M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.N: Desde que me conheço.
Cresci em teatros, e estúdios de televisão, sempre foi um mundo que me fascinou.
Fiz o meu 1º curso de representação aos 14 anos. Mas desde miúda que brincava
aos teatrinhos sozinha no meu quarto.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto actriz?
S.N: Para começar o meu
pai. Não que me tenha incentivado, que não o fez, mas vê-lo trabalhar enquanto
actor e encenador, e assistir aos seus espectáculos ajudou muito na minha
opção. Depois existem actores e actrizes que admiro e que são fontes de
inspiração brutais a nível nacional e internacional, filmes que me marcaram,
músicas, pessoas, sobretudo pessoas.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
S.N: Não posso afirmar que
prefiro uma área à outra. São linguagens e formas de trabalhar diferentes. De alguma
forma são trabalhos de actor que se completam; cada um tem a sua adrenalina e
todos são prazerosos. Não consigo preferir um a outro, nem conseguiria abdicar
de nenhuma das áreas. Mas confesso que gostava de fazer mais cinema.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
durante o seu percurso como actriz?
S.N: Todos me marcam de uma forma ou de outra. Seja pelo papel em si, pelo
ambiente que se viveu durante o processo de trabalho, ou pelo impacto que teve.
Tenho um carinho particular por todos quanto mais não seja por ter dado um
pouco de mim e eles terem-me dado algo também. Cresço e aprendo em cada
trabalho que faço. Quer profissionalmente quer a nível pessoal.
M.L: Entre 2001 e 2002, participou na telenovela “A
Senhora das Águas” que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem Sónia Mendes
Bernardes. Que recordações guarda desse trabalho?
S.N: A Sónia é
me particularmente querida por ter sido o 1º e talvez o único papel menos
simpático que desempenhei. Gostava de me descolar mais da imagem de boazinha
que me é na maioria dos casos atribuída, é verdade. Talvez por isso goste desta
Sónia por ser tão diferente da Sofia. Guardo boas recordações deste projecto.
M.L:
Como vê, actualmente, o teatro e a ficção nacional?
S.N: Estamos a
falar de dois sectores totalmente diferentes. A ficção nacional tem
financiamento que poucos teatros têm. No entanto folgo em ver que estão em cena
muitos espectáculos, mas é preciso ter consciência que muitos deles representam
um investimento pela parte da produção dos mesmos que na maioria dos casos não
tem retorno. E isso entristece-me. São muito poucos os que conseguem ganhar a
vida só a fazer teatro. E orgulho-me de quem não desiste apesar de saber que a
fraca receita de bilheteira pode apenas vir a cobrir os custos de produção e
pouco mais. Devia ser dada muito mais atenção e existir mais subsídios nesta área.
A novela faz parte do
quotidiano de muitos portugueses, as séries que têm sido produzidas também são
muito bem recebidas; a ficção nacional ganhou o seu lugar no panorama
audiovisual. E dá trabalho a muita gente, quer a actores, quer a técnicos. Tem
de ser acarinhada por isso e tratada com cuidado para continuar a investir
nela. Não usar a crise como desculpa até porque está provado que em tempos de
crise as pessoas veem mais televisão.
M.L:
Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
S.N: Muito bem.
Sinto-me acarinhada. E sou-lhe grata porque no fundo o reconhecimento do público
é que me dá trabalho e vontade de fazer mais e melhor.
M.L:
É filha do actor, escritor e encenador Francisco Nicholson. Como vê o percurso
que o seu pai tem feito até agora?
S.N: O meu pai
é um grande senhor. Não há nada que não tenha feito. Trabalhou em todas as
áreas para todos os géneros. E muitas vezes contra corrente. Passou pela
censura, teve de contornar muitos obstáculos muitos deles políticos. Não teve
medo de fazer a Revolução aproveitando a área em que se movimentava melhor, a
sua forma de expressão. Fez de um barracão um teatro que vi maioritariamente de
plateia cheia e que fez nome. Os tempos eram outros, mais rijos, no entanto a
sala enchia. Escreveu a 1ª novela portuguesa (“Vila Faia” (RTP), a 2ª também (“Origens”
(RTP). Ele tem um currículo invejável e louvável. Só posso ter orgulho nele. Quem
me dera aos 45 anos ter conseguido fazer metade do que ele já tinha feito com a
mesma idade. Agora vai lançar o seu 1º romance (“Os Mortos Não Dão Autógrafos”),
aos 76 anos. Ele só prova que quem quer pode. É um grande exemplo.
M.L:
Em 2013, participou no musical “O Despertar da Primavera” de Steven Sater e Duncan Sheik e encenado por Fernando
Pinho, na qual esteve em cena na Casa da Criatividade em S. João da Madeira.
Como é que se sentiu ao participar no espectáculo inaugural de um espaço
cultural?
S.N: Este
processo foi mágico. E inauguramos com ele um espaço magnífico que em nada fica
atrás de salas de renome internacional, muito pelo contrário. Foi muito
emocionante até porque a responsabilidade e o empenho que toda a equipa teve e
sentiu por inaugurar a Casa da Criatividade foram recompensados por ovações de
pé de uma sala de quase 500 pessoas em todas as representações. Senti um
orgulho enorme.
M.L:
Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na
representação?
S.N: Empenho,
humildade, persistência e aceitar que vai ouvir muitos "nãos".
M.L:
Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como actriz?
S.N: Tenho tido
a possibilidade de trabalhar de forma regular quer em televisão quer em teatro.
Optei por uma vida bastante instável de muita incógnita o que é um desafio para
quem procura segurança e certezas. Acho sempre que podia ter feito melhor mas o
actor é assim mesmo, insatisfeito por natureza. Quero sempre mais e melhor, mas
quem não quer? Não tenho razão de queixa no fundo. Estou grata por ter conseguido
até agora manter-me na área que escolhi.
M.L:
Quais são os seus próximos projectos?
S.N: Estou
neste momento a preparar-me para uma peça de teatro a estrear em 2015. E espero
em breve voltar ao pequeno ecrã.
M.L:
Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua
vida?
S.N:
Tanta coisa! Tenho 45 anos, mal seria se tivesse feito
tudo, e nada ou pouco faltasse. Julgo que nunca conseguimos fazer tudo, fica
sempre algo por fazer. Olha, vou fazendo conforme vão surgindo as
oportunidades. E que viva ainda muitos e bons anos para fazer o mais possível!MLEsta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.
Sem comentários:
Enviar um comentário