M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.L: Na adolescência. Eu
frequentava muito cinema, era um dos meus principais territórios de
entretenimento, o meu pai era amigo do dono dos Cinemas Quarteto em Lisboa
(Pedro Bandeira Freire), portanto eu não pagava o bilhete para entrar. Por
outro lado, também tinha familiares jornalistas e os jornalistas também tinham
desconto nos cinemas e eu só pagava um preço simbólico para entrar no cinema. Portanto,
durante a minha infância e no início da minha adolescência, frequentei cinema
com muita assiduidade e acabei por ter contacto com algumas personagens
representadas por atores que são as minhas grandes referências.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
P.L: Todo o percurso de
vida que tive e que me inspira, mas no que diz respeito a referências de outros
atores, para mim a maior referência é a Meryl Streep, porque é uma atriz que representa
todos os géneros com uma qualidade que é mágica, é muito difícil alcançar o
nível de excelência que ela atinge, mas esta foi uma conclusão que eu só
cheguei há menos tempo, porque tenho mais experiência como ator e cada vez
sinto que a minha leitura do trabalho dos outros é mais válida e mais completa.
Mas, durante muitos anos, as minhas grandes referências sempre foram aqueles atores
mais clássicos como o (Robert) DeNiro, o Al Pacino, o Marlon Brando, o Jack
Nicholson...
M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava
de trabalhar mais em cinema?
P.L: Sinceramente, eu gostava
de trabalhar mais em cinema, mas também gostava que em Portugal se fizesse um
cinema que viajasse mais, que interessasse a muitos espectadores, que
refletisse sobre questões universais, que entusiasmasse, emocionasse e inspirasse
as pessoas e que permitia ser visto aqui, na Ásia, nos EUA ou em qualquer parte
do Mundo. Esse é um tipo de cinema que me interessa, mas em Portugal produz-se
tão pouco e quando se produz não têm muito essa preocupação de fazer produtos
que sejam universais e gostaria que isso acontecesse com mais frequência e que
se contasse mais histórias.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso como ator?
P.L: Eu acho que os
trabalhos mais recentes acabam por ser o que mais nos marcam como atores, a não
ser que nós tenhamos a oportunidade de fazer um trabalho que seja importante e
que seja falado hoje ou daqui a 10, 100 anos, e isso eu não fiz e não sei se
alguma vez terei a oportunidade de fazer alguma coisa que tenha esse tipo de
características. Portanto, eu seleciono alguns trabalhos mais recentes e em
2013 fui um dos protagonistas da peça “Negócio Fechado” (“Glengarry Glen Ross”)
de David Mamet, produzida pela Companhia de Teatro de Almada e dirigida por
Rodrigo Francisco e nesse trabalho fui obrigado a viajar para novas zonas de
representação, ter um caminho de descoberta e procura de outras zonas da minha
personalidade que ainda não conhecia e foi o trabalho que me marcou mais nestes
últimos tempos.
M.L: Em 2009, protagonizou a longa-metragem
“Contrato”, que marcou a estreia de Nicolau Breyner como realizador de cinema,
na qual interpretou a personagem Peter McShade. Que recordações guarda desse trabalho?
P.L: Guardo as recordações de ter a oportunidade de
trabalhar com os melhores profissionais nas diferentes áreas do cinema em
Portugal. O Nicolau Breyner é um grande artista, é uma pessoa com muita
criatividade, com muita qualidade, com muito mundo e com uma capacidade enorme de
agregar bons profissionais que são dos melhores que há em Portugal. Trabalhamos
com condições de orçamento muito apertadas e isso fez com que a participação de
todos os intervenientes fosse muito apaixonada, porque ninguém estava ali pelo
dinheiro, estávamos ali pelo cinema, de querer contar a história, para estarmos
bem e trabalharmos em conjunto com os outros para produzirmos o melhor filme
possível.
M.L:
Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
P.L: São universos muito diferentes. Cada um com as
suas
particularidades.
O teatro está a viver uma fase difícil. A produção de
uma peça é sempre um risco, porque é muito difícil recuperar aquilo que foi o
investimento. Quando se faz uma peça, tem que se pagar a sala, aos seus
funcionários, os direitos de autor, aos atores, ao encenador, aos técnicos,
etc. Tudo isto envolve um grande investimento e são raras as peças que através
da bilheteira possam pagar esse investimento.
A ficção nacional está cada vez melhor, embora nós
tenhamos um mercado pequeno que ainda por cima é dividido por três canais
generalistas (RTP, SIC e TVI) que estão a apostar na ficção com o meio de
conquistar e manter audiências e isso são boas notícias para os autores, para os
atores, para os realizadores, para os técnicos e para todas as pessoas que têm
a sua vida profissional ligada à produção de ficção.
M.L: Em 2014, celebra 17 anos de carreira, desde que
se estreou como ator com a telenovela “A Grande Aposta” da RTP em 1997. Que
balanço faz destes 17 anos?
P.L: É um balanço de
grande sorte e de agradecimento por todas as oportunidades que a vida me tem
oferecido para fazer profissionalmente aquilo que mais gosto. Eu sinto que
tenho cada vez mais recursos como ator para responder aos desafios que me são
colocados.
M.L: Como lida com o público que acompanha sua
carreira há vários anos?
P.L: Com naturalidade e
simpatia. Não posso dizer que seja uma pessoa muito assediada, mas sabe-me bem
ser abordado por pessoas que gostam, seguem e vibram com o meu trabalho e
receber essa energia que vêm dessas pessoas.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
P.L: Não dou conselhos a
ninguém. Eu acho que as pessoas devem descobrir o seu próprio caminho e se eu
voltasse a fazer tudo do princípio talvez tivesse investido um bocadinho mais
no futuro, ter um suporte teórico da minha profissão, gostaria de ter tido essa
retaguarda de preparação académica, mas não foi assim, fui aprendendo com a
profissão, só que eu acho que nós aprendemos muito ao observar os outros e
tenho tido o privilégio de trabalhar com os melhores atores portugueses.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
P.L: Nunca pensei nisso. Talvez trabalhar fora, de
conseguir representar noutra língua em produções mais ambiciosas.ML
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