa.
M.L: “Os Imortais” contou, por exemplo, com a
participação de Nicolau Breyner que interpretou o Inspector Malarranha, e sei
que escreveu o papel a pensar nele. O que o levou a escolhê-lo para interpretar
esta personagem?
A.P.V: Eu sempre achei que o Nico é um actor
absolutamente fora-de-série e que andava perdido a fazer papéis cómicos (que
ele faz muito bem), mas que no fundo nunca tinha tido a oportunidade de fazer
um papel em que tivesse uma paleta tão vasta de representação. Escrevi o papel dele,
em parte, para provar que ele é um actor completo, e foi a única vez na minha
vida que escrevi um papel a pensar num actor; a partir daí o Nicolau passou a
ser olhado de outra maneira. Infelizmente, muitos actores e realizadores
portugueses não têm no seu país a oportunidade de fazerem a carreira que
mereciam. Para mim, o Nico sempre foi um actor extraordinário e no fundo é como
se eu estivesse estado estes anos todos à espera que ele amadurecesse para
fazer o papel da sua vida, porque ele ganhou muito com a idade.MLEsta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.
Sem comentários:
Enviar um comentário