M.L: Recentemente, participou na peça “Fala da Criada dos Noailles…” que estreou na Culturgest em Julho do ano passado e que esteve em cena no Teatro da Trindade há pouco tempo. Como correu este trabalho?
E.G: A “Fala da Criada dos Noailles…” é um texto de Jorge Silva Melo escrito em 2006 e que integrou o evento “Artistas e Mecenas” realizado na (Fundação Calouste) Gulbenkian. Foi lá que fiz a primeira leitura, depois uma outra aquando do lançamento do livro no Convento das Mónicas e finalmente estreamos em 2010. Texto e encenação são de Jorge Silva Melo com quem foi mais uma vez uma saborosa experiência trabalhar, uma amizade que se estreitou, os ensaios cheios de cumplicidades, um luxo! A “Fala da Criada…” é quase um monólogo, mas como eu gosto de lhe chamar é também uma conversa. Quem nos fala é uma criada que viveu nos loucos anos 20 rodeada de artistas e mecenas e que conta peripécias e memórias de uma vida, durante a qual foi observadora, mas também interveniente.
M.L: Antes de participar em “Fala da Criada dos Noailles…” integrou o elenco da peça “A Maluquinha de Arroios” que esteve em cena em Ponte de Sôr em Abril do ano passado. Como foi participar na peça?
E.G: “A Maluquinha de Arroios” foi uma produção do Teatro da Terra em Ponte de Sôr com encenação de Maria João Luís. Um projeto que juntou atores, amadores, músicos, bailarinos e com uma grande interação com a comunidade. É essencial existirem projetos como este e participar neles é sempre gratificante. Fazer esta viagem com a Maria João Luís, uma excelente atriz e comunicadora, uma grande amiga foi e continua a ser um prazer. O Teatro da Terra é um projeto genuíno e generoso que é urgente apoiar.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
E.G: O interesse pela representação penso que começou, quando era miúda. Lembro-me de ficar colada à TV a preto e branco, a ver os filmes do Fred Astaire por quem tinha uma paixão assolapada. Via todos os musicais que podia e deixava que enchessem a minha cabecinha de sonhos e fantasia. Depois o teatro foi acontecendo, eu própria fui acontecendo. Teatro, café-teatro, circo, revista, musical, comédia, drama. Cinema, televisão. Um mundo a cores!
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a série “Morangos com Açúcar” (TVI), onde participou na 6ª temporada da qual interpretou a personagem Helena. Que recordações leva desse trabalho?
E.G: Tenho participado em séries e novelas e até gostaria de o fazer com mais regularidade. Em relação à minha participação na série “Morangos com Açúcar” foi uma experiência muito interessante pela personagem, pelo contato com jovens atores, pela duração que permitiu desenvolver e dar corpo e alma à “Dona Helena”.
M.L: No ano passado, celebrou 30 anos de carreira desde que começou com a peça “Pedaços da Tia Ernestina” no Teatro Aberto em 1980. Que balanço faz destes 30 anos?
E.G: Pois é, já são 30 anos de carreira. Géneros diferentes, mas que vivem da mesma entrega e da mesma paixão. Muitos projetos, cada um especial: pela diferença, pela pesquisa, pela aventura. Tenho tido a sorte de trabalhar com muita gente, com todos aprendi e fui criando personalidade. Qualquer deles me marcou de uma ou de outra maneira: pela ideia, pelo texto, pela encenação, por isto ou por aquilo, mas essencialmente o que me deixa marca são as pessoas. Atores, encenadores, autores, artistas, pessoas. O teatro vive de relações, de laços que se fazem e desfazem, é um lugar de criatividade e afetos. Para mim é a melhor profissão do mundo.
M.L: Desde 1988 que colabora com o encenador Fernando Gomes com quem fundou a companhia Klássikus. Como é trabalhar com ele?
E.G: A minha colaboração com o Fernando Gomes estende-se desde há 23 anos, o tempo foi passando sem se dar conta. É uma relação de trabalho, de amizade, de vida. Muita comédia, muito musical, muitas aventuras. O Fernando Gomes é uma pessoa única e espantosa com uma energia fora do normal. E imagino que vamos continuar a fazer imensa coisa juntos com essa alegria sempre renovada que nos trazem os espetáculos do Fernando Gomes.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
E.G: Pois acho que o teatro e a ficção nacional estão bem e recomendam-se. É preciso fazer sempre mais para fazer sempre melhor. Dar apoio aos que já estão e têm história e oportunidades a quem começa a fazer história.
M.L: Recentemente fez 50 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
E.G: E pois é verdade, fiz 50 anos no passado dia 29 de Março, mais uma Primavera. Como me sinto? Sinto-me mais velha com tudo o que isso tem de maravilhoso e de assustador. Junte-se à alegria de estar aqui a gozar o mais possível todos os momentos às incertezas de uma profissão sem estabilidade financeira, sem estabilidade e ponto. Mas aos 50 contínuo com a mesma vontade de acompanhar as mudanças num mundo que não pára e que vai seguir sem mim. Quem me dera que de hoje para amanhã, o mundo desse valor ao mundo.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
E.G: Neste momento, estou em Ponte de Sôr com “A Loja das Lamparinas”, uma produção do Teatro da Terra. Dois atores: o João Didelet e eu à volta de contos do mundo. Um espetáculo que irá em digressão. Novos projetos: “O Marido Vai à Caça” com encenação de Maria João Luís em Ponte de Sôr, uma leitura de um novo texto de Jorge Silva Melo no (Teatro) Nacional (D. Maria II), uma animação no Chapitô e com o Fernando Gomes mais um musical no (Teatro da) Malaposta. Para já é o que tenho previsto até ao final do ano.
M.L: Se não fosse a Elsa Galvão, qual era a atriz que gostava de ter sido?
E.G: Não sendo a Elsa é-me difícil imaginar a outra que poderia ter sido. E acho que muita coisa ainda vai mudar em mim.ML
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